O visitante era André, o que realmente pegou Isabela de surpresa.— O senhor está me procurando por algum motivo específico? — Perguntou ela, sem conseguir esconder o espanto.A expressão de Jorge, que observava a cena de perto, se tornou visivelmente sombria. Era fácil perceber que aquela visita repentina não devia ser por um motivo simples.— Na verdade, tem um assunto que eu gostaria de pedir sua ajuda. — Respondeu André com um sorriso. — Que tal a gente conversar lá fora?— Prefiro na cafeteria aqui embaixo. — Sugeriu Isabela rapidamente.André hesitou por um instante, mas acabou concordando com um breve aceno:— Pode ser.Isabela se voltou para Jorge:— Dr. Jorge, vou descer rapidinho.— Certo. Qualquer coisa, me liga. — Recomendou ele, sem disfarçar a preocupação na voz.— Tudo bem. — Isabela acenou com um leve sorriso antes de se virar para o visitante. — Vamos lá, professor André.Já na cafeteria, mantendo sua habitual educação, Isabela perguntou:— O senhor gostaria de tomar a
De repente, Sandro percebeu que há muito tempo enxergava Isabela apenas como uma dona de casa, alguém que lavava, cozinhava e cuidava de tudo. Ignorou-a por tanto tempo que, agora, mal conseguia reconhecê-la diante de seus olhos.Sem pensar duas vezes, ele correu atrás dela pelo corredor.— Isa! — Ele chamou, tentando impedir que ela se afastasse. — Sete anos juntos e você vai mesmo jogar tudo fora assim? Não dá para gente pensar um pouco no que vivemos?Isabela parou no meio do caminho, se virou para ele e soltou uma risada carregada de frieza.— Pensar no quê exatamente? Se eu pudesse escolher, preferia nunca ter me envolvido com você.Sandro apertou o livro nas mãos com tanta força que os nós dos dedos ficaram completamente brancos.— Você acha mesmo que o Jorge gosta de você? — Ele zombou, tentando disfarçar a própria dor. — Na cabeça dele, você é só uma mulher recém-divorciada, carente e fácil de manipular. Ele só quer te usar, e você acha que isso é amor? Não seja tão ingênua...
Era a segunda vez que eles se encontravam no tribunal. Na primeira ocasião, ela estava sentada no banco de réu, enquanto Sandro atuava do outro lado como advogado de acusação. Agora, mais uma vez, ela ocupava o banco da defesa, mas com uma diferença fundamental. Antes era a acusada, hoje estava ali como defensora.Isabela vestia um elegante terninho azul-marinho com lapela pontuda e camisa lisa da mesma cor por baixo. O corte ajustado na cintura e o único botão fechado realçavam sua silhueta esguia, enquanto a calça impecavelmente alinhada e os sapatos de salto preto completavam o visual, junto ao corte curto e preciso do cabelo. O conjunto todo emanava seriedade e uma presença marcante. Desde que entrou na sala, Isabela não havia olhado diretamente para Sandro nem uma única vez, enquanto ele, por sua vez, não tirava os olhos dela. Mesmo naquela situação, continuava pensando que Isabela estava se iludindo. Sem falar na diferença de experiência entre os dois, ele com anos de prática
— Você está dizendo que... — Sandro começou, mas foi interrompido.— Por favor, Dr. Sandro. — Isabela avançou com voz firme, não lhe dando chance de defesa. — Se a sua esposa o traísse, você não ficaria com raiva?Sandro a encarou fixamente, sem desviar os olhos dos dela, completamente atônito. Embora seu cliente fosse a vítima, a argumentação perspicaz de Isabela estava paralisando o andamento do caso.Mas o que realmente o incomodava não era o desenrolar do processo. Ele tinha aceitado essa causa apenas para desafiar Isabela, querendo lhe mostrar que ela não conseguiria vencer. Desejava que ela sentisse o quanto a profissão de advogado era difícil depois de tanto tempo afastada daquela vida, cuidando apenas da casa. Queria que percebesse que, quando estava em casa sem preocupações financeiras, na verdade vivia em grande conforto.No entanto, parecia estar completamente enganado. Isabela não demonstrava qualquer deslocamento. Pelo contrário, estava mais afiada do que nunca, com uma ló
Desde o início, quando ele disse que queria ser o advogado de César, seu alvo sempre foi Isabela.Naquele momento, parecia que ele havia alcançado seu objetivo.Isabela finalmente cedeu. Ela finalmente voltou os olhos para ele.Com um olhar desafiador, ele deu uma olhada para Jorge, que estava na plateia, como se dissesse: "Você sempre será o segundo, e nunca vai ficar à minha frente."Isabela lançou um rápido olhar para Sandro, mas percebeu que ele estava encarando alguém na plateia.Ela virou a cabeça e viu que ele estava olhando para Jorge.Uma expressão fria apareceu em seus olhos.O juiz bateu com o martelo.— Agora, a palavra é da parte do autor.Sandro desviou o olhar e se levantou. Sua postura era imponente, um homem realmente atraente. Embora fosse um canalha, ele tinha uma aparência privilegiada. Seu corpo esguio e alto, junto com seus traços faciais bem definidos, fazia com que fosse difícil não admirar sua presença.Bastava ele ficar com o rosto fechado e se posicionar ali,
— Além disso, minha cliente se arrependeu profundamente depois e tem se culpado o tempo todo. Ela desenvolveu depressão por causa dos danos que sofreu no casamento. Isso não é uma forma de violência? Todos sabem que, quando a depressão se agrava, pode levar ao suicídio. Minha cliente sofreu ainda mais do que a suposta vítima. Peço que Vossa Excelência leve isso em consideração.Isabela escolheu pintar sua cliente como vítima. Era uma estratégia de defesa.A cliente dela era a verdadeira vítima daquele casamento.No final, Isabela acrescentou:— Meritíssimo, a vítima sofreu ferimentos físicos. Mas minha cliente carrega feridas na alma e na mente. E a doença mental não é fácil de tratar. Por isso, peço que Vossa Excelência dê às mulheres a segurança de não precisarem temer o casamento nem a maternidade.Aquela última frase refletia a realidade da sociedade moderna.Atualmente, cada vez mais pessoas optavam por não casar nem ter filhos.O número de divórcios também aumentava constantement
Isabela olhou fixamente para o marido da sua cliente, que parecia visivelmente irritado, e disse: — Você traiu e ainda acha que está certo? Não aponte para a minha cliente assim! Estamos num tribunal. Se é tão agressivo aqui, imagino como deve ser em casa. — Isabela falou enquanto deu uma cotovelada discreta na sua cliente.A cliente ficou um momento sem reação, logo entendeu o que Isabela queria dizer e respondeu imediatamente:— Você sempre grita comigo em casa, mas eu não ligo. Só que hoje estamos em um tribunal, e você continua assim? Você não tem respeito nem pelo juiz?César ficou completamente sem palavras.— Você... Você... — Ele estava tão irritado que não conseguiu encontrar as palavras. — Me diga, foi essa advogada que te ensinou a falar assim, né?— Ela sabe que você vai surtar no tribunal? Ela tem algum poder sobrenatural, capaz de prever o futuro e me avisar antes? — A cliente respondeu de volta na hora.Isabela fez um sinal de positivo com a mão, aprovada pela resposta
Provavelmente porque ela já havia passado por uma traição.Isabela entendia os sentimentos da sua cliente.Por isso, as palavras que ela disse tinham um grande impacto.A cliente ficou profundamente grata a Isabela por ter expressado aquilo que estava em seu coração.Ela olhou para Isabela com os olhos vermelhos, emocionada:— Obrigada, Dra. Isabela, por falar o que eu sentia.Sandro, do outro lado, estava com a expressão um pouco rígida. Parecia que as palavras de Isabela estavam sendo direcionadas a ele.Aquilo o fez se sentir envergonhado.Ele sentiu, pela primeira vez, que tinha exagerado ao trair Isabela e se envolver com a Milena.César torceu o rosto.Será que se continuasse daquele jeito, ele deixaria de ser um ser humano?O comportamento de César depois foi muito ruim, o que afetou diretamente o julgamento do juiz.No fim, o resultado já foi bom o suficiente para a cliente de Isabela.A cliente ainda teria que enfrentar uma sentença, afinal, era um caso criminal, mas a pena fo