Iara LaurenToco ao chão. Os pés acoplam ao piso de madeira, frio, oco. A casa está aberta, mas oca por dentro. Arqueio o corpo, estico ao máximo até me sentir confortável, o retorno não vem de imediato, eu não estou legal.Caminho devagar até a cozinha. Hoje estou faminta, não aguentando de fome, talvez por isso a tradição cama/pasta de dente passou despercebida. Estou a "roncar", literalmente.—Mamãe. —junto o cenho. A voz de minha menina nitidamente atravessa meus ouvidos. Olho para os lados, não vejo absolutamente ninguém. Torço os lábios. Não vejo Gabriela desde o dia em que eu tive aquela crise inexplicável, nervoso eu não sei.Na minha cabeça estava muito presente todas as minha perdas. De algum modo meu sistema criou uma mecanismo cujo as piores dores afetam-me de maneira direta e isso aos poucos me destroem.Solto uma lufa de ar. Busco o pó de café, faço todos os procedimentos a cafeteira e logo estou a espera a frente da bancada.—Ai! —olho para trás rápido, somente consigo
Eduardo guimarãesMeu nome eduardo guimarães sou médico atuante. Meu sonho sempre foi ser médico. Digo que essa é a profissão mais linda, vivo a dizer que essa é a melhor profissão de todas pois em um momento de saúde fragilizada somos nós quem irá lhe proteger, quem irá cuidar de você. Ddzem muito sobre os professores o qual a classe que eu respeito e admiro bastante mas cuidar do ser humano, de uma alma necessitada, de um enfermo...Iara está a semanas de finalmente dar a luz, eu estou em êxtase. Hoje é o dia de seu aniversário, e para comemorar decidi passar naquele mesmo barbeiro, dar um corte bacana, alinhar a barba, bom, creio que consegui. Mais tarde iremos jantar. Analiso-me ao espelho, o belo colete azul escuro combina perfeitamente a camiseta branca e a calça jeans.Ergo uma sobrancelha enquanto passo a mão a barba. Belo trabalho, estou bonito, muito bonito aliás, ela vai gostar. Saco o terno exposto ao sofá, coloco rápido e em poucos segundos estou a colocar meus óculos escu
Iara LaurenOk, ele desmaiou. Na minha sala, no meu tapete branco felpudo. Meu coração palpita, e levo a mão ao peito. Joaquim vem de socorro a mim, em uma pressa sem igual. Sento ao canto do sofá. Minha face mal se move, estou surpresa e impactada.—Toma loira, bebe um pouco. -bebo a água devagar, pouco a pouco. —Não foi por mal, nem passou pela minha cabeça que esse cara estaria aqui, não queria te assustar.—Me assustar? -olho bem brava. —Você me deixou puta! Porra Joaquim! -deixo o copo a mesa. —Meu tapete caralho!Por um momento continua olhando sem reação, ao segundo momento deixa um pequeno sorriso expressar, ao terceiro gargalha forte. Não consigo, juro que me esforço mas solto uma risada estridente logo em seguida.Não sei quantos segundos ou talvez minutos eternos ficamos ali parados, rindo, mas rindo mesmo, estridentes e vergonhosamente estranhos, como dois amigos e confidentes, com olhares de cumplicidade.—Você é tão linda grávida. -ainda sorrio, porém um pouco mais fr
Joaquim TrevorEu estava literalmente absorto, como um peixe fora d'água. Com as mãos fincadas nos cabelos, andava de um lado para o outro com vários pensamentos me rodeando, pensamentos como... Ela está bem? Será que precisa de mim? Porque grita tanto assim?—Ah!!!!Meu coração aperta com mais um grito seu. Médicos e enfermeiros andam de um lado para o outro talvez se perguntando porque esse idiota está todo equipado, com toda essa proteção para entrar na sala de parto, e não entra, está aqui, nervoso, tímido e parado como dois de paus. O problema é que estou a meia hora pensando se entro ou não, se vou mais atrapalhar do que ajudar. Quando Bibi nasceu eu não pude assistir o parto, foi tudo muito rápido. Mas tenho essa oportunidade hoje, eu não posso deixar a Iara na mão, é seu primeiro filho de muitos que eu sei que vamos ter, sei que deve estar amedrontada. Não posso ficar aqui parado, preciso ajudar ela de alguma forma. Decido entrar. Assopro as mãos, respiro fundo e abro a porta.
Iara LaurenRelaxo pensativa ao tomar meu café da manhã, estou tão feliz que às vezes nem sei como fiz para merecer tantas bençãos em minha vida. Meu bebê nasceu, é uma menina linda, é a perfeição em forma de miniatura, uma cópia perfeita de Joaquim. Ela tem os cabelos pretos e os olhos iguais ao do pai. É a coisa mais linda que eu já vi.Tantas coisas aconteceram tantas coisas se passaram e olhando lá atrás eu posso dizer que eu não tiraria nenhuma vírgula se quer, do que aconteceu comigo. Mesmo as coisas ruins, elas servem de aprendizado e todas elas me fizeram enxergar que eu valia a pena, que eu sempre mereci ser feliz e que eu posso fazer muito mais por mim e pelos outros. A vida me ensinou isso e sou extremamente grata a ela.Afinal tudo se ajeita.Tenho minha casa com meus três filhos e um marido que eu amo de paixão. Minha mãe bem de saúde na medida do possível. Meu pai também está bem. Aliás, desconfio que esteja se relacionando com ela mas nunca cheguei para eles e perguntei,
Joaquim Trevor:Mais um dia de merda. A mesma rotina de sempre. Acordar cedo, olhar para a cara de bunda da minha esposa, tomar um banho gelado e ir para o quartel. Estou contando os dias para isso tudo acabar.A única coisa boa que tenho na minha vida é minha filha. Sim, sou pai de uma linda garotinha de cinco aninhos. Ela é uma criança doce, mas infelizmente é muito quieta e reservada. Não tem muitos amigos na escolinha, come pouco, dorme mais do que tudo, não interage com as crianças do condomínio, não fala faz dois anos, enfim, eu morro por dentro por vê-la assim. Faria de tudo para ganhar todos os seus sorrisos.Não sei o que a prende de ser uma menina animada como quando nasceu. Rio com a lembrança. Desde os seus primeiros meses, ria para qualquer gracinha que eu fazia. Eram ótimos tempos.//Deixo Liandra dormindo, vou em direção ao banheiro e tomo uma ducha bem quente, pois hoje é o dia mais frio do ano, o que é muito atípico, afinal, estamos no Rio de Janeiro.Vim parar aqui
Saio do banheiro somente com a toalha enrolada na cintura. Liandra está lendo uma revista passando as páginas com total força ao ponto de quase rasga-las.— Liandra quero conversar com você.— Que é? Resmunga ainda sem me fitar.— Pode olhar para mim?Pergunto irritado. É sempre assim quando tento conversar sobre os nossos problemas, ela perde a paciência e trata como algo banal.Suspira fundo e abaixa a revista.— O que você quer Joaquim?— Quero falar sobre a nossa filha.Ela revira os olhos e se ajeita na cama.— Não vê que ela é uma menina sozinha, parada, não come, não brinca. Você acha normal uma criança de 5 anos agir assim?— Você quer que eu faça o quê? Cruza os braços sobre o corpo. — Viu muito bem que eu fiz a comida dela, tentei fazê-la comer, mas foi quase impossível, ela não quer.— Porque será isso? De quem é a culpa Liandra?— A minha que não é.Ponho a mão a cabeça sentindo uma dor forte. Vou andando até o armário e começo a colocar as minhas roupas.— Eu tento, mas e
Iara Lauren.Mais que merda de tempo!Acabei de chegar no Rio de Janeiro. Estava em um evento importantíssimo de moda na Itália, minha coleção foi um sucesso, todos amaram, normal. Mas infelizmente não pude aproveitar por muito tempo.Tive que voltar rapidamente ao Brasil afinal, hoje é o aniversário da minha mãe, e se eu não viesse Deus sabe o que ela faria comigo.Piso duro furiosa pela quantidade de lama que empreguina em minha bota, juro que pensei que quando chegasse pegaria um calor dos infernos como de costume, mas não, o tempo está péssimo e eu nem me preparei para isso.Estou somente com um vestido curto vermelho, e as botas negras que batem quase ao meu joelho, o frio que bate é cruel e nada generoso comigo.Seguro o guarda chuva em uma mão e arrasto a mala na outra. Eu só vim passar alguns dias mas como sempre exagero na bagagem, muitos vestidos, shorts e poucas calças, tradução estou ferrada se o tempo não mudar.-Já era tempo Bê, quanta demora.Reclamo o vendo vir apressa