Capítulo 4
Ponto de vista de Romano

Algumas horas antes...

– Você estava sendo tolo, Romano.

Meu pai passeava atrás da mesa.

– Pense na matilha, nos lobos que você tem de proteger. Você vai deixá-los sem um herdeiro?

– Eu farei o que eu bem quiser, pai.

Minha raiva se apoderava de mim e apertava caneta com força, contendo a frustração que sentia e controlando de novo minhas emoções.

– Não serei forçado a ir a encontros às cegas com alguém que mal conheço. Farei o que for melhor para mim quando estiver pronto.

Em silêncio, meu pai me avaliava.

Descendemos de uma longa linhagem de Alfas e, mesmo aos 62 anos, conseguia ainda ver traços evidentes do homem que ele já foi. O homem que ele seria para sempre, embora o título que ele possuía fosse agora meu. Ele se virou para me olhar e no seu olhar posso observar sua teimosia.

– Esta situação não pode continuar por muito mais tempo, Romano. Uma matilha precisa de uma Luna tanto quanto precisa de um Alfa, e apegar-se ao passado não fará nada por si a não ser causar mais dor. Os encontros às cegas estão sendo preparados porque você não digna nenhuma mulher que se aproxima de si com mais do que um olhar.

– Isso é porque eu ainda a amo, pai! Não consigo deixar de amá-a! Não me importa se ela já não está aqui. Não me importa que ela tenha desaparecido nos últimos cinco anos. Cinco anos não são nada comparados ao amor que sinto por ela!

O Alfa Caio da matilha Garra-Férrea me encarava, mas eu o encarei com toda a ferocidade que conseguia reunir. Sua aura recuou imediatamente.

Sou eu que lidero a matilha Garra-Férrea agora.

Sou eu o Alfa. Sou o Alfa há sete anos e nunca tivemos um confronto semelhante. Elara era minha vida!

Ela era minha razão de viver e, mesmo que ela tenha partido, continuava sem conseguir esquecê-la.

Os proscritos levaram ela de mim. Lobos imundos e nojentos que nos atacaram em um momento de fraqueza. Eles atacaram minha matilha, mataram minha mãe e fugiram com minha companheira.

Já se passaram cinco anos desde o ataque e eu não a esqueci nem por um segundo. Senti o vínculo de companheirismo enfraquecendo ao longo desses cinco anos, senti a esperança escapando de meus dedos pouco a pouco e vi minha matilha depositar ainda mais sua confiança em mim como seu Alfa. Eles precisavam de mim.

De mim por inteiro.

Então, talvez eu devesse pegar outra Luna.

A exaustão e o desespero me cobriam como um manto e meus ombros caíram quando olhei para a foto de minha companheira em minhas mãos. Elara era mais bonita do que um pôr do sol.

A mão de meu pai repousou em meu ombro quando senti as lágrimas começando a embaçar meus olhos e ele soltou um de seus suspiros. A tristeza daquele som me surpreendeu.

– Eu sei que você a amava, filho, e sei que ela significava muito para você. Você não foi o único que perdeu uma companheira naquele dia, eu também perdi a minha. Sua mãe foi a melhor coisa que já me aconteceu. Foi e ainda é, embora não esteja conosco. Sei que se ela estivesse aqui, ela iria querer que você fosse feliz, e Elara também. Ela gostaria que você a mantivesse sempre em seu coração sempre, mas também que soubesse que as memórias que vocês compartilharam terão sempre significado, independentemente de você encontrar outra pessoa ou não. Ela gostaria de ver você sorrir novamente e gostaria de ver a matilha forte. A matilha precisa de uma Luna, Romano. Não somos uma matilha completa sem uma, e você precisa de alguém para amá-lo ame novamente, como Elara o amou.

Com essas palavras, meu pai apertou meu ombro levemente. Demorei algum tempo para perceber mais uma vez que este era o meu escritório. Era a minha mesa, atrás da qual meu pai estava atrás agora, e ele tem cada vez mais tomado o meu lugar na minha ausência.

Já se passaram cinco anos, mas ainda não superei a perda dela. Elara era minha companheira.

Tínhamos prometido envelhecer juntos.

E agora ela não estava mais comigo. Isso me arruinou.

– Alfa Romano, Beta Flávio está no celular para você.

Ergui a cabeça para ver a assistente pessoal do meu pai esperando na entrada do meu escritório. Tenho certeza de que ele lhe disse que não deveríamos ser incomodados, daí ela estar me informando sobre essa ligação.

Estiquei minha mão para pegar o telefone fixo na mesa e atendi a ligação de imediato.

– O que houve, Flávio?

– Temos intrusas.

Minha mão parou e uma carranca surgiu em meu rosto.

– Seja franco comigo, o que você quer dizer com intrusas?

Conseguia ouvir Flávio hesitar, quase que podia senti-lo querendo não dizer a palavra, mas ele cedeu com um suspiro e logo a palavra saiu de sua boca.

– Proscritas, Alfa Romano. Temos duas lobas proscritas aqui na lanchonete do Joel. Vou tentar me aproximar, mas...

Interrompi a chamada antes que ele conseguisse continuar e com um sobressalto levantei-me da cadeira. A cadeira tombou para trás e caiu, mas nessa altura já estava fora do escritório, descendo as escadas e saindo da mansão.

Meu carro ainda estava quente e ligou imediatamente.

Proscritas! Na minha matilha!

O Cantinho do Joel ficava a apenas alguns quarteirões de distância, porém eu não tirei o pé do pedal, dirigindo como um louco entre as ruas tranquilas. Desci, fechei a porta do carro e fui em direção à pequena lanchonete.

A porta estava bem na minha frente quando meu lobo me fez parar.

Um cheiro alcançou meu nariz.

Minhas narinas se dilataram e meu coração acelerou. O instinto me levou a fechar os olhos e, quando senti o aroma do ar ao meu redor, meu lobo lançou um uivo alto e sonoro.

Ela tinha um aroma de mel e jasmim. O cheiro era como doce pousando em minha língua, como vinho em minha garganta. Ele me encheu de vontade de encontrá-la e protegê-la. Marcá-la e torná-la minha.

A porta da lanchonete estava bem na minha frente e eu abri-a, mas alguém esbarrou em mim.

Uma mulher com olhos verdes de jade e um aroma a mel e jasmim.

Fenrir uivou de novo em minha cabeça e sua declaração ressoou em minha alma.

– Companheira! Companheira!

Ela olhou para mim e nossos olhares se fixaram um no outro, uma corrente elétrica passando entre nós.

– Tem certeza, Fenrir?

Mal conseguia fazer a pergunta por estar tão perdido no verde de seus olhos. Minha companheira de segunda chance.

A única resposta que recebi de meu lobo era sua declaração frenética.

– Companheira! Companheira!!!

Ela deu um passo para trás e meus olhos captaram a aliança de prata em seu dedo. Minha companheira de segunda chance já está casada.

Uma carranca feia tomou meu rosto.
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