— Homem ou mulher? É bonito? — Viviane perguntou com os olhos brilhando como faróis, o coração palpitando de curiosidade.Isabela lançou um olhar reprovador a ela. — Que tipo de lixo você armazena nessa cabeça oca?— Dra. Isabela... — A interrupção veio em forma de voz melodiosa.Janete aguardava com paciência, como um felino observando suas presas.Isabela se virou com sorriso profissional pronto. — Janete, minha amiga parece ter exagerado no...— Não estou bêbada! — Viviane se endireitou como soldado em parada militar, a voz clara como cristal. — Estou perfeitamente lúcida.Os olhos âmbar de Janete cintilaram ao percorrerem as duas mulheres. — Amiga da Dra. Isabela é amiga minha. Que tal nos divertirmos juntas?Antes que a advogada pudesse protestar, Viviane já batia palmas como criança diante de parque de diversões. — Ótimo! Maravilhoso! Sensacional!Isabela suspirou, dando um sorriso com o canto dos lábios. Ela sabia que tinha sido derrotada.A antiga sala privativa do ex-marid
Isabela havia estado tão ocupada com os julgamentos nos últimos dias que quase desmaiava de exaustão, sem tempo para mais nada. Diante do questionamento de Danilo, explicou com um ar apologético:— Vi suas ligações, mas estive tão ocupada que esqueci de retornar.Danilo não insistiu no assunto, apenas disse com alívio:— Só queria ter certeza de que estava tudo bem.— Estou. — A resposta foi curta.Sandro, que observava de lado, parecia ter algo a dizer. Mas diante de todos, não conseguiu engolir o orgulho. Seu comentário veio afiado:— Uma assistente tem tanto trabalho assim?Isabela evitou a provocação. Engoliu o orgulho e manteve o silêncio.Percebendo a frieza emanando de Sandro, Gabriel interveio com diplomacia:— Sra. Marques, que tal se juntar a...— Me chame pelo meu nome. — Isabela o corrigiu pela enésima vez.— Desculpe, vício de linguagem. Vou me policiar. — O sorriso do Gabriel se ampliou.— Não, obrigada. Estou com amigas. — A recusa foi direta.Fabiano, sabendo que Vivian
— Vamos. — Alertou Janete, percebendo a tensão crescente no ambiente. Como mulheres em minoria, a saída estratégica era a única opção sensata.— Deixa que eu te levo, Vivi. — Ofereceu Fabiano, todo solícito.Viviane lançou um olhar cortante a ele.— Nem você presta. Você é farinha do mesmo saco que ele.Fabiano engoliu em seco, sem entender como foi arrastado para aquela situação.— Eu as levo. — Propôs Danilo, visivelmente preocupado em não deixar Isabela sozinha com Sandro.Gabriel observou Sandro com cautela. O ex-marido estava lívido, os olhos faiscando de raiva, como uma bomba-relógio prestes a explodir. O silêncio pesava como chumbo no ar.Num movimento súbito, Sandro atravessou o grupo, agarrou o pulso de Isabela e a arrastou para fora.Viviane e Danilo tentaram segui-los, mas Fabiano e Gabriel os bloquearam.— Pelo amor de Deus. — Tentou Gabriel apaziguar. — São sete anos de história, quatro de casamento. Ele só quer conversar, não vai fazer nada.— É verdade. Sandro errou, mas
Isabela não se perturbou, apenas perguntou com calma: — Isso aqui tem algum sentido?— Não tem? Antes você adorava fazer amor comigo. Aliás, nunca fizemos num ambiente assim... — Sandro a empurrou contra uma pilha de tábuas, arrancando suas roupas com violência, tentando reavivar suas memórias daquela forma.Isabela o encarou com frieza, declarando com um tom de desdém:— Sandro, você só está tornando tudo ainda mais patético.— Eu não ligo, só quero você de volta. — Murmurou ele, com uma voz abafada, afundando o rosto em seu peito. — Você esqueceu? Foi nesse apartamento que você me deu sua virgindade. Naquela noite você chorou tanto...Ele também havia ficado com o coração apertado, com medo de machucá-la.Isabela fechou os olhos, se recusando a reviver aquelas lembranças, muito menos a olhar para o rosto dele.Quando ele tentou tirar seu suéter e lhe ergueu a cintura, ela se contorceu para se livrar, mas algo pontiagudo perfurou sua pele. — Ah... — Ela soltou um gemido de dor.— O
Isabela puxou os cantos da boca num sorriso tênue.Mandou a mensagem quase que por impulso: [Quando você volta?] Imediatamente se arrependeu. Não cabia a ela questionar sobre os deslocamentos do chefe, e o questionário parecia ultrapassar limites. Tentou apagar a mensagem, mas já havia passado um minuto. Era impossível deletar.Envergonhada, estava prestes a deixar o celular de lado quando recebeu um áudio. Ao abrir, ouviu uma voz grave e rouca, como se tivesse acabado de acordar ou estivesse embriagada: [Amanhã.]Isabela respondeu quase por reflexo: [Vou te buscar no aeroporto.]A resposta veio rápida: [Ok.]Mal colocou o aparelho na mesa, o toque voltou a soar. Atendeu e ouviu Danilo:— Sandro te importunou?— Não. — Respondeu laconicamente.— Onde você está? Vou aí. — A voz dele transbordava preocupação.Isabela estava exausta físicamente e mentalmente, sem forças para lidar com mais ninguém. Então ela recusou:— Já voltei para casa. Estou cansada, não quero sair.— E amanhã? Podem
— Onde? Onde? — Janete, ao ouvir Viviane, pensou que Isabela realmente tivesse escondido um homem em casa e começou a olhar em volta, tentando encontrar qualquer sinal masculino. — No armário? — Ela brincou com um sorriso. — Não estará sem roupa, né?Isabela suspirou, colocando a mão na testa, enquanto Viviane a encarava com um olhar interessante. — Fala aí.— Eu não escondi nenhum homem aqui. — Respondeu Isabela com naturalidade. — A roupa é do meu chefe, ele esqueceu aqui.— Do Jorge? — Perguntou Viviane, arqueando uma sobrancelha.Isabela acenou com a cabeça. — Sim, quem mais seria? Você sabe que ele é meu chefe.Janete, que estava toda animada, ficou decepcionada ao descobrir que era só uma roupa. — Ah, só uma roupa? — Ela suspirou, mas logo ficou curiosa novamente. — É aquele homem alto e bonito que eu vi da última vez? Aquele que eu te falei para você dar em cima?— É ele. — Respondeu Isabela com indiferença.Viviane não deixou barato, indagando com um tom de interrogatório:—
— Está muito tarde, não vou voltar para casa. — Disse Viviane com preguiça.— Você não está com medo, está? — Isabela soltou uma risada.Viviane respondeu com teimosia: — Tudo isso é falso, não há nada para temer... Antes que ela terminasse de falar, Janete se aproximou silenciosamente de seu ouvido e a assustou de propósito. Viviane deu um pulo de susto, fazendo as outras duas mulheres rirem.Viviane engoliu com resignação.— Vocês não sabem que assustar alguém pode matar?— Você não é corajosa? — Zombou Isabela. — Insistiu em assistir esse filme de terror. — Achei que éramos muitas, mas agora vejo que vocês duas são covardes. — Retrucou Viviane sem se intimidar.Algumas garrafas de cerveja foram esvaziadas e a mesa estava uma bagunça, com pratos e copos espalhados por toda parte.— Se a Vivi não vai embora, posso ficar também? — Perguntou Janete, com um tom de inquietação.Isabela hesitou antes de responder: — Eu só tenho uma cama aqui. — Não tem problema, eu não me importo de a
A mensagem de Jorge era curta e direta.[Três horas.]Isabela respondeu: [Ok, entendi.]Nos dias em que Jorge esteve ausente, ela não teve muito trabalho. Pela manhã, leu um pouco e, ao meio-dia, voltou para casa para arrumar algumas coisas. Como havia saído apressada para o trabalho, não havia tido tempo de limpar a casa com cuidado.Ao se curvar para jogar o lixo, ela sentiu uma fisgada na ferida na cintura, a fazendo franzir a testa de dor. Entrou no banheiro e, diante do espelho, examinou a ferida, aplicando iodo. Por ser inverno, a cicatrização estava mais lenta do que o normal.A casa estava impecável, com os lençóis lavados e cheirosos. Depois de arrumar tudo, ela partiu diretamente para o aeroporto.Chegou meia hora mais cedo e esperou. O voo parecia estar atrasado. Só uma hora depois, ela finalmente avistou Jorge.Jorge não estava de terno. Vestia um suéter preto com gola branca, calças casuais pretas que destacavam suas pernas longas, e um casaco pendurado casualmente no braç