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Capítulo 3

Iara Lauren.

Mais que merda de tempo!

Acabei de chegar no Rio de Janeiro. Estava em um evento importantíssimo de moda na Itália, minha coleção foi um sucesso, todos amaram, normal. Mas infelizmente não pude aproveitar por muito tempo.

Tive que voltar rapidamente ao Brasil afinal, hoje é o aniversário da minha mãe, e se eu não viesse Deus sabe o que ela faria comigo.

Piso duro furiosa pela quantidade de lama que empreguina em minha bota, juro que pensei que quando chegasse pegaria um calor dos infernos como de costume, mas não, o tempo está péssimo e eu nem me preparei para isso.

Estou somente com um vestido curto vermelho, e as botas negras que b**em quase ao meu joelho, o frio que b**e é cruel e nada generoso comigo.

Seguro o guarda chuva em uma mão e arrasto a mala na outra. Eu só vim passar alguns dias mas como sempre exagero na bagagem, muitos vestidos, shorts e poucas calças, tradução estou ferrada se o tempo não mudar.

-Já era tempo Bê, quanta demora.

Reclamo o vendo vir apressado pegar minha bagagem.

Bernardo é um homem super gentil e simpático. É alguns anos mais novo que eu, mas é bem maduro. O conheci faz um tempo atrás, em um bar que eu tomei todas.

Ele me ajudou, acabamos transando e no dia seguinte descobri que ele tinha um companheiro, sim é gay, bissexual, não conheço termos.

Seu namorado nos encontrou com somente um lençol nos cobrindo, quase me bateu, mas Bê se meteu na frente e não deixou.

A culpa não era minha, eu não era a comprometida.

Depois disso continuamos com a nossa amizade, as vezes ficamos, mas nada de sério. Acabou que ele ficou desempregado por conta da crise que se alastrou na cidade. Apesar de ser formado em administração isso não foi o suficiente para encontrar um trabalho rápido, então o propus que fosse meu chofer, que me atendesse sempre quando eu estivesse aqui e consequentemente pra não ficar parado a minha mãe também.

-Me perdoe senhora Iara, o trânsito estava muito ruim.

Ele reserva a mala junto com o guarda chuva e abre a porta para mim.

-Senhora é o caralho, eu só tenho 30 anos Bernardo.

Sento no estofado inconformada. Ele só tem 2 anos a menos que eu e acha que é garotinho. Se bem que desconfio que estou na crise dos 30.

Entra no carro e o põe em movimento.

-Desculpe Iara.

Estranho o fato de estar quieto, normalmente ele é sempre espontâneo.

-O que houve sua puta louca?

Nossa intimidade é admirável. Ele é uma das pessoas que mais confio, uma entre três. Eu sou uma pessoa bastante difícil e quem conseguir esse posto, se sinta amado.

-Terminei com William.

-De novo? Vocês ficam e voltam, toda hora.

-É. Ri sem jeito. -Mas agora acho que é pra valer.

Para no sinal.

O olho de soslaio, está visivelmente magoado, sei que William é uma pessoa especial para ele e não gosto de vê meu único amigo homem sofrer assim.

-Uma noite de amor, ou filmes em saga?

Ri botando a mão em minha coxa.

-Estou muito magoado bonitinha, no momento só uma noite de filmes em saga. Me olha pelo retrovisor. -Sexta na sua casa.

-Hum, isso é bom.

Digo ao sentir sua mão subindo por minhas coxas, adentra em minha perna e com seus dedos hábeis massageia minha intimidade.

-Shiu.

Passou os próximos 10 minutos que tínhamos de caminho dando-me prazer com seus dedos. Entrou e saiu com sua extrema habilidade, gozei soltando um gritinho fino e sorri para a bela recepção.

-Chegamos. Tira a mão de minhas pernas e leva os dedos aos lábios provando meu gosto.

-Doce como sempre.

Rio pegando um de seus lencinhos que deixa ao carro e limpo as partes que deixei lambuzadas.

-Te vejo na sexta? Pergunto lhe dando o lenço.

Ele pega e vai se inclinando a minha face, nos olhamos firmes analisando o sorriso um do outro, temos química. Beija o canto de minha boca, passeia pelos meus lábios e o recebo quando os ataca delicadamente.

Nos beijamos com calma provando o gosto de nossas línguas entrelaçadas.

Bernardo pode ser gay, talvez bi, mas tem um boca super deliciosa, beija muito bem e possuiu uma pegada irresistível. Além de tudo, é carinhoso e um amigo fiel. Se eu não fosse tão fria poderia me apaixonar perdidamente por ele.

Claro, se fosse seu tipo também.

-Até sexta.

[...]

-Mãe! Chego contente em seu apartamento porém meu sorriso morre quando a vejo abaixada limpando o chão. -Mãe mas que merda, levanta daí.

-Iara...

Sorri, mas parece se recordar do que foi dito anteriormente e reprime os lábios.

-Isso é jeito de falar com sua mãe, vou lavar sua boca com sabão menina.

Limpo os saltos no pano. Ando até ela com os ombros encolhidos e a ajudo a levantar.

-Desculpe mãe, mas sabe que não gosto de vê a senhora fazendo esforço.

Junto as sobrancelhas.

-Poxa, a senhora trabalhou tanto para eu me arranjar na vida, e agora que eu posso te dar tudo de melhor. Um apartamento bacana, uma faxineira que venha arrumar as coisas, cozinheira, tudo, tudo que merece, a senhora simplesmente desdém do que te ofereço.

Falo realmente chateada.

-Não desdenho filha. Ela diz com sua voz mansa. -Mas querida, eu não preciso de gente que faça isso tudo para mim, eu já tenho todas as coisas que preciso. Não posso aceitar esse apartamento caro, mas já cedi ao aceitar o chofer, não preciso de mais.

Passa a mão pelo rosto mostrando suas rugas de luta e sofrimento de tantos anos.

-E tem outra, se chama...

-Auxiliar de serviços gerais. Digo com ela.

Minha mãe sempre trabalhou como empregada, quer dizer, auxiliar de serviços gerais na casa do cara que mais amei na vida. Rickson Johan.

Foram há muitos anos atrás, mas ainda me lembro.

°°°°°°°°°

Cresci naquela casa, uma cidade em meio a França. Na verdade sou paulista, minha mãe cozinhava para eventos importantes e em uma dessas, a família Johan estava lá. Eles amaram a comida dela e a convenceram a ir morar com eles.

Porém, tinha eu na história. A matriarca da família a senhora Geane não gostou nem um pouco por ela ter uma filha pequena. Mas o senhor Johan amou a ideia de ter uma menininha na família e me acolheu como sua.

Eu tinha apenas 4 anos, fui a princesinha dele, me levava com Rick para tudo quanto era lugar, foi uma época feliz.

Eu e meu "irmão" de criação éramos melhores amigos. Até que aos quinze anos eu descobri que não sentia amor de irmã por ele, mas sim atração, paixão, eu estava literalmente apaixonada, e quando descobri que ele também me queria, estava perfeito, eu estava no céu.

Namoramos escondidos de todos. Atrás do pé de manga, dentro do carro do pai dele, no quartinho de emprega da minha mãe, enfim, até que aos 16 perdi a virgindade. Rick foi extremamente carinhoso e amoroso comigo, me dizia que eu era a mulher de sua vida, que amava meu jeitinho inocente e amorosa, até que fiz meus 18 anos e ele me pediu em casamento.

Foi maravilhoso. Pediu minha mão em um dos jantares que sua mãe organizou, tradução, ela ficou extremamente indignada já que tinha trago uma prima para ele conhecer e quem sabe ser sua futura esposa. Mas eu que seria.

O senhor Johan ficou muito surpreso, chamou Rick e eu em um canto e nos deu o maior sermão já que ele foi o último a saber.

Só que depois do susto, só irradiava felicidade de vê as duas pessoas que criou sendo tão felizes. Agora, sem medo de esconder o que sentíamos.

Depois de um tempo, finalmente tinha chego o dia de nosso casamento.

Minha mãe e eu quase raspamos as economias para comprar o vestido de noiva, era belíssimo. Simples, com algumas flores laterais. O pano não era nobre, o véu era o que minha avó tinha se casado, e não pensem que era velho e decadente, não, era super chique, e o certo seria minha mãe ter se casado com ele mas já que meu pai e ela não conseguiram, passou para mim.

Me arrumei na casa de uma amiga de minha mãe, Cátia era o nome dela, uma senhorinha super simpática que me ajudou a fazer os cabelos e a maquiagem, já que eu não tinha amigas que pudessem fazer isso por mim.

Sempre fui fechada, e me doeu muito não ter alguma amizade que pudesse me dizer palavras carinhosas e me incentivar. Mas naquela hora não importava mais, pois se iniciava uma nova vida, só eu e meu marido.

O carro estava estacionado a porta do cortiço que a senhora Cátia morava. Ela me bendisse, beijou minha testa, me despedi de sua companhia e saí de braços dados a minha mãe sendo cumprimentada por todos a nossa volta.

Era o dia mais feliz da minha vida, a felicidade me sufocava. Estava plena e satisfeita prestes a realizar meu maior sonho.

Comprovaria que sim, príncipes existem. A solidão iria embora de minha alma, finalmente eu iria formar minha família com o homem que amava, nada podia dar errado.

Até que cheguei na igreja. Ri comigo mesma como tudo estava tão lindo decorado.

Já percebia as flores brancas que pedi pra que ele colocasse nas pilastras que formavam a igreja. Estava divino.

Chorei tentando me acalmar. Estava na hora. Junior saiu do carro para abrir o passageiro para mim mas quando dei um passo, escutei alguns murmuros que me tiraram o chão.

"Ele cumpriu mesmo o que falou, vai deixa-la esperando no altar"

Ele não estava me esperando no altar?

"Tadinha, eu ainda não acredito que aceitei participar dessa palhaçada somente para humilhar essa garota"

"Fale por você, eu recebi bem para isso"

O homem que estava a conversar negou fielmente, enquanto a mulher, gargalha da minha desgraça.

Minhas lágrimas correram como um rio. Voltei o pé para dentro do carro e desabei no colo da minha mãe.

E tudo que ele me disse? Os planos, os sonhos que tivemos juntos? Todo o amor que ele dizia sentir por mim, era tudo mentira?

Porque despedaçar a vida de alguém tão inofensiva como eu. Eu já sei, só para tirar minha virgindade e aproveitar meu corpo o quanto pôde.

Eu já deveria saber, homens ricos como estes, só querem se aproveitar de jovens pobres e indignas de felicidade como eu.

Mesmos sobre os protestos da minha mãe comecei a rasgar o vestido. Puxava duramente, arrancava a peça do meu corpo tirando sangue da minha carne junto. A dor era forte demais, nem um tiro em meu peito doeria tanto quando ficar sem seu amor.

Eu só sabia chorar e gritar por seu nome. A maquiagem que Cátia tinha feita com tanto amor escorria por meu rosto. Os saltos altos nem sei mais onde estavam. O cabelo bem preso e penteado foi desfeito ao repuxa-lo com toda dor.

Joguei para longe os grampos, a tiara, o véu. Eu não queria saber mais de nada.

Minha mãe me perguntava a todo instante o que tinha acontecido mas a vergonha era maior, então preferi ficar muda, só guardar para mim a dor, ela não merecia saber que sua filha foi enganada e se deixou levar por um canalha como aquele.

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