As palavras lançadas durante o fervor da ira raramente passavam pelo crivo da sensatez.Ao escutar aquela declaração, Viviane sentiu o sangue ferver nas veias.— Que filho da puta! Canalha desgraçado! — Bradou ela, os punhos cerrados.Isabela, por sua vez, se limitou a lançar um olhar gélido na direção de Sandro. Sem proferir uma única palavra, deixou as águas, caminhando descalça pelo piso encharcado, nem sequer se dignando a olhar para trás.Do outro lado, Viviane berrou em direção ao Danilo:— Ei, Danilo! Se você derrotar esse idiota, juro que te ajudo a conquistar a Isa!Ao captar aquelas palavras no ar, Danilo sentiu uma onda de adrenalina lhe percorrer o corpo. Sua determinação se transformou em brasa viva.Naquele instante, a fisionomia de Sandro demonstrou um lampejo de arrependimento, como se finalmente compreendesse a gravidade do que havia acabado de pronunciar. Sua expressão vacilou por um breve momento, tempo suficiente para que Danilo aproveitasse a chance e desferisse um
Com os lábios selados e a garganta sufocada por um nó, Isabela permanecia em silêncio. Sete anos ao lado de Sandro, quatro deles como membro oficial da família Marques. Durante todo esse tempo, ela se dedicou com devoção ao marido e demonstrou respeito inabalável pelos sogros. Como esposa e nora, ela se entregou por completo, jamais negligenciando suas responsabilidades familiares. No entanto, Maria nunca escondeu seu desprezo. Suas palavras, afiadas como navalhas, cortavam fundo. Isabela suportou tudo em silêncio.E por quê? Simplesmente por ela ser a mãe do homem que amava. Nunca quis colocar Sandro numa posição delicada entre mãe e esposa, então engolia em silêncio cada humilhação, guardando para si as feridas invisíveis.E qual foi sua recompensa por tanto sacrifício? Difamações ainda mais maldosas e humilhações sem fim. Mesmo após o divórcio, Maria continuava a menosprezá-la, zombando de sua família e ridicularizando sua própria existência.Encarando Sandro com olhos marejados,
Sando ficou em silêncio, encarando Isabela com um olhar intenso. Não estava nos planos dele vir para Serra Verde. Acabou cedendo quando André ligou mencionando aquele evento acadêmico imperdível. A princípio, recusaria o convite, mas bastou saber que Viviane participaria para mudar de ideia. Num fim de semana assim, era quase certo que encontraria Isabela também. Afinal, as duas eram inseparáveis. Foi isso que o convenceu.A surpresa veio ao descobrir que Danilo também marcava presença. Por isso mesmo se dirigiu ao complexo de águas termais, sabia que encontraria as duas por lá.O que jamais imaginaria era chegar justo no momento em que Danilo falava pelas suas costas.— Olha, Sandro, a Clara anda comentando que você não larga da garrafa ultimamente. Vive caindo de bêbado por aí. Isso não é nada bom. Já que estamos falando nisso, dei uma olhada no calendário e notei que 20 de janeiro seria uma data perfeita. Que tal oficializarmos seu noivado com a Clara nesse mês? O que me diz...— Q
Imóvel, Sandro encarava o carro que se distanciava no horizonte. As palavras de Maria ecoaram em seus pensamentos como um eco persistente.Não havia como negar. Foi ele quem havia pedido o divórcio. Ele mesmo assinou toda a documentação. Teoricamente, deveria estar em paz com sua decisão. Então, por que esse arrependimento o consumia agora?Por que razão sua existência parecia tão desprovida de sentido sem a presença dela?Aquela comida que um dia o entediou... Por qual motivo agora lhe provocava tanta saudade? A monotonia cotidiana que antes o sufocava... Como podia sentir falta disso agora? O lar que anteriormente lhe proporcionava tranquilidade... Por que subitamente se transformava no último lugar onde desejava estar?— Olha só quem está aqui de novo! Mal saiu e já voltou ao mesmo lugar. Virou costume ser pego com a mão na massa, é? — Exclamou um policial ao desembarcar da viatura, arrastando pelo braço um pequeno gatuno.Sandro observou a cena, pensativo.Velhos hábitos eram difíc
Mesmo sem conhecer Jorge, Viviane conhecia Danilo como poucos.Não havia nada de extraordinário nele, porém seu coração transbordava bondade. Durante oito longos anos, carregou uma paixão silenciosa por Isabela e, enquanto ela construía uma vida ao lado de Sandro, jamais cruzou as fronteiras do respeito. Nem um único deslize em todo esse tempo.Agora que finalmente tinha uma chance, conduzia sua conquista com a mesma integridade de sempre.Era dilacerante imaginar o quanto havia sofrido observando, dia após dia, a mulher dos seus sonhos nos braços de outro homem.Não era o que sempre diziam por aí? Para se casar, o ideal era escolher quem verdadeiramente te amava?Na visão de Viviane, Danilo representava essa escolha perfeita.— Só quero me concentrar no trabalho agora. — Declarou Isabela com firmeza, afastando a mão dele com delicadeza.Já prevendo tal resposta, Danilo não se surpreendeu. Sabia que as chances de rejeição beiravam noventa e nove por cento. Ainda assim, o impacto das pa
Depois de um tempo, Isabela finalmente despertou do seu momento de fragilidade. Com dedos trêmulos, secou o rastro úmido que as lágrimas haviam deixado em seu rosto.Ela se levantou, o olhar vagando pelo vazio, como quem buscava respostas num horizonte invisível."Não posso continuar assim, ele não vale estas lágrimas."Contudo, sete anos compartilhados não desapareciam como marcas de giz numa lousa. Era como tentar extrair uma parte vital de si mesma. Era uma ferida que exigia seu tempo natural para cicatrizar.Diante dos outros, mantinha a fachada de fortaleza inexpugnável. Apenas ela conhecia a amargura que corroía seu interior."As mágoas são como feridas abertas. Primeiro vem a dor aguda, depois a lenta recuperação, até que um dia, quase sem perceber, já não doem tanto."Se apoiando na beirada do colchão, ela se ergueu com esforço. Se dirigiu à janela e esperava que a brisa fresca pudesse limpar seus pensamentos tumultuados.Foi então que a cena no jardim capturou sua atenção. Cla
Diante do chamado, Sandro permaneceu em silêncio. Seus olhos, presos à figura de Isabela, não se moveram um milímetro sequer.Num gesto impulsivo, Clara respirou fundo, mordeu os lábios e, se erguendo nas pontas dos pés, o surpreendeu com um beijo. O espanto se estampou no rosto de Sandro. O gesto foi tão repentino que lhe roubou qualquer reação imediata. Quando finalmente tomou consciência da situação e tentou afastá-la, Clara já enlaçava seu pescoço com determinação, o mantendo preso.— Não me afaste assim... — Murmurou ela com voz trêmula. — Eu... Eu estou esperando um filho seu.A mentira brotou de seus lábios sem que pudesse contê-la. Só queria mantê-lo por perto, não suportava a ideia de perdê-lo.O choque paralisou Sandro completamente. Em seus olhos, apenas a incredulidade. "Uma única vez... Como isso seria possível?", pensou ele, atordoado.A lucidez voltou de repente. Ao empurrar Clara delicadamente, ergueu o olhar apenas para constatar que a janela agora estava vazia. A co
O olhar de Clara vagou pelo chão, enquanto um rubor lhe tingia os rostos. — Não... Ainda não tenho certeza... É muito cedo para afirmar qualquer coisa... — Balbuciou ela, visivelmente constrangida.— Você tem que ter certeza absoluta antes de dizer essas coisas. — Concluiu Sandro, secamente.Num movimento brusco, ele puxou o braço e deu as costas, se afastando com passadas determinadas.Com o coração aos saltos, Clara mordeu o lábio inferior e disparou atrás dele. — Sandro, por favor, espera! Ele parou de repente. Sem conseguir conter o próprio impulso, Clara colidiu contra suas costas.— Sandro... — Ela gaguejou, erguendo o olhar assustado para ele.— Se está mesmo grávida, por que está correndo desse jeito? — Indagou ele com voz gélida e distante. — Não tem medo de prejudicar o bebê?O coração de Clara disparou ainda mais. Dilacerada entre culpa e nervosismo, pressionou os lábios um contra o outro, se sentindo injustiçada.— A culpa é sua! — Protestou ela, elevando ligeiramente o