Fuga repentina

Após horas de tédio absoluto e um bom tempo imersa no conforto daquela cama absurdamente aconchegante, decido que é hora de agir. Preciso sair daqui. Antes que pudesse formular um plano decente, movimentos estranhos do lado de fora me chamam a atenção. Pela janela, vejo vários homens indo e vindo, como lobos em patrulha.

O que eles querem comigo? Realmente acreditam que vou me comportar como uma donzela resgatada, grata pelo "cativeiro"? Mal sabem que estão lidando com a vilã desta história.

Tateando pela sala à procura de algo que pudesse me ajudar, meus dedos tropeçam em um livro na estante. Ao puxá-lo, o inesperado acontece: uma passagem secreta se revela. Meu coração dispara. É a oportunidade perfeita. Mas, antes que eu possa sequer pisar no corredor oculto, o som de passos pesados ecoa do lado de fora.

O som dos passos faz meu coração disparar. Meu corpo congela por instinto, como se cada célula gritasse para eu me esconder. A adrenalina toma conta de mim, e por um momento, tudo o que ouço é o martelar incessante do meu coração nos ouvidos.

Fecho a passagem secreta o mais silenciosamente possível, engolindo em seco enquanto o mecanismo volta ao lugar. Cada movimento parece demorar uma eternidade, e a tensão faz meus dedos tremerem. Respiro fundo, tentando parecer calma, mas minha mente trabalha a mil.

Por que eu estou nervosa? Isso é o que eu queria, certo? Um plano, uma chance de escapar. Mas agora, diante da possibilidade de ser pega, uma onda inesperada de vulnerabilidade me atinge. A sensação de estar sendo vigiada, de ser uma peça em um jogo muito maior, faz minha confiança vacilar.

Os passos se aproximam, ecoando como trovões no silêncio do quarto. Sinto uma mistura de medo e raiva. Medo, porque sei que eles são perigosos. Raiva, porque odeio me sentir assim: encurralada, impotente.

Me jogo na cama, tentando assumir uma postura relaxada, mas meus músculos estão tensos como cordas prestes a arrebentar. Passo a mão pelo cabelo, um gesto forçado que espero que pareça casual. Cada segundo parece uma eternidade.

O Alpha.

Seu olhar é como um raio, cruzando o quarto e pousando diretamente em mim. Tento não desviar os olhos, mas é difícil. Há algo na presença dele que é avassalador, como uma tempestade prestes a explodir.

—  Ainda acordada ? Vejo que está cooperando bem — ele comenta, com um tom que beira a zombaria.

Minha risada escapa antes que eu possa conter.

— É claro, mestre. — Minha voz transborda ironia.

David, um dos lobos que o acompanha, não segura o riso. O Alpha, no entanto, ignora.

— Não temos tempo para joguinhos. Preciso que coopere. Lá fora está perigoso — ele diz, a voz grave agora tingida de algo que parece... súplica?

Minha frustração vem à tona antes que eu possa me conter.

— Perigoso? E como acha que vou me defender sem o meu feitiço de proteção? Estou completamente desprotegida!

O Alpha se aproxima, seu olhar terno em contraste com a tensão que emana dele.

— Eu vou te proteger. Mesmo sendo uma bruxa.

— Ah, claro. — Meu tom é carregado de sarcasmo. — Qual é o problema com as bruxas? Alguma partiu seu coração?

Ele desvia o olhar, fixando-o no horizonte como se as palavras custassem a sair.

— Bruxas são traiçoeiras. Ainda não entendo por que estamos ligados.

— Eu só quero ir para casa — murmuro, a súplica escorregando na voz.

Ele me encara, sua mandíbula ficando tensa.

— Não existe mais "casa". Seu apartamento foi destruído, queimado até as cinzas. Você não pode ir embora até descobrirmos quem está por trás disso.

O peso de suas palavras cai sobre mim como um balde de água fria. Lá fora, os lobos continuam patrulhando. Aqui dentro, o Alpha me observa como se eu fosse tanto a ameaça quanto a solução.

Mas eu? Eu só quero só quero sair daqui!

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