— Chegou um pouco tarde, hoje. — É a Vanessa quem diz. Ela já me aguardava dentro de seu carro, para me dar a carona para a faculdade.
Estou em meu 7º semestre do curso de Engenharia Química, falta apenas meio ano para me formar. Contudo, mês que vem já iniciam as seletivas de estágios e estou ansiosa para estagiar na J’Passión. Ela tem a própria fábrica de seus cosméticos. Com orgulho, digo que são os melhores do mercado nova-iorquino na atualidade. Tanto, que é o queridinho das grandes célebres contemporâneas. Quero muito uma oportunidade de fazer parte do time que cria esses produtos. Apesar de amar ser a secretária do CEO.
Já a Van estuda Ciências Contábeis, e está quase se formando.
Enquanto trafegamos, ela me faz as mesmas perguntas que Diana e Amanda me fizeram, sobre o primeiro dia na boate e dou-lhe as mesmas respostas.
Vanessa acaba me dando uns conselhos importantes e aproveito para fazer minhas notas mentais.
Assim que amanhece o dia, me levanto. Talvez eu ande animada demais para ir ao trabalho após a chegada do novo CEO. Deixo café pronto, me arrumo rápido e piso firme ao sair de casa, me desejando sorte.
O metrô estava lotado, como sempre. Manhattam é o berço da civilização empresarial da cidade, então essa linha nunca está vazia. Ao menos, encontrei assento. Sentada ali, vendo a cidade passar como linhas de pixel numa tela, me perco em pensamentos. E eles são todos do meu novo chefe.
Ethan é leve. Trabalhar com ele é tão fácil quanto respirar. Mas há algo pairando entre nós. Olhares firmes, análises gestuais, medição corporal... É nítido que ele possui algum interesse em mim e claro que, não nego, eu nele.
E isso foi ficando cada vez mais evidente no decorrer da semana.
Amanda já percebeu, quando houve, na quarta-feira, a reunião com a equipe de marketing. Nosso entrosamento estava bacana como profissionais, mas um olhar atento podia ver que a gente flertava com olhares sempre que podíamos. Nunca dissemos nada um ao outro, entretanto. Talvez estejamos numa luta para mantermos a relação no âmbito profissional a que nos cabe.
Eu deixo o trabalho às 15H, por conta da faculdade. Sempre que vou embora, ele fica lá, concentrado no trabalho. Sei que há muito para ele estudar e se inteirar das demandas e necessidades da empresa. Mas, mesmo assim, ele sai de seu momento para erguer os olhos e lançar um sorriso e um adeus, em despedida.
Hoje é sexta-feira e estou ciente que terei que ir para a boate. Segunda noite de trabalho no “submundo”, como diz Amanda. Fico um pouco ansiosa durante todo o dia. Será que vai ser como o primeiro, ou terei desagradáveis surpresas? Mark estará lá?
Eu e Vanessa não pegamos a grade extra das sextas, para que possamos cumprir com nossa vida escusa. Entramos na boate e seguimos para os camarins. Minha roupa está na arara marcada com meu nome. Pego-a. Estarei de cinta-liga e espartilho preto. Saltos negros nos pés. O que muito combina com a touca-ninja preta, de cetim. Invisto no batom escarlate e uso a mesma peruca loira da última noite.
— Irão chover propostas esta noite, Annie. — Pfeiffer anunciou, me dando um susto. Ele me analisou com afinco e fiquei muito envergonhada.
— Sinto muito, ainda não sei se me encontro pronta. — Declaro.
— Entendo. Caso mude de ideia, me avise. Assim os lances serão analisados. Você poderá escolher o cliente que mais lhe agradar. — Avisou. Assenti.
A noite estava fria, mas ali dentro o calor era imenso. O ar que rodeava as pessoas era de pura luxúria. Homens alisavam algumas dançarinas, ou até mesmo mulheres clientes da boate. Havia pares do mesmo sexo, em casal, em trio. Parece que às sextas era mais intenso. A casa estava mais lotada que o sábado passado.
Eu já estava em meu círculo dançando por quinze minutos, quando ouvi aquela voz.
— Annie! — Ele estava com mais uma calça jeans e a camisa de manga curta revelava um braço arrebatadoramente forte, cheio de veias.
— Mark! — Respondi. Confesso que aquela peça íntima me deixava bem bonita e eu me sentia mais confiante que antes. Dancei de modo sensual para ele. Mark levou uma mão ao bolso e a outra usou para mexer no aparelho de gorjetas.
— Me deixe tocar em você esta noite, Annie? Queria poder alisar suas costas e sua bunda. Você tem um corpo delicioso. Preciso aliviar a tensão, ao menos um pouco. Foi uma semana difícil.
Pensei um pouco no que me pediu. — Quer conversar enquanto penso em sua proposta?
Ele sorriu. E me estendeu a mão para que eu o acompanhasse.
— O que aconteceu? Por que está tão tenso? — Perguntei quando já estávamos no bar. Estou seguindo a tática da Van.
— Muitas coisas. Estou com muito trabalho acumulado. E... bem, eu tenho estado distraído demais. — Disse. — Quer beber?
— Água, por favor. — Respondo. Ele sorri.
— Com medo de me contar detalhes de sua vida? — Pergunta e confirmo um sim em resposta. — Nova Iorque tem quantos mil habitantes? Impossível que eu vá saber quem é você. — Assegura.
— A vida é cheia de surpresas. Não duvide da capacidade do destino em deixar a cidade parecer pequena, quando quer. — Digo. Ele sorri e me serve a água, sorvendo da sua bebida.
— Tem razão. E quanto a minha proposta? Já pensou? Eu soube que você tem um motivo especial para ficar apenas dançando aqui. O que me deixou surpreso, mas ainda mais interessado que antes. — Revela, sedutor. — Acho que estava certo ao afirmar que você não era uma garota de programa. Isso me excita muito, Annie. — Sua voz soa rouca. Ele é direto. —Quero ser seu primeiro. Prometo não ser um troglodita, muito menos te tratar como qualquer uma. Serei carinhoso, como merece ser uma primeira vez. — Fico surpresa por sua maneira de expressar. E, também, excitada. — Podemos ir devagar. Aos poucos. Cada dia um passo a mais nessa direção. Vou pagar bem. Prometo!
Respiro fundo. Assinto. Estou aceitando a proposta? Sim, estou.
— Iremos devagar. Preciso digerir a ideia de me entregar assim, a um desconhecido. Por anos fantasiei a ideia de pessoa e momento especiais. — Confesso. Bebo minha água.
Mark se levanta e vem para atrás de mim. Alisa com as costas das mãos na lateral do meu braço, descendo a mão devagar. Estremeço. É uma carícia simples, delicada, mas que expressa muito do que ele tem em mente. Me arrepio inteira.
— Será especial, Annie. — Ele sussurra em meu ouvido, voltando a mão no sentido contrário agora. Minha barriga contrai. Prendo um pouco a respiração. Sua mão alcança minha nuca, por cima do capuz, ele desce a mão pelas minhas costas, alisando o espartilho e apalpa a minha bunda. Um aperto firme, sexy e viril. Sinto meu centro umedecer. — Você é linda! Há algo em você que me atrai. Seu cheiro é bom e imagino que há outros locais com perfumes ainda melhores. — Ele diz, deixando os lábios rasparem minha orelha, enquanto sua mão desliza pela minha coxa.
Mark é sedutor, sem nenhuma dúvida. Um homem provavelmente experiente no assunto a que deseja chegar. Ele cheira bem, um cheiro másculo, forte, amadeirado. Notas de um uísque acompanham seu hálito. Não imaginava que me sentiria desta forma diante de tal possibilidade íntima. Estou inclinada ao pecado. Queria sentir sua boca na minha. Mas ele se afasta. Retorna à sua cadeira e me analisa mais um pouco enquanto bebe. Seus olhos não piscam enquanto me despe com o olhar.
— Você é bom em seduzir. — Comento. Ele sorri.
— Eu sei o que quero. É a primeira vez que terei que pagar por um sexo, mas sei que você vai me valer a pena. É um desafio, uma novidade. E ao mesmo tempo, temo que caia em mãos erradas. Você me despertou algo de protetor em meio ao desejo. Queria poder ver seu rosto, Annie. Vê-la corada ao descobrir o que seu corpo sente com meu toque. — Diz. Ele é bom. Estou quase cedendo.
— Preciso ir para o palco. — Digo. Estou fugindo, eu sei. Ele morde os lábios, sorrindo.
— Certo. Eu sou paciente, Annie. Esperarei por você, quando quiser. Mas, não aceite outro antes de falar comigo. — Pede.
— Não vou. Vai ser você! — Afirmo, tentando ser confiante. Ele engole seco e eu saio em direção ao palco.
Danço por mais algum tempo, até que após meia hora depois ele para diante de mim com a maquineta em mãos. Digita uns números e me olha de forma selvagem. Me aproximo dele e toco seu braço para que me toque. Ele passeia o dedo pela liga em minha coxa, aperta minha pele na altura dos quadris, segura minha mão, leva até seus lábios e a beija.
— Adeus, Annie! Até o próximo encontro. — Diz, rouco, excitado.
— Boa noite, Mark. — O respondo. Me sinto triste com sua iminente partida.
Ele sai e continuo ali, até às duas da manhã.
Na hora de sair, me surpreendi ao conferir que havia recebido 7 mil esta noite. Era triste me sentir feliz por receber esse dinheiro, mas era isso. Eu não estava aqui porque queria. Ou porque era ambiciosa. Era necessário.
Sábado. Meus olhos abriram com dificuldade após o barulho insistente do despertador.Fiz o de sempre que devo fazer pela manhã e depois retornei para o meu quarto, pegando no sono como se não tivesse levantado. Próximo da hora do almoço acordei de novo, isso porque meu celular tocava de forma insistente.— Alô? — Proferi sonolenta.— Alice! Está em casa? — Era Amanda.— Sim, estou. Estava dormindo até agora. — Sorri ao dizer.— Então desperte, porque estou chegando e levando uma lasanha para nós. Richard está no futebol com os amigos e eu não quero ficar em casa sozinha, pensando besteiras. — Avisou. Sorri e meu estômago roncou com a notícia da lasanha.— Te aguardo. Vou pedir um vinho por delivery. — Eu disse. Precisava de uma bebida alcóolica. Eu ainda teria que ir até a boate de novo e não sabia se resistiria ao toque do Mark, caso eu o visse.Levantei, tomei banho e saí do quarto. Diana estava sentada no sofá da sala, assistindo uma programação na TV. Um desses shows de calouros m
Aceitei e fui conduzida para a pista de dança. Ele se aproximou de mim e me abraçou pela cintura, me fazendo apoiar as mãos em seus ombros fortes.Mark é mais alto que eu. Ele usa uma camisa de manga comprida preta de linha. Calça jeans preta. Seu perfume impregna minhas narinas. Seu capuz preto também é de lã.Dançamos uma música lenta, com batidas remixadas. Enquanto nos movemos de um lado a outro, ele alisa minhas costas, vez ou outra. Seu corpo está muito perto.— Queria que fôssemos para o quarto. Prometo que não irei forçá-la a nada, só quero ficar a sós. É estranho te tocar em meio a todo mundo. Acho que isso a faz se sentir mal. — Diz, em meu ouvido.Concordo. Não há muito o que se fazer, mais dia, menos dia, eu irei para a cama com ele.Subimos. Estou tensa, por mais que me force a não estar. Mark pega um quarto no último andar. Uma cobertura muito bonita. De verdade, aquele lugar nem de longe parecia ser destinado ao fim que lhe era imposto. Era um quarto bonito, chique, neu
— Certeza que pode me acompanhar? Eu não estou atrapalhando nada? — Ethan me pergunta, virando o rosto para mim. O encaro sorrindo, seus olhos brilham em minha direção, naquele tom alaranjado fascinante. Nossos olhares ficam presos e confirmo que podemos ir com gesto de cabeça. Ele olha para os meus lábios. Me ajeito no banco, tirando o cabelo da frente do rosto e o colocando detrás da orelha. Nervosa. Céus!— Eu sou estudante de química. Não sei se você sabe. — Conto. Ele dá partida no carro e saímos. Ele aciona o ar-condicionado.— Eu sei. Analisei seu currículo. Gosto de saber um pouco mais sobre as pessoas que trabalham comigo. — Me diz. Olho para ele, que me olha em retorno. Sorrimos.— Quero estagiar lá na fábrica. Já me inscrevi para as vagas. — Ele ergue a sobrancelha.— Vai me abandonar? — Pergunta e faz um olhar de tristeza, em brincadeira.— Não! — Respondo, aos risos. — Será apenas à tarde e parte da noite. Gosto muito da área da cosmetologia, tenho muito a ganhar caso con
— Eu conversei com você em nosso primeiro dia sobre estabelecermos uma relação semelhante à de nossos pais. Confiança, parceria, amizade. Lembra? — Confirmei, ao passo em que ele prosseguiu. — Por algum motivo que desconheço, não percebi isso hoje, vindo de você. Pedi a sua ajuda, não só porque teve a brilhante ideia, mas porque confio em você. Nos entendemos, temos intimidade para conversarmos abertamente sobre qualquer assunto. Pelo menos foi o que pensei. Isso mudou? — Seu olhar era como uma lâmina afiada sobre mim.— Não. Entenda, eu não quero me envolver em algo que não domino. — Justifico, sem jeito.— Alice, não questionei o seu domínio. Eu quero a sua opinião, não sua decisão. Quero ouvir você, gosto da maneira como lida com as coisas. Eu tive minhas observações e queria compará-las com a de alguém que confio e que não faz parte da equipe. Isso se chama lisura. — Ele argumenta. Suas mãos seguravam o tampo de vidro da sua mesa.Respiro fundo, resignada. — Okay. Não gostei da pr
— Dany? O que foi? — Perguntei. Ela nunca havia conversado comigo dentro daquele lugar.— O seu cliente e Pfeiffer estão no gabinete. O que nosso chefe queria com você? — Ela perguntou. Parecia um pouco insegura.— Saber quando irei aceitar sexo. — Ela abaixou a cabeça. Continuei. — Porém, contei que estava decidida quanto ao Mark e que não iria abrir negociações. — Ela pareceu até respirar melhor após saber. — O que me intrigou foi o recado que me deu. Relembrando sobre a regra de confidencialidade total.— Ah, ele sempre nos lembra sobre isso. Já houve casos de clientes que quebraram o protocolo. Não imagina a dor de cabeça que rolou. A propósito, vai ter que tomar anticoncepcionais. Já está fazendo uso? — Confirmo que sim. — Annie, não esqueça do preservativo. Isso é muito importante. Não ceda a nenhuma investida sem preservativo. — Alertou.— Fique tranquila. Sou virgem, não tola. — Assegurei. Ela aquiesceu e saiu para buscar seus clientes.Permaneci dançando por meia hora, até qu
Toda essa conversa me fez esquecer um pouco dos meus problemas, mas não os evitou. Segunda-feira bem cedinho, o Brenner estava em minha porta. Seus homens, vestidos em macacões tipo de mecânicos, ficaram atrás dele.— Bom dia, Alice! — O homem sinistro de meia-idade saudou.— Bom dia! — Respondi, com seriedade. — Aqui está o cheque deste mês, mais o aluguel. — Estendi a mão com o papel contendo o valor a ser pago. Ele tocou e analisou-o.— Ótimo! Não vai me convidar para beber um café? — Perguntou. Eu o mantinha do lado de fora da casa.— Não. Estamos pagando aluguel, não tem direito a entrar na casa sem meu consentimento. Está no contrato. — Eu disse. Odeio a forma como esse homem me olha. Irônico. Ele sorri mostrando um dente prateado.— Como está conseguindo todo esse dinheiro? Uma simples estudante levantar 25 mil por mês... — Ergue a sobrancelha em desafio.— Isto é problema meu. — Respondo-o.— Tudo bem, Alice. Até mês que vem. — Ele avisou-me. Colocou o cheque em seu bolso do p
— Como assim vocês ficaram a sós e não deram uns amassos? — Amanda zombou. Estávamos na cafeteria. Eu contava para ela sobre o quase beijo de ontem, no Ethan.— O telefone dele tocou. Céus! O que eu estava fazendo, Amanda? Devo estar louca. Quem sabe não foram os hormônios? — Me culpo.— Não, Alice. Pare de coisinhas. Você e o Ethan só estão aumentando a tensão entre os dois. É lógico que esse beijo vai sair. Parem de pensar tanto. — Ela embroma.Reviro os olhos e pago meu café expresso, saindo de lá com o copo na mão. Na minha sala, faço meu rito de todos os dias e aproveito para soltar os cabelos que estavam presos. Meu batom é um rosa clarinho, suave, que combinava com a blusinha rosa que eu usava por baixo do terninho.Já estava de frente para o computador, digitando minhas pendências, quando ele chegou. Meu chefe, lindo, terno preto de corte moderno e camisa azul escura. Ele parecia muito forte usando esse traje. Seu porte físico era semelhante ao Mark em muitos aspectos. Seu per
A sexta-feira sempre me causava uma ansiedade, afinal, era dia de eu me vestir de Annie e encarar um papel do qual eu não tinha nenhum domínio. Estava me sentindo exausta, e o dia mal havia começado. Saí do metrô e encontrei Amanda logo no estacionamento da frente do enorme prédio onde está a sede do grupo J’Passión. Nós não havíamos nos falado ontem, conforme prometi, pois as aulas realmente me tomaram todo o tempo.Amanda descia da motocicleta do Richard.— Bom dia! — Cumprimentei aos dois.— Alice, bom dia! — O namorado da minha amiga respondeu. Amanda fez o mesmo logo em seguida. — Bom trabalho para vocês. Tchau, querida! — A beijou rapidamente, pegando o capacete dela e guardando no compartimento da moto. Nos afastamos dele após acenarmos um tchau.— O que aconteceu ontem para você sair daquela sala toda vermelha e suada? — Perguntou, curiosa.Sorri e tratei de contar tudo, incluindo sobre o olhar para meus lábios que fez meu coração sambar no peito.— Ah, amiga. Eu já disse, ess