Zafir
Khadija se afastou de mim e se enfiou no banheiro com algumas roupas nas mãos. Eu tirei a minha também e só coloquei uma calça de pijama. Logo minha mente me avisou para ter cautela, por isso coloquei também uma camiseta, cobrindo completamente meu corpo.
Caminhei até a janela e pela vidraça pude ver a lua cheia. Uma coisa eu tinha, paciência. Casado há três anos com Jamile, eu adquiri convivendo com ela. Ouvi muitas palavras atravessadas em seus dias de mau humor por causa da maldita TPM, suas negativas ferozes quando eu a convidava a um jantar de negócios. Ela só queria sair para festas da alta sociedade. Minhas reuniões, ela não se interessava. Dizia que só haveria “conversas chatas".
Eu sabia que meu casamento era um fracasso total, mas eu me acomodei e ela nunca cometeu um grave delito para que eu pudesse repudi&a
KhadijaDizem que ninguém se esquece da primeira vez que pisa em Paris. Eu seria uma delas....Encanto, espanto, surpresa, deslumbramento, alegria e prazer. Tudo isso ao lado de um homem maravilhoso....Às dez horas da noite descemos no Aeroporto Charles de Gaulle. Fomos até área de desembarque e pegamos nossas malas; uma minha, só com poucas roupas. Duas grandes de Zafir.Quando nos viramos, um senhor de meia idade, se aproximou dele.— Seigneur. Avez-vous fait un bon voyage?— Oui, merci. Charles. C'est ma femme, Kajira.Eu fitei a cena confusa. Quem era esse senhor?—Bienvenue, mademoiselle. —Ele se inclinou para mim.Eu sorri. Quando ele pegou nosso carrinho e se dirigiu para a saída, Zafir colocou sua mão na minha cintura.—Quem é esse senhor? Por que ele está levando nossas malas? —Eu
ZafirEu me inclinei e beijei suavemente ao longo de sua mandíbula e logo abaixo da orelha.Ela cheirava tão bem, um perfume doce, como jasmim e rosas. Tão diferente... khara! (Merda!) Não quero pensar em Jamile agora.Voltei a beijar-lhe suavementea concha de sua orelha.—Eu não vou pressioná-la para qualquer coisa. —Sussurrei em seu ouvido, sentindo como ela estava nervosa. Então eu a encarei com as pupilas dilatadas de desejo. Torcendo para ela se entregar de coração e alma. —Não quero que faça amor comigo por obrigação ou gratidão.Ela me olhava afogueada, sua respiração agitada soprando em meu rosto.—Não, eu te desejo. Eu quero isso.Eu sorri de satisfação, retornei com beijos leves por todo seu pescoço antes de chegar a sua boca. Be
KhadijaAqui em Paris, gula não é pecado nem algo imperdoável. Aliás, era um rito indispensável que nos leva ao paraíso.Saímos para almoçar fora. Fomos na Brasserie Balzar (49 Rue des Ecoles 75005. Os mâitres e garçons foram muito atenciosos e alegres, prontos a sugerir o prato do dia. O cardápio foi maravilhoso a experiência de comeraile de raie française façon grenobloise, pommes vapeur,que eraarraia com muita manteiga e alcaparras acompanhada com batatas cozidas. Delicioso, como um manjar dos deuses. Eu sei que muito tinha a ver com o lugar que estávamos, segundo Zafir, era o prato predileto do Johnny Depp.Aqui em Paris, os turistas compravam desenfreadamente. Os franceses olhavam tudo com certo desdém para as imensas sacolas que todos carregavam. E eu e Zafir éramos um desses
KhadijaAqui em Paris, andar de bicicleta não era mais comum do que pegar um carro. Crianças, jovens e mulheres de meia-idade, com suas bicicletinhas com cestinhas na frente, todos andavam. Conclui que por isso as francesas eram tão magrinhas.Estar com Zafir, descobri que podia fazer coisas diferentes. Me reinventar.Eu e ele pedalamos muito. Mesmo num friozinho de dez graus, não ficamos morgando em casa. Pode parecer uma coisa banal andar de bicicleta. Mas foi uma experiência maravilhosa. Eu aprendi a pedalar, na época que meus pais eram vivos, e viver essa experiência novamente e com ele, era algo extraordinário, libertador, e muito, mas muito gratificante.A Cidade Luz era maravilhosa. Não estava aconchegante, porque o vento provoca um frio de rachar, mas eu me sentia viva. Zafir então, parecia um menino. Lindo, jovial naquela calça de veludo marrom
Zafir—Zafir! Como ousa? Como ousa sumir assim sem dar notícias? —Sua voz tremia do outro lado.—Jamile. É natural. Eu acho que mereço umas férias depois de matar um leão por dia para te dar o melhor.—Mas esse tempo todo você deixou o celular desligado! E se algo acontecesse comigo?—Meu pai me ligaria aqui.—Eu liguei para a casa de sua tia no Marrocos, ela disse que você viajou. Mas não me abriu nada. Aonde vocês foram? —Minha tia conhecia Jamile e seu jeito inoportuno, ela com certeza me ligaria aqui, por isso ela não revelou nada.—Quando eu chegar, conversaremos.—Você comprou alguma coisa para mim? —Ela perguntou melosa.Merda!—Não, ainda não.—Ainda não? Você vem amanhã! Qu
O taxi deslizava pelas ruas de Londres. Zafir acariciou minha mão e a segurou na sua enquanto o taxista dirigia em direção aquilo que seria “nossa casa.”—Antes de chegarmos, teremos que falar daquilo que evitamos esses dias. — Ele disse com lábios apertados. Havia apreensão em seu comportamento.Eu olhei para ele em confusão.—Seja mais claro habibi.Ele suspirou e me trouxe em seu peito, acariciando meu cabelo enquanto eu descansei minha bochecha contra ele.—Evite Jamile. Ela fez de tudo para eu me casar pela segunda vez, mas tem tido acessos de arrependimento tardio. Quero que você e ela tenham uma convivência pacífica.Eu endureci meu corpo contra o dele. Me afastei.—Você está se casando pela segunda vez? Quem é Jamile?Olhei para ele no escuro do carro. Ele estava ansiosamente olhando para mim com os
ZafirCom o coração doendo, a angústia apertando minha garganta como um laço, caminhei até a cozinha. Cabeça baixa, ombros caídos e a lembrança de como estávamos felizes juntos dilacerou meu coração.Inventamos todo tipo de coisa para dar asas a esse sonho e eu acreditei que Khadija soubesse de tudo, que ela evitava o assunto como eu. Eu tive medo de sair daquele sonho e descobrir algo diferente disso. Tive medo de que isso fosse uma ameaça ao nosso amor.Agora dentro de mim aquele lamento, meu coração sofria quando eu pensava nela. Não mais meu corpo a desejava, agora era a minha alma. Ela me deixou uma marca. Um fogo inextinguível.Eu precisei ser duro com ela, num momento que eu mais queria era abraçá-la e dizer-lhe que estava tudo bem, que eu a amava mais que tudo nesse mundo. Mas não pude, tive que impo
Khadija Como combinamos, Zamira apareceu religiosamente às dez horas da manhã no meu quarto. Embora eu não tivesse dormido quase nada à noite, eu já tinha levantado e me vestido. Coloquei um vestido preto, para combinar com meu humor negro. Deixei a porta aberta e me sentei numa poltrona confortável ao lado da janela grande em forma de arco. De lá eu podia ver um lindo jardim de roseiras e um banco ao sol. Ouvi a voz de Zamira. — Sabah el-kheir. (Bom dia) A salamo a-leikom Ela estava na porta me olhando sorridente. Ele lhe retribui sorrindo levemente para ela. — Sabah el-kheir. A leikom es salâm —Você tem misturas no sangue. —Ela afirmou —Sim, minha mãe era inglesa. —Era? —Ela morreu. Zamira apertou os lábios. —Vem minha querida, vem tomar seu dejejum. —E o senhor Xarif? Ele já acordou? —Perguntei apreensiva. —Sim, o senhor Xarif acorda sempre cedo. Ele fo