Capítulo 5

-Iara filha, está me ouvindo?

Volto para realidade ao ouvir o chamado de minha mãe.

-Sim, estou.

Ela ri do meu jeito ainda perdido e vai andando para a cozinha. Verifica alguma coisa na geladeira. Mexe nas panelas e põe algo para cozinhar.

-Princesa.

-Sim mãe.

Me sento em uma das banquetas em frente ao balcão.

-Como anda sua vida amorosa querida?

-A mesma de sempre, a senhora sabe que não gosto de falar sobre isso.

Me mexo um tanto desconfortável no assento, não gosto que me questione, sempre acabamos em uma discussão.

-Iara, não vai me dizer que anda sair com homens casados de novo?

B**e na panela já transparecendo sua ironia.

-E se eu estiver mãe, qual é o problema?

Respondo um tanto ríspida.

-Querida não foi isso que eu te ensinei. Repreende brava. -Já disse para você parar como isso e encontrar homens descomprometidos.

Se põe virada para mim, com aquela cara típica de mãe durona que se pudesse me deixava de castigo.

-Tantos que gostariam de ficar com você.

Rio achando graça.

-Eu não quero compromisso, quantas vezes tenho que te dizer isso mãe? Eu não sou feita para namorar, casar, nem nada, e eu vou ficar com quem quiser e que se dane se esse alguém for casado.

-Não é certo Iara! Ela praticamente grita me repreendendo. -Não pensa nas mulheres, na família que está destruindo?

Me levanto realmente chateada.

-Não é culpa minha mãe, eu não sou a comprometida. Se eles saem de suas casas e querem se envolver comigo, a culpa é delas que não conseguem segurar os seus maridos, e deles também por não valorizar o que tem em casa.

Ando de um lado para o outro respirando fundo.

-E quer saber! Eu estou pouco me ferrando para o que acontece. Que se danem os tabloides e a família perfeita! Eu não ligo para quem sair magoado.

Ela fecha os olhos visivelmente abalada.

-Você não era assim querida.

-Mas agora eu sou! Reverbero farta.

-Me transformei em uma vadia, não tenho escrúpulos, sou totalmente sem sentimento e eu fico bem feliz com isso!

-O que é isso Iara! Ela b**e a colher na panela causando um barulho irritante. -Você está parecendo uma.

Trava na hora de falar me fitando profundamente arrasada.

-Eu respondo mãe. Meus olhos se inundam. -Uma piranha? Pode dizer. Eu sei. Eu sou uma piranha. Mas o problema é meu se quero ser assim, ninguém paga a merda das minhas contas, não pagam esse apartamento caro, nem as roupas de marca que eu compro, então que se fodam todos!

Ela abaixa os olhos. Se vira e volta a fazer o que estava antes.

Magoada reprimo os lábios. Eu a amo, mas não permito que se meta na maneira que eu vivo a minha vida. Isso só eu posso decidir.

Me viro com a intenção de tomar um banho e aliviar meu estresse mas paro por um instante ouvindo seu sussurro.

-Você ainda vai se arrepender por isso Iara.

Me viro a vendo me olhar também.

-Um dia chegará um homem. Um rapaz bom que mudará sua vida, que irá te trazer para luz e você vai ama-lo.

Deus que me livre.

-E eu espero que você o valorize, que não o rejeite. Porque eu tenho certeza filha, se isso ocorrer, seu coração também sofrerá.

-Não me rogue praga mãe!

Digo por fim, lhe dou as costas e a passos largos sigo ao meu banheiro.

Ela está louca. Vai parar em um hospício se continuar assim. Eu me apaixonar? Jamais. Eu não posso, não quero e nunca irei. Isso é uma promessa.

[...]

Algumas horas depois:

Foi tudo muito estranho, até agora não entendi o que houve.

Eu marquei de sair com Jhonatan, um contato de longa data. Ele é moreno, alto e bastante sensual. Namora com uma perua qualquer já vai fazer alguns anos.

Marcamos de jantar em um restaurante tradicional da cidade, chamado "Carioca". Nos divertimos, bebemos muito, e no final ele quis me levar para cara.

Eu disse que chamaria meu motorista particular mas ele insistiu. Foi me convencendo me enchendo de beijos e carinhos, então cedi, entrei em seu carro. Ficamos fazendo algumas gracinhas durante o trajeto, mas todo meu pesadelo só começou quando ele estacionou em frente ao meu prédio.

Eu saí do automóvel para pegar minha bolsa que deixei do lado de trás, e foi nessa hora que me trancou e deu início ao meu desespero.

Pulou para o banco traseiro e começou a tocar em meu corpo com extrema brutalidade, me beijava duro, com muita raiva. Apertava minhas coxas, braços, cintura como se quisesse realmente me quebrar. Eu estava apavorada.

Todos que fiquei sempre foram bastante carinhosos comigo, nunca me desrrespeitaram como esse porco nojento, e ao perceber suas reais intenções comecei a gritar.

Gritei em plenos pulmões, bati desesperadamente em seu peito mas ele não saia. Arrancou um de meus seios de dentro do sutiã e começou a chupar forte, me machucando pra valer.

Minhas lágrimas já escorriam firmes, me senti um lixo como nunca antes, abusada e molestada totalmente indefesa, presa na minha própria armadilha.

Até que senti um barulho forte do lado de fora, pareceu ser uma pedra ou ferro, não sei, mas fez a janela trincar.

Jhonatan saiu de cima de mim indignado, abriu a porta do passageiro, mas não deu tempo nem de abrir a boca pois foi atingido em cheio na cara.

Não sabia se eu vomitava pelo estrago feito no rosto de alguém, ou agradecia o autor de joelhos por ter me salvo desse canalha.

Me recompus o mais depressa possível, ajeitei meu vestido e saí do carro presenciando uma das cenas mais horríveis, ouvia os ossos dele quebrando. Isso já estava me dando náuseas.

Escutei em um ponto bem longe uma sirene, deduzi ser de policia e fiz algo que realmente me arrependi de ter feito ao sentir uma sensação boa dentro de mim: O Toquei.

Segurei no braço do homem o fazendo parar no ar. Ele largou o ferro posto em mãos na hora, como se eu fosse alguma panaceia.

Me senti poderosa por alguns instantes.

Aos poucos, ele foi se virando. Meu medo, toda a angustia e aflição de minutos atrás se dissipou na mesma hora que travei em seus olhos azuis.

Como são lindos!

Seus cabelos são raspados deixando um sutil v antes da testa. Barba rala, boca desenhada, e o corpo... O corpo bem definido por debaixo da camiseta branca com as mangas emboladas ao antebraço.

Tudo nele é lindo e chamativo.

Não sei o que houve, mas por um ato de impulso eu o abracei como se algo nos ligasse. Mais do que um ímã, uma eletricidade ou ligação direta.

Meu corpo todo relaxou no seu, me senti confortável. Como se algo se encaixasse, que tudo fosse para o seu lugar e por um momento me senti segura, por um momento senti uma sensação boa como se aqui fosse meu lugar. O que estou fazendo?

Fecho os olhos suspirando seu cheiro másculo com os braços envolta de seu corpo. Como é refrescante, nunca havia sentindo um igual.

O aperto com extrema força querendo sentir mais desse Deus grego parado a minha frente. Quisera eu, que tivesse feito o mesmo, poderia sentir a força de seus músculos fechando meu corpo curvilíneo, mas não. Fica inerte.

Parece que não tive efeito algum em seu corpo. Como se toda minha beleza, seios grandes, cintura fina, quadris largos e coxas grossas não o afetasse nenhum pouco, fiquei frustrada.

Me afasto moderadamente de seu corpo com a intenção de constatar se realmente ele é tudo isso que acabei de vê.

E sim, ele é.

Meus olhos ainda estavam cheios d'gua pela aflição de momentos antes, então ao piscar, deixei a lágrima única que ainda restava, escorregar por toda minha face.

-O-obrigada.

-De nada.

Ainda tem uma voz gostosa um tanto rouca. Calma e suave. Eu quero esse homem, e eu o quero hoje, de preferência nu em minha cama.

De repente ouço o som da polícia mais próximo. Olho para o chão vendo o corpo de Jhonatan imóvel, será que morreu? Droga eu não posso me meter em confusão.

Inclino para os lados avistando se alguém pode ter registrado o acontecido. Mas a maioria desses jovens estão bêbados e com a cabeça na lua.

Sem pensar muito arranco dali com o bonitão agarrado em minhas unhas. Cruzamos a rua com todo vapor. Ele tenta se soltar mas não deixo. Não temos tempo a perder.

-O-oque.

-Por favor, não fale nada. O impeço de continuar. -Agora realmente não é a hora.

Continuo correndo em disparada o puxando pelo pulso afim de entrar em um dos becos. Começo a procurar, sei que há uma portinha por elas que dá acesso ao hotel.

-A polícia, merda. Resmunga ao constatar o fato.

-Agora que você se ligou.

Paro de correr ao encontrar a portinha que descobri negociando com o camareiro.

É comumente eu sempre chegar em casa em situações vergonhosas e se não tivesse a porta dos fundos minha carreira acabaria no outro dia, não tenho dúvidas.

-O que é isso?

-Coisa minha. Digo curta e grossa.

Abro a porta usando uma de minhas presilhas de cabelo.

-Espera, isso é ilegal. Exclama exaltado. -Pode te dar alguns anos de cadeia.

Provavelmente nunca viu uma mulher com essas artimanhas. Fazer o que? Eu sou única e sei disso.

-E quem vai me prender?

Digo sarcástica, me concentrando no meu trabalho.

-Eu. Vorcifica e travo na hora. Como assim ele pode me prender, quem está pensando que é?

Como se lesse meu pensamento me responde de imediato.

-Sou militar.

-Tá de sacanagem. Sussurro conseguindo abrir finalmente a bendita porta.

Porra, fui logo me esbarrar com um militar? Eu saio com todos tipos de homens mais sou altamente avessa aos que tem arma, e não estou dizendo a arma de baixo.

Me viro pra ele, com toda minha ironia. Fecho os punhos a frente do corpo esperando que me prenda, vamos vê se tem coragem.

Levanto uma sobrancelha questionadora.

-Eai?

Tosse seco e olha para os lados.

-Eu estou mais sujo que você, entra logo.

Ele entra em minha frente. Acho graça de seu gesto apressado e vou logo atrás.

-Uhm, um agente do perigo isso me deixa excitada.

Tento falar baixo mas percebo que ouviu quando solta uma gargalhada alta.

-Você está me metendo em confusão mulher, eu só vim para espairecer e agora quase cometi um crime.

Rio enquanto passamos pelo corredor úmido e escuro.

-Se meter em confusão, é meu nome do meio. Cerro os olhos escutando o eco de minha voz. -Mas não pense que eu não queria que você o tivesse matado, somente não queria que fosse preso por ter me ajudado.

-E eu pensando que você era um anjo.

-Ei! Exclamo fingindo chateação. -Eu sou um anjo.

Só que um anjo do mal.

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