Capítulo 3
Dirigimos por três horas antes de qualquer pensamento atravessar minha mente.

O primeiro que me ocorreu foi o medo disparando em meu coração.

Para onde iríamos?

Não podia levar-nos para a matilha dos meus pais. A matilha de Hélder era muito forte e seria apenas uma questão de tempo até que ele me persiga. Ele me acusaria de tentativa de homicídio e tiraria Maia de mim antes de me matar. Meus pais não conseguiriam impedi-lo, e a matilha de Hélder o apoiaria.

Por isso, é melhor se eu nos levasse para outro lugar.

Tenho um primo distante que morava a algumas cidades de distância. Meu caixa multibanco e um dos meus cartões de crédito estavam no bolso. Felizmente, é o único ao qual Hélder não tinha acesso. Tinha guardado algum dinheiro para a educação de Maia, caso Hélder decidisse não patrocinar mais seus estudos, teria de usar parte dele para nos afastar dele.

As lágrimas picaram o fundo dos meus olhos e eu pisquei para as conter, mantendo meus olhos na estrada e observando as nuvens rolarem, volumosas e pesadas na noite.

Tenho vivido com tanto medo por minha filha, sempre me preparando para lidar com o que quer que nos suceda, e preparada para intervir se Hélder decidir que não queria mais cuidar dela. Soube que deveria estar ressentida com ele.

Eu deveria ter ressentimento dele por odiar Maia, sua própria filha. Ele até queria matá-la, e eu deveria desejar que ele ardesse no inferno por isso.

No entanto, não podia deixar de sentir que o entendia.

Minhas lágrimas se desprenderam de meus olhos quando um pranto assolou meu corpo e eu me permiti chorar.

A culpa era toda minha.

Minhas mãos seguraram o volante com mais força e chorei em silêncio.

Hélder precisa de um filho se quiser manter o título de Alfa na sua linhagem familiar. Seu pai e seu avô tiveram filhos. Ele é o único que não tinha e, se não conseguisse gerar um, a matilha teria que escolher outro Alfa, resultando na perda do seu título. Seria uma vergonha para ele, uma desgraça para seu nome e o de sua família, tudo porque sua companheira não conseguiu lhe dar um herdeiro homem.

Limpei minhas lágrimas e funguei antes de rir.

Estava sendo uma boba!

Ele nunca deveria ter me batido. Não importava o quê!

Os danos que ele me infligiu não fizeram com que eu o amasse mais. A dor, as horas de espancamento e agressão não me fizeram gerar outro filho para ele. Sou muito mais do que meu corpo e ele nunca me viu como algo mais do que isso.

Eu o odiava agora. Com ou sem herdeiro, ele bem pode apodrecer no inferno por tudo que me fez!!

– Mamãe?

A voz sonolenta de Maia me despertou de meus pensamentos e fiquei surpresa ao ver o sol já se erguendo no céu. As nuvens agora eram pedaços fofos de luz e cor e, embora ainda não tenha amanhecido completamente, a manhã viria em breve.

– Sim, Maia?

– Vamos ver a vovó e o vovô?

Dei uma risadinha e limpei o rosto com as costas da mão antes de balançar a cabeça.

– Não, ainda não. Um dia voltaremos para vê-los, mas, primeiro, precisamos nos afastar o máximo possível do papai.

Olhei para a reação da minha filha pelo espelho retrovisor e o que vi parte meu coração. O rosto de Maia assume uma expressão desolada, como se ela estivesse desanimada e se lembrasse do que quase aconteceu com ela, mas ela escondia tudo isso em um instante e um olhar resiliente aparecia em seus olhos. Ela endureceu o queixo e acenou com a cabeça. Ela compreendia.

Nenhuma criança deveria passar por isso.

Passadas mais algumas horas de viagem e estavamos passando por uma área mais populosa. A cidade projetava uma estética pitoresca e vi Maia subindo na cadeira para poder ver melhor as fontes e as pessoas. Em menos de um minuto, ela resmungou e se virou para mim.

– Tenho fome.

Meus olhos flutuavam para a hora exibida no carro e eu franzi a testa. Já eram nove da manhã. Ela já deveria ter tomado o café da manhã.

Procurei por um hotel e, quando vi um, fomos até lá.

– Venha, vamos nos refrescar antes de comer.

Maia esperou que eu estacionasse completamente antes de sair do carro, mas assim que o fiz, peguei sua mão e a puxei para mim.

Lobos!

O ar estava denso e pesado com o cheiro deles. Protegi ligeiramente meu rosto com as mãos enquanto digo à minha loba para se acalmar. Fui ferozmente protetora com minha filhota e lobos de outra matilha poderiam significar problemas.

– Algum problema, mamãe?

Balancei a cabeça e puxei minha filha para perto de mim.

– Fique por perto, Maia, e se alguma coisa perigosa parecer estar prestes a acontecer, esconda-se.

Ela acenou com a cabeça e abaixou-a. Ver isso me deu toda a coragem de que precisei e caminhamos corajosamente até à recepção. A senhora nos atendendo era humana e nos registrou com uma eficiência cordial. Não tínhamos malas, por isso nos dirigimos logo para o quarto. Durante esse tempo todo, fiquei atenta a qualquer sinal de perigo.

O espaço que reservei era um quarto individual e uma sala de estar. Considerando que o baixo custo, ocorreu-me a ideia de que poderíamos nos esconder aqui por alguns dias. Se senti o cheiro de outros lobos agora mesmo, isso significa que deve haver uma matilha por perto.

Este lugar podia ser parte do território deles. Se Hélder, de alguma forma, conseguir nos rastrear até aqui, não há dúvida de que ele ficaria furioso. Ele seria confrontado pelos outros lobos que estão por perto e, antes que ele chegasse até nós, eu já teria ido embora com a Maia e estaríamos indo embora daqui.

Ouvi o resmungo de Maia novamente, mais alto desta vez, e minha risada era tão doce quanto o sorriso que iluminava meu rosto.

– Vamos colocar um pouco de comida nessa barriguinha.

Maia acenou com a cabeça e saímos depois de escovar os dentes. A recepcionista disse-nos haver uma lanchonete não muito longe do hotel, por isso fomos até lá.

O Cantinho do Joel era um lugar pequeno, mas estiloso, adornado com cores vivas e equipado com vidros cristalinos. Quando nos sentamos, Maia já estava lendo o cardápio e, sem que um minuto tivesse passado, ela o deixou cair sobre a mesa e tocou em um dos pratos.

– Eu quero esse.

Peguei o cardápio, virei-o para mim e fiquei surpreendida com sua escolha.

– Ovo mexido e tapioca. Você só come isso, Maia. Por que não experimenta outra coisa para variar?

A teimosia alojada em seu queixo veio à tona novamente e eu soltei uma risadinha antes de levantar minhas mãos em sinal de rendição.

– Está bom, ovo mexido e tapioca.

O garçom veio e anotou nossos pedidos. Passado pouco tempo, Maia se encontrou com um prato quente e fumegante de ovo mexido e tapioca à sua frente. Ela nem sequer olhou para mim antes de começar a devorar tudo, e isso me fez sorrir.

Ela era uma lobinha, minha Maia. E por falar em lobos...

– Você não vai comer sua comida, mamãe?

Estava imóvel como uma pedra agora e sem saber o que fazer.

– Maia. – Eu chamo-a, notando o denso cheiro de lobisomens machos no ar e achando que eles sabiam que estavamos aqui. – Você pode largar o garfo agora mesmo e se levantar?

O cheiro de um deles se aproximou de mim.

– Oi gracinha, posso saber seu nome?

No instante em que ele falou, sei que já estava em nossa mesa e, quando me virei, eu o vi. Um homem de aparência robusta, com uma cicatriz feia no queixo, mas mesmo assim bem aprumado com boas roupas. Seus cabelos de um castanho-dourado eram lisos na cabeça e chegavam até os ombros, mas isso não diminuía o perigo que sinto irradiar dele.

– Maia, levante-se.

– Ei, eu fiz uma pergunta.

– Nós não somos daqui. – Não gaguejava nem procurava por palavras. – Estamos apenas de passagem e não queremos problemas.

Ele me agarrou pelo braço e me puxou para ele, com uma luz violenta brilhando em seus olhos enquanto ele gritava.

– Eu só quero saber de onde você é, querida.

Puxei minha mão com toda a força que consegui agregar e surpreendei-me quando ele cedeu. No momento seguinte, estou caminhando em direção à porta com Maia puxada para perto de mim.

Conseguia sentir a tensão no ar.

O silêncio que envolveu a lanchonete e a promessa de violência que se arrastou pelas minhas costas me fizeram tremer. Meus passos se apressaram e estava quase chegando à porta, quase conseguindo escapar, mas a porta se abriu e entrou um homem que faz meu coração parar.

Meus passos cessaram, e o meu olhar encontraram um par de olhos de um azul profundo, diferente de qualquer outra tonalidade de azul.

Droga.

Ele tinha uma aura de Alfa.

Havia uma carranca em seu rosto, mas nossos olhos se fixaram um no outro e, no momento em que isso aconteceu, minha boca engoliu em seco.

Droga.
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