Noah ajudou Lia a carregar as coisas para dentro. Ele havia feito o jantar e apenas a esperava. Lia estava ainda se recuperando do que Noah fez, mas fingiu que estava tudo bem. Mudou rapidamente de expressão quando sentiu o cheiro assim que entrou pela porta.— Eu realmente estava com fome. Só comi algo rápido em casa durante esse tempo todo.— Bom, pelo menos comeu. As coisas foram guardadas. Vamos comer. Lia semicerrou os olhos e ficou séria.— Você apenas jogou elas em algum canto, não foi?— Detalhes. Isso são apenas detalhes. Vamos logo. – disse Noah com um sorriso. Os dois se sentaram à mesa, um de frente para o outro. A comida parecia ótima. O cheiro se espalhava por toda a casa e o gosto salgado do tempero marcava a língua. Enquanto jantavam, conversaram brevemente sobre o dia dela.— Eu fui na casa da Sophia, conversei com ela e ela concordou em fazer uns exames. Só preciso coletar seu sangue.— Meu sangue? E você acha isso seguro?— Com a Sophia? Sim.— Tudo bem ent
A luz da manhã entrava suavemente pela janela, e o ar ainda trazia o frescor do amanhecer. Noah dormia profundamente quando sentiu algo pressionar seu abdômen. Acordou incomodado e, ao abrir os olhos, não havia dúvida: Lia estava sentada sobre ele.— Finalmente acordou. Se eu esperasse mais, você dormia até o almoço. Não é comum te ver levantar tão tarde. De fato, Noah não tinha esse hábito. Mas naquela manhã, o relaxamento o fez dormir profundamente.— Me dá mais cinco minutos, Lia...— De jeito nenhum. Inclusive, eu fiz o café da manhã. Noah abriu os olhos com um leve espanto. Aquilo o desconcertava. Lia não costumava fazer esse tipo de coisa. Algo nela parecia diferente, mas ele não conseguia entender exatamente o quê.— Sério? Foi você quem fez?— Por que eu mentiria, Noah?— E por que você faria o café? Lia não respondeu, e Noah apenas ficou em silêncio.— Vamos logo, seu irritante. Ela tentava conter o sorriso, mas ele escapava pelo canto da boca.— Tá bom, já est
Ao acordar e perceber que Lia ainda não havia voltado, Noah decidiu preparar o almoço para passar o tempo. Enquanto isso, Lia corria sem olhar para trás, o som de folhas secas sob os pés abafava os pensamentos. Não era apenas exercício. Precisava daquela adrenalina. Ele a ouviu chegar em seguida, mas algo estava fora do normal, ofegante, com o cabelo despenteado e tinha até um pouco de terra nas pernas.— Che... guei... Arrrh, ufa!— Percebi. Mas que cabelo é esse?— Ah... bagunçou um pouco... com o vento, sabe?— Calma, respira devagar. Por que veio correndo?— Só queria me aquecer. Estou ficando... sei lá, sedentária? Eu quase não me exercitei esses dias. Noah apenas sorriu e voltou a cozinhar, evitando comentar sobre a terra em suas pernas. — É isso mesmo? Você não vai me defender? Ele soltou uma risada abafada, sarcástica.— Rurun’rhuuu... Mas de quê? Você está certa, por que eu teria que defender você de si mesma? Tome um banho, vai ficar pronto em alguns minutos.
Noah sentiu a tensão crescer entre eles e, confuso, percebeu a fúria contida em Lia. Mesmo assim, revidou o soco com toda a energia que conseguiu reunir, forçando-a a se defender com os antebraços.— Por que tem que ser tão orgulhosa? – gritou Noah.O impacto a fez recuar. Com os olhos semicerrados, deixou os braços latejarem antes de retomar a guarda — não deixaria que a acertasse novamente.Ela avançou com agilidade — mais veloz, mais ágil na esquiva — e aproveitou as brechas na defesa dele, acertando uma sequência rápida de golpes, principalmente nos tríceps de Noah.Em poucos segundos, Noah sentiu o peso do esforço extremo: seus golpes ficaram lentos, fracos e previsíveis. A dor do desgaste e dos impactos começou a pesar.Lia manteve a calma. Treinava o controle de energia constantemente, economizando ao máximo, concentrando a defesa nos antebraços — e, ainda assim, não precisou se esforçar tanto.Quando Noah desistiu de continuar, o corpo não resistia mais; ele apoiou um joelho n
Era uma manhã chuvosa — a primeira em muitos dias. A água caía como um véu sobre o mundo, apagando as cores do dia e encobrindo a terra. Cada gota no telhado parecia marcar o tempo suspenso dentro daquele quarto, onde tudo era silêncio e calor humano. Lia acordou primeiro, mas o desejo de permanecer na cama era inegável. O som das gotas no telhado era suave, constante — e calmante. Aconchegou-se ao lado de Noah, tão confortável que mal se lembrava da última vez em que se sentira assim. Ainda assim, em seus pensamentos, ela não acreditava merecer aquilo. Um pressentimento estranho a atravessou segundos antes de Noah assustá-la.— Parece bastante pensativa. Lia estava distraída, olhando a chuva pela janela.— Eu estou apenas pensando que não vai dar pra treinar hoje.— A gente treina aqui dentro.— Você está falando sério?— Claro que não é como ontem.— Ah sim… Aliás, me ensina como faz aquilo que me disse ontem, meus antebraços ainda doem.— Aquilo? Bom, tem que focar dentro
Em nenhum momento houve uma briga de fato, mas ambos agiram como se tivesse acontecido. Lia permaneceu enclausurada no quarto até o crepúsculo. Em algum momento da tarde, ela treinou sozinha até sua energia se esgotar por completo. Coincidentemente, Noah também tentou esvaziar os pensamentos da mesma forma. Mas o vazio não silenciava tudo. Ao fechar os olhos, Noah revivia o momento em que disse aquelas palavras que segurou por tanto tempo. Aquela culpa silenciosa doía mais do que qualquer discussão. Não havia gritos nem acusações — apenas ausência. Nem tudo precisava ser dito para ser compreendido, mas o silêncio entre eles era barulhento demais para ser ignorado. Aquilo lhe trouxe uma lembrança: os dois lado a lado, dias atrás, tentando melhorar a mesma habilidade sob a luz do sol poente. O sorriso de Lia quando Noah acertou o movimento — e o orgulho que ela sentiu ao vê-lo imitá-la à perfeição. Agora, esse laço parecia esquecido. Na manhã seguinte, a chuva persistia. Lia
Volker controlou a situação com frieza e precisão, mantendo todos sob seu comando. Noah permanecia de joelhos, cercado por soldados com armas apontadas a cada mínima movimentação. — Emilyn? Venha até aqui e me diga se é possível extrair. — Não quero chegar mais perto. — ME OBEDEÇA, EMILYN! — NÃO VOU. — Droga... Maldita insubordinada. — Está bem, chegamos ao limite. Não vamos nos arriscar. Volker destravou a arma apontando à Noah. O gesto tinha a frieza de quem sentia o peso das decisões, mas era decidido a encará-las. — Me desculpe, amigo. Uma sombra veloz cortou o limiar da porta. E a voz chamou a atenção. — ELE NÃO É SEU AMIGO! Lia surgiu de súbito na porta da casa, empunhando a espada com um brilho intenso nos olhos. Sua raiva transparecia: a aura escarlate pulsava, distorcendo o ar e pressionando o peito de quem a observava. — Ela estava em fúria. Muitos dos guardas ergueram as armas em sua direção, congelados pela surpresa. O som único de sua aura emanan
Nesse mundo, há muitas verdades e segredos ocultos. Há muito tempo, aproximadamente 2300 anos atrás, existia uma família relativamente rica e poderosa, com conhecimentos surpreendentes acerca da humanidade: a família Harvens. Ninguém sabe ao certo como esse conhecimento chegou até eles, mas sua linhagem era destinada à criação de crianças extraordinárias, que despertariam uma habilidade chamada apenas de "Ortus". As pesquisas e os conhecimentos complexos sobre isso levaram diversas gerações. Os registros indicavam que as chances de obtê-lo dependiam de muitos fatores, e esses requisitos tinham início bem antes da própria concepção. Apesar disso, a probabilidade de despertar a Ortus entre os 13 e 16 anos ainda era mínima. Com poucas informações, a família continuou acumulando conhecimento por meio de tentativas e erros ao longo dos séculos. Tudo mudou quando, 325 anos depois, em um país do Oriente Médio, receberam notícias sobre um homem que havia despertado o Ortus e a exibia aberta