Um silêncio perturbador tomava conta da sala de jantar enquanto a copeira chegava com um prato de salada de folhas mistas, salpicadas de nozes, damascos e pedaços de salmão defumado.
O Senhor Greenford ligara minutos atrás para avisar que não dormiria em casa, pois tivera uma viagem de última hora a Veneza. Pelos vistos as suas viagens de última hora são bem recorrentes já que não pareceu gerar surpresa aos empregados ou à sua filha.
Eu entendo que ele é um homem muito ocupado e importante, algo que se reflete em suas vestimentas elegantes e moradia pomposa, mas seria bom se ele dedicasse também um pouco de tempo a filha. Mas quem sou eu, uma mera babá que acabara de chegar para opinar?
__ O que acha de eu pegá-la amanhã, depois das suas aulas para irmos passear? Podemos ir ao shopping ou ao cinema.
Génesis larga os talheres ruidosamente e fita-me com um grande sorriso, mas logo volta a conter-se e olha para o
Com os olhos semicerrados leio o título do livro que Génesis acabara de me entregar, no seu rosto havia uma expressão de divertimento.__ O que é isso?__ pergunto com a minha feição evidenciando a confusão que sentia.Génesis revira os olhos ainda mantendo o belo sorriso.__ É um livro, Tessa. Não é óbvio?Ela caminha até à sua cama e senta-se à beirada.__ Eu sei que é um livro, mas por quê está me oferecendo?Soltando um suspiro, ela bate com a palma da mão no espaço ao seu lado chamando-me para sentar ali.__ A Senhorita confidenciou-me que tem dificuldades para ler, por isso estou-lhe oferecendo esse livro, ele é bastante especial para mim. Foi minha avó materna quem mo ofereceu para me honrar pelo meu sétimo aniversário, nele havia uma bonita carta de despedida.__ assinalou ela com um brilho nos olhos.Eu franzi levemente os lábios, confusa.__ Carta de despedida?__ Quan
Eram quatro horas da tarde e um quarto quando Génesis chegou da escola, vestida com o uniforme de educação física e com o rosto denotando cansaço. Ela abriu um sorriso quando me viu à sua espera no foyer.__ Boa tarde, Tessa.O abraço que ganhei seguido do seu cumprimento deixou, não só a mim, como também lady Armstrong, que descia as escadas, boquiaberta, com a demonstração de afeto espontânea.__ Boa tarde, pequena pupila.__ sorri-lhe, retribuindo o abraço.__ Pelos vistos o dia na escola foi bom.Ela afastou-se com um sorriso no rosto.__ Tenho algo para lhe mostrar!__ exclamou entusiasmada.Com um leve pigarro, lady Armstrong fez-se notar, parada no último degrau da escadaria.__ Boa-tarde, menina Génesis.Sem um pingo de ânimo Génesis respondeu ao seu cumprimento:__ Boa-tarde, lady Armstrong.__e olhando-me de volta, inquiriu:_
Acordo num sobressalto, arfante, suado, com o coração aos pulos e um grito de terror entalado na garganta. Mais um pesadelo. Olho institivamente para o relógio de pêndulo sobre a cómoda, constatando que os ponteiros marcam três e meia da madrugada.Mais uma noite que possivelmente demorará muito para acabar.Parece que meu inconsciente fora condicionado com pesadelos desde a morte de Kendall. Desde que ela partira nunca mais consegui dormir plenamente, já que minhas tentativas são sempre frustradas pela chegada de um pesadelo em específico. Um terrível e doloroso pesadelo.Se eu fechar os olhos ainda consigo ouvir os seus gritos de agonia, o rosto pálido, os olhos azuis-safira mirando-me aterrorizados, eu conseguia ver o abismo neles.No sonho ela me chama de assassino.Não está de todo errada. Afinal, eu estava ciente das suas angústias, sabia que a depressão estava acabando com ela aos poucos, mas ainda assim não fiz nada para invert
Tessa estava parada perto da janela com o olhar distante e um sorriso discreto enfeitando-lhe o rosto, os seus dedos brincavam distraidamente com os fios da cortina de crochê.__ Tessa__ eu chamei com o cenho franzido, porém não obtive resposta.__ Tessa!Gritei, atraindo finalmente à sua atenção.__ Oi, desculpa, estava meio perdida.__ confessou o óbvio com um sorriso constragido.__ Eu percebi. No que tanto pensa? Se é que posso saber.Sento-me na cama e observo-a com atenção.__ Eu estou pensando na minha atuação de domingo, não sei o que hei de cantar.Ela senta-se do meu lado e repousa as mãos no colo.__ Eu ainda não consigo acreditar que meu pai consentiu para que eu fosse.Fito-a com um sorriso, mas arqueio levemente as sobrancelhas ao vê-la um pouco embaraçada e ruborizada. Dou de ombros e pergunto-lhe:__E
Respirei fundo antes de adentrar no quarto de Génesis. A menina andava muito agressiva e rude comigo nos últimos dias, vinha me tratando como se eu lhe tivesse feito algo de errado e sequer me encarava nos olhos quando eu tentava puxar algum assunto. Hoje é domingo e a surpresa foi grande quando ela disse-me que não queria sair de casa e pediu-me que fosse ao evento, e não me preocupasse porque sabia cuidar de si mesma.Recostei-me na porta e cruzei os braços, vendo-a deitada sobre a cama, ainda trajada com o seu pijama. Os seus olhos miravam um ponto qualquer do quarto.__Génesis eu já estou indo, tem mesmo a certeza de que não quer ir comigo? Posso esperar até que você se arrume.Ela solta um suspiro.__ Eu já disse que não quero ir. Não estou com ânimo para participar de eventos, me deixe sozinha, por favor.Eu assenti e em silêncio abandonei o seu quarto. Se ela não queria ir, não podia
Eu acordei naquela manhã de segunda-feira com o som de pingos finos batendo contra a vidraça da janela. A primeira memória que me veio a mente foi a do beijo que eu e o senhor Greenford demos ontem. Droga! Como eu sou incosequente, e agora como é que eu vou olhar para a cara dele?Levantei-me da cama, soltando um grunhido. Arrumei-me rapidamente e de seguida fui até ao quarto de Génesis para ver se já estava pronta para mais um dia laboral.__ Bom dia Génesis.Cumprimentei-a após adentrar o cómodo. Ela estava sentada de frente a penteadeira, terminando de se arrumar.__ Bom dia, Tessa.__ cumprimentou com a voz rouca.Quando aproximei-me dela percebi que os seus olhos estavam inchados, como se tivesse passado a noite toda chorando.__ Está tudo bem com você?__ perguntei preocupada.__ Sim, está tudo bem.__ ela murmurou sem olhar-me no rosto.__ O q
Após a ceia, Collin Greenford levantou-se e saiu da sala de jantar com o celular chamando, ainda perto da porta, pude ouvi-lo falando em francês.Lancei um olhar cúmplice à Génesis antes de fazer menção de segui-lo até ao seu escritório, mas antes que conseguisse concluir o plano, lady Armstrong segurou-me pelo antebraço e fitou-me com uma expressão dura.__ Preciso conversar consigo num instante, Senhorita Drumong.Eu soltei-me ligeiramente do seu toque e segui-a a contragosto. Depois de adentrarmos a biblioteca ela fechou as portas duplas e se virou para mim cruzando os braços.__ O que pretendia dizer ao Senhor Greenford?__ pergunta com indelicadeza.Franzo o sobreolho com ares de zombaria.__ Não sei do que está falando, lady Armstrong.Ela semicerra os olhos e adota uma feição irritadiça.__ Não se faça de sonsa comigo, a menina pode ser diss
Droga! Eu não consigo parar de sorrir. Nesse momento consigo sentir um turbilhão de emoções dentro do peito. Eu vou conhecer Paris e andar de aeronave pela primeira vez.__ Você ainda não me contou como conseguiu convencer o meu pai, Tessa. Eu sempre pedi a ele que me deixasse ir para Paris para poder visitar minha avó, mas sempre recebi o belo de um "não" como resposta.Génesis sussurra ao passo que atravessamos a pista do aeroporto Heathrow para entrarmos em um avião particular que trazia o logotipo Greenford em sua fuselagem branca e reluzente.__ Não fiz nada de especial, apenas pedi a ele e este consentiu após uns segundos de suspense no ar.Ela semicerra os olhos e franze o sobrecenho como se dissesse silenciosamente que há mais algo por detrás do consentimento espontâneo de seu pai.Escancaro a boca deliberadamente ao ver o interior luxuoso da aeronave. É grande, com os móve