LUCASA manhã nasceu tingida de dourado, com o sol se infiltrando pelas cortinas pesadas do quarto. Olhei para o teto por alguns segundos antes de sair da cama, sentindo o peso de mais um dia no qual as memórias continuavam ausentes. Cada momento ao lado de Claire e Gabriel era uma luta interna, uma tentativa de conectar os pedaços fragmentados da minha vida.Vesti-me rapidamente e desci as escadas, encontrando Claire na cozinha. Ela preparava o café da manhã com uma expressão serena, mas havia algo em seus olhos que sempre me desarmava: esperança.— Bom dia, Claire. — Minha voz soou mais firme do que eu esperava.Ela sorriu ao me ver. — Bom dia, Lucas. Dormiu bem?— Acho que sim — respondi, um pouco evasivo. Na verdade, passei boa parte da noite pensando no que mais eu poderia fazer para me aproximar de Gabriel e dela.Gabriel entrou na cozinha logo em seguida, correndo e sorrindo como sempre. Seus olhos brilhavam ao me ver, e ele subiu em uma cadeira ao meu lado.— Bom dia, papai! H
LUCASAcordei antes do amanhecer, um impulso estranho me despertando da cama. O silêncio da casa era reconfortante e inquietante ao mesmo tempo. Estava tudo calmo, mas minha mente continuava em caos. As palavras de Claire da noite anterior ecoavam dentro de mim: “Vamos criar novas memórias.”Era isso que eu precisava fazer. Se não podia recuperar o passado, então construiria algo novo, sólido, verdadeiro.Enquanto tomava um café e olhava pela janela, vi o céu começar a clarear. O brilho alaranjado do sol nascente era um lembrete de que cada dia era uma nova chance. Decidi que esse seria o dia em que eu faria algo para fortalecer os laços que, embora invisíveis para mim, eram o alicerce de Claire e Gabriel.CLAIREQuando desci as escadas naquela manhã, encontrei Lucas sentado à mesa, rabiscando algo em um pedaço de papel. Ele parecia concentrado, mas ao me ver, esboçou um pequeno sorriso.— Bom dia, Claire.— Bom dia, Lucas. Você parece inspirado — comentei, puxando uma cadeira ao lado
LUCASA luz da manhã invadia o quarto suavemente, e por um momento, deixei que o calor do sol aquecesse meu rosto. Acordei com uma estranha mistura de serenidade e inquietação. Claire ainda dormia ao meu lado, seus cabelos espalhados pelo travesseiro. Era um dos momentos em que me sentia mais confuso. Meu coração reagia a ela, sentindo uma conexão que eu não conseguia explicar, mas minha mente permanecia vazia quando tentava resgatar qualquer lembrança do passado que dividíamos.Levantei-me com cuidado para não despertá-la. Precisava de um tempo sozinho para organizar meus pensamentos. Caminhei até a cozinha, onde encontrei Gabriel já acordado, sentado à mesa com uma tigela de cereal. Ele sorriu para mim, com o rosto ainda amassado de sono.— Bom dia, papai.Aquela palavra, "papai", sempre me atingia com força. Era difícil entender como alguém tão pequeno conseguia enxergar em mim um pai, quando eu mal conseguia me reconhecer no espelho.— Bom dia, campeão. Dormiu bem?Ele assentiu, m
CLAIREEra difícil explicar a mistura de sensações que vivíamos a cada dia. Cada pequeno avanço de Lucas era motivo de esperança, mas a barreira da amnésia permanecia, separando-nos de tudo o que já havíamos sido. Ele estava tentando, disso eu não tinha dúvidas. E, embora sua luta fosse constante, havia momentos em que me perguntava se realmente conseguiríamos recuperar o que perdemos.Naquela manhã, Gabriel acordou animado. Enquanto eu preparava o café, ele entrou correndo na cozinha, já com seu sorriso habitual.— Mamãe, o papai vai brincar comigo hoje?Respirei fundo, controlando a emoção que aquela pergunta simples despertava em mim. Lucas estava tentando se conectar com Gabriel, mas cada interação entre eles parecia um misto de instinto e esforço. Ele queria ser o pai que Gabriel lembrava, mesmo sem se lembrar de ter sido.— Claro, meu amor. Ele vai adorar passar o dia com você.Quando Lucas apareceu, ainda com os cabelos desalinhados e uma expressão de quem havia dormido mal, Ga
CLAIREA viagem de volta para casa foi silenciosa, mas não desconfortável. Gabriel dormia profundamente no banco de trás, exausto do dia cheio na cabana. Enquanto dirigia pelas estradas sinuosas que nos levavam de volta à mansão, observei pelo retrovisor o rosto de Lucas. Ele olhava para a janela com uma expressão pensativa, como se estivesse tentando encaixar peças de um quebra-cabeça que nunca havia montado.— Você está bem? — perguntei, quebrando o silêncio.Ele demorou a responder, mas, quando o fez, sua voz estava tranquila.— Acho que sim. É estranho... Esse lugar que visitamos hoje, as histórias que você contou... parece que eu deveria me lembrar. É como se algo estivesse na ponta da minha mente, mas escapasse toda vez que tento alcançá-lo.Sorri levemente, mantendo os olhos na estrada.— Isso já é um progresso, Lucas. Talvez não se lembre de tudo, mas o fato de sentir essa conexão é importante.Ele assentiu, mas não disse mais nada.LUCASAo chegarmos à mansão, Claire levou Ga
CLAIREOs primeiros raios de sol entraram pelas janelas da mansão, espalhando uma luz suave que parecia contradizer o peso que eu carregava no peito. Lucas ainda estava no quarto de hóspedes, um símbolo físico da distância emocional que persistia entre nós. Na maioria das manhãs, eu encontrava conforto em nossa rotina silenciosa, mas hoje... hoje parecia diferente.Levantei-me cedo, preparando o café e deixando Gabriel dormir até mais tarde. Era domingo, um dia em que normalmente tentaríamos relaxar, mas o silêncio na casa tinha outro significado. Lucas ainda lutava para se encontrar, e cada tentativa de ajudá-lo parecia trazer um novo desafio.Quando terminei de preparar o café, ouvi passos vindo da escada. Lucas apareceu, descalço, os cabelos bagunçados, e com aquele olhar confuso que se tornara tão familiar.— Bom dia — disse ele, hesitante.— Bom dia — respondi, tentando soar mais animada do que realmente me sentia.Ele se aproximou da bancada da cozinha, observando os utensílios
CLAIREAcordei com o som do riso de Gabriel vindo da sala. Havia algo de tranquilizador em ouvir sua alegria, mesmo que, por dentro, meu coração ainda carregasse um peso enorme. Levantei-me rapidamente, vestindo um robe, e fui até o quarto de hóspedes para verificar Lucas. A cama estava vazia, mas arrumada, o que significava que ele já estava de pé.Quando cheguei à sala, encontrei Gabriel sentado ao lado de Lucas no sofá. Eles estavam olhando um álbum de fotos, uma relíquia que eu guardava com cuidado. Meu coração apertou ao ver Lucas apontar para uma foto e perguntar a Gabriel quem eram as pessoas. Ele estava tentando, mas era doloroso vê-lo lutar para encontrar conexões em momentos que deveriam ser naturais.— Bom dia — disse, tentando soar animada.Gabriel foi o primeiro a responder, correndo para me abraçar. Lucas olhou para mim com um sorriso tímido, algo que eu já começava a reconhecer como sua maneira de tentar se encaixar nessa nova realidade.— Encontrei o álbum em uma das e
CLAIREO som de passos ecoando no piso de mármore da cozinha me tirou dos meus devaneios. Lucas entrou com Gabriel, ambos ofegantes depois de uma tarde brincando no jardim. Ver os dois juntos trazia uma esperança silenciosa, mas constante. Mesmo sem memórias, Lucas estava construindo algo novo conosco.— Você viu isso? Ele quase conseguiu me driblar! — Lucas comentou, rindo enquanto bagunçava os cabelos de Gabriel.— Eu sou o melhor, mamãe! — Gabriel exclamou, correndo para me abraçar.— Tenho certeza de que sim, meu amor. — Sorri para ele antes de olhar para Lucas. Seu sorriso parecia natural, mas seus olhos carregavam um cansaço que eu começava a reconhecer. Ele estava tentando, mas a ausência do passado ainda era uma sombra presente.— Vou tomar um banho rápido. — Lucas murmurou, apontando para o corredor.Assenti, observando-o desaparecer. Mesmo em meio a momentos de alegria, havia algo nele que parecia perdido. Eu me perguntava o quanto ele lutava internamente para parecer inteir