Alice Me olho no espelho. A minha boca está pintada de um batom vermelho que nunca ousei usar. Meus seios estão presos por um sutiã de aros tão pequenos, que me deixa constrangida. Eu uso uma calcinha fio-dental cheia de micro pedras de brilho. Meus pés estão envoltos em saltos agulha. O rosto? Enfiado debaixo de um capuz parecido com aqueles que os bandidos usam nos assaltos a banco. Mesma coisa. Meu Deus, uma puta! Eu não consigo entender o porquê a minha vida chegou a esse ponto em que me encontro agora. Tudo caminhava tão bem. O início da minha faculdade... O trabalho que meu pai me conseguiu na J’Passión... Meu pai havia se casado com Diana... Estávamos morando no Bronx, NY. Até que veio o acidente! O Sr. Augusto Vilas, meu amado pai, trabalhava há 20 anos como motorista do Hernandez Johnson, meu chefe. Eles eram muito amigos, havia um forte elo de confiança entre os dois. Sr. Johnson era um homem simples e, para mim, não existia patrão melhor no mundo. Havia pagado a minha f
Tudo que eu tinha que fazer ao passar por esta porta, era dançar. Mais nada. Caso alguém quisesse alguma coisa a mais — como me tocar, por exemplo — deveria negociar com o dono. A decisão era sempre minha, e os valores eram altos. Como Pfeiffer (o dono) disse, eu era valiosa!Aqui eu sou a Annie. Há em mim uma placa dizendo isso. Usei esse nome, porque é uma abreviação de Annésio, sobrenome de meu pai.— Olá, Annie! — Alguém disse para mim enquanto eu seguia para a pista de dança próxima do bar. Não olhei para a pessoa. Entrei no meu círculo (Um espaço circular mais elevado, reservado para as ‘funcionárias’ da boate, marcados com uma numeração.) Comecei a dançar.Homens e mulheres se aglomeravam ao redor. Uma espécie de letreiro ficava bem abaixo do elevado onde eu pisava e marcava alguns valores de gorjeta dados pelos clientes, só pela minha performance. Eles tinham um aparelho nas mãos por onde faziam seus pedidos, propostas e pagamentos. Estavam gostando da dança que eu permanecia
é— Bom dia! — Proferi para Amanda assim que passei pela porta giratória na entrada do prédio. Ela me aguardava ali. Minha amiga era pau para toda obra, a gente era cúmplice dentro daquela empresa. Ela estava a par do meu segredo e por isso grudou em meu braço, louca para ouvir sacanagens.— Bom dia! Estou ansiando para saber todos os detalhes do seu submundo. — Me disse entre risos.— Só no horário de almoço. — Avisei-a. — Hoje é a estreia do chefinho novo e quero estar concentrada em meus afazeres. Preciso ganhar a amizade dele. Não aguento mais o Mário. — Virei os olhos ao citar o nome daquele infeliz. Estávamos diante dos elevadores. Amanda e eu trabalhamos no mesmo andar, mas em setores diferentes.— Certo. Aguardarei. Até porque também espero não ter que olhar mais para aquele homem pavoroso. — Revelou. — Por mim ele volta para o financeiro, de onde ele saiu, e permanece lá por todo o sempre. — Ela ergue as mãos aos céus, pedindo clemência.Amanda trabalha no setor de marketing
— Chegou um pouco tarde, hoje. — É a Vanessa quem diz. Ela já me aguardava dentro de seu carro, para me dar a carona para a faculdade.Estou em meu 7º semestre do curso de Engenharia Química, falta apenas meio ano para me formar. Contudo, mês que vem já iniciam as seletivas de estágios e estou ansiosa para estagiar na J’Passión. Ela tem a própria fábrica de seus cosméticos. Com orgulho, digo que são os melhores do mercado nova-iorquino na atualidade. Tanto, que é o queridinho das grandes célebres contemporâneas. Quero muito uma oportunidade de fazer parte do time que cria esses produtos. Apesar de amar ser a secretária do CEO.Já a Van estuda Ciências Contábeis, e está quase se formando.Enquanto trafegamos, ela me faz as mesmas perguntas que Diana e Amanda me fizeram, sobre o primeiro dia na boate e dou-lhe as mesmas respostas.Vanessa acaba me dando uns conselhos importantes e aproveito para fazer minhas notas mentais.Assim que amanhece o dia, me levanto. Talvez eu ande animada dem
Sábado. Meus olhos abriram com dificuldade após o barulho insistente do despertador.Fiz o de sempre que devo fazer pela manhã e depois retornei para o meu quarto, pegando no sono como se não tivesse levantado. Próximo da hora do almoço acordei de novo, isso porque meu celular tocava de forma insistente.— Alô? — Proferi sonolenta.— Alice! Está em casa? — Era Amanda.— Sim, estou. Estava dormindo até agora. — Sorri ao dizer.— Então desperte, porque estou chegando e levando uma lasanha para nós. Richard está no futebol com os amigos e eu não quero ficar em casa sozinha, pensando besteiras. — Avisou. Sorri e meu estômago roncou com a notícia da lasanha.— Te aguardo. Vou pedir um vinho por delivery. — Eu disse. Precisava de uma bebida alcóolica. Eu ainda teria que ir até a boate de novo e não sabia se resistiria ao toque do Mark, caso eu o visse.Levantei, tomei banho e saí do quarto. Diana estava sentada no sofá da sala, assistindo uma programação na TV. Um desses shows de calouros m
Aceitei e fui conduzida para a pista de dança. Ele se aproximou de mim e me abraçou pela cintura, me fazendo apoiar as mãos em seus ombros fortes.Mark é mais alto que eu. Ele usa uma camisa de manga comprida preta de linha. Calça jeans preta. Seu perfume impregna minhas narinas. Seu capuz preto também é de lã.Dançamos uma música lenta, com batidas remixadas. Enquanto nos movemos de um lado a outro, ele alisa minhas costas, vez ou outra. Seu corpo está muito perto.— Queria que fôssemos para o quarto. Prometo que não irei forçá-la a nada, só quero ficar a sós. É estranho te tocar em meio a todo mundo. Acho que isso a faz se sentir mal. — Diz, em meu ouvido.Concordo. Não há muito o que se fazer, mais dia, menos dia, eu irei para a cama com ele.Subimos. Estou tensa, por mais que me force a não estar. Mark pega um quarto no último andar. Uma cobertura muito bonita. De verdade, aquele lugar nem de longe parecia ser destinado ao fim que lhe era imposto. Era um quarto bonito, chique, neu
— Certeza que pode me acompanhar? Eu não estou atrapalhando nada? — Ethan me pergunta, virando o rosto para mim. O encaro sorrindo, seus olhos brilham em minha direção, naquele tom alaranjado fascinante. Nossos olhares ficam presos e confirmo que podemos ir com gesto de cabeça. Ele olha para os meus lábios. Me ajeito no banco, tirando o cabelo da frente do rosto e o colocando detrás da orelha. Nervosa. Céus!— Eu sou estudante de química. Não sei se você sabe. — Conto. Ele dá partida no carro e saímos. Ele aciona o ar-condicionado.— Eu sei. Analisei seu currículo. Gosto de saber um pouco mais sobre as pessoas que trabalham comigo. — Me diz. Olho para ele, que me olha em retorno. Sorrimos.— Quero estagiar lá na fábrica. Já me inscrevi para as vagas. — Ele ergue a sobrancelha.— Vai me abandonar? — Pergunta e faz um olhar de tristeza, em brincadeira.— Não! — Respondo, aos risos. — Será apenas à tarde e parte da noite. Gosto muito da área da cosmetologia, tenho muito a ganhar caso con
— Eu conversei com você em nosso primeiro dia sobre estabelecermos uma relação semelhante à de nossos pais. Confiança, parceria, amizade. Lembra? — Confirmei, ao passo em que ele prosseguiu. — Por algum motivo que desconheço, não percebi isso hoje, vindo de você. Pedi a sua ajuda, não só porque teve a brilhante ideia, mas porque confio em você. Nos entendemos, temos intimidade para conversarmos abertamente sobre qualquer assunto. Pelo menos foi o que pensei. Isso mudou? — Seu olhar era como uma lâmina afiada sobre mim.— Não. Entenda, eu não quero me envolver em algo que não domino. — Justifico, sem jeito.— Alice, não questionei o seu domínio. Eu quero a sua opinião, não sua decisão. Quero ouvir você, gosto da maneira como lida com as coisas. Eu tive minhas observações e queria compará-las com a de alguém que confio e que não faz parte da equipe. Isso se chama lisura. — Ele argumenta. Suas mãos seguravam o tampo de vidro da sua mesa.Respiro fundo, resignada. — Okay. Não gostei da pr