As nações eram nitidamente divididas entre pobres e ricas, ou mascaradas na forma de países industrializados e países em desenvolvimento, ou ainda em países do primeiro mundo e países do terceiro mundo. Nesse particular uma dúvida me passava pela cabeça; se os países industrializados eram os de primeiro mundo e os em desenvolvimento do terceiro, quais eram os países do segundo mundo e o que faziam? Por isso achava eu ser a melhor colocação aquela de países pobres e países ricos.
Contudo, a situação dos países pobres não era muito diferente da dos ricos. Estes buscavam prestígio e demonstração de poder para os outros se envolvendo em conflitos internacionais e se aventurando em novas conquistas, enquanto aqueles não desprezavam a futrica, a segregação e o racismo. Viviam em conflitos internos e não deixavam de praticar o jogo de interesse da classe mais privilegiada provocando miséria, fome, infanticídio e genocídio em massa.
Esses chamados países pobres, na sua grande maioria, localizavam-se no continente africano e na América Latina. Nesta, o povo vivendo em um regime austero não tinha acesso a fatos, fotos e notícias do mundo exterior que eram censuradas pelo governo ou, na melhor opção, bastante filtradas pelo departamento de censura. Mas quando alguma coisa escapava dessa censura, seja lá por qual via, produzia um efeito arrasador na mente daqueles que ainda viam em si o seu semelhante e que há pouco mais de duas décadas sofria com o holocausto.
Enquanto isso o primeiro mundo pensava apenas no poder total. Ser belicamente poderoso era o que lhes importava e para tal formavam exércitos gigantescos, esquadras de invejável modernidade e forças aéreas tão poderosas e precisas que a um único toque de botão poderiam apagar de vez mil Hirochimas e Nagasakis.
A CIA – Central Intelligence Agency – e a KGB - Komitet Gosudarstvenno Bezopasnosti – centrais de inteligência americana e soviética, através dos seus agentes acabavam por esquentar ainda mais a chamada Guerra Fria entre estes dois países. A espionagem, assassinatos, complôs antigovernamentais e toda sorte de esperteza e mesquinharias faziam o conhecido e ilustre espião inglês James Bond parecer um reles moleque de recados, deixando-o perplexo e envergonhado da sua pequenez ante a realidade dos colegas americanos e soviéticos. Por isso foi obrigado a ocultar-se em algum lugar pobre e esquecido da velha Inglaterra e aguardar a salvação feita por Yan Flemming.
A América Latina, porém, parecia jamais ter de se enfrentar com problemas que diziam respeito ao primeiro mundo. Protegida das supostas maledicências externas pelo pouco interesse mostrado pelos seus povos nos diversos países, era quase que totalmente ignorante sobre os assuntos internacionais. Vivia um clima de romantismo e aceitava tudo como lhe era dito imaginando que nada de extraordinário estivesse acontecendo. Alguns dos seus países um pouco superiores aos outros, caso da Argentina e do Brasil, começavam a industrializar-se e viam pela primeira vez o êxodo rural, inchando e fazendo progredir algumas das suas principais cidades. Isso esvaziava o campo e deixava a agricultura, fonte das suas principais riquezas ao relento. Mas no momento o que importava era o progresso industrial e não se imaginava, ou ao menos se ignorava, que a médio e longo prazo a miséria, a fome e o abandono do homem do campo se tornariam os grandes problemas a serem enfrentados. E também não se imaginou que, a evolução industrial carecia de constantes avanços tecnológicos, o que não aconteceu. Com isso as indústrias foram sendo sucateadas e se tornaram as grandes inimigas do social através da globalização em futuro não muito distante.
Aparentemente as coisas até que pareciam mesmo progredirem. Venezuela e Brasil, este em menor escala, exploravam o petróleo tido como o ouro negro pelos países desenvolvidos e aquele já fazia parte da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo – vendendo seu produto principalmente aos Estados Unidos. Nas áreas de cultivo, o Brasil mantinha o topo da exportação de café, seguido de perto pela Colômbia e Equador, graças às políticas tributárias nacionais que nunca se importaram com os produtores e carregavam nos impostos. Isso fazia o produto perder competitividade com o produto dos vizinhos e estes só não nos vencia graças a uma menor produção. Os países banhados pelo Oceano Pacífico, como Chile e Peru, prosperavam na indústria pesqueira.
No Brasil ainda se vivia com o garbo do orgulho nacional projetado pelo famoso arquiteto Oscar Niemayer. Já era idéia desde os tempos do império mudar a capital do país para o planalto central, fato que começou a se concretizar pela metade da década de cinquenta através das promessas de um candidato à presidência da república. Niemeyer projetou grande parte dos principais edifícios daquela que seria a cidade de Brasília, incluindo: o Congresso Nacional; os Palácios da Alvorada, da Justiça, do Planalto e dos Arcos; a Catedral; o "Minhocão" da Universidade de Brasília; o Teatro Nacional; o Memorial JK. Obra e criador tornaram-se mundialmente conhecidos, assim como o presidente eleito Juscelino Kubtschek de Oliveira.
O presidente JK, como era conhecido, tem uma história singular. Nascido em mil novecentos e dois na cidade de Diamantina, Minas Gerais, lá viveu até mil novecentos e vinte e um. Neste ano mudou-se para Belo Horizonte, onde se diplomou como médico em mil novecentos e vinte e sete. Em mil novecentos e trinta e um casou-se com Sarah Luiza Gomes de Lemos. Sua carreira política iniciou-se em mil novecentos e trinta e quatro, quando foi escolhido como chefe do gabinete do recém nomeado interventor federal em Minas Gerais, Benedito Valadares. No mesmo ano foi eleito deputado federal. Porém, perdeu o mandato em mil novecentos e trinta e sete, com o advento do Estado Novo pelo presidente Getúlio Vargas, voltando então a clinicar.
Mais tarde, em mil novecentos e quarenta, foi nomeado prefeito de Belo Horizonte, também por Benedito Valadares e convidou Oscar Niemeyer, então arquiteto em início de carreira, para realizar várias de suas obras, inclusive a urbanização da Pampulha. Posteriormente ingressando no Partido Social Democrata – PSD -, em quarenta e cinco, foi novamente eleito deputado federal, exercendo o mandato de quarenta e seis a cinquenta, ano em que foi eleito Governador de Minas Gerais. Iniciou o mandato em cinquenta e um, norteando sua administração pelo binômio "Energia e Transporte".
Em cinquenta e cinco foi eleito para a Presidência da República, cargo que exerceu até mil novecentos e sessenta e um. Seu governo teve como base um ambicioso Plano de Metas com o famoso slogan cinquenta anos em cinco, o que incluía construção da nova capital. Juscelino ambicionava ainda disputar as eleições presidenciais de sessenta e cinco, mas em junho de sessenta e quatro, quando exercia o cargo de senador pelo estado de Goiás. Todavia, teve seu mandato e seus direitos políticos cassados pelo regime militar que se instalou no país em trinta e um de março de mil novecentos e sessenta e quatro. A partir de então, JK percorreu por algum tempo cidades americanas e européias, em exílio voluntário. Voltou ao Brasil estabelecendo-se como empresário. Em mil novecentos e setenta e seis faleceu, vítima de um acidente automobilístico na via Dutra, até então chamada de a estrada da morte.
Mas apesar de Brasília ter se tornado um marco na história do Brasil e admirada em todo o mundo, perante os Estados Unidos, Europa e União Soviética, não dispunha, assim como os países vizinhos, de grande destaque internacional. O Brasil e os demais países da América Latina tinham economias modestas e seus PIBs, - Produto Interno Bruto – ou ainda, a soma de tudo que o país produzia, não fazia frente ante as grandes economias dos países mais avançados.
Por aqui lembranças e eventos culturais
Considerado esquerdista pelos setores mais conservadores, e, portanto uma ameaça, sofreu pressões políticas comandadas pelo partido de oposição da época, a UDN e pela cúpula, qu
Na economia, os militares adotaram medidas, um tanto quanto, impopulares, visando equilibrar as finanças internas, resgatar capacidade de crédito externo e atrair capitais estrangeiros. Internamente, restringiram o crédito e coibiram os aumentos salariais para conter a capacidade de consumo da população e, consequentemente, diminuir a inflação que, naquele momento, ultrapassava os oitenta por cento. Para controlar o déficit nas contas do governo, aumentaram impostos, tarifas públicas e o corte de despesas na administração. Alguns direitos tr
Os protestos se espalhavam em todas as direções da sociedade. O movimento operário desafia o regime militar: em Contagem, região de Minas Gerais, Osasco, em São Paulo e no Rio de janeiro pipocaram greves que demonstravam a insatisfação com a política do governo e, sobretudo com o arrocho salarial.
Em mil novecentos e sessenta e sete, o país, poeticamente chamado de “O Gigante Latino em franco desenvolvimento”, nada mais era, na verdade, que um subdesenvolvido governado por atos e decretos militares nada condizentes com o espírito nacional. Desde o golpe militar que derrubou o governo Jango, o gigante atravessava o terceiro ano da ditadura, regime este que começava a estender-se por todos os países do continente sul-americano. A repressão era total e o Ato Institucional número cinco estava a todo vapor, ceifando direitos constitucionai
O povo não compreendia bem porque chamavam de comunistas aos idealistas que clamavam por democracia. Até onde se podia saber, comunistas viviam num governo minoritário e formado por uma cúpula dona de tudo. O cidadão nada tinha. Tudo pertencia ao estado e o ser humano era apenas uma peça sem muita importância da enorme máquina governamental. Era incapaz de pensar e de agir, de sonhar e até mesmo sem o direito de ter esses sonhos. O pobre mortal via no atual governo tudo isso junto, mas diziam que eram democráticos e, aos poucos, iam fazendo
Nesse clima e de certa forma alheios a ele, um grupo de jovens estudantes secundaristas começava a se conhecer num colégio público no bairro de Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo. A propósito, eu, Mário, fazia parte dessa turma alegre e descompromissada, juntamente com o Marcos, a Hilda, a Purci, o Salvador, o Saulo, a Sônia, a Marlene, a Rosa, o Zig, o Janjão, o Aita e tantos outros cujos nomes não mais me lembro. Afinal, passaram-se quase trinta anos.
Após lhe relatar o ocorrido, ele não deixou de rir, mas me repreendeu pela ou