A Segunda Chance de Scarlett
A Segunda Chance de Scarlett
Por: Lovesickloner604.
Capítulo 1
Ponto de vista de Scarlett

– Mamãe?

Eram nove da noite e hora do jantar quando Maia olhava para mim de sua tigela de mingau.

Meu coração se derrete com a maneira como ela disse essa palavra, como se significasse o mundo para ela. Isso me fez sentir que ela me vê como sua fonte de conhecimento. Quando olhei para minha filha, com seus cabelos castanho claro e olhos azuis profundos, um sorriso iluminou meu rosto e belisquei sua bochecha levemente.

– Sim, querida?

– Eu vou ter um companheiro um dia?

Pisquei os olhos quando um olhar ligeiramente divertido se espalhou pelo meu rosto.

– Por que está perguntando sobre isso? Você ainda é muito jovem.

– Mas vamos falar hipoteticamente.

Meus olhos se arregalaram e eu dei uma risadinha.

– Hipoteticamente? Quem lhe ensinou essa palavra, Maia? É uma palavra grande para uma criança de seis anos.

Ela dá de ombros.

– O Sr. Marco disse isso quando estava fazendo uma pergunta à Srta. Sara na aula de hoje, ele disse hipoteticamente falando...?

Outra risada brotou de mim porque conheço os professores de quem ela está falando. Eles cuidam da turma da primeira série na escola dela e Marco estava sempre fazendo piadas com Sara por querer sair com ela, mas não tinha coragem de convidá-la. Às vezes, tenho muito tempo livre e minha filha é minha vida. Eu me certifico sempre de verificar como ela está.

– Mas por que você perguntaria se terá um companheiro? Todo mundo tem um companheiro quando atinge a maioridade, e para si, vai ser só daqui a pelo menos doze anos. Você ainda tem seis anos, deveria estar preocupada com sua aula de artes plásticas. Aquele burro que você desenhou parecia uma mesa.

– Eu não quero um companheiro, mamãe.

Minha mão parou na ponta do cabelo de Maia e eu olhei para ela. Seu mingau não foi tocado e ela olhando para mim muito seriamente. Ela me encarava com emoção em seus olhos e eu fico confusa.

– Por que você diz que não quer um companheiro?

Maia se virou e hesitou antes de falar.

– Papai é seu companheiro, não é?

Meu sangue se tornou mais frio do que a sobremesa que comíamos, mas eu acenei com a cabeça e minha filha desviou o olhar.

– Não quero um companheiro se ele agir da mesma forma que o papai age com você. Ele faz sempre você chorar e gritar e eu não gosto disso. Não quero um companheiro.

Cada palavra dita por minha filha é como uma flecha atingindo meu coração e sinto as lágrimas surgirem do fundo dos olhos enquanto a ouço.

Nunca esperei que isso acontecesse.

– Papai nos ama de forma dele, Maia.

Pela forma como minha voz se quebrou e minha garganta se fechou, até eu posso notar que estava mentindo. Maia se aconchegou mais perto de mim e voltou a comer seu mingau.

– Continuo sem querer um companheiro.

Tive que puxá-la para mais perto e deixá-la se acomodar contra mim antes de deixar minhas lágrimas escorrerem. Uso a outra mão para cobrir minha boca nos intervalos em que senti um pranto tentando forçar sair. Limpei minhas lágrimas no momento em que elas saem para que não caíssem e minha filha não percebesse. Ainda assim, Maia se virou para tocar um hematoma em minha testa.

– Ainda dói?

Eu balanceei a cabeça e a puxei para um abraço, finalmente permitindo que alguns choros silenciosos saíssem. Em todos os anos em que a tive, sempre esperei que ela não percebesse nenhuma das minhas dificuldades. Sempre desejei que ela tivesse uma infância feliz, que não visse que seu pai batia em sua mãe e que não fosse afetada por isso. Viver como uma criança feliz, em um lar feliz, sem ser marcada pelos problemas de seus pais.

Senti uma dor profunda na minha alma que ela tenha percebido e que isso tenha afetado sua atitude para com a ideia de companheiros. Os companheiros são sagrados. Seu companheiro a amará e cuidará dela.

Nós já fomos felizes, Hélder me amava antes de se casar comigo e tivemos um grande casamento. Ele era um belo e jovem Alfa, o herdeiro da matilha Sombra-Noturna, e era a pessoa mais encantadora que eu já havia encontrado. Ele tinha ido à matilha de meus pais para discutir com o Alfa de lá sobre um tratado.

Meu pai fazia parte do conselho interno do Alfa e, quando Hélder pôs os olhos em mim enquanto eu acompanhava meu pai até a casa do Alfa, eu soube que estávamos destinados a ficar juntos. A matilha de onde venho é pequena e fiquei feliz por partir com meu companheiro para poder me tornar a Luna de sua matilha.

Hélder era atencioso e fiel, mas isso foi antes de eu dar à luz e a criança não era do sexo masculino. Depois disso, ele mudou como as marés. Sua família já tinha um histórico de ter mais mulheres do que homens. Ele mesmo tem três irmãs e, sendo o único homem, se ele não fornecer um herdeiro.........

O cheiro de Hélder chegou ao meu nariz e eu parei de chorar, levantando a cabeça para sentir melhor o cheiro. Preparei-me mentalmente para levar Maia para o quarto dela e, quando o leve pulso de sua presença através do vínculo de companheirismo me alcançou, me levantei com Maia embalada nos braços imediatamente.

– Querida, o papai já voltou. Por isso, preciso que você fique no seu quarto.

– Já estou indo para lá enquanto falo, quase correndo para levar minha filha para um lugar seguro, apesar dos seus protestos.

– Mas eu não terminei meu sorvete.

– Eu lhe compro um pote grande amanhã se você for direto para a cama. Amo você, querida.

Deixei Maia na entrada, fechei a porta e virei a chave antes de tirá-la. Esperei ouvir seus passos e o barulho dos lençóis quando ela se deitou na cama antes de voltar para a sala de estar.

Hélder estava me esperando quando cheguei.

A maneira como seu terno se ajustava ao corpo me fez pensar se um vestido me ficaria tão bem. Hélder era o Alfa da matilha Sombra-Noturna, na qual ocupo a posição de Luna, mas em que sofrra um destino cruel.

Ele tropeçou e eu corri para pegar nele, o cheiro de álcool e outras mulheres já emanando dele em ondas. Lembrei-me de minhas falhas de uma só vez e contiveas lágrimas.

– Afaste-se, sua vadia!

Suas palavras arrastadas continham todo o veneno que pude imaginar que ele teria e, enquanto as lágrimas caíam pelo meu rosto, perguntei-me por que ele não me deixava fazer isso, ficar longe dele. Pedi o divórcio, mas ele se recusou, mantendo-me com ele para poder me bater e me espancar.

– Eu só queria ajudar você. Perdão, Hélder...

Hélder tropeçou e agarrou meu cabelo, puxando-o antes que eu pudesse me me afastar.

– Se você realmente quer ajudar, então vai me deixar te foder, aqui e agora. Talvez desta vez seu útero estéril dê à luz um herdeiro.

Seu hálito cheirava a álcool e, quando ele começou a puxar minhas roupas, soltei um pranto.

– Hélder, espere, p... por favor, pare.

Repiti-me várias vezes, mas ele não me ouvia. Lágrimas escorriam pelo meu rosto e meus choros me deixavam tremendo, mas ele não me ouvia e continuava agarrando minhas roupas, determinado a fazer o que quiser comigo, independentemente de eu querer ou não. Estava puxando as peças que ele tirou de volta quando meus olhos se fixaram em algo.

Minha respiração estacou.

– Hélder, pare.

Maia estava no corredor do seu quarto, com lágrimas caindo pelo seu rosto. Nesse momento, meu coração se quebrou, mas minhas próprias lágrima cessaram. Hélder rasgou a alça do meu vestido e arrastou minha calcinha para fora do meu bumbum.

– Hélder, eu disse pare! Nossa filha está assistindo!

Os olhos de meu marido se ergueram para encontrar os de sua filha chorando e a raiva letal que vejo neles fez meu coração parar.

Eu não deveria ter dito isso.
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