A VIDA DE CHRISTIAN PASSOU diante dos seus olhos durante aqueles dez minutos andando até o estábulo, ele estava longe de tudo e de todos.
Christian contava cada passo como se fosse uma vida inteira que tinha vivido.
Ninguém poderia ajudá-lo naquele momento...
Christian sentiu que era hora de encarar a responsabilidade como um homem. Fez uma pequena oração a Deus – mesmo sem ter o que falar para Ele –, mas Christian sabia que Deus conhecia o seu coração, mesmo que a sua boca não pronunciasse som algum.
Christian abriu lentamente a porta do estábulo e um tiro foi disparado em sua direção – mas seu irmão tinha errado o alvo propositalmente –, lá estava ele novamente, mais vivo que nunca...
HERMANN...
HERMANN SOLTOU ANNE para ir de encontro ao seu amado Christian.–– Não aguentava mais essa vagabunda chorando e gritando pelo seu nome, Hans, que inferno são essas mulheres... como você aguenta?Os dois se abraçaram chorando desesperadamente – enquanto o calor de seus corpos tentava arrancar em vão o medo de seus corações.–– Já contou para ele toda a verdade, Anne?Christian olhou estranhamente para ela, enquanto tentava desesperadamente socorrê-la daquele inferno.–– Que verdade?–– É uma longa história... só não dá para conta-la agora que temos pouquíssimo tempo.Eles ouviram uma risada aguda e alta – era a mesma risada fantasmagórica que Christian ouvia nos seus pesadelos quando acordava desesperado à noite, revivendo seus momentos de angústia na Ale
–– DEVIA TER IMAGINADO que conseguiria sair do inferno com vida.–– Muitas pessoas me devem favores, principalmente aqui na América Latina, é bom saber que a ganância do homem pode ser comprada com um pedaço de papel.–– Nem tudo pode ser comprado...–– Claro que pode...–– Quer saber a verdade? – Disse o irmão cortando o momento – O Führer até ia se matar, Hans, fui designado a acompanhá-lo até a sua sala, mas jamais me perdoaria se não fosse eu a dar um jeito naquela situação, o segui fielmente por toda a minha, mas ele sempre preferiu você a mim, tudo para ele era você...O comandante supremo do Reich sorriu satisfeito.Hermann andava de um lado para outro atrás da mãe de Anne, chorando de raiva de seu irmão, em um momento ele ap
NUM JOGO RÁPIDO DE CORPO, Anne conseguiu jogar Christian para o lado e recebeu o tirou no lugar de seu amado. O que sentiu demorou para ser dor, era um misto de emoção e desespero, mas a dor mesmo só veio quando viu o líquido vermelho e quente manchar a sua roupa.Christian se jogou desesperadamente novamente sobre o corpo de Anne e a olhou, ela lhe dando um último sorriso e desmaiou.–– Isso está melhor do que planejei... – Disse Hermann sorrindo mais alto que nunca dessa vez.Christian olhou para seu irmão com a fúria de todas as famílias que sofreram em suas mãos, mas não podia abandonar sua esposa naquela situação. Espero que algum dia você possa me perdoar querida...–– Vou te dar um presente do qual você jamais vai se esquecer Hans, você é
CHRISTIAN SENTIU-SE COMO se estivesse morto por um breve momento, que a seu ver tinha a sensação de ser horas.Quando Christian ouviu o tiro, ele estava de olhos fechados – pensando que tinha morrido –, mas depois de ouvir o mugido de uma vaca, percebeu que ainda estava muito vivo para ouvir uma vaca.Seu irmão estava morto ali na sua frente...Enfim acabou...Hitler havia sumido sem dizer o paradeiro de seu filho, sua esposa estava caída em sua frente e só Deus sabia o que poderia acontecer com ela.Christian a carregou nos braços até a pick-up de seu sogro, a colocou delicadamente no banco de passageiro e saiu em disparada até a cidade.–– CHRISTIAN... – sussurrou ela.–– Fique quietinha, vamos cuidar de você...Ela sorriu.–– Você já cuidou... me perdoe por tudo o que
CHRISTIAN ACORDOU UMA SEMANA DEPOIS, não sabia ao certo se estava morto ou vivo, no céu ou no inferno.Uma voz fraca soou muito distante ao seu ouvido:–– Bom dia, Bela Adormecida...A voz de Anne era revigorante, mesmo fraca em sua cama como ela estava.–– O que aconteceu? – Christian perguntou completamente desorientado.–– Você está no hospital, tivemos um acidente de carro, quando você tentava me salvar.–– Pelo menos consegui...Christian deu um sorriso, mostrando a felicidade de ver o rosto de Anne mais uma vez.Quando Christian tentou se levantar, percebeu que algo estava errado.Cadê as minhas pernas? – Pensou consigo mesmo.–– Até que você vai ficar bonito em uma cadeira de rodas, Chris – disse Anne usando o seu mesmo sarcasmo habitual.O desespero de Chri
CHRISTIAN AGORA CORRIA CONTRA O TEMPO – correr não era mais uma palavra que ele poderia usar em seu vocabulário no dia-a-dia –, ele preparou tudo para voltar aos Estados Unidos o mais depressa possível, só não sabia onde seu irmão escondera seu filho, e sua mãe, se é que eles ainda estivessem vivos.CHEGANDO EM SUA CASA, TUDO PARECIA estar como ele tinha deixado, não se adaptara nem um pouco – ainda – com sua cadeira de rodas, mas aquele fato inusitado não poderia atrapalhá-lo.Christian abriu a porta e a casa estava vazia. Ele gritou feito louco, e as lágrimas aos poucos começaram a rolar e uma oração saiu sem ele perceber de sua boca...–– Ó Deus... sei que não sou o melhor dos homens, por favor, faça o que quiser comigo, mas poupe o meu filho do sofrimento...Quando Christian n&a
ASSIM QUE CHEGARAM NO HOSPITAL, o médico que estava de plantão recepcionou Christian e todos que estavam com ele. Conversaram em inglês – pois ninguém no hospital falava alemão.Infelizmente as notícias não eram tão boas quanto Christian esperava que fossem. O quadro de Anne piorou muito desde que ele foi para os Estados Unidos buscar seu filho.TODOS ENTRARAM NO QUARTO e Anne estava com um sorriso tentando esconder a incomensurável dor que sentia naquele momento.Christian chegou perto de Anne e entregou o filho em seus braços e, agora o sorriso que ela dera não demonstrava nenhuma dor – ela estava anestesiada de tanta alegria.O tempo todo Anne conversava e parava para tossir um pouco, John ofereceu uma oração e Anne aceitou. Todos oraram juntos, foi um momento de uma comunhão sobrenatural.Anne agradeceu a todos e pediu para
–– DEPOIS DESSE DIA – continuou Christian em seu relato – escrevi as minhas memórias nesses diários, reuni todas as minhas reportagens, coloquei tudo dentro dessa maleta para que um dia você entendesse tudo, Alan, meu filho, queria que me perdoasse por tudo que te fiz sofrer, mas não queria compartilhar minha dor com você, sei que merecia muito mais do que pude dar...Os olhos de Alan ficaram repletos de lágrimas, ele jamais imaginou toda aquela história.Alan percebeu que perdoar o pai era a coisa certa a se fazer, pois ele teve a melhor infância que poderia sonhar, teve o amor de sua avó, estudou nas melhores escolas e estava empregado no melhor e maior jornal do mundo.Todos se abraçaram juntos como uma verdadeira família.NAQUELA MESMA NOITE, Christian Fairbanks faleceu e foi enterrado no velho estábulo junto com sua amada esposa.