CLAIREOs primeiros raios de sol entraram pelas janelas da mansão, espalhando uma luz suave que parecia contradizer o peso que eu carregava no peito. Lucas ainda estava no quarto de hóspedes, um símbolo físico da distância emocional que persistia entre nós. Na maioria das manhãs, eu encontrava conforto em nossa rotina silenciosa, mas hoje... hoje parecia diferente.Levantei-me cedo, preparando o café e deixando Gabriel dormir até mais tarde. Era domingo, um dia em que normalmente tentaríamos relaxar, mas o silêncio na casa tinha outro significado. Lucas ainda lutava para se encontrar, e cada tentativa de ajudá-lo parecia trazer um novo desafio.Quando terminei de preparar o café, ouvi passos vindo da escada. Lucas apareceu, descalço, os cabelos bagunçados, e com aquele olhar confuso que se tornara tão familiar.— Bom dia — disse ele, hesitante.— Bom dia — respondi, tentando soar mais animada do que realmente me sentia.Ele se aproximou da bancada da cozinha, observando os utensílios
CLAIREAcordei com o som do riso de Gabriel vindo da sala. Havia algo de tranquilizador em ouvir sua alegria, mesmo que, por dentro, meu coração ainda carregasse um peso enorme. Levantei-me rapidamente, vestindo um robe, e fui até o quarto de hóspedes para verificar Lucas. A cama estava vazia, mas arrumada, o que significava que ele já estava de pé.Quando cheguei à sala, encontrei Gabriel sentado ao lado de Lucas no sofá. Eles estavam olhando um álbum de fotos, uma relíquia que eu guardava com cuidado. Meu coração apertou ao ver Lucas apontar para uma foto e perguntar a Gabriel quem eram as pessoas. Ele estava tentando, mas era doloroso vê-lo lutar para encontrar conexões em momentos que deveriam ser naturais.— Bom dia — disse, tentando soar animada.Gabriel foi o primeiro a responder, correndo para me abraçar. Lucas olhou para mim com um sorriso tímido, algo que eu já começava a reconhecer como sua maneira de tentar se encaixar nessa nova realidade.— Encontrei o álbum em uma das e
CLAIREO som de passos ecoando no piso de mármore da cozinha me tirou dos meus devaneios. Lucas entrou com Gabriel, ambos ofegantes depois de uma tarde brincando no jardim. Ver os dois juntos trazia uma esperança silenciosa, mas constante. Mesmo sem memórias, Lucas estava construindo algo novo conosco.— Você viu isso? Ele quase conseguiu me driblar! — Lucas comentou, rindo enquanto bagunçava os cabelos de Gabriel.— Eu sou o melhor, mamãe! — Gabriel exclamou, correndo para me abraçar.— Tenho certeza de que sim, meu amor. — Sorri para ele antes de olhar para Lucas. Seu sorriso parecia natural, mas seus olhos carregavam um cansaço que eu começava a reconhecer. Ele estava tentando, mas a ausência do passado ainda era uma sombra presente.— Vou tomar um banho rápido. — Lucas murmurou, apontando para o corredor.Assenti, observando-o desaparecer. Mesmo em meio a momentos de alegria, havia algo nele que parecia perdido. Eu me perguntava o quanto ele lutava internamente para parecer inteir
CLAIREOs dias haviam se transformado em semanas desde que Lucas voltara para casa. Embora sua memória não tivesse retornado, havia pequenas fagulhas em seu comportamento que me faziam acreditar que, em algum lugar profundo, ele ainda era o homem que conheci. Porém, conviver com um Lucas que não se lembrava de nós era como caminhar em um campo minado de sentimentos conflitantes.Naquela manhã, enquanto preparava o café, ouvi os passos de Gabriel correndo pela casa. Ele parecia tão adaptado à nova dinâmica, como se aceitasse que seu pai fosse uma versão diferente de si mesmo. Eu invejava sua simplicidade.— Mamãe! — Gabriel entrou na cozinha como um furacão, seu rosto iluminado por um sorriso radiante. — Papai disse que vai jogar futebol comigo hoje à tarde!— Ele disse isso? — perguntei, surpresa.— Sim! Ele prometeu! — Gabriel afirmou antes de pegar um pedaço de pão e sair correndo novamente.Encostei-me ao balcão, permitindo que uma pequena onda de esperança me atingisse. Talvez o t
CLAIREA manhã começou como qualquer outra, mas havia algo diferente no ar. Talvez fosse o olhar de Lucas, mais determinado do que de costume, ou a maneira como ele parecia observar cada detalhe ao seu redor. Ele havia acordado antes de mim, algo raro, e eu o encontrei na cozinha, já vestido, preparando café.— Bom dia — ele disse, com um sorriso que parecia hesitante, mas genuíno.— Bom dia. — Peguei uma xícara e sentei à mesa, observando-o enquanto ele terminava de servir o café. — Acordou cedo hoje.— Precisava de um tempo para pensar — ele respondeu, colocando a xícara à minha frente e se sentando ao meu lado. — Quero fazer algo diferente hoje.— Diferente como?Lucas se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa. Havia algo em seus olhos que eu não conseguia decifrar.— Pensei em passarmos o dia fora, nós três. Talvez sair para algum lugar onde possamos apenas… ser.A ideia me pegou de surpresa. Desde o acidente, Lucas evitava sair de casa, talvez temendo o desconhecido
CLAIREOs dias seguintes ao passeio no parque foram marcados por uma leveza que eu não sentia havia muito tempo. Não era como se todos os problemas tivessem desaparecido de repente, mas Lucas estava mais presente. Ele se esforçava, não apenas comigo, mas com Gabriel também.Por mais que a memória dele continuasse em branco, havia algo novo em sua forma de nos olhar, como se ele estivesse começando a enxergar a família que éramos. No entanto, a incerteza ainda pairava sobre nós.Naquela manhã, estávamos na cozinha. Gabriel, como sempre, estava empolgado, narrando uma história que ele inventava enquanto brincava com os cereais no prato. Lucas, ao meu lado, ouvia atentamente, rindo das partes mais exageradas.— …e então o dragão soltou fogo, mas o cavaleiro conseguiu escapar porque ele era o mais rápido de todos! — Gabriel concluiu, com os braços abertos como se estivesse mostrando o tamanho do dragão.— Parece que esse cavaleiro é bem esperto — Lucas comentou, sorrindo.Gabriel assentiu
CLAIREO relógio marcava nove da manhã quando Lucas desceu para a cozinha. Estava de jeans e camiseta preta, um visual simples que fazia parecer que nada havia mudado. Mas os olhos denunciavam o oposto: aquele olhar distante, preso entre dúvidas e fragmentos de uma vida que ele não conseguia alcançar.Gabriel já estava à mesa, colorindo com concentração. Seus lápis de cor estavam espalhados por todo lado, e o desenho em progresso parecia ser de um super-herói.— Bom dia, Lucas — eu disse, oferecendo um sorriso.Ele respondeu com um aceno discreto, puxando uma cadeira. Gabriel levantou o olhar, empolgado ao vê-lo.— Papai! — exclamou, segurando o desenho. — Olha só o que fiz!Lucas pegou o papel, observando cada detalhe com atenção. Era uma figura colorida, claramente inspirada em algum personagem que Gabriel admirava, mas havia um detalhe marcante: o herói tinha a barba e o cabelo curtos, como Lucas.— Ficou incrível, campeão. É você quem vai salvar o dia?Gabriel riu, satisfeito com
LUCASAs manhãs na casa pareciam mais tranquilas do que a confusão que se passava na minha mente. Gabriel já estava sentado à mesa, empilhando panquecas em um prato, rindo e brincando enquanto Claire cortava frutas na bancada. Era um momento comum, mas algo na simplicidade daquela cena me desarmava.Eu me sentia um intruso em uma vida que deveria ser minha. Havia um buraco onde as memórias deveriam estar, um vazio que, às vezes, parecia insuportável. E, no entanto, havia uma estranha paz em estar ali com eles, como se meu coração reconhecesse algo que minha mente não podia alcançar.— Papai, você quer jogar comigo depois do café? — Gabriel perguntou, os olhos brilhando de expectativa.A palavra “papai” ainda soava estranha, como um traje novo que ainda não se ajustava. Mas ele a dizia com tanta naturalidade, com tanto amor, que era impossível não corresponder.— Claro, campeão. Que jogo você quer jogar? — perguntei, mesmo sentindo a hesitação na minha voz.— Futebol! Eu vou ser o gole