Eu pensei por um instante em ir embora, pois os meus olhos já estavam marejados só em estar naquele local que me trouxe tanta dor, mas eu acabei me mantendo ali, tentando me convencer a revelar pra ele que eu estava lá.Eu fiquei no fim da igreja fingindo que estava rezando e esperei a última pessoa se confessar, então eu caminhei em direção ao confessionário sem pensar muito bem no que eu iria dizer, ele já estava se levantando quando eu falei com ele dizendo que queria me confessar. Eu não tinha ideia de como as palavras saíram da minha boca, já que o meu coração estava quase explodindo no peito.Ele ficou parado, imóvel, como de tivesse reconhecido a minha voz, e na hora que ele olhou pelos buracos do confessionário, eu baixei a minha cabeça pra evitar que ele tivesse essa certeza.A movimentação no confessinário me fez deduzir que ele havia sentado, e então ele perguntou qual era o meu pecado. A voz dele grave fez com que várias lembranças aparecessem de uma só vez na minha ment
(Leandro)As palavras da Letícia ficaram martelando na minha cabeça, o que seria capaz de libertá-la da sensação de estar morta? Anos haviam se passando e eu ainda me sentia assim, morto por dentro. Depois de um tempo eu me obriguei a sair do confessionário e fui fechar a igreja, mas antes, atravessei a rua e olhei pra casa da Dona Maria, não havia nenhuma movimentação lá.— Onde será que a Letícia está? Perguntei a mim mesmo.É claro que ela não iria ficar exposta, correndo o risco de me encontrar, ela foi até a igreja me atazanar como ela vivia fazendo.— Diaba! Resmunguei.Eu entrei novamente na igreja, fechei as portas e fui pra casa com uma sensação estranha, algo me dizia que a Letícia estava querendo que eu soubesse de algo, mas não tinha coragem de me dizer. Quando a gente conhece de verdade alguém, conseguimos identificar tudo na pessoa, o olhar, as atitudes, e até o jeito de falar, e embora com a passagem do tempo, ainda era possível saber as intenções da Letícia.— Será
Os cabelos dela estavam um pouco mais curtos, porém continuavam extremamente lisos.A moça se aproximou dela e falou algo, e ela olhou pra mim e em seguida olhou pra criança.Eu aumentei os passos e ao me aproximar, notei que a Letícia estava tensa e a respiração dela estava descompassada.Eu a olhei nos olhos, esquecendo de todo o resto, e busquei neles parte daquele amor que eu vi antes dela sumir da minha vida."Meu baião"...A garotinha falou se referindo ao balão que ainda estava nas minhas mãos. Eu tirei os olhos da Letícia e olhei pra garotinha, e eu fui tomado por uma sensação estranha, algo naquela criança era familiar, como se eu já a conhecesse.Eu entreguei o balão pra ela e ela abriu um sorriso angelical e isso só fez aumentar ainda mais a sensação de reconhecimento."Olha mamãe, meu baião"...Ela falou olhando pra Letícia. Eu estava tentando assimilar a cena que estava bem na minha frente, tudo parecia estar passando lentamente diante dos meus olhos.Eu olhei pra moça
(Letícia)Eu fui chorando o caminho inteiro de volta pro hotel, eu fiquei me perguntando o que iria acontecer quando o Leandro descobrisse o que eu havia escondido, e por mais que eu olhasse tudo por outro ângulo, não existia nenhuma forma de tornar tudo mais fácil.No dia seguinte eu fui visitar a minha mãe depois da médica me ligar dizendo que ela já estava podendo receber visitas, eu não queria vê-la nessas condições e comecei a me sentir culpada por ter tido tantas oportunidades, e não ter aproveitado nenhuma, foi preciso acontecer algo sério pra que eu pudesse tomar a decisão de vê-la.Eu entrei e a encontrei tomando uma sopa que estava sendo servida por uma enfermeira, um dos braços dela estava enfaixado, uma das consequências da queda.Quando ela me viu, ela ficou emocionada, os olhinhos dela marejados fez com que eu me sentisse ainda mais culpada, eu não podia ter feito aquilo com ela.Mãe: Minha menina, você veio…Ela falou esticando o outro braço pra mim.A enfermeira se ret
(Leandro)Eu só fui me dar conta da gravidade da situação quando as pessoas começaram a gritar..." Impostor, filho do diabo, adúltero"...Aquelas pessoas que eu tinha como amigos, estavam com os dedos apontados pra mim, me acusando de coisas que eu realmente havia feito.A Letícia correu na casa vizinha, pegou as chaves e abriu a casa da Dona Maria, e eu ainda estava com a minha filha nos braços, filha que eu nem se quer sabia o nome.Letícia: Entra Leandro!Eu voltei a olhar pra pequena multidão que se formava e vi que não existia nenhuma possibilidade de sair dali, então eu entrei.A Letícia colocou as malas pra dentro e depois trancou tudo.Eu não conseguia mais nem olhar pra cara da Letícia de tanta raiva e desgosto. Letícia: Bia, pegue a Lana e leve pro quarto que fica no fim do corredor. Eu prestei atenção no nome da minha filha, e eu gostei. A moça se aproximou de mim e eu não a impedi de pegar a criança, afinal ela não tinha como fugir pra lugar nenhum.Ficamos só nos dois
A quantidade de pessoas era tão grande, que ja estava batendo na praça. Antes que eu descesse as escadas, eu vi o Bispo se aproximando com o arcebispo, e os dois estavam tentando amenizar a situação. Eles foram se aproximando, pedindo calma as pessoas, mas todos estavam certos que eu merecia a forca, eu nunca vi tanto ódio acumulado.Bispo: Vamos Leandro, nos siga, não fale com ninguém, e mantenha-se de cabeça baixa.Assim eu fiz, eu fui empurrado, cuspido, e quase não consegui chegar até a igreja, mas algumas poucas pessoas, as de coração bom, me ajudaram.As pessoas começaram a invadir a igreja pedindo pra eu ser expulso, e foi outra dificuldade pra chegar até porta de acesso a casa, e as pessoas que me ajudaram, bloquearam a passagem pra ninguém tentar invadir lá também.Quando eu achei que enfim eu poderia respirar, eu me lembrei que estava diante de dois líderes, e que devia uma explicação. Nós entramos, eu os convidei pra sentar e de cara o Bispo foi fazendo perguntas. Bispo
(Letícia)Parecia ironia do destino, ou Deus beneficiando o filho dele, que o bendito balão fosse parar justo nas mãos do Leandro. Nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar que as coisas seriam daquela forma.A decepção nos olhos do Leandro ao saber de toda a verdade, acabou comigo de várias formas diferentes.Eu sabia que ele iria reconhecer a filha no momento que colocasse os olhos nela, e foi o que aconteceu, eu vi o desespero dele no olhar, eu vi o esforço que ele fez pra juntar as peças, mesmo estando fácil juntá-las. Quando ele fez as perguntas certas, eu não tive como mentir.A confusão foi tanta, que lavamos a roupa suja ali mesmo, na frente de todos.Eu não conseguia parar de chorar diante das acusações dele, que de fato eram verdadeiras.Eu nunca imaginei que o Leandro pudesse ficar tão furioso ao ponto de gritar comigo, mas ali eu pude constatar o tamanho da dor dele por ter perdido dois anos da nossa filha. Não tinha mais como fugir das consequências, as pessoas
(Leandro)Aquela era a minha despedida da vida que eu sempre idealizei, eu olhei com carinho cada parte daquela casa que foi meu abrigo por tanto tempo, eu olhei pra aquela batina e pela primeira vez eu não tive dúvidas do que eu deveria fazer.Quando eu saí com as malas, as pessoas já tinha se dispersado, e os únicos rostos que eu vi antes de sair da igreja, foram os do Bispo e do Arcebispo. — Obrigado bispo, por todos os ensinamentos, e por tudo o que o senhor fez por mim, eu serei eternamente grato.Ele me deu um abraço apertado, deixando claro que não existia nenhuma mágoa ali.Bispo: Independente de qualquer coisa, eu sempre o terei como um filho Leandro, eu quero que saiba que eu estarei aqui caso precise de um pai, conselheiro e um amigo.As palavras dele me emocionaram, afinal eu nunca tive o prazer de ter um pai, além de Deus e ele.Eu apertei a mão do Arcebispo que já não me olhava mais com julgamento, e então eu me retirei, confiante que haviam coisas grandiosas a serem v