Daily estranhava um pouco ter Ika o tempo inteiro com ela, perguntando se queria algo, anunciando quem chegava, o que acontecia. Servia-lhe o tempo todo. Talvez com o tempo acostumasse com aquilo, mas por enquanto sentia-se um pouco presa. Talvez sentisse falta de sua liberdade, seus vestidos folgados, seus cabelos soltos e seus pés descalços pela floresta. Era acostumada a fazer as coisas pelos outros e não o contrário. As mulheres Kasenkinas nasciam para servir e não pra serem servidas. Primeiro serviam os pais e as mães até se casarem e servirem ao marido e aos filhos.
Ela olhou para o enorme travesseiro ao lado do seu. Passou a mão com carinho depois sentiu o cheiro de Mark. Nem acreditava que ele havia passado a noite com ela, lhe dando tanto carinho que ela jamais imaginou receber. Tudo parecia um sonho. E naquele momento ela teve certeza que entre a liberdade, os pés descalços e a floresta, ela escol
Daily despertou com os raios de sol batendo em seu rosto. Ika estava abrindo a janela para o sol entrar no quarto. Ela olhou para o lado e percebeu que Mark não estava mais ali. Ela levantou a cabeça e sentiu-se muito bem. Nem parecia que havia estado péssima nos últimos dias.- Parece bem melhor, senhora. – disse Ika sorrindo.- Realmente Ika, pareço uma nova pessoa.- Gostaria de banhar-se?- Eu adoraria.- Então me acompanhe, por favor.Ika levou Daily até um enorme quarto de banho. Jamais ela imaginou tomar um banho com água quente e perfumada. Os Kasenkinos não acreditariam que aquilo era possível. Mais uma vez ela fez comparativos e ficou chocada de quantos costumes diferentes entre os dois povos que viviam tão próximos.- Você vai ficar me olhando? – perguntou Daily para Ika.- Sim... Caso a senhora queira que eu a esfre
Mark entrou no quarto rapidamente, muito preocupado.- Daily, o que houve? Eu soube que o médico veio vê-la. Você está doente? Passou mal?- Está tudo bem, Mark. – disse ela deitada confortavelmente na cama.- Eu sabia que Sherylin não a deixaria em paz... Foi por isso que eu a proibi de entrar no castelo.- Ela não teve culpa... Inclusive me pediu desculpas. Disse que irá embora de Machia.- Sherylin lhe pediu desculpas? Sinceramente eu não acredito nas desculpas sinceras dela.- Ela pode ter percebido que nosso amor é real, Mark. Talvez tenha decidido não mais acabar com nossa felicidade. Que de nada adiantaria nos fazer mal...- Daily, não se iluda com Sherylin. Se tem uma coisa que ela sabe muito bem é como manipular as pessoas.- Eu não me importo com Sherylin, Mark. Tenho coisas mais importantes a tratar com você.
Daily percebeu que Ika estava falando devagar, parecendo ter dificuldade em pronunciar as palavras.- Ika, você está bem? – perguntou ela preocupada.- Não me sinto muito bem...Daily podia ver o suor escorrendo pelo rosto dela e parecia estar sem ar. Daily gritou em desespero por socorro. Logo os empregados vieram em seu auxílio. O nervosismo tomava conta de Daily. Percebeu em sua boca uma espuma esbranquiçada. Quando o doutor chegou, ela ainda segurava na mão de Ika.Não demorou até que fosse dado o motivo da morte:- Envenenamento. – disse o doutor.- Como? – perguntou Daily chocada.- Um veneno forte, com certeza. Mas nada mais pode ser feito por ela, infelizmente. Era uma boa mulher. Fiel criada do rei Pollo e depois do rei Mark.Daily olhou para a xícara de chá próxima da cama e gritou em lágrimas:- Não pode
- Mas... Por que fizeram isto, Burt?- Ahau lhes prometeu ouro, muito ouro, se eles ajudassem na construção da muralha. E assim eles fizeram...- E de onde Ahau tiraria ouro para lhes dar?- Não havia ouro algum... Ahua mentiu para eles. E agora eles vão matar todos. Será o fim dos Kasenkinos. – disse ele rindo nervosamente, com os olhos não parando de mexer nunca.Percebia-se que ele estava visivelmente abalado com tudo e não parecia estar pensando bem. Falava rápido, olhava para todos os lados, com muito medo.- Burt... Você tem certeza de que eram os Naiguãs?- Sim... Muitos deles... Nunca vi tantos... Todos montados nos cavalos, seres místicos dos deuses.- E Ahua?- Mataram Ademoore... E muita gente.Daily o abraçou. Ela tinha tanto medo, mas Burt parecia estar mais amedrontado do que ela.- Burt, meu amigo, o que fizeram
Daily conseguia sentir as mãos de Erone junto das dela. Não sabia o que sentia naquele momento com relação a ele. Uma vida inteira de mentiras... Sentimentos que ela não sabia mais identificar. Sentia afeto por ele. Fora bom com ela tantas vezes... Mas ainda assim a oferecera em casamento ao próprio pai. Quem conseguia fazer isso e depois viver normalmente? Ele, o homem que trouxera a cabeça do rei Pollo para ser queimada entre os Kasenkinos. O homem que matou mais pessoas que todos os Kasenkinos juntos. Como Darla pudera amar aquele homem? Quem era Darla na verdade? Nem sequer Moa sabia daquele segredo que os dois esconderam. Sentimentos bons e ruins se misturavam a dor horrível que ela sentia. Um líquido quente escorreu por suas pernas e ela sabia que o bebê iria nasce
CAPÍTULO 1Daily olhou novamente para o povoado. Todos caminhavam de um lado para outro, desnorteados. Ela não sabia o que estava acontecendo. Mas temia que fosse uma batalha. Correu até o ponto de encontro no rio, onde estava a maioria dos Kasenkinos. Ahau e Ahua estavam sobre a grande pedra que ficava metade na água, outra na terra. Assim que Ahau, líder Kasenkino levantou o braço, todos se calaram para ouvi-lo.- Povo Kasenkino. – falou Ahau. – Recebi finalmente o aviso que tanto esperava. Os antigos espíritos dizem que está na hora da grande batalha. Vamos atacar o rei Pollo e todo o Reino de Machia. Esperamos muito por este momento e estamos preparados para vencer esta guerra. Quero que derramem todo sangue necessário... Matem todos. Têm minha permissão e a dos velhos espíritos para irem... Os deuses estarão do nosso lado.Assim que Ahau abaixou o bra&ccedi
CAPÍTULO 2Daily olhou para ele quase implorando. Aquele velho feiticeiro, de olhos azuis desbotados poderia lhe contar tudo sobre sua mãe, o que ela esperou por toda sua vida para saber. Daily sempre acreditou que Moa era o mais forte dos feiticeiros Kasenkinos, pois ele tinha bondade no coração, o que parecia que Ahua não tinha. Não entendia o porquê de ele estar banido.- Dá para ver que estou envelhecendo mais rápido do que esperava, não é mesmo? Cada vez se aproximo mais do fim da minha vida. Você merece ouvir a minha versão antes de eu me ir. – disse ele calmamente.- Feiticeiros morrem? – perguntou ela curiosa. Não achava que sim.- Não morremos... Somos mortos. Sempre haverá alguém mais forte que nós. E conforme ficamos mais velhos, vamos enfraquecendo. Este é o nosso destino... O meu destino. Mas sou grato
Daily seguiu seu longo caminho de volta ao povoado Kasenkino. Iniciou correndo, mas logo cansou e voltou a caminhar novamente, em passos largos. Ela foi costeando o rio. O sol já estava alto no céu. Ela não estava muito preocupada com isso, pois sabia que seu pai não estava em casa. Estava na batalha com os demais Kasenkinos. Ela parou e olhou para o outro lado do rio. Aquele lado da floresta era escuro e não havia caminhos abertos em lugar algum. Além das árvores, o mato cobria tudo. Nunca se ouviu falar de alguém daquele lado do rio, nem mesmo outros povos. Todos diziam que lá não havia árvores frutíferas, pouca caça e animais ferozes que rondavam em todos os lugares. Daily se sentou sobre as pedras pequenas e arredondadas que ficavam na margem do