Mesmo sem conhecer Jorge, Viviane conhecia Danilo como poucos.Não havia nada de extraordinário nele, porém seu coração transbordava bondade. Durante oito longos anos, carregou uma paixão silenciosa por Isabela e, enquanto ela construía uma vida ao lado de Sandro, jamais cruzou as fronteiras do respeito. Nem um único deslize em todo esse tempo.Agora que finalmente tinha uma chance, conduzia sua conquista com a mesma integridade de sempre.Era dilacerante imaginar o quanto havia sofrido observando, dia após dia, a mulher dos seus sonhos nos braços de outro homem.Não era o que sempre diziam por aí? Para se casar, o ideal era escolher quem verdadeiramente te amava?Na visão de Viviane, Danilo representava essa escolha perfeita.— Só quero me concentrar no trabalho agora. — Declarou Isabela com firmeza, afastando a mão dele com delicadeza.Já prevendo tal resposta, Danilo não se surpreendeu. Sabia que as chances de rejeição beiravam noventa e nove por cento. Ainda assim, o impacto das pa
Depois de um tempo, Isabela finalmente despertou do seu momento de fragilidade. Com dedos trêmulos, secou o rastro úmido que as lágrimas haviam deixado em seu rosto.Ela se levantou, o olhar vagando pelo vazio, como quem buscava respostas num horizonte invisível."Não posso continuar assim, ele não vale estas lágrimas."Contudo, sete anos compartilhados não desapareciam como marcas de giz numa lousa. Era como tentar extrair uma parte vital de si mesma. Era uma ferida que exigia seu tempo natural para cicatrizar.Diante dos outros, mantinha a fachada de fortaleza inexpugnável. Apenas ela conhecia a amargura que corroía seu interior."As mágoas são como feridas abertas. Primeiro vem a dor aguda, depois a lenta recuperação, até que um dia, quase sem perceber, já não doem tanto."Se apoiando na beirada do colchão, ela se ergueu com esforço. Se dirigiu à janela e esperava que a brisa fresca pudesse limpar seus pensamentos tumultuados.Foi então que a cena no jardim capturou sua atenção. Cla
Diante do chamado, Sandro permaneceu em silêncio. Seus olhos, presos à figura de Isabela, não se moveram um milímetro sequer.Num gesto impulsivo, Clara respirou fundo, mordeu os lábios e, se erguendo nas pontas dos pés, o surpreendeu com um beijo. O espanto se estampou no rosto de Sandro. O gesto foi tão repentino que lhe roubou qualquer reação imediata. Quando finalmente tomou consciência da situação e tentou afastá-la, Clara já enlaçava seu pescoço com determinação, o mantendo preso.— Não me afaste assim... — Murmurou ela com voz trêmula. — Eu... Eu estou esperando um filho seu.A mentira brotou de seus lábios sem que pudesse contê-la. Só queria mantê-lo por perto, não suportava a ideia de perdê-lo.O choque paralisou Sandro completamente. Em seus olhos, apenas a incredulidade. "Uma única vez... Como isso seria possível?", pensou ele, atordoado.A lucidez voltou de repente. Ao empurrar Clara delicadamente, ergueu o olhar apenas para constatar que a janela agora estava vazia. A co
O olhar de Clara vagou pelo chão, enquanto um rubor lhe tingia os rostos. — Não... Ainda não tenho certeza... É muito cedo para afirmar qualquer coisa... — Balbuciou ela, visivelmente constrangida.— Você tem que ter certeza absoluta antes de dizer essas coisas. — Concluiu Sandro, secamente.Num movimento brusco, ele puxou o braço e deu as costas, se afastando com passadas determinadas.Com o coração aos saltos, Clara mordeu o lábio inferior e disparou atrás dele. — Sandro, por favor, espera! Ele parou de repente. Sem conseguir conter o próprio impulso, Clara colidiu contra suas costas.— Sandro... — Ela gaguejou, erguendo o olhar assustado para ele.— Se está mesmo grávida, por que está correndo desse jeito? — Indagou ele com voz gélida e distante. — Não tem medo de prejudicar o bebê?O coração de Clara disparou ainda mais. Dilacerada entre culpa e nervosismo, pressionou os lábios um contra o outro, se sentindo injustiçada.— A culpa é sua! — Protestou ela, elevando ligeiramente o
Foi por essa razão que Fabiano fez de tudo para não cruzar o caminho de Isabela.Enquanto isso, o celular de Viviane permanecia esquecido no vestiário, a impedindo de perceber as inúmeras chamadas que recebia.— Ela não atendeu. — Disse Danilo, dando de ombros — Então seremos apenas nós dois. O peixe deste lugar é uma delícia, sabia? Eles criam no lago da propriedade mesmo. Experimentei uma vez e, puxa vida, a carne é tão macia e suculenta que você nem acredita... Dá para pedir cozido ou numa sopa azeda bem típica. O que você prefere?— Tanto faz para mim. — Respondeu Isabela sem muito entusiasmo, nunca tendo sido exigente com comida.— Sopa azeda, então. — Concluiu Danilo, pousando delicadamente a mão na cintura dela.Com o inverno castigando lá fora, Isabela estava protegida por um casaco grosso e ainda enrolada no casaco que ele havia emprestado. O gesto não parecia invasivo, mas sim educado, quase um ato de cavalheirismo.Isabela nem sequer notou o toque da mão dele.Mas Clara não
O cenário do acidente se apresentava como um verdadeiro pandemônio. Os destroços dos veículos jaziam espalhados pelo asfalto enquanto manchas de sangue tingiam o ambiente de vermelho sombrio.No interior do carro acidentado, os airbags inflados mantinham Sandro e Clara imobilizados em seus assentos. Com o rosto ensanguentado, Sandro permanecia desacordado, sua condição era visivelmente crítica....Resort Serra Verde.Após desfrutarem de um jantar agradável, Isabela e Danilo deixavam o restaurante quando, inesperadamente, se depararam com Davi, que caminhava despreocupado pelos jardins do resort.— Professor Davi! — Chamou Isabela, pega completamente de surpresa.Em seus planos, ela imaginava encontrá-lo apenas depois de se preparar com cuidado, de modo a se apresentar impecável diante dele. Afinal, mesmo divorciada, desejava se mostrar em sua melhor versão. O destino, porém, conspirou para que ele a visse justamente em seu momento menos elegante.Davi a encarou atentamente por alguns
— Vem cá. — Ordenou Davi, examinando Fabiano dos pés à cabeça com olhar crítico. Algo naquele homem lhe desagradava muito, mesmo sem qualquer motivo aparente. Nunca o tinha encontrado antes, desconhecia por completo sua história ou temperamento. Simplesmente sentiu aquela antipatia instantânea, visceral.Enquanto isso, Viviane se aproximou de Isabela com passos hesitantes e sussurrou:— Acabei de receber uma notícia terrível. O Sandro sofreu um acidente de carro. Ainda não sabemos se conseguiu sobreviver.Ao ouvir, o peito de Isabela se contraiu num aperto doloroso. Quatro anos juntos não se apagavam assim. Até por um animal de estimação se criava laços com o tempo. Podia ter superado o amor, mas não era uma pessoa insensível. No fundo, era isso que a tornava humana.Fabiano, que até aquele instante parecia mais interessado em flertar, mudou completamente sua expressão.— Isabela, precisamos ir ver como ele está. — Ele afirmou, com urgência na voz.Ela permaneceu imóvel. Quando finalme
Ao se aproximar, Isabela viu Sandro sendo retirado do automóvel, carregado com urgência pelos socorristas.— Depressa, tragam a maca! — Exclamou alguém, com a voz embargada pela tensão.Colocaram Sandro sobre a maca e o conduziram à ambulância com movimentos rápidos e precisos.— Isabela, vá com ele. — Sugeriu Fabiano, de forma pragmática. — Eu sigo para o hospital no carro. O médico voltou seu olhar inquisidor para ela.— A senhora tem parentesco com o paciente? — Não. — Ela balançou a cabeça negativamente.Fabiano revirou os olhos, visivelmente contrariado com aquela resposta tão inconveniente naquele momento crítico.— Ex-esposa ainda é família, pelo amor de Deus! — Protestou ele, impaciente. — O Sandro está inconsciente e precisa de alguém ao seu lado. Sem dar margem para contestações, a empurrou para dentro da ambulância com determinação.No interior do veículo, a equipe médica iniciou os procedimentos emergenciais. Assim que chegaram ao hospital, Sandro foi prontamente encamin