Capítulo 2
– Maia, Corra!

Maia gritou e saiu correndo por onde veio, mas Hélder a perseguia, tropeçando em seus pés, mas continuando atrás da minha filha.

Não.

Prefiria morrer antes de permitir que ele pusesse as mãos nela.

Eu me levantei do chão e corri o mais rápido que pude para interceptá-lo. Ele continuava bêbado, por isso seus passos eram lentos, mas estava quase chegando à porta do quarto dela. Cheguei antes dele e a fechei com força.

– Hélder, deixe a Maia fora disso! Ela nunca fez nada com você, é a mim que você quer machucar.

Ele me agarrou pelo pescoço antes mesmo que eu percebesse e me puxou para cima, sufocando-me enquanto faz isso.

– Você terá sua vez, sua vagabunda estúpida. Você acha que eu não vejo a maneira como você adora ela, sua preciosa filha, enquanto eu sou ridicularizado por todos ao meu redor. Vou matá-la hoje e depois vou foder seus miolos, talvez a morte de uma criança faça com que seu corpo traga outra, e se você ainda se recusar, mato você também.

Hélder me jogou com a força de um Alfa e eu embati contra a parede, meu corpo gritando de dor quando algo sai do lugar. O horror cegou minha visão quando ele abriu a porta do quarto de Maia, entrou e, imediatamente, tudo o que consigo ouvir foi o som dela gritando.

– Mamãe!

– Mamãe, me ajude!

– Mamãe, me ajude!

Ela gritou novamente e, desta vez, estava chorando muito. Ouço algo se espatifar e o grunhido de Hélder se misturou à confusão de todo aquele som. Maia gritou novamente e, enquanto ela gritava, uma raiva fria preencheu meus ossos.

Levantei-me, apesar da dor em minhas costelas, e entrei no quarto. Hélder estava segurando nossa filha pela bainha do vestido e, embora ele esteja se balançando, consegui ver que ele ia cumprir suas palavras. Ele ia matá-la.

Peguei na lâmpada na gaveta ao lado da porta e avancei com coragem. Ele percebeu meu movimento e seus olhos se focaram em mim. Ameaçadoramente.

– Você não se atreveria.

Eu corri e golpeei sua cabeça com a lâmpada.

Hélder caiu no chão e Maia correu para mim, soluçando e escondendo o rosto nas dobras do meu vestido amarelo. Estou com os olhos arregalados e olhando para o meu marido no chão, mas o choro da minha filha é o que mais chamou a minha atenção. Ajoelhei-me para envolvê-la em meus braços e deixá-la chorar em meus cabelos.

Precisamos sair daqui.

Olhar para a figura de Hélder no chão me lembrou que não temos muito tempo. Ele nunca nos deixará sair quando acordar e só vai continuar com o que queria fazer no momento em que tinha parado. Não posso permitir que isso aconteça.

– Mamãe?

Maia fungava e eu me virei para ela, limpando as lágrimas de seu rosto e tentando não chorar eu mesma.

– Sim, querida.

– Tenho medo.

Eu acenei com a cabeça e abracei minha filha mais uma vez, ela começou a chorar novamente e suas lágrimas me machucaram mais do que qualquer dor que eu já tinha sentido. Ela não deveria estar passando por isso. Não era culpa dela ter nascido menina.

– Preciso que você seja forte, Maia, sim? Vamos deixar este lugar esta noite e iremos para outro lugar.

Ela acenou com a cabeça e fungou novamente, enxugando as lágrimas.

– Sim.

Eu me levantei assim que ela diz isso e levei minha filha para fora do quarto. A chave ainda estava em meu bolso e tranquei a porta ao sair. Arrombá-la não levaria nem dois minutos, mas nos daria algum aviso.

Havia uma caixa de primeiros socorros na cozinha e eu a levei para baixo, cuidando de um machucado que Maia tinha na perna e aplicando um pouco de loção em seu pescoço.

Hélder queria estrangular sua própria filha.

Isso me fez agir mais rápido e comecei cuidando imediatamente os nossos ferimentos. Já passava das onze horas quando saímos de casa apenas com nossas roupas e Maia estava tremendo enquanto segurava minha mão. Eu olhei para ela e sorri.

– Vamos ficar bem, meu amor.

Ela acenou com a cabeça e eu a levei para os fundos da casa. Ninguém deveria estar vagueando pela matilha a essa hora, exceto alguns guerreiros em patrulha. A rotina de patrulha deles é uma das que observei e passámos pelo primeiro grupo com relativa facilidade.

Ao chegarmos à próxima parada, passámos por eles com mais cuidado. Maia estava tão silenciosa quanto eu e podia ver o grupo se aproximando. Consegui ver nossa fuga quando uma mão me agarra e me puxou para a floresta ao nosso redor. O pânico aumenta e eu quis gritar, mas uma mão cobriu minha boca.

– Xiuu, sou eu, Aria.

Aria me soltou e, quando me virei, ela estava lá, com o cabelo escuro idêntico ao do irmão. O fato de ela ser a irmã mais nova de Hélder me enviou um calafrio pela espinha. Ela me encarou com um olhar firme.

– O que vocês dois estão fazendo fora a essa hora da noite?

Uma mentira surgiu em minha mente e eu cometo o erro de deixá-la escapar.

– A Maia não conseguiu dormir, então estava levando-a para passear.

Meu peito estava apertado de emoção e vi Aria Tires erguer uma sobrancelha incrédula para mim antes de seu olhar se suavizar. Ela se aproximou e tocou o novo corte em minha bochecha.

– Ele a machucou de novo, não foi?

Maia choramingou ligeiramente contra minha saia e as lágrimas escorregaram pelo meu rosto. Eu funguei e as limpei.

– Não é nada sério. É do mesmo jeito que ele sempre foi. Vamos voltar agora.

Aria agarrou meu braço e me impediu, com os olhos vasculhandos ao redor.

– A entrada está sendo guardada pelo chefe dos guerreiros de Hélder. Ele é muito vigilante e está muito mais atento do que os outros.

Ela colocou algo em minha mão e reparei que é a chave de um carro.

– Leve meu carro. Os vidros são escuros para que não se veja o interior, mas também não a deterão. Tenho fama de sair a altas horas da noite.

O pranto que escapou de meu corpo é repentino e eu a abracei

– Obrigada, Aria. Obrigada.

Ela me abraçou de volta e se afastou antes de se ajoelhar para abraçar Maia.

– Seja uma boa menina, está bom?

Maia acenou com a cabeça e Aria se levantou para olhar para mim.

– Você deveria ter fugido logo quando ele começou a bater em você, mas nunca é tarde demais, por isso, vá. O carro está estacionado logo atrás daquela casa pela qual você passou.

Acenei com a cabeça e segurei Maia, parti com ela e tomei cuidado para não fazer barulho.

Não encontrámos nenhum guerreiro em patrulha ao irmos para o carro e, quando estávamos dentro, vi Maia bocejando. Eu a coloquei no banco de trás e liguei o carro, esperando com o coração nas mãos que isso não fosse uma brincadeira cruel que Aria Tires estivesse me pregando por causa do irmão dela.

Meu coração batia forte no peito quando chegámos aos portões da matilha e, ao passar com o carro, não vi ninguém saindo para me parar. Mantive um rítmo constante por mais alguns minutos até virar em uma curva.

O carro deu um solavanco para a frente quando acelerei e abri as janelas.

O ar noturno me fez rir em meu pranto e as estradas livres me fizeram chorar ainda mais.

Olhei para o banco de trás e vejo minha filha dormindo, e a emoção cresce em meu coração. Eu deveria ter feito isso há muito tempo.

Mas, como já tinha ouvido dizer, nunca é tarde demais.

E, eu agora, conseguia finalmente senti-lo. O cheiro da liberdade.
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