A filha do magnata
A filha do magnata
Por: Jandira Padre
Secção 1

Londres, Inglaterra. Ano de 2016 

O homem à minha frente recosta-se no espaldar da sua poltrona executiva giratória e solta o seu quinto suspiro desde que eu lhe entregara o meu currículo e a carta de recomendação escrita à mão. No seu rosto havia uma expressão sisuda que denotava impaciência. 

__ Teresa Drumong.__ ele pronuncia o meu nome com rispidez.__Em circunstâncias normais eu teria jogado à sua candidatura ao balde do lixo, nunca vi um currículo tão pobre em toda à minha vida. 

Estou a quase vinte minutos dividindo o mesmo cómodo com ele, e é a primeira vez que me fita, seus olhos estão carregados com uma mescla de desaprovação e aborrecimento.

Eu não o respondo. Foi à sua tia, madre superiora do orfanato " Our Lady of Fatima", que me recomendara para ele. Eu estava sendo entrevistada para ser a babá da sua filha. 

__ Tem vinte e dois anos e não fez nenhuma faculdade. Foi despedida dos dois únicos empregos em que já trabalhou na vida num espaço de tempo... Miraculoso para não dizer duvidoso.

Diz jogando os meus documentos com desinteresse para o lado.

Quando a madre disse que o seu sobrinho poderia ajudar-me com o emprego, mal me passara pela cabeça que seria como babá, ou que ele seria tão mal-humorado e tenebroso. Sua estrutura óssea perfeita indicava que raramente sorria. 

__ Acabou o ensino secundário com uma média medíocre._ ele salienta num tom acusador. 

Eu acabo encolhendo os ombros, constrangida. De facto não fui a melhor da turma, mas sempre me esforcei para não ser a pior. Embora não expressasse por palavras estava refletido em seus olhos azuis -com o esquerdo parcialmente castanho- que me achava uma fracassada com uma ínfima concentração de massa cinzenta no cérebro. 

Contudo, na situação em que eu me encontrava pouco importava o que o homem pensasse de mim desde que me empregasse, eu precisava da vaga para poder pagar as dívidas que fui acumulando desde que fiquei desempregada. 

__ Mas deixando as cerimónias de lado, está aqui porque eu não tenho opção. 

A sua falta de decoro deixa-me desconfortável, embora eu tente disfarçar.

__ A minha filha tem nove anos. Devido à sua personalidade difícil as amas não costumam durar muito tempo, e em consequência dessa peripécia a agência acabou fechando as portas. Tenho uma equipe de funcionários em casa porém, nenhum é idóneo para o trabalho referente. A irmã citara apenas qualidades em sua carta de recomendação! Explanou que é uma pessoa bastante sociável e de boa índole, por isso que se mantém sentada aí do outro lado, apesar das suas óbvias limitações.

Eu respiro fundo.

__ Eu fico feliz pelo senhor querer dar-me uma chance. É muito gentil da sua parte.__ digo-lhe com a voz oscilante.

__ Eu preciso que você seja proficiente e que faça o possível para que isso resulte, senhorita Tessa. Terá de usar a resiliência que minha tia expressou aqui.

Diz balançando a carta em papel amarelado com letras cursivas, desenhadas às pressas.

__ Sim, claro. Sei que pensa que não sou constante, mas farei os possíveis para não envergonhar a irmã.

__ Como pensa cuidar da minha filha?

Inqueri franzindo o belo sobreolho.

__ Eu darei a ela toda a atenção, serei cuidadosa e também a levarei para passear. Eu adoro peças de teatro, talvez possamos assistir juntas a uma comédia, ou fazer uma excursão ao Shakespeare's Globe Theatre.__ digo com um entusiasmo palpável.

__ E quanto aos trabalhos de casa? 

Foi a minha vez de franzir o sobreolho.

__ O que tem?

Ele parece indignado com minha inquirição.

__ Eu preciso de alguém que a auxilie com à escola. 

Declara como se fosse óbvio.

__ Não é novidade para si que não sou um Pitágoras, Kant, Descartes ou tão pouco uma exímia estudante. Eu larguei a escola há cinco anos.

O Senhor Greenford solta um suspiro frustrado.

__ Ela está na quarta-série. Além disso, conhece Descartes e Kant, não deve ser tão insipiente como tenta aparentar. 

Eu respiro fundo. Há uma batida na porta e a sua secretária entra. 

__ Senhor Greenford, perdoe-me a interrupção, mas sua próxima reunião será em cinco minutos.__ a mulher de ar severo diz num tom polido.

Eu levanto-me da cadeira pronta para enfrentar as represálias da irmã Elizabeth quando abandonar o escritório. 

__ Se ensinar faz parte do trabalho então precisarei recusar. Eu não sou a pessoa mais indicada para ser a tutora da sua filha.

Greenford olhou brevemente para a secretária e pediu-a mais dois minutos. 

__ Sente-se, senhorita Tessa. 

Eu olhei para a secretária cujo a carranca se intensificou e de seguida para Greenford, cumprindo o seu pedido lentamente. 

__ Preciso que seja tutora de Génesis no básico. Matemática, Inglês e ciências. É incrível que para alguém que estava desesperada para conseguir a vaga esteja dando a mão à palmatória sem antes tentar. 

Exalo o ar com pesar.

__ Desculpe-me Senhor Greenford, mas é que eu não esperava que a vaga fosse como babá e tão pouco que teria de ser tutora de alguém. Para falar a verdade eu pensei que trabalharia no sector da limpeza.

Eu confesso embaraçada.

__ Se minha tia recomendou-a é porque deve confiar em si. Então eu atrevo-me a dar-lhe o benefício da dúvida. Se não se importar de morar fora da cidade, o contrato poderá ser permanente.

Eu pisco paulatinamente, perguntando-me se acabara de perceber errado.

__ Quer dizer que o emprego é meu!?__ questiono insegura. 

__ Sim, senhorita Tessa.__ ele responde apático.

__ Muito obrigada pela oportunidade, Senhor Greenford. Farei das tripas coração para que tudo dê certo.

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