Por aqui lembranças e eventos culturais não existiam. No trabalho, as indústrias, filiais das grandes fábricas existentes no primeiro mundo, ainda eram pobres e pequenas e nos esportes apenas o Uruguai e o Brasil tiveram algum destaque na mesma atividade. O primeiro conquistando o primeiro campeonato mundial de futebol realizado naquele país e posteriormente sendo bicampeão quando o mesmo campeonato foi realizado no Brasil em mil novecentos e cinquenta. O segundo obteve as mesmas vitórias, porém na Suécia em cinquenta e oito e no Chile quatro anos mais tarde. Foi assim que a América Latina começou a ser conhecida como o berço do futebol e qualquer estrangeiro, ao ouvir o nome Brasil, imediatamente o ligavam a Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, até hoje conhecido e destacado como o mais brilhante dos jogadores em todo o mundo.
Nessa época ainda se importava em larga escala e estas importações superavam em muito o volume das exportações, geralmente do café e de alguns hortifrutigranjeiros, fazendo a balança comercial pender sempre em favor do gigante norteamericano. Brasil e Argentina, além da Venezuela que exportava petróleo, conseguiam exportar alguns produtos industrializados como calçados e roupas e somente o Brasil exportava matéria-prima como minério de ferro e calcário. A recém implantada indústria automobilística também contribuía com uma pequena quota de exportação dos seus produtos para Uruguai e Paraguai.
Houve até uma tentativa de se implantar uma indústria automobilística genuinamente brasileira. Certo idealista brasileiro chamado Nelson Fernandes, copiando outro igualmente idealista norte-americano chamado Truckman, fundou a Indústria Brasileira de Automóveis Presidente, com sede às margens da Via Anchieta em São Bernardo do Campo. O método contava com a captação de recursos populares através da venda de ações, amplamente divulgada pela mídia e por vendedores de porta em porta. A equipe de estrategistas do senhor Fernandes até promoveu um concurso nacional para a escolha do nome do futuro automóvel, cujo protótipo podia ser visto em exposição itinerante. Também em fotografias e cartazes espalhados principalmente pelas cidades da grande São Paulo.
A isso a rapaziada da época aderiu em cheio e o nome posteriormente divulgado do veículo seria Democrata. Entretanto, não se tem notícia se alguém foi realmente premiado conforme anunciava o concurso, mas o povo estava muito animado com a possibilidade de ter um veículo de baixo custo, se comparado aos produzidos pelas indústrias estrangeiras radicadas no país. Muita gente, inclusive pessoas que não costumavam empregar dinheiro em negócios de risco comprou ações do senhor Fernandes.
Tudo levava a crer que essa implantação teria sucesso e ainda era amparada por outro investimento semelhante do mesmo senhor Fernandes, o Hospital Presidente que já era uma realidade em pleno funcionamento. Mas como toda ação tem sempre uma reação igual e contrária, a concorrência, até onde se sabe liderada pela Fabrica Nacional de Motores, começou o combate. As forças e reservas do senhor Fernandes que cada vez menos contava com a captação dos recursos populares foram se extinguindo, até que, igual à Truckman, sucumbiu de vez após algum tempo.
Assim caminhava o país pelos chamados anos dourados, até que, em dado momento, a América do Sul liderada pelo Brasil resolveu a ele se incorporar. Surpreendeu-o com medidas radicais e autoritárias colocando todo seu povo em regime de terror, covardia e sofrimento. Enfim, o terceiro mundo punha as mangas de fora pelo efeito dominó que o Brasil provocou nos países da América Latina que se arrastou por décadas.
Tudo começou com a revolução de mil novecentos e sessenta e quatro. Enquadrada dentro da situação política mundial do pós-guerra, bem no auge da guerra fria entre americanos e russos, onde cada qual visava ampliar suas áreas de influência em todos os cantos do mundo, usavam da estratégia do apoio a grupos políticos favoráveis às suas ideologias dentro de uma determinada nação. Com a vitória desta, submetiam os governantes alçados no poder ao atendimento dos seus interesses.
O golpe militar de sessenta e quatro se insere nesse processo. Os Estados Unidos apoiaram a Revolução contra o então presidente da república João Goulart, o Jango, que supostamente era um simpatizante soviético. Indícios e provas sobre o apoio dos Estados Unidos não faltam. Hoje, sabemos que o embaixador americano, Lincoln Gordon e o adido militar, coronel Vernon Walters, atuaram ativamente nas decisões que antecederam o trinta e um de março, dia da revolução.
Diversos documentos comprovam que Gordon sabia da existência de uma operação para dar apoio à revolução, caso houvesse uma resistência. A operação tinha o nome de Brother Sam, ou seja, os irmãos do tio Sam. Como parte desse acordo pode-se relatar os vários encontros realizados sigilosamente entre militares e diplomatas brasileiros e americanos com o intuito de tratar de segurança e de cooperação industrial e militar e os vários contratos de compra de material bélico assinados pelo Brasil no exterior.
Com a contribuição substancial da igreja, na campanha anticomunista do padre Patrick Peyton, que ao lançar a Cruzada do Rosário em Família promoveu uma intensa mobilização dos católicos, visando atingir o governo constituído de Jango. As pregações dopadre Peyton influenciaram na ação de senhoras da classe média, que de rosário nas mãos, conturbaram um comício de Leonel Brizola, influente político e governador do estado gaúcho realizado em Belo Horizonte e o Comício da Central do Brasil promovido pelo governo, Jango, no Rio. Multidões de pessoas saiam em manifestações chamadas Marcha da Família com Deus pela Liberdade que acabaram por conquistaras camadas médias da sociedade e engrossaram as manifestações de repúdio ao governo vigente.Em primeiro de abril de sessenta e quatro o Brasil acordou sob novo regime. Um golpe, liderado por militares e os setores conservadores da sociedade brasileira, depuseram o presidente João Goulart e deram início a um regime ditatorial que sufocou o país por vinte e um anos. Sufoco este um tanto relativo se comparado aos dias atuais e aos anteriores á revolução. Os governos populistas como de Jango e Jânio Quadros, apesar das promessas e feitos, não eram isentos de vícios: o nepotismo, privilégios, falcatruas, empobrecimento das camadas populares e arrocho sobre as camadas médias, aumento da dívida externa e da inflação, etc., prolifera nesses governos.
Mas se era ruim, ficou ainda pior após o golpe e hoje está péssimo: conchavos políticos, corrupção, desemprego, saques, assaltos a bancos, falta de segurança interna, abandono dos hospitais e escolas públicas, dívida externa astronômica, endividamento público correspondente a mais da metade do PIB, falsos índices de inflação, arrocho fiscal e salarial, cumplicidade cínica e espoliativa com organismos financeiros internacionais e por aí a fora não nos difere muito do passado.
Todavia, internamente a situação imediatamente anterior ao golpe sequer era percebida pelo povo. O período pós-revolução de mil novecentos e trinta foi caracterizado pela existência de governantes que podemos denominar de populistas, política que procura manipular e utilizar as massas trabalhadoras para a sustentação do poder. Durante o período, de quarenta a seis á sessenta e quatro foram eleitos para chefe do executivo, candidatos dos partidos PTB - Partido Trabalhista Brasileiro, UDN – União Democrática Nacional e PSD – Partido Social Democrático, em que todos assumiam uma posição populista e trabalhista, apesar da incoerência de um membro da UDN, partido de empresários, assumindo posições políticas populares trabalhistas. Mas estava na moda. Garantia a eleição. Getúlio Vargas era um modelo e tanto.
Com o término do mandato de JK em mil novecentos e sessenta, foi eleito Jânio Quadros, da UDN. Mas Jânio tinha ambições maiores. Tropeçou na sua estratégia e acabou tendo que renunciar em agosto de sessenta e um, após sete meses de governo. Como mandava a constituição, assumiu seu vice, João Goulart, do PTB, e seria ele o pivô da crise final da fase populista.
Considerado esquerdista pelos setores mais conservadores, e, portanto uma ameaça, sofreu pressões políticas comandadas pelo partido de oposição da época, a UDN e pela cúpula, qu
Na economia, os militares adotaram medidas, um tanto quanto, impopulares, visando equilibrar as finanças internas, resgatar capacidade de crédito externo e atrair capitais estrangeiros. Internamente, restringiram o crédito e coibiram os aumentos salariais para conter a capacidade de consumo da população e, consequentemente, diminuir a inflação que, naquele momento, ultrapassava os oitenta por cento. Para controlar o déficit nas contas do governo, aumentaram impostos, tarifas públicas e o corte de despesas na administração. Alguns direitos tr
Os protestos se espalhavam em todas as direções da sociedade. O movimento operário desafia o regime militar: em Contagem, região de Minas Gerais, Osasco, em São Paulo e no Rio de janeiro pipocaram greves que demonstravam a insatisfação com a política do governo e, sobretudo com o arrocho salarial.
Em mil novecentos e sessenta e sete, o país, poeticamente chamado de “O Gigante Latino em franco desenvolvimento”, nada mais era, na verdade, que um subdesenvolvido governado por atos e decretos militares nada condizentes com o espírito nacional. Desde o golpe militar que derrubou o governo Jango, o gigante atravessava o terceiro ano da ditadura, regime este que começava a estender-se por todos os países do continente sul-americano. A repressão era total e o Ato Institucional número cinco estava a todo vapor, ceifando direitos constitucionai
O povo não compreendia bem porque chamavam de comunistas aos idealistas que clamavam por democracia. Até onde se podia saber, comunistas viviam num governo minoritário e formado por uma cúpula dona de tudo. O cidadão nada tinha. Tudo pertencia ao estado e o ser humano era apenas uma peça sem muita importância da enorme máquina governamental. Era incapaz de pensar e de agir, de sonhar e até mesmo sem o direito de ter esses sonhos. O pobre mortal via no atual governo tudo isso junto, mas diziam que eram democráticos e, aos poucos, iam fazendo
Nesse clima e de certa forma alheios a ele, um grupo de jovens estudantes secundaristas começava a se conhecer num colégio público no bairro de Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo. A propósito, eu, Mário, fazia parte dessa turma alegre e descompromissada, juntamente com o Marcos, a Hilda, a Purci, o Salvador, o Saulo, a Sônia, a Marlene, a Rosa, o Zig, o Janjão, o Aita e tantos outros cujos nomes não mais me lembro. Afinal, passaram-se quase trinta anos.
Após lhe relatar o ocorrido, ele não deixou de rir, mas me repreendeu pela ou
O pessoal da TFP não mostrava nenhum interesse em participar, muito menos em