CAPÍTULO 3

— Chegou um pouco tarde, hoje. — É a Vanessa quem diz. Ela já me aguardava dentro de seu carro, para me dar a carona para a faculdade.

Estou em meu 7º semestre do curso de Engenharia Química, falta apenas meio ano para me formar. Contudo, mês que vem já iniciam as seletivas de estágios e estou ansiosa para estagiar na J’Passión. Ela tem a própria fábrica de seus cosméticos. Com orgulho, digo que são os melhores do mercado nova-iorquino na atualidade. Tanto, que é o queridinho das grandes célebres contemporâneas. Quero muito uma oportunidade de fazer parte do time que cria esses produtos. Apesar de amar ser a secretária do CEO.

Já a Van estuda Ciências Contábeis, e está quase se formando.

Enquanto trafegamos, ela me faz as mesmas perguntas que Diana e Amanda me fizeram, sobre o primeiro dia na boate e dou-lhe as mesmas respostas.

Vanessa acaba me dando uns conselhos importantes e aproveito para fazer minhas notas mentais.

Assim que amanhece o dia, me levanto. Talvez eu ande animada demais para ir ao trabalho após a chegada do novo CEO. Deixo café pronto, me arrumo rápido e piso firme ao sair de casa, me desejando sorte.

O metrô estava lotado, como sempre. Manhattam é o berço da civilização empresarial da cidade, então essa linha nunca está vazia. Ao menos, encontrei assento. Sentada ali, vendo a cidade passar como linhas de pixel numa tela, me perco em pensamentos. E eles são todos do meu novo chefe.

Ethan é leve. Trabalhar com ele é tão fácil quanto respirar. Mas há algo pairando entre nós. Olhares firmes, análises gestuais, medição corporal... É nítido que ele possui algum interesse em mim e claro que, não nego, eu nele.

E isso foi ficando cada vez mais evidente no decorrer da semana.

Amanda já percebeu, quando houve, na quarta-feira, a reunião com a equipe de marketing. Nosso entrosamento estava bacana como profissionais, mas um olhar atento podia ver que a gente flertava com olhares sempre que podíamos. Nunca dissemos nada um ao outro, entretanto. Talvez estejamos numa luta para mantermos a relação no âmbito profissional a que nos cabe.

Eu deixo o trabalho às 15H, por conta da faculdade. Sempre que vou embora, ele fica lá, concentrado no trabalho. Sei que há muito para ele estudar e se inteirar das demandas e necessidades da empresa. Mas, mesmo assim, ele sai de seu momento para erguer os olhos e lançar um sorriso e um adeus, em despedida.

Hoje é sexta-feira e estou ciente que terei que ir para a boate. Segunda noite de trabalho no “submundo”, como diz Amanda. Fico um pouco ansiosa durante todo o dia. Será que vai ser como o primeiro, ou terei desagradáveis surpresas? Mark estará lá?

Eu e Vanessa não pegamos a grade extra das sextas, para que possamos cumprir com nossa vida escusa. Entramos na boate e seguimos para os camarins. Minha roupa está na arara marcada com meu nome. Pego-a. Estarei de cinta-liga e espartilho preto. Saltos negros nos pés. O que muito combina com a touca-ninja preta, de cetim. Invisto no batom escarlate e uso a mesma peruca loira da última noite.

— Irão chover propostas esta noite, Annie. — Pfeiffer anunciou, me dando um susto. Ele me analisou com afinco e fiquei muito envergonhada.

— Sinto muito, ainda não sei se me encontro pronta. — Declaro.

— Entendo. Caso mude de ideia, me avise. Assim os lances serão analisados. Você poderá escolher o cliente que mais lhe agradar. — Avisou. Assenti.

A noite estava fria, mas ali dentro o calor era imenso. O ar que rodeava as pessoas era de pura luxúria. Homens alisavam algumas dançarinas, ou até mesmo mulheres clientes da boate. Havia pares do mesmo sexo, em casal, em trio. Parece que às sextas era mais intenso. A casa estava mais lotada que o sábado passado.

Eu já estava em meu círculo dançando por quinze minutos, quando ouvi aquela voz.

— Annie! — Ele estava com mais uma calça jeans e a camisa de manga curta revelava um braço arrebatadoramente forte, cheio de veias.

— Mark! — Respondi. Confesso que aquela peça íntima me deixava bem bonita e eu me sentia mais confiante que antes. Dancei de modo sensual para ele. Mark levou uma mão ao bolso e a outra usou para mexer no aparelho de gorjetas.

— Me deixe tocar em você esta noite, Annie? Queria poder alisar suas costas e sua bunda. Você tem um corpo delicioso. Preciso aliviar a tensão, ao menos um pouco. Foi uma semana difícil.

Pensei um pouco no que me pediu. — Quer conversar enquanto penso em sua proposta?

Ele sorriu. E me estendeu a mão para que eu o acompanhasse.

— O que aconteceu? Por que está tão tenso? — Perguntei quando já estávamos no bar. Estou seguindo a tática da Van.

 — Muitas coisas. Estou com muito trabalho acumulado. E... bem, eu tenho estado distraído demais. — Disse. — Quer beber?

— Água, por favor. — Respondo. Ele sorri.

— Com medo de me contar detalhes de sua vida? — Pergunta e confirmo um sim em resposta. — Nova Iorque tem quantos mil habitantes? Impossível que eu vá saber quem é você. — Assegura.

— A vida é cheia de surpresas. Não duvide da capacidade do destino em deixar a cidade parecer pequena, quando quer. — Digo. Ele sorri e me serve a água, sorvendo da sua bebida.

— Tem razão. E quanto a minha proposta? Já pensou? Eu soube que você tem um motivo especial para ficar apenas dançando aqui. O que me deixou surpreso, mas ainda mais interessado que antes. — Revela, sedutor. — Acho que estava certo ao afirmar que você não era uma garota de programa. Isso me excita muito, Annie. — Sua voz soa rouca. Ele é direto. —Quero ser seu primeiro. Prometo não ser um troglodita, muito menos te tratar como qualquer uma. Serei carinhoso, como merece ser uma primeira vez. — Fico surpresa por sua maneira de expressar. E, também, excitada. — Podemos ir devagar. Aos poucos. Cada dia um passo a mais nessa direção. Vou pagar bem. Prometo!

Respiro fundo. Assinto. Estou aceitando a proposta? Sim, estou.

— Iremos devagar. Preciso digerir a ideia de me entregar assim, a um desconhecido. Por anos fantasiei a ideia de pessoa e momento especiais. — Confesso. Bebo minha água.

Mark se levanta e vem para atrás de mim. Alisa com as costas das mãos na lateral do meu braço, descendo a mão devagar. Estremeço. É uma carícia simples, delicada, mas que expressa muito do que ele tem em mente. Me arrepio inteira.

— Será especial, Annie. — Ele sussurra em meu ouvido, voltando a mão no sentido contrário agora. Minha barriga contrai. Prendo um pouco a respiração. Sua mão alcança minha nuca, por cima do capuz, ele desce a mão pelas minhas costas, alisando o espartilho e apalpa a minha bunda. Um aperto firme, sexy e viril. Sinto meu centro umedecer. — Você é linda! Há algo em você que me atrai. Seu cheiro é bom e imagino que há outros locais com perfumes ainda melhores. — Ele diz, deixando os lábios rasparem minha orelha, enquanto sua mão desliza pela minha coxa.

Mark é sedutor, sem nenhuma dúvida. Um homem provavelmente experiente no assunto a que deseja chegar. Ele cheira bem, um cheiro másculo, forte, amadeirado. Notas de um uísque acompanham seu hálito. Não imaginava que me sentiria desta forma diante de tal possibilidade íntima. Estou inclinada ao pecado. Queria sentir sua boca na minha. Mas ele se afasta. Retorna à sua cadeira e me analisa mais um pouco enquanto bebe. Seus olhos não piscam enquanto me despe com o olhar.

— Você é bom em seduzir. — Comento. Ele sorri.

— Eu sei o que quero. É a primeira vez que terei que pagar por um sexo, mas sei que você vai me valer a pena. É um desafio, uma novidade. E ao mesmo tempo, temo que caia em mãos erradas. Você me despertou algo de protetor em meio ao desejo. Queria poder ver seu rosto, Annie. Vê-la corada ao descobrir o que seu corpo sente com meu toque. — Diz. Ele é bom. Estou quase cedendo.

— Preciso ir para o palco. — Digo. Estou fugindo, eu sei. Ele morde os lábios, sorrindo.

— Certo. Eu sou paciente, Annie. Esperarei por você, quando quiser. Mas, não aceite outro antes de falar comigo. — Pede.

— Não vou. Vai ser você! — Afirmo, tentando ser confiante. Ele engole seco e eu saio em direção ao palco.

Danço por mais algum tempo, até que após meia hora depois ele para diante de mim com a maquineta em mãos. Digita uns números e me olha de forma selvagem. Me aproximo dele e toco seu braço para que me toque. Ele passeia o dedo pela liga em minha coxa, aperta minha pele na altura dos quadris, segura minha mão, leva até seus lábios e a beija.

— Adeus, Annie! Até o próximo encontro. — Diz, rouco, excitado.

— Boa noite, Mark. — O respondo. Me sinto triste com sua iminente partida.

Ele sai e continuo ali, até às duas da manhã.

Na hora de sair, me surpreendi ao conferir que havia recebido 7 mil esta noite. Era triste me sentir feliz por receber esse dinheiro, mas era isso. Eu não estava aqui porque queria. Ou porque era ambiciosa. Era necessário.

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