CLAIREA manhã chegou tranquila, mas meu coração não compartilhava do mesmo sossego. Desde que Lucas voltou para casa, a convivência vinha sendo uma dança delicada entre esperanças e frustrações. Ele era gentil e atencioso, mas o peso de suas memórias perdidas pairava sobre nós como uma sombra.Gabriel, por outro lado, parecia aceitar tudo com a leveza que só uma criança poderia ter. Ele não via o homem que havia mudado; via apenas seu pai, o herói que nunca o abandonaria. E isso me dava forças para continuar, mesmo quando parecia impossível.Lucas estava na varanda quando desci com Gabriel para o café da manhã. Ele olhava para o horizonte, o semblante calmo, mas distante. Gabriel correu até ele, puxando sua mão com entusiasmo.— Papai, posso mostrar o que fiz ontem?Lucas sorriu, curvando-se na altura de nosso filho. — O que você fez, campeão?Gabriel correu até a sala e voltou segurando um desenho. Era uma nova versão da nossa família: ele, eu e Lucas de mãos dadas, com um grande so
CLAIREOs dias desde o passeio ao parque foram mais leves, mas ainda cheios de incertezas. Lucas tentava criar uma rotina conosco, como se a normalidade pudesse costurar os buracos deixados por suas memórias ausentes. Às vezes, ele parecia o mesmo homem por quem me apaixonei; outras, era um estranho tentando se ajustar a uma vida que não reconhecia.Acordei naquela manhã com um som abafado vindo da sala. Desci as escadas com cuidado e encontrei Lucas sentado no sofá, uma xícara de café na mão e o olhar perdido na janela. Ele fazia isso com frequência: mergulhava em pensamentos que nunca compartilhava.— Você está bem? — perguntei, sentando-me ao seu lado.Ele virou a cabeça, parecendo surpreso com minha presença. — Não consegui dormir.— Alguma coisa específica?Ele hesitou antes de responder, os dedos apertando a xícara. — É como se houvesse um vazio constante na minha mente. Tento me lembrar, Claire, mas... quanto mais eu forço, mais distante parece.Senti meu coração apertar. Queri
CLAIREOs dias passavam, e minha esperança oscilava como as marés. Cada pequeno avanço de Lucas era um alívio, mas as lacunas em suas memórias eram um lembrete constante do que havíamos perdido. Apesar disso, algo nele começava a mudar. Havia uma gentileza renovada em seus gestos, uma vulnerabilidade que antes ele raramente demonstrava.Naquela manhã, acordei com Gabriel pulando na cama, sua risada iluminando o quarto. Ele carregava um desenho nas mãos, uma folha cheia de rabiscos coloridos.— Mamãe! Olha! Eu desenhei o papai!Sorri enquanto ele agitava o papel na minha frente. Nele, Lucas estava ao lado de Gabriel e de mim, todos de mãos dadas em um campo florido.— Está lindo, meu amor — disse, beijando o topo de sua cabeça. — Por que você não mostra para o papai?Gabriel sorriu e correu para o andar de baixo. Eu o segui, encontrando Lucas na cozinha, vestido com roupas casuais, mas com a expressão séria de alguém que tinha muito em mente.— Papai, olha meu desenho! — Gabriel exclam
CLAIREO clima estava ameno naquela manhã, mas dentro de mim, tudo era uma tempestade. Lucas começava a mostrar um interesse renovado pela nossa história, mas isso vinha acompanhado de uma angústia que ele tentava disfarçar. Decidi que era hora de arriscar mais. Precisávamos de algo que o conectasse ao Lucas que ele era, ou ao menos que construísse uma ponte para quem ele estava se tornando.Gabriel brincava no quintal enquanto eu preparava tudo para nossa próxima tentativa. Na mesa da sala, espalhei fotografias, pequenos objetos significativos e bilhetes antigos que havíamos trocado. Era um pedaço de nossa vida juntos, uma linha do tempo que eu esperava que acendesse alguma fagulha na mente de Lucas.Ele entrou na sala, parecendo curioso.— O que é tudo isso? — perguntou, inclinando-se sobre a mesa.Respirei fundo. — São pedaços de nós. Pensei que, talvez, vendo essas coisas, você pudesse... lembrar de algo.Ele pegou uma fotografia. Era de um dia comum, nós três juntos em uma praia,
CLAIREA manhã amanheceu com um brilho tímido no céu, o sol escondendo-se por trás de uma leve névoa. Gabriel estava sentado à mesa da cozinha, absorto em seus desenhos, enquanto eu preparava nosso café. Apesar da aparente calmaria, meu coração estava inquieto. Desde o piquenique no parque, Lucas parecia mais presente, mas também mais silencioso. Ele observava tudo como se procurasse algo, talvez uma memória que insistia em escapar.Quando Lucas entrou na cozinha, seu olhar pousou em Gabriel. Houve um instante em que seu rosto suavizou, como se uma lembrança quase tomasse forma, mas logo a expressão de confusão retornou.— Bom dia — ele murmurou, sentando-se à mesa.— Bom dia — respondi, tentando manter meu tom leve. — Dormiu bem?Ele deu de ombros. — Acho que sim. Tive sonhos estranhos... com lugares e pessoas que não consigo identificar.Antes que eu pudesse responder, Gabriel levantou os olhos do papel e mostrou seu desenho.— Papai, olha o que eu fiz! É a gente no parque ontem!Lu
CLAIREOs dias passavam como folhas levadas pelo vento, cada um trazendo uma nova tentativa de reconstruir o que havíamos perdido. Lucas ainda era uma sombra do homem que eu conhecera, mas suas ações mostravam um esforço genuíno em ser presente. Apesar disso, a distância emocional persistia, como um abismo que nenhuma de nossas palavras conseguia atravessar.Naquela manhã, enquanto preparava o café da manhã, percebi Gabriel observando um dos retratos de família na sala. Ele passava os dedos pequenos sobre o vidro, como se tentasse alcançar a memória capturada ali.— Mamãe, por que o papai não lembra mais de mim? — ele perguntou, sua voz carregada de tristeza infantil.Meu coração se apertou. Sentei-me ao lado dele, colocando um braço ao redor de seus ombros.— O papai está tentando, Gabriel. Às vezes, as pessoas perdem as memórias, mas isso não significa que o amor delas por nós desaparece. Ele só precisa de tempo.— E se ele nunca lembrar? — A dúvida nos olhos de Gabriel era um refle
CLAIREO dia amanheceu calmo, mas meu coração estava inquieto. Depois dos momentos que compartilhamos no parque, percebi que Lucas estava mudando. Era uma transformação sutil, quase imperceptível, mas real. Ele estava se esforçando, e embora os resultados fossem pequenos, eram o suficiente para me dar esperança.Enquanto preparava o café da manhã, Gabriel entrou correndo na cozinha, os cabelos desgrenhados e os olhos ainda sonolentos. Ele se aproximou de mim, abraçando minha cintura.— Bom dia, mamãe.— Bom dia, meu amor. Dormiu bem?— Sim! Papai disse que hoje vai me levar para andar de bicicleta. Ele nunca disse isso antes!Olhei para ele, surpresa. Lucas havia mencionado essa ideia? Isso era novo, e me encheu de expectativa. Gabriel subiu na cadeira ao lado do balcão e começou a comer sua torrada, enquanto eu olhava pela janela, vendo Lucas no jardim. Ele estava parado, observando as árvores, parecendo perdido em seus pensamentos.Quando terminei de organizar a mesa, fui até ele.—
LUCASA manhã nasceu tingida de dourado, com o sol se infiltrando pelas cortinas pesadas do quarto. Olhei para o teto por alguns segundos antes de sair da cama, sentindo o peso de mais um dia no qual as memórias continuavam ausentes. Cada momento ao lado de Claire e Gabriel era uma luta interna, uma tentativa de conectar os pedaços fragmentados da minha vida.Vesti-me rapidamente e desci as escadas, encontrando Claire na cozinha. Ela preparava o café da manhã com uma expressão serena, mas havia algo em seus olhos que sempre me desarmava: esperança.— Bom dia, Claire. — Minha voz soou mais firme do que eu esperava.Ela sorriu ao me ver. — Bom dia, Lucas. Dormiu bem?— Acho que sim — respondi, um pouco evasivo. Na verdade, passei boa parte da noite pensando no que mais eu poderia fazer para me aproximar de Gabriel e dela.Gabriel entrou na cozinha logo em seguida, correndo e sorrindo como sempre. Seus olhos brilhavam ao me ver, e ele subiu em uma cadeira ao meu lado.— Bom dia, papai! H