Secção 4

De manhã, eu fui informada que teria de acompanhar novamente a senhorita Génesis durante à refeição. 

Eu estava sonolenta e com leves olheiras que me proporcionavam um ar de cansaço. As manchas avermelhadas na minha pele estavam camufladas com um cropped de gola alta e manga longa.

Mas, não era de todo um problema usar aquela peça. O dia amanhecera frio e o céu escuro ameaçava uma chuva fina.

Dirigi-me até a sala onde seria servido o desjejum, encontrando a movimentação das copeiras, e Génesis de pé a um canto, perto da janela, conversando com lady Armstrong. Quando a mais velha notou à minha presença murmurou-lhe algo, e de seguida fitou-me com uma expressão séria.

__ Bom-dia, miss Drumong. Está atrasada para o desjejum. 

Eu olhei as senhoras terminando de ajeitar as xícaras de porcelana com o cenho franzido.

__ As copeiras ainda não terminaram de organizar a mesa.__ pontuei.

__ A senhorita também é uma funcionária, não deve achar que elas têm a obrigação de servi-la. Além do que, tem de auxiliar à sua educanda no que ela precisar. 

Eu assenti apenas. As copeiras abandonaram a sala, deixando-nos a sós. 

__ Eu as deixarei à vontade. Com licença.__ despediu-se com um suave menear de cabeça. 

__ Bom-dia, senhorita Génesis.

Ela resmungou um "bom-dia" antes de ocupar o mesmo lugar que ocupou na noite retrasada. 

Ajudei-a a servir-se e de seguida ocupei um lugar à mesa, que por acaso estava fartíssima com frutas e cereais. Quando é que eu iria imaginar que teria um café da manhã como esse à minha disposição?

Comiamos em silêncio. Eu encarava Génesis à espera de um pedido de desculpas ou alguma expressão que denotasse remorso, mas ela manteve-se em silêncio, por isso comecei: 

__ Vejo que não está disposta a desculpar-se, então, desde já eu queria deixar bem claro que independentemente do que você faça ou diga eu vou continuar a trabalhar aqui até que o seu pai, a pessoa responsável pela minha contratação, decida romper com o contrato. 

Ela largou os talheres e fitou-me com desinteresse.

__ Eu não sei do que a senhorita está falando. 

Eu sorri sem humor.

__ Claro que sabe. Colocou pó de mico na minha cama.

Ela manteve-se em silêncio, fazendo questão de adotar uma expressão de enfado. 

__ Eu sei que não gostou de mim, mas agradeceria se tivesse mais empatia e me respeitasse. Eu estou apenas aqui para fazer o meu trabalho.

Génesis arregalou os olhos e bufou irritada.

__ Eu posso tomar o meu pequeno almoço à vontade? 

Eu deixei a xícara de café de lado.

__ Claro que sim, mas eu só quero deixar claro que não sou sua inimiga e não faço questão sê-lo, a única coisa que vai conseguir agindo desse modo é parecer uma garotinha insolente e malcriada. 

A menina deu de ombros e cutucou a panqueca em seu prato.

__ Menina Génesis, seu pai ligara para avisar que dentro em breve estará de volta. 

Lady Armstrong adentrou trazendo essa novidade. Indiferente, Génesis apenas assentiu.

__ Pretendo levar Génesis a um passeio após o pequeno almoço, lady Armstrong.

Declarei após saborear a deliciosa torta de hortelã com chocolate. A ideia tida de última hora pareceu chocar as duas. 

__ Não creio que seja possível. Está serenando e amanhã à menina tem aulas, o mais lógico é que enteire-se acerca do conteúdo que tem visto.

Olho-a com o semblante fechado.

__ Creio que possamos fazer isso mais tarde. E quanto ao sereno podemos usar um guarda-chuva. 

Lady Armstrong parece receber o meu comentário como uma afronta. 

__ Por acaso está indo contra à minha ordem?__ sua voz soara gélida como um iceberg. 

__ De modo algum, mas é que quando eu fui contratada para ser a babá da senhorita Génesis, Mr Greenford resaltara que não havia funcionários idóneos para tomar conta dela. E, em momento algum disse que as actividades a serem feitas durante o dia teriam de ser aprovadas por si.

Revido num tom suave, acompanhado de um sorriso petulante.

__ Se o Senhor Greenford proferiu tais palavras, quem sou eu para ir contra elas?  

Ela lançou-me um olhar ameaçador antes de abandonar a sala. 

Após findarmos o desjejum eu pedi ao chofer que nos levasse a dar uma volta pela região de Cotswolds. Não ficava muito longe da mansão que se escondia entre as árvores. 

__ Eu espero que goste do nosso passeio. 

Disse à Génesis enquanto ajeitava o seu cinto de segurança. Ela apenas sorriu e olhou para janela, embora estivesse contida, eu sabia que estava entusiasmada por poder abandonar a mansão por algumas horas.

__ Senhor Pierrez, por favor não se esqueça de avisar ao senhor Greenford sobre o nosso passeio, não quero um possível mal entendido. 

Ele assente e gira a chave na ignição. O sereno continuava a cair, batendo suavemente sobre a vidraça do carro. 

O nosso passeio começou em Castle Combe. No momento em que pisamos os pés na vila senti-me transportada para outra época, aquilo era muito diferente de Londres. Nada de correrias, nada de transportes ou de pessoas barulhentas.  

Na vila havia um monumento do antigo mercado medieval, e perto podia ver a St. Andrew’s Church. 

__ Esse lugar é muito encantador.__ Génesis confessou com um sorriso.

O Senhor Pierrez preferira ficar no carro. Eu segurava o guarda-chuva enquanto percorriamos as ruas do centro, admirando as construções de pedra reconhecidas como monumentos antigos. 

__ Eu fico feliz por gostar. 

Após o longo passeio nós almoçamos num restaurante charmoso de aspecto rústico. 

Estávamos prestes a voltar para o carro quando uma idosa vendendo maças caramelisadas prendeu à minha atenção. 

__ Vem Génesis.

Eu segurei à sua mão e puxei-a até a senhora de cabelos brancos como a neve, que vendia às suas maçãs movimentando de leve o quadril e assobiando uma velha canção que tocava no rádio. 

__ Boa tarde, senhora!

Ela virou-se para nós as duas com um sorriso. Ajeitou os óculos em formato de coração e abaixou-se um pouco para apertar as bochechas de Génesis. 

__ Boa tarde, senhoritas! Que menina mais adorável. 

Génesis olhou para mim com um sorriso desconfortável. Eu dei de ombros e olhei para o carrinho, ficando logo com água na boca. 

__ Eu adoro maçãs caramelisadas. Você alguma vez já provou? 

Eu pergunto para a menina enquanto conto as moedas, torcendo para que seja o suficiente. 

__ Eu nunca provei. O meu pai e lady Armstrong não me deixam comer doces, frituras e alimentos industrializados que contenham gorduras trans.

Eu arregalo levemente os olhos e de seguida encaro-a com um sorriso sorrateiro. 

__ Então esse será o nosso segredo. Você promete guardá-lo?

Génesis retribuiu o meu sorriso e assentiu. Com um sorriso nos lábios, a idosa entregou-nos as maçãs.

__ Bom Apetite!

Ela desejou antes de virar-se para endereitar o rádio que começou a chiar ruidosamente.

Nos sentamos num banco de madeira, não nos importando com o facto de estar úmido.

__ Quero aproveitar esse momento para pedir a você uma trégua, não quero que me olhe de jeito nenhum como sua inimiga ou como uma ameaça. Eu não sou má.

Génesis olhou para mim com um pequeno sorriso. 

__ Tudo bem, eu vou deixar de lado as partidas. Mas, isso não quer dizer que somos amigas, eu continuo não gostando de você. 

Disse com os olhos semicerrados. Eu apenas assenti, para mim já era um grande passo dado.


Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo