CHRISTIAN SENTIU-SE COMO se estivesse morto por um breve momento, que a seu ver tinha a sensação de ser horas.
Quando Christian ouviu o tiro, ele estava de olhos fechados – pensando que tinha morrido –, mas depois de ouvir o mugido de uma vaca, percebeu que ainda estava muito vivo para ouvir uma vaca.
Seu irmão estava morto ali na sua frente...
Enfim acabou...
Hitler havia sumido sem dizer o paradeiro de seu filho, sua esposa estava caída em sua frente e só Deus sabia o que poderia acontecer com ela.
Christian a carregou nos braços até a pick-up de seu sogro, a colocou delicadamente no banco de passageiro e saiu em disparada até a cidade.
–– CHRISTIAN... – sussurrou ela.
–– Fique quietinha, vamos cuidar de você...
Ela sorriu.
–– Você já cuidou... me perdoe por tudo o que
CHRISTIAN ACORDOU UMA SEMANA DEPOIS, não sabia ao certo se estava morto ou vivo, no céu ou no inferno.Uma voz fraca soou muito distante ao seu ouvido:–– Bom dia, Bela Adormecida...A voz de Anne era revigorante, mesmo fraca em sua cama como ela estava.–– O que aconteceu? – Christian perguntou completamente desorientado.–– Você está no hospital, tivemos um acidente de carro, quando você tentava me salvar.–– Pelo menos consegui...Christian deu um sorriso, mostrando a felicidade de ver o rosto de Anne mais uma vez.Quando Christian tentou se levantar, percebeu que algo estava errado.Cadê as minhas pernas? – Pensou consigo mesmo.–– Até que você vai ficar bonito em uma cadeira de rodas, Chris – disse Anne usando o seu mesmo sarcasmo habitual.O desespero de Chri
CHRISTIAN AGORA CORRIA CONTRA O TEMPO – correr não era mais uma palavra que ele poderia usar em seu vocabulário no dia-a-dia –, ele preparou tudo para voltar aos Estados Unidos o mais depressa possível, só não sabia onde seu irmão escondera seu filho, e sua mãe, se é que eles ainda estivessem vivos.CHEGANDO EM SUA CASA, TUDO PARECIA estar como ele tinha deixado, não se adaptara nem um pouco – ainda – com sua cadeira de rodas, mas aquele fato inusitado não poderia atrapalhá-lo.Christian abriu a porta e a casa estava vazia. Ele gritou feito louco, e as lágrimas aos poucos começaram a rolar e uma oração saiu sem ele perceber de sua boca...–– Ó Deus... sei que não sou o melhor dos homens, por favor, faça o que quiser comigo, mas poupe o meu filho do sofrimento...Quando Christian n&a
ASSIM QUE CHEGARAM NO HOSPITAL, o médico que estava de plantão recepcionou Christian e todos que estavam com ele. Conversaram em inglês – pois ninguém no hospital falava alemão.Infelizmente as notícias não eram tão boas quanto Christian esperava que fossem. O quadro de Anne piorou muito desde que ele foi para os Estados Unidos buscar seu filho.TODOS ENTRARAM NO QUARTO e Anne estava com um sorriso tentando esconder a incomensurável dor que sentia naquele momento.Christian chegou perto de Anne e entregou o filho em seus braços e, agora o sorriso que ela dera não demonstrava nenhuma dor – ela estava anestesiada de tanta alegria.O tempo todo Anne conversava e parava para tossir um pouco, John ofereceu uma oração e Anne aceitou. Todos oraram juntos, foi um momento de uma comunhão sobrenatural.Anne agradeceu a todos e pediu para
–– DEPOIS DESSE DIA – continuou Christian em seu relato – escrevi as minhas memórias nesses diários, reuni todas as minhas reportagens, coloquei tudo dentro dessa maleta para que um dia você entendesse tudo, Alan, meu filho, queria que me perdoasse por tudo que te fiz sofrer, mas não queria compartilhar minha dor com você, sei que merecia muito mais do que pude dar...Os olhos de Alan ficaram repletos de lágrimas, ele jamais imaginou toda aquela história.Alan percebeu que perdoar o pai era a coisa certa a se fazer, pois ele teve a melhor infância que poderia sonhar, teve o amor de sua avó, estudou nas melhores escolas e estava empregado no melhor e maior jornal do mundo.Todos se abraçaram juntos como uma verdadeira família.NAQUELA MESMA NOITE, Christian Fairbanks faleceu e foi enterrado no velho estábulo junto com sua amada esposa.
BRASIL, RIO GRANDE DO SUL, 04 DE ABRIL DE 2005JOSEPH FAIRBANKS FOI AO BRASIL passar as férias com sua família no sítio de seu avô, o mundialmente famoso repórter herói da Segunda Guerra Mundial, Christian Fairbanks, o que era uma grande novidade na família, afinal, eles nunca tiveram a oportunidade de estarem todos juntos, porém, todos eles sentiam que era mais um encontro de despedida do que casual.Joseph nunca conseguiu entender o porquê seu avô veio morar tão longe dos Estados Unidos da América – apesar de aquele sítio ser um verdadeiro paraíso, tinha também ali um lago muito lindo do qual uma vez seu pai disse que escondia muitos mistérios.Seu pai, Alan Fairbanks, um jornalista razoavelmente famoso que sempre viveu à sombra do pai, disse certa vez quando Joseph ainda era criança, que se
–– FICOU EXCELENTE, MEU RAPAZ... – Disse David Sherman, editor-chefe do New York Times, eufórico de alegria para o jovem Christian Fairbanks, elogiando-o em sua primeira matéria, que era quase tão brilhante quanto muitas de suas principais matérias feitas até aquele dia.–– Muito obrigado, Sr. Sherman – disse Christian humildemente, tentando esconder o sorriso de emoção –, minha mãe era historiadora de uma universidade na Alemanha antes da Grande Guerra acontecer, se refugiou aqui nos Estados Unidos. Ela me ajudou bastante em toda a pesquisa. Em minha entrevista, o senhor disse que se lhe trouxesse uma matéria completa e bem-escrita sobre o Primeiro e Segundo Reich o senhor me contrataria...Christian estava muito contente com o elogio do editor-chefe do maior jornal da América – senão do mundo –, esperando ansios
JOHN BERNARD SMITH NASCEU em um bairro de classe alta em Nova York, Manhattan, e foi criado para ser um grande executivo para suceder seu pai nos negócios da família que se estendiam há três gerações. Seus pais lhe deram a melhor criação que alguém poderia ter ou sonhar, mas John aos quinze anos de idade teve uma que experiência de vida única que mudou tudo do dia para a noite.John ficou muito doente, e mesmo seus pais sendo uma das famílias mais ricas de Manhattan – para não dizer, dos Estados Unidos da América –, não puderam mudar absolutamente em nada aquele quadro clínico terrível do qual seu único e amado filho tinha que enfrentar daquele momento em diante. John era filho único por ter sobrevivido a um duro processo de gravidez de risco, onde todos os médicos, sem exceção, predisseram a morte dele e de sua m&
CHRISTIAN LEMBROU-SE também que decidiu ser jornalista porque aprendeu o inglês através das páginas daquele mesmo jornal, quando chegou como refugiado da arrasada Alemanha em 1916, ele sabia que havia tido uma vida difícil, mas algo dentro dele dizia que daquele momento em diante tudo seria completamente diferente.Seus pais eram professores na Alemanha antes da Guerra. Seu pai era professor de Gramática e sua mãe professora de História na Universidade de Berlin, mas isso agora, eram apenas lembranças de um passado muito distante, fragmentos de um passado do qual Christian não queria se lembrar mais, afinal, as lembranças tinham o dom de trazer dois tipos de sentimentos, bons e ruins, nesse caso, o passado na Alemanha só trazia dor – muita dor em Christian.Nos Estados Unidos da América, seu pai teve que se rebaixar a trabalhar de carregador de navios e sua