Capítulo 5
Ponto de vista de Scarlett

Por que estava ele olhando tanto para mim?

Mal conseguia desviar meus olhos dos dele, mas se ele tivesse desviado os dele dos meus, não estaríamos aqui agora, não é?

O que mais me assustava nele era o fato de ser enorme. Ele era tão grande quanto Hélder, talvez até maior. Eu provavelmente parecia uma irmãzinha ao lado dele.

– Quem é você?

Sua voz provocou um arrepio na minha espinha e o prazer que percorreu meu cérebro foi inesperado. Não sabia o que dizer.

– Eu... Eu... Na verdade...

– Se eu quisesse que você gaguejasse, não teria feito nenhuma pergunta. Que diabos você está fazendo na minha matilha, Proscrita?

A repulsa e o ódio entranhado em sua voz me despertou do meu devaneio. Dei um passo para trás antes de dar uma olhada em tudo ao meu redor e limpar a garganta.

– Eu não sou uma Proscrita.

– O que você é, então? Não tenho muita paciência e a pouca que tenho já está acabando.

Pois bem, quem é esse idiota?

A irritação se alumiou em meus ossos e tive vontade de atacá-lo. Tive ganas de perguntar quem ele pensava que era para me fazer essas perguntas, e ainda no meio do público também! Podia ser uma lobisomem, mas também era uma cidadã do estado. Eu poderia envolver a polícia. Homens como ele gostavam sempre de pressionar todos ao seu redor, mas eu não queria mais isso.

– Mamãe, acalme-se.

A voz de Maia era apenas um sussurro e não sabia como ela conseguiu se aperceber disso. Talvez fosse porque estivesse vibrando de raiva neste momento e tremesse com a força dela. A raiva recrudescia em mim. Tinha acabado de escapar do controle de um homem e agora estava sendo encurralada por este.

Atacá-lo aliviaria um pouco da minha raiva, mas também seria a escolha errada.

Ele não era o Hélder. Não foi ele quem machucou a mim e a minha filha. Ele não era o inimigo aqui.

Ele disse que essa era sua matilha, então provavelmente estava apenas tentando cumprir seu dever. Como guerreiro-chefe, ou seja lá o que ele fosse, dessa matilha.

Suspirei e olhei para ele de novo antes de responder.

– Meu nome é Scarlett.

– Quem é a criazinha atrás de você?

Levei Maia para perto de mim e o encarei com um olhar feroz.

– Ela é minha filha, Maia.

– Onde está o pai dela e seu companheiro?

– Ele não está aqui e nem vai estar. Estamos sozinhas, não queremos problemas. Estamos apenas de passagem e viemos aqui para tomar o café da manhã. Não somos proscritas e não queremos fazer nenhum mal.

O homem enorme me encarou com seus olhos azuis penetrantes antes de desviar o olhar.

– Eu mesmo ajuizarei isso. Por agora, você terá que voltar comigo para ser interrogada.

Meus olhos se arregalaram em choque.

– Mas eu acabei de responder a todas as suas perguntas.

Ele me olhou de cima a baixo e esboçou uma careta.

– Desculpe-me se não acredito em suas explicações esfarrapadas. Ou você vem conosco por vontade própria ou nós levamos vocês à força. A escolha é sua.”

A raiva crescia de novo em mim e a ideia de fugir passou por meus pensamentos. Seria uma tolice de minha parte. Uma estupidez mesmo considerando que há quatro deles e um de mim. Maia também era um risco adicional que não podia me dar ao luxo de correr.

– Está bom, então. Irei com você para prosseguir o questionário.

Mantive meus olhos no chão e desejei de todo o coração que não estivesse cometendo um erro.

Não sei o que ele disse ao resto de seus homens, mas senti que eles se afastaram. Depois, ele saiu pela porta e eu suspirei enquanto o seguia. Seu carro era um elegante Lamborghini vermelho escarlate e minhas sobrancelhas se ergueram quando entramos nele. Um guerreiro de matilha tinha um carro como esse? Sua matilha deveria ter um montão de grana.

– Mamãe, para onde vamos?

Voltei o meu rosto para Maia com um sorriso brilhante no rosto.

– A mamãe tem que responder algumas perguntas para o tio aqui. Vamos dar um pulo na casa dele e sair em um piscar de olhos.

– Quantos anos tem ela?

Olhei para a Maia com um olhar conhecedor enquanto revirava os olhos e ela solta uma risadinha.

– Está vendo o que quero dizer, Maia. Vamos terminar em pouco tempo.

Voltei a relaxar em meu assento e respondo à pergunta de nosso interrogador.

– Seis.

– De onde são vocês as duas?

Mantive meus lábios fechados porque certamente não podia lhe dizer isso. Ele fixou seus olhos em mim e então abri a boca para mentir, mas é nesse momento que meus olhos viram o brasão estampado nos enormes portões de ferro para os quais nos dirigíamos.

Os cortes profundos que eram marcas de garras inspiravam medo em mim, tal como se disse que sempre inspiraram medo em qualquer um que os visse. Cortes profundos em uma placa de ferro puro. A única matilha conhecida por esse poder destrutivo era…

A matilha Garra-Férrea.

Droga.

Droga, droga, droga.

– Eu fiz uma pergunta, Scar...

– Esta é a matilha Garra-Férrea?

Olhei para o homem enorme e ele me observa de forma estranha. Devo ter parecido estar em pânico, mas esse pânico só aumentou quando ele acenou com a cabeça.

– Você não sabia?

Que droga.

Tinha que sair daqui agora.

O homem não me fez mais perguntas e pide sentir Maia me observando atentamente. A matilha Garra-Férrea era uma matilha famosa, uma das mais fortes, conhecida por sua ferocidade e natureza intensa. No entanto, o que a tornou mais famosa recentemente foi seu novo Alfa e seu ódio por lobos proscritos.

O Alfa Romano, que não poupava invasores.

Entramos de carro e eu murmurei uma oração sob minha respiração.

– Saia e me siga.

Obedeci sem hesitar e caminhei bem por trás dele, mantendo minha filha perto de mim. O complexo estava consideravelmente vazio, por isso não encontramos muitas pessoas. Porém, alguns degraus acima da escadaria, encontramos outra pessoa. O homem loiro de antes. Ele sorriu e piscou para mim.

– Ei, gracinha.

Maia lhe deu um chute nas pernas antes que eu pudesse impedi-la e, como o horror me invadia, eu me joguei entre eles caso ele a atacasse de repente.

Ele lançou uma gargalhada.

O lobo de cabelos loiros da selvagem matilha Garra-Férrea riu e pulou em uma perna como se Maia realmente o tivesse machucado.

– Você tem uma cria feroz, gracinha.

Maia avançou de novo sobre ele, mas agora eu coloquei uma mão em seu ombro e, ao mesmo tempo, uma ordem foi dada pelo nosso novo guia.

– Deixe-se de brincadeiras, Flávio. Tenho que interrogá-los.

Flávio, de cabelos loiros, esboçou um sorriso gentil e acenou com a cabeça.

– Claro, Alfa Romano.

Meu cérebro congelou e se embaralhou até que consegui recuperar minha compostura. E mesmo recomposta, não queria acreditar que tinha acabado de ouvi-lo bem.

O homem alto, de cabelos escuros e olhos azuis, que eu estava seguindo nos últimos minutos, agora se virou para mim e eu apercebi-me de tudo de uma vez.

– Vamos lá.

As palavras eram ditas em um rosnado baixo, mas o medo se infiltrou ainda mais em meus ossos.

Ele era o Alfa Romano da matilha Garra-Férrea.
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