Noah sentiu a tensão crescer entre eles e, confuso, percebeu a fúria contida em Lia. Mesmo assim, revidou o soco com toda a energia que conseguiu reunir, forçando-a a se defender com os antebraços.— Por que tem que ser tão orgulhosa? – gritou Noah.O impacto a fez recuar. Com os olhos semicerrados, deixou os braços latejarem antes de retomar a guarda — não deixaria que a acertasse novamente.Ela avançou com agilidade — mais veloz, mais ágil na esquiva — e aproveitou as brechas na defesa dele, acertando uma sequência rápida de golpes, principalmente nos tríceps de Noah.Em poucos segundos, Noah sentiu o peso do esforço extremo: seus golpes ficaram lentos, fracos e previsíveis. A dor do desgaste e dos impactos começou a pesar.Lia manteve a calma. Treinava o controle de energia constantemente, economizando ao máximo, concentrando a defesa nos antebraços — e, ainda assim, não precisou se esforçar tanto.Quando Noah desistiu de continuar, o corpo não resistia mais; ele apoiou um joelho n
Era uma manhã chuvosa — a primeira em muitos dias. A água caía como um véu sobre o mundo, apagando as cores do dia e encobrindo a terra. Cada gota no telhado parecia marcar o tempo suspenso dentro daquele quarto, onde tudo era silêncio e calor humano. Lia acordou primeiro, mas o desejo de permanecer na cama era inegável. O som das gotas no telhado era suave, constante — e calmante. Aconchegou-se ao lado de Noah, tão confortável que mal se lembrava da última vez em que se sentira assim. Ainda assim, em seus pensamentos, ela não acreditava merecer aquilo. Um pressentimento estranho a atravessou segundos antes de Noah assustá-la.— Parece bastante pensativa. Lia estava distraída, olhando a chuva pela janela.— Eu estou apenas pensando que não vai dar pra treinar hoje.— A gente treina aqui dentro.— Você está falando sério?— Claro que não é como ontem.— Ah sim… Aliás, me ensina como faz aquilo que me disse ontem, meus antebraços ainda doem.— Aquilo? Bom, tem que focar dentro
Em nenhum momento houve uma briga de fato, mas ambos agiram como se tivesse acontecido. Lia permaneceu enclausurada no quarto até o crepúsculo. Em algum momento da tarde, ela treinou sozinha até sua energia se esgotar por completo. Coincidentemente, Noah também tentou esvaziar os pensamentos da mesma forma. Mas o vazio não silenciava tudo. Ao fechar os olhos, Noah revivia o momento em que disse aquelas palavras que segurou por tanto tempo. Aquela culpa silenciosa doía mais do que qualquer discussão. Não havia gritos nem acusações — apenas ausência. Nem tudo precisava ser dito para ser compreendido, mas o silêncio entre eles era barulhento demais para ser ignorado. Aquilo lhe trouxe uma lembrança: os dois lado a lado, dias atrás, tentando melhorar a mesma habilidade sob a luz do sol poente. O sorriso de Lia quando Noah acertou o movimento — e o orgulho que ela sentiu ao vê-lo imitá-la à perfeição. Agora, esse laço parecia esquecido. Na manhã seguinte, a chuva persistia. Lia
Volker controlou a situação com frieza e precisão, mantendo todos sob seu comando. Noah permanecia de joelhos, cercado por soldados com armas apontadas a cada mínima movimentação. — Emilyn? Venha até aqui e me diga se é possível extrair. — Não quero chegar mais perto. — ME OBEDEÇA, EMILYN! — NÃO VOU. — Droga... Maldita insubordinada. — Está bem, chegamos ao limite. Não vamos nos arriscar. Volker destravou a arma apontando à Noah. O gesto tinha a frieza de quem sentia o peso das decisões, mas era decidido a encará-las. — Me desculpe, amigo. Uma sombra veloz cortou o limiar da porta. E a voz chamou a atenção. — ELE NÃO É SEU AMIGO! Lia surgiu de súbito na porta da casa, empunhando a espada com um brilho intenso nos olhos. Sua raiva transparecia: a aura escarlate pulsava, distorcendo o ar e pressionando o peito de quem a observava. — Ela estava em fúria. Muitos dos guardas ergueram as armas em sua direção, congelados pela surpresa. O som único de sua aura emanan
Nesse mundo, há muitas verdades e segredos ocultos. Há muito tempo, aproximadamente 2300 anos atrás, existia uma família relativamente rica e poderosa, com conhecimentos surpreendentes acerca da humanidade: a família Harvens. Ninguém sabe ao certo como esse conhecimento chegou até eles, mas sua linhagem era destinada à criação de crianças extraordinárias, que despertariam uma habilidade chamada apenas de "Ortus". As pesquisas e os conhecimentos complexos sobre isso levaram diversas gerações. Os registros indicavam que as chances de obtê-lo dependiam de muitos fatores, e esses requisitos tinham início bem antes da própria concepção. Apesar disso, a probabilidade de despertar a Ortus entre os 13 e 16 anos ainda era mínima. Com poucas informações, a família continuou acumulando conhecimento por meio de tentativas e erros ao longo dos séculos. Tudo mudou quando, 325 anos depois, em um país do Oriente Médio, receberam notícias sobre um homem que havia despertado o Ortus e a exibia aberta
Era uma noite fria. Tudo parecia calmo, mas a lua não brilhava por completo. Nuvens escuras começaram a cobri-la, até que os últimos resquícios de sua luz desapareceram da vista de Noah e Lia. Seus olhos cansados se esforçavam para enxergar onde pisavam enquanto corriam. Noah, mesmo sem ver perfeitamente, usava sua habilidade com maestria, desviava dos obstáculos graças ao seu poder, assim como Lia. Escondidos e apressados, tentavam alcançar a cobertura daquele prédio antigo, repleto de entulhos. A exaustão pesava em seus corpos, seus pés doíam, torturas aconteciam mais frequentemente, já fazia duas noites que não dormiam direito, Entre tantos pensamentos, Noah se concentrava apenas em proteger Lia do jeito que podia. Mas será que já não era tarde demais? Esse pensamento intrusivo o incomodava. Ainda assim, eles tentavam, com cada gota de suor e cada fibra de seus corpos, permanecer juntos e sobreviver. Ao longe, ecoava o som dos helicópteros se aproximando. O ambiente lembrav
O desespero tomava conta de Noah, um homem geralmente calmo. Lia se preocupou ao vê-lo assim. — Nos localizaram. – disse Lia, a voz baixa e carregada de angústia. — Não, não, não. Que droga! Não era para isso acontecer. O que vamos fazer? – gritou Noah, correndo para a beirada da cobertura, tentando confirmar a posição dos agentes e buscar uma rota de fuga. — Eu não sei! Você sempre cuidou de mim e de tudo quando eu não conseguia fazer! Eu não quero morrer, Noah! Não quero! – Lia chorava, o pânico transbordando em cada palavra. — Não chore. Isso não vai ajudar em nada – respondeu Noah, lançando-lhe um olhar rápido antes de voltar a escanear os arredores.. — "Não chore"? – A voz dela tremia – É só isso que tem para dizer? Diga algo, por favor! Me diz qual é o plano! Fala que vamos sair dessa, que vamos sobreviver! Que droga, Noah, me diz o que vai acontecer! Lia, incapaz de conter o medo, inquieta, andava de um lado para o outro, os soluços tornando sua respiração irregular
Lia nunca poderia imaginar o quão drástica seria a mudança que a vida lhe reservaria. Desde o seu nascimento, o destino a colocou em um caminho cheio de desafios. Cresceu protegida, cercada pelo carinho e atenção de sua mãe, mas, ironicamente, sempre foi exposta à crueldade do mundo. Desde pequena, testemunhava decisões insensatas de pessoas ao seu redor, atos de egoísmo e destruição. Embora, na época, não compreendesse completamente o significado do que via, essas memórias ficaram gravadas em sua mente. Com o tempo, ela aprenderia a interpretar cada cena, a compreender a verdadeira face do mundo. Ainda muito jovem, Lia já possuía uma visão realista da vida. Foi forçada a amadurecer cedo, a encarar a realidade sem ilusões. E quando teve a oportunidade de tomar suas próprias decisões, acreditou estar preparada. Aos treze anos, começou um novo capítulo de sua vida ao ser transferida para um colégio com melhor estrutura e recursos. A chance de construir um futuro promissor estava a