CAPÍTULO 2
Daily olhou para ele quase implorando. Aquele velho feiticeiro, de olhos azuis desbotados poderia lhe contar tudo sobre sua mãe, o que ela esperou por toda sua vida para saber. Daily sempre acreditou que Moa era o mais forte dos feiticeiros Kasenkinos, pois ele tinha bondade no coração, o que parecia que Ahua não tinha. Não entendia o porquê de ele estar banido.
- Dá para ver que estou envelhecendo mais rápido do que esperava, não é mesmo? Cada vez se aproximo mais do fim da minha vida. Você merece ouvir a minha versão antes de eu me ir. – disse ele calmamente.
- Feiticeiros morrem? – perguntou ela curiosa. Não achava que sim.
- Não morremos... Somos mortos. Sempre haverá alguém mais forte que nós. E conforme ficamos mais velhos, vamos enfraquecendo. Este é o nosso destino... O meu destino. Mas sou grato por esta vida... Fiz o bem sempre. E farei tudo que for possível para vencer a maldade.
- E quem seria a maldade? – perguntou ela já tendo um nome em mente.
- Falo da maldade entre os próprios Kasenkinos, entende? – falou ele.
- Moa... Poderia ser Ahua? – perguntou ela.
- Talvez...
- Eu não quero que você morra.
- Bendita seja sua inocência, minha menina. E por isso você merece saber a verdade sobre sua mãe.
- Estou esperando ansiosa por isso, Moa.
- Tudo começou quando sua mãe cresceu e todos especulavam como era o rosto dela por debaixo do véu. Percebia-se que era uma linda mulher. Ela e seu pai se apaixonaram. Quando anunciaram o casamento, conforme a tradição Kasenkina, se algum outro homem se interessasse por ela, deveria desafiar seu pai e lutarem até a morte para ver quem ficaria com ela.
- Isso quer dizer que minha mãe teve outro pretendente?
- Sim, outro Kasenkino era interessado por ela e tinha o direito de luta. Seu pai venceu a batalha e ganhou assim sua mãe. Depois de casada, ela pôde tirar o véu e todos ficaram impressionados com a beleza dela, conforme já imaginavam. Até então a mais bela era a mulher de Ahau. Mas sua mãe a superou. Então Ahua começou a espalhar pelo povoado que os deuses estavam impressionados com a beleza de Darla e queriam que ela fosse sacrificada, em nome de prosperidade dos Kasenkinos. Seu pai claro que não queria que isso acontecesse, mas ao mesmo tempo tinha medo de ir contra a vontade dos deuses. Erone era o melhor guerreiro Kasenkino desde sempre e por este motivo Ahua propôs que em troca do sacrifício de sua mãe, ela ficaria com Ahau por uma semana, pois acreditava que ele como líder tinha o direito de usufruir da beleza daquela mulher. – Moa viu uma lágrima escorrer pelo rosto de Daily, molhando seu véu. Mas continuou: - Depois desta semana que ela teve com Ahau, voltou para casa com seu pai. E ele a amava muito e por isso nunca se importou com o que houve. Sabemos que traição entre nosso povo é um dos piores crimes, no entanto ele não havia sido traído... Os deuses haviam decidido que seria daquela forma, então Darla estava perdoada. O tempo passou e sua mãe engravidou de você. Ela veio até mim e pediu que que você viesse ao mundo pelas minhas mãos. Na primeira lua do inverno ela começou a sentir as dores do parto. Imediatamente ela me procurou. Depois do possível sacrifício aos deuses ela mudou... Passou a ter medo o tempo inteiro. Temia que Ahua novamente quisesse fazer dela uma oferenda ou torná-la esposa de Ahau. Seu parto foi difícil. Mas eu consegui salvar você. Não pude fazer o mesmo com Darla... Talvez realmente os deuses a quisessem ao seu lado. Seu pai e todos os Kasenkinos me culparam pela morte dela. Foi a primeira e única mulher que morreu em minhas mãos durante um parto. E infelizmente ela era muito especial para mim, pois era uma grande amiga. Ahua sugeriu meu banimento do povoado... E eu concordei, pois não suportaria mais viver lá depois de tudo que havia presenciado. Amo nosso povo e faço tudo por ele... O sangue Kasenkino corre nas minhas veias. Mas não consigo concordar com tudo que acontece no povoado e nem com estas tradições tão antigas que muitas vezes machucam as pessoas. Nosso povo nem sempre foi assim. Tivemos melhores líderes.
Daily não conseguia evitar as lágrimas. Era impossível não se culpar pela morte de sua mãe, que morreu ao colocá-la no mundo.
- Moa, então eu sou a culpada pela morte de minha mãe?
- Não, de forma alguma, Daily. Eu sou o culpado... Somente eu.
- Moa, você não teve culpa... Ela queria que fosse você entende?
- Infelizmente eu não consegui salvá-la... E ela era minha amiga. Talvez eu pudesse ter tentado de outra forma. Sempre vou me culpar... Por isso eu mesmo me retirei e aceitei o banimento como forma de punição.
- Eu tenho certeza de que você fez tudo que estava ao seu alcance.
- E por isso temo por você, minha menina.
- Por mim? Por quê?
- Se por baixo de seu véu seu rosto for tão lindo quanto o de sua mãe, poderá atiçar Ahau. E se ele quiser você, assim como quis sua mãe?
- Mas ele é muito velho, Moa... Não faria isso eu acho.
- Ahau e Ahua às vezes parecem se importar mais com a beleza das mulheres Kasenkina do que com qualquer outra coisa. Vi muitas brigas por este motivo no povoado.
- E a mulher de Ahau na época? Como reagiu a tudo que aconteceu?
- Terry? – ele fez uma pausa. – Terry foi a mulher mais bela que eu já conheci.
- O que houve com ela?
- Foi banida também.
- Banida? Mas por quê? O que ela fez?
- Ahua mais uma vez o convenceu de que os deuses não queriam Terry como esposa dela. Que ela não servia para ele por não ser a mais bela Kasenkina. Que uma nova mulher estava predestinada a ele e esta era a mais bela de todas. Não poderiam deixar Terry viver livre entre os Kasenkinos, não é mesmo? Jamais eles fariam isso... Então decidiram que ela teria que ir embora para longe do povoado.
- Mas você disse que ela era linda...
- E era...
- Então por que fizeram isso?
- Ahau até gostava de Terry eu acho... Mas ele sempre deu ouvidos a tudo que Ahua lhe falava... Nunca questionou nada.
- E você acha que Ahua pode não conversar com os espíritos antigos? Poderia ele estar mentindo para todos?
- Acho que ele só não fala com os espíritos certos.
- Pode ser... Tenho um pouco de medo dele, Moa. – confessou ela. – Às vezes ele me olha de um modo muito estranho e sinto com frequência ele me observando, mesmo não estando olhando para ele.
- Por isso temo por você. Caso herde a beleza de Darla, pode mexer com os desejos dele novamente. Primeiro foi Terry, depois sua mãe... A próxima pode ser você.
- Mas ele não verá meu rosto antes de eu estar casada.
- E se ele quiser lutar com seu pretendente? Ou m****r alguém fazer isso?
- Ele não faria isso, Moa. Não deixaria isso tão evidente lutando por mim. Pelo menos eu acho.
- Talvez você tenha razão... Deixaria tudo muito claro ao povo Kasenkino. Creio que Ahua queira as mulheres que procura para Ahau para ele mesmo. E até hoje Ahau não teve um herdeiro... Já está com idade avançada. Quando ele morrer se não houver um filho para assumir seu lugar na liderança Kasenkina, Ahua será o novo líder.
- Isso não pode acontecer nunca.
- Peço que não fale com ninguém sobre o que conversamos aqui e o que eu lhe contei, Daily.
- Eu nunca farei isso, Moa.
- Confio em você, Daily, como sempre confiei em sua mãe.
- E Terry, para onde ela foi?
- A mandaram para o outro lado do rio... Muito tempo se passou. É difícil que ela esteja viva depois de tanto tempo.
- Do outro lado do rio? Mas lá é perigoso... Outros povos podem passar por lá... Há animais ferozes. É até um local proibido para os Kasenkinos.
- Terry nunca foi culpada por nada... Seu único pecado foi ter sido menos bela que sua mãe.
- Ela deve estar bastante mudada... O tempo passou. Como será que ela vive?
- Espero que ela não tenha sofrido... Pobre Terry.
- Parece que você gostava muito dela, Moa.
Ele sorriu tristemente:
- Eu a amava, Daily.
- Você era apaixonado por Terry? Por que não lutou por ela?
- Lutar com Ahau? Ninguém pode fazer isso, Daily.
- Ahau era um bom guerreiro?
- Ahau nunca lutou... Sempre teve todo um povo para lutar por ele. Se eu sequer olhasse para Terry ele poderia me punir, entende?
- Ahau é um homem horrível.
- Não tanto quanto Ahua... Lembre-se disso sempre.
- Você não tentou encontrar Terry depois que ela foi banida?
- O rio foi vigiado por um longo tempo depois que ela foi mandada para lá. Não queriam que ninguém passasse para o lado de lá para levar qualquer tipo de ajuda para ela. Na época eu ainda era jovem e tentei encontrar outro caminho... Mas não havia. Agora estou muito velho para esta longa jornada.
- Ainda gosta dela?
- O verdadeiro amor é eterno, minha menina. Um dia você saberá disso.
- Meu pai diz que o amor só serve para trazer sofrimento.
- Pode ser... Para ele realmente foi. Os deuses nem sempre estão do nosso lado no amor.
- Terry sabia de seu amor por ela?
- Não sei... Éramos grandes amigos e eu tinha este amor secreto por ela. Depois que ela casou com Ahau nós nunca mais nos vimos. Talvez ela tenha me achado um covarde por nunca ter pedido sua mão... Ou ter lutado por ela.
- Talvez ela espera por você...
- Não sei se ela sentia o mesmo que eu... Eu gostava tanto dela que por vezes achava ser correspondido. Meu amor era imenso que nem cabia dentro de mim. Mas sei que quando amamos tão intensamente, ficamos cegos e às vezes imaginamos coisas, como ser correspondidos.
Daily olhou a claridade do sol nas montanhas. Mas ainda tinha tantas coisas para perguntar. O tempo havia passado muito depressa.
- Não quero que sintam sua falta no povoado, Daily. Precisa ir.
- Meu pai não está em casa. Ninguém sentirá minha falta.
- Esta luta contra o Reino de Machia demorará bem mais do que todos imaginam.
- Você sabe quanto tempo?
- Talvez umas duas luas.
- Nossa... É muito tempo, Moa.
- O caminho até o castelo de Machia é longo... É um extenso reino.
- Moa, por que nós e o reino de Machia não somos um povo só?
- Somos diferentes... Temos hábitos e culturas completamente opostas. Nunca viu uma pessoa do reino, não é mesmo?
- Não... Nunca. Mas gostaria.
- São diferentes no tom da pele, nas crenças, no vestuário. Se vir um deles, saberá que não é um Kasenkino. E todos, sem exceção, odeiam o nosso povo.
- Por que nos odeiam, Moa?
- Somos povos inimigos desde sempre... Não sei se realmente houve um motivo ou qual foi na verdade.
- Verdade que eles tem um rei e uma rainha que lideram eles?
- Verdade.
- Acho estas lutas tão desnecessárias. Tantas pessoas morrem por isso. O mundo é tão grande... Poderia ser dividido, não acha? E não haveria guerras. Há comida e lugares para todos.
- Os deuses nos deram esta imensidão de terras... Mas os homens não se satisfazem com o que têm... Querem mais e não aceitam partilhar. Mas os Kasenkinos brigam por este lugar na floresta... Só isso. O Reino de Machia sempre quis também.
- Por que todos querem a floresta?
- Comida suficiente para viver por um bom tempo. Se ficarmos com a floresta não precisaremos mudar daqui por muitas gerações, entende?
- Eu não gostaria de sair da floresta.
- Esta floresta tem tudo que os dois povos precisam... Mas não aceitam dividir.
- Confesso que eu gostaria muito de conhecer o Reino de Machia algum dia, Moa.
- Espero que ninguém a ouça dizendo isso.
- Não tem curiosidade, Moa?
- Já conheci o Reino de Machia.
- Conheceu? E como é, Moa? Conte-me tudo.
- Lutei quando era jovem pelos Kasenkinos contra o reino. Mas não foi contra o rei, como esta batalha que está tendo agora.
- Venceram na época?
- Numa guerra nunca há vencedores, minha menina. Só há perdas para todos os lados.
- Você foi um bom guerreiro?
- Conseguir sobreviver, mas nunca fui como seu pai.
- Por que lutaram?
- Outras épocas... Nem lembro ao certo o motivo, pois sempre foram para mim pouco relevantes, entende? Mas eu sou um Kasenkino e não fugiria da luta... Sempre vou proteger meu povo. Muita coisa mudou desde então. Pelo que sei o Rei Pollo não é um rei ruim. É muito estimado pelo povo e tem curiosidade sobre nosso povo. Mas assim como no nosso reino, ele também tem seus conselheiros que nem sempre pensam como ele. Julgavam-nos animais no passado... Hoje pensam diferente e nos respeitam... Ou talvez tenham muito medo de nós. Os Kasenkinos só desejam uma coisa: viver em paz, sem nenhum outro povo próximo.
- Eu sonho conhecer o Reino algum dia... E ir saber sobre Terry também e o que aconteceu com ela. Queria ver outros lugares além desta floresta, embora eu a ame. Sei que existe um mundo enorme lá fora, com tantas coisas e pessoas diferentes para conhecer. E sei que sei tão pouco sobre tudo.
- Uma aventureira Kasenkina. – disse ele sorrindo.
- Isso é um pecado, Moa?
- Não... Sonhar e ter desejos não é pecado, Daily. Você sempre foi diferente, desde pequena. Acho que deveria ter nascido um bom tempo depois do que nasceu. Você tem um pensamento que vai além do que todos pensam. Talvez por isso possa ser incompreendida. Você poderia mudar todo o povo Kasenkino se quisesse... E para melhor. Tens força e coragem para isso.
- Conheço lugares na floresta que nenhum outro Kasenkino conhece. – falou ela orgulhosa.
- Tenho certeza disto. E sabe todos os sonhos que você tem? Realize cada um. Lute para conhecer o mundo e os lugares que deseja. Não tenha medo. Faça o que eu sempre quis fazer e nunca tive coragem. Você me lembra de minha juventude. Mas sempre seja sensata e tome cuidado. Nosso povo não perdoa e você sabe disso.
- Espero um dia ter coragem para fazer tudo isso.
- Quanto à Terry, prefiro que espere. É muito perigoso do outro lado. Você nem saberia por onde começar a procurar. Me prometa que não vai tentar encontrá-la... Pelo menos não agora.
- Acha mesmo que ela morreu?
- Terry era uma mulher muito forte... Nunca desistia de nada. Mas muito tempo se passou...
- Eu preciso ir agora. Gostaria muito de ficar, mas preciso partir. Obrigada por esta conversa e por tudo que me contou sobre minha mãe. Para mim foi muito importante. Conversar com você sempre foi a melhor coisa que fazia. Não deveria ter parado de vir procurá-lo.
- Você é uma menina muito inteligente... Não por saber o que sabe, mas por saber o que quer.
Moa olhou para a menina com o rosto escondido sob o véu fino. Percebia-se nitidamente a beleza dela e isso era um perigo. Olhos castanhos grandes e bem definidos muito bem pintados com Kohl. Cílios grandes e curvados. Sobrancelhas bem definidas e uma pele escura e muito bem cuidada. Cabelos longos e com cachos indefinidos caíam até a altura das costas. Ela usava uma tiara de pedras rosas e azuis dentro de fios dourados. O véu em tons de azul e verde contrastavam com sua pele.
- Daily, tome cuidado... Não deixe Ahua se aproximar de você. – avisou ele temendo pela jovem.
- Não se preocupe, Moa.
Daily seguiu seu longo caminho de volta ao povoado Kasenkino. Iniciou correndo, mas logo cansou e voltou a caminhar novamente, em passos largos. Ela foi costeando o rio. O sol já estava alto no céu. Ela não estava muito preocupada com isso, pois sabia que seu pai não estava em casa. Estava na batalha com os demais Kasenkinos. Ela parou e olhou para o outro lado do rio. Aquele lado da floresta era escuro e não havia caminhos abertos em lugar algum. Além das árvores, o mato cobria tudo. Nunca se ouviu falar de alguém daquele lado do rio, nem mesmo outros povos. Todos diziam que lá não havia árvores frutíferas, pouca caça e animais ferozes que rondavam em todos os lugares. Daily se sentou sobre as pedras pequenas e arredondadas que ficavam na margem do
Alguns dias se passaram e não se tinha notícias de como estava a guerra entre os Kasenkinos e o Reino de Machia. Mas naquela tarde uma intensa movimentação no povoado fez com que Daily fosse ver o que estava acontecendo. Os guerreiros estavam de volta... Ou melhor, o que havia restado deles. As mulheres estavam muito felizes com a volta dos entes queridos. Em pouco tempo todo povo se reuniu no espaço de terra que ficava no meio do povoado. Daily embrenhou-se na multidão. Queria muito ver seu pai entre os sobreviventes. Sentiu tristeza ao ver algumas mulheres chorando a perda de seus maridos ou filhos. Ela começou a sentir o coração bater descompassado e um medo por não encontrar Erone em lugar algum. Ela olhava para todos os rostos conhecidos e abatidos, mas só queria encontrar um. Inevitavelmente as lágrimas começaram a rolar por suas faces. Olhou para a margem do rio. Seu véu estava g
Daily levantou-se e saiu dali. Não sabia ao certo para onde ir, só tinha certeza de que não queria mais ver aquela cena. Ninguém a entendia. E seu coração doía ao ver o Rei Pollo morto por seu pai. Ela não sabia mais quem era o certo e quem era errado naquela batalha entre os Kasenkinos e o reino de Machia. Ela foi puxada bruscamente pelo braço, sendo obrigada a parar. Era Burt.- O que você quer? – perguntou ela.
Daily estava cansada, mas finalmente avistava a cabana de Moa. Sempre que chegava perto ela corria para chegar mais rápido. Mas acabou caindo estreito de terra que levava à entrada. Levantou-se e seguiu. Bateu na porta com insistência e Moa demorou a atender, como sempre.- Daily, querida. – disse ele surpreso ao vê-la.- Oh, Moa, quanta saudade. – ela abraçou-o carinhosamente, sentindo-se bem mais calma ao ver aquele semblante de paz.
Era a única história que seu pai lhe contara. Ela achava a mais linda história de amor que era contada entre os Kasenkinos. Mas então lhe veio a mente a cabeça do rei Pollo saindo daquele saco. Ela voltou a correr por seu caminho. Já estava escuro dentro da floresta. Ela chegou ao caminho que se dividia em dois. Poderia seguir por onde sempre ia, o caminho seguro e com frutas gostosas que sempre comia. Ou ir pelo caminho escuro e tentador que aparecia a sua frente, onde acabava o trilho em madeira no chão e tinha no meio um tronco meio caído, meio levantado, como uma incógnita no caminho. Ela sabia que se fosse seguro ir por ali, os Kasenkinos teriam arrumado aquela trilha. No entanto ela estava ali, convidativa, insegura e esperando por uma corajosa desbravadora.Ela respirou fundo e foi pelo caminho que sempre seguia. Mas deu alguns passos e voltou. Precisava usar sua coragem e seguir seus sonhos. Não que
Daily olhou para Mark e para tudo que via a sua volta. Por que havia pegado aquele caminho? Era seu destino conhecer aquele homem? O sol começava a brilhar no céu e por algum motivo ela se sentia muito estranha. Talvez pelo fato de aquele homem ter visto seu rosto pela primeira vez e não seria o seu marido, conforme a tradição milenar de seu povo. Jamais seria perdoada pelos Kasenkinos e era a única culpada por isso... Havia sido descuidada, irresponsável. Talvez se não tivesse dado ouvido aos conselhos de Moa nada daquilo teria acontecido. Mas não poderia culpar ninguém por seu erro... Nem mesmo Moa. Estaria sendo muito injusta culpando alguém pelo que havia acontecido. Não deveria ter pegado o caminho proibido, não deveria ter tirado o vé
Alguém bateu na porta. Daily foi atender.- Oi, Daily.- Burt... – falou ela um pouco decepcionada, pensando que encontraria Erone.- O que você tem? – perguntou ele notando a preocupação e estranheza dela.
Daily foi para casa muito cansada. Erone não havia chegado ainda. Ela foi até o rio e se banhou para tirar toda aquela sujeira e suor de seu corpo. Colocou um vestido limpo e pintou os olhos, finalizando com uma linda tiara de pedras. Estava preparando o jantar quando Erone chegou. Percebeu que ele também havia ido primeiramente se banhar no rio. Ele subiu para seus aposentos sem olhar para ela. Em seguida desceu, vestindo uma roupa limpa. Ele sentou-se à mesa junto dela. Ela decidiu conversar com ele e acabar com aquela situação. Precisavam fazer as pazes. Erone era tudo que ela tinha na vida.- Meu pai... Preciso lhe falar... Eu desejo do fundo do meu coração que o senhor me desculpe por tudo que eu lhe disse. Não falei por mal, acredite... E nem sinto o que falei. Só queria lhe magoar e errei muito. Jamais pensaria em culpá-lo pela morte de minha mãe, pois sei o quanto a amava.- Est