CLAIREO clima estava ameno naquela manhã, mas dentro de mim, tudo era uma tempestade. Lucas começava a mostrar um interesse renovado pela nossa história, mas isso vinha acompanhado de uma angústia que ele tentava disfarçar. Decidi que era hora de arriscar mais. Precisávamos de algo que o conectasse ao Lucas que ele era, ou ao menos que construísse uma ponte para quem ele estava se tornando.Gabriel brincava no quintal enquanto eu preparava tudo para nossa próxima tentativa. Na mesa da sala, espalhei fotografias, pequenos objetos significativos e bilhetes antigos que havíamos trocado. Era um pedaço de nossa vida juntos, uma linha do tempo que eu esperava que acendesse alguma fagulha na mente de Lucas.Ele entrou na sala, parecendo curioso.— O que é tudo isso? — perguntou, inclinando-se sobre a mesa.Respirei fundo. — São pedaços de nós. Pensei que, talvez, vendo essas coisas, você pudesse... lembrar de algo.Ele pegou uma fotografia. Era de um dia comum, nós três juntos em uma praia,
CLAIREA manhã amanheceu com um brilho tímido no céu, o sol escondendo-se por trás de uma leve névoa. Gabriel estava sentado à mesa da cozinha, absorto em seus desenhos, enquanto eu preparava nosso café. Apesar da aparente calmaria, meu coração estava inquieto. Desde o piquenique no parque, Lucas parecia mais presente, mas também mais silencioso. Ele observava tudo como se procurasse algo, talvez uma memória que insistia em escapar.Quando Lucas entrou na cozinha, seu olhar pousou em Gabriel. Houve um instante em que seu rosto suavizou, como se uma lembrança quase tomasse forma, mas logo a expressão de confusão retornou.— Bom dia — ele murmurou, sentando-se à mesa.— Bom dia — respondi, tentando manter meu tom leve. — Dormiu bem?Ele deu de ombros. — Acho que sim. Tive sonhos estranhos... com lugares e pessoas que não consigo identificar.Antes que eu pudesse responder, Gabriel levantou os olhos do papel e mostrou seu desenho.— Papai, olha o que eu fiz! É a gente no parque ontem!Lu
CLAIREOs dias passavam como folhas levadas pelo vento, cada um trazendo uma nova tentativa de reconstruir o que havíamos perdido. Lucas ainda era uma sombra do homem que eu conhecera, mas suas ações mostravam um esforço genuíno em ser presente. Apesar disso, a distância emocional persistia, como um abismo que nenhuma de nossas palavras conseguia atravessar.Naquela manhã, enquanto preparava o café da manhã, percebi Gabriel observando um dos retratos de família na sala. Ele passava os dedos pequenos sobre o vidro, como se tentasse alcançar a memória capturada ali.— Mamãe, por que o papai não lembra mais de mim? — ele perguntou, sua voz carregada de tristeza infantil.Meu coração se apertou. Sentei-me ao lado dele, colocando um braço ao redor de seus ombros.— O papai está tentando, Gabriel. Às vezes, as pessoas perdem as memórias, mas isso não significa que o amor delas por nós desaparece. Ele só precisa de tempo.— E se ele nunca lembrar? — A dúvida nos olhos de Gabriel era um refle
CLAIREO dia amanheceu calmo, mas meu coração estava inquieto. Depois dos momentos que compartilhamos no parque, percebi que Lucas estava mudando. Era uma transformação sutil, quase imperceptível, mas real. Ele estava se esforçando, e embora os resultados fossem pequenos, eram o suficiente para me dar esperança.Enquanto preparava o café da manhã, Gabriel entrou correndo na cozinha, os cabelos desgrenhados e os olhos ainda sonolentos. Ele se aproximou de mim, abraçando minha cintura.— Bom dia, mamãe.— Bom dia, meu amor. Dormiu bem?— Sim! Papai disse que hoje vai me levar para andar de bicicleta. Ele nunca disse isso antes!Olhei para ele, surpresa. Lucas havia mencionado essa ideia? Isso era novo, e me encheu de expectativa. Gabriel subiu na cadeira ao lado do balcão e começou a comer sua torrada, enquanto eu olhava pela janela, vendo Lucas no jardim. Ele estava parado, observando as árvores, parecendo perdido em seus pensamentos.Quando terminei de organizar a mesa, fui até ele.—
LUCASA manhã nasceu tingida de dourado, com o sol se infiltrando pelas cortinas pesadas do quarto. Olhei para o teto por alguns segundos antes de sair da cama, sentindo o peso de mais um dia no qual as memórias continuavam ausentes. Cada momento ao lado de Claire e Gabriel era uma luta interna, uma tentativa de conectar os pedaços fragmentados da minha vida.Vesti-me rapidamente e desci as escadas, encontrando Claire na cozinha. Ela preparava o café da manhã com uma expressão serena, mas havia algo em seus olhos que sempre me desarmava: esperança.— Bom dia, Claire. — Minha voz soou mais firme do que eu esperava.Ela sorriu ao me ver. — Bom dia, Lucas. Dormiu bem?— Acho que sim — respondi, um pouco evasivo. Na verdade, passei boa parte da noite pensando no que mais eu poderia fazer para me aproximar de Gabriel e dela.Gabriel entrou na cozinha logo em seguida, correndo e sorrindo como sempre. Seus olhos brilhavam ao me ver, e ele subiu em uma cadeira ao meu lado.— Bom dia, papai! H
LUCASAcordei antes do amanhecer, um impulso estranho me despertando da cama. O silêncio da casa era reconfortante e inquietante ao mesmo tempo. Estava tudo calmo, mas minha mente continuava em caos. As palavras de Claire da noite anterior ecoavam dentro de mim: “Vamos criar novas memórias.”Era isso que eu precisava fazer. Se não podia recuperar o passado, então construiria algo novo, sólido, verdadeiro.Enquanto tomava um café e olhava pela janela, vi o céu começar a clarear. O brilho alaranjado do sol nascente era um lembrete de que cada dia era uma nova chance. Decidi que esse seria o dia em que eu faria algo para fortalecer os laços que, embora invisíveis para mim, eram o alicerce de Claire e Gabriel.CLAIREQuando desci as escadas naquela manhã, encontrei Lucas sentado à mesa, rabiscando algo em um pedaço de papel. Ele parecia concentrado, mas ao me ver, esboçou um pequeno sorriso.— Bom dia, Claire.— Bom dia, Lucas. Você parece inspirado — comentei, puxando uma cadeira ao lado
LUCASA luz da manhã invadia o quarto suavemente, e por um momento, deixei que o calor do sol aquecesse meu rosto. Acordei com uma estranha mistura de serenidade e inquietação. Claire ainda dormia ao meu lado, seus cabelos espalhados pelo travesseiro. Era um dos momentos em que me sentia mais confuso. Meu coração reagia a ela, sentindo uma conexão que eu não conseguia explicar, mas minha mente permanecia vazia quando tentava resgatar qualquer lembrança do passado que dividíamos.Levantei-me com cuidado para não despertá-la. Precisava de um tempo sozinho para organizar meus pensamentos. Caminhei até a cozinha, onde encontrei Gabriel já acordado, sentado à mesa com uma tigela de cereal. Ele sorriu para mim, com o rosto ainda amassado de sono.— Bom dia, papai.Aquela palavra, "papai", sempre me atingia com força. Era difícil entender como alguém tão pequeno conseguia enxergar em mim um pai, quando eu mal conseguia me reconhecer no espelho.— Bom dia, campeão. Dormiu bem?Ele assentiu, m
CLAIREEra difícil explicar a mistura de sensações que vivíamos a cada dia. Cada pequeno avanço de Lucas era motivo de esperança, mas a barreira da amnésia permanecia, separando-nos de tudo o que já havíamos sido. Ele estava tentando, disso eu não tinha dúvidas. E, embora sua luta fosse constante, havia momentos em que me perguntava se realmente conseguiríamos recuperar o que perdemos.Naquela manhã, Gabriel acordou animado. Enquanto eu preparava o café, ele entrou correndo na cozinha, já com seu sorriso habitual.— Mamãe, o papai vai brincar comigo hoje?Respirei fundo, controlando a emoção que aquela pergunta simples despertava em mim. Lucas estava tentando se conectar com Gabriel, mas cada interação entre eles parecia um misto de instinto e esforço. Ele queria ser o pai que Gabriel lembrava, mesmo sem se lembrar de ter sido.— Claro, meu amor. Ele vai adorar passar o dia com você.Quando Lucas apareceu, ainda com os cabelos desalinhados e uma expressão de quem havia dormido mal, Ga