Fiquei absolutamente constrangida com a revelação. Ethan sorriu feliz da vida com o fato de que eu estava sendo reconhecida, ou, seja lá qual for o real motivo. O fato era que eu não sabia o que fazer com aquele vazamento de informação. Não achava que era o momento certo para que aquela sede soubesse a origem da criação do aroma.— Como é? — A insuportável da Tereza perguntou, quase saltando da cadeira. — A Alice criou a fragrância?— Sim. Ela é apenas uma estagiária na fábrica, e já possui um perfume à venda. Essa menina tem muito futuro, ela é maravilhosa em tudo. — Dona Betty se rasga em elogios deixando-me ainda mais tímida e, ao mesmo tempo, contente. — Se vocês sentirem, irão ter noção de porque o Ethan apostou nela para substituir o anterior. É um tiro certeiro. — Ela disse. Depois me olhou e alisou meus cabelos.— Não posso acreditar nisso. — Bufou Tereza, de forma baixa, mas não o suficiente para não ser ouvida. — Eu deveria ter suspeitado que ela estivesse envolvida. Por is
A boate estava lotada esta noite. Dava para ver o volume de carros no estacionamento e na rua. Entrei, me vesti com uma roupa toda branca, um vestidinho de renda. A calcinha era fio dental e eu odiava ter que usar aquele tipo de peça enquanto dançava. Incomodava demais. E ainda me fazia sentir mais nua que o normal. Botei meu capuz branco, ajeitando o nariz e os olhos nos buracos. Escolhi uma peruca branca e calcei os saltos, saindo para o salão. Antes de ir para os elevados, rumei para o escritório do Pfeiffer. Andrei, um segurança, estava parado diante da porta.— Preciso conversar com Pfeiffer. — Avisei. Era a primeira vez que era interceptada na porta. O homem fez um gesto me pedindo para aguardar e não demorou muito a Danny sair de sua sala, limpando os cantos da boca cheia de batom vermelho.— Boa sorte, Annie. — Me disse. Ela já sabia que eu iria conversar com ele.Entrei na sala quando Andrei me deu passagem. Ele concertava suas calças quando passei pela porta.— Annie! — Come
Eu e Diana acordamos, sem dúvidas, muito mais animadas que os últimos meses. Não me lembrava de quando foi a última vez em que estive assim, tão leve, quanto me sentia agora.Confesso que demorei a dormir. Minha despedida ontem do Ethan e sua voz rouca em minha orelha, ainda me queimou por longas horas. Só me faziam lembrar de todos os nossos beijos, da química que tínhamos e tudo só me fazia ter mais certeza de que, puxa vida, eu estava muito apaixonada. Carente também, já havia se passado um mês desde que havia perdido minha virgindade e de lá pra cá, nada mais aconteceu. O homem me viciou no pecado e foi embora, me deixando à mercê dos desejos que nutro pelo meu chefe.E, por falar em chefe, a cada vez que passo meu tempo ao lado dele, me sinto mais apegada. É tão fácil conviver com Ethan, é tão natural, que me assusta. Já descobri alguns de seus defeitos, é orgulhoso, possessivo e impiedoso, algumas vezes. Pode ser seu amigo para sempre, mas basta uma decepção e será igualmente et
O meu mundo pareceu girar ao ouvir o Ethan dizer aquilo.Apaixonado? Meu peito bateu frenético e forte, senti-me arrepiar e meus olhos umedeceram de emoção. Era tão incrível que isto estivesse acontecendo. Justamente agora que o Mark e eu havíamos encerrado tudo. Eu não pararia para pensar em nada agora, porque estava impactada demais com o que acabei de ouvir.— Não vai falar nada? — Perguntou. — Está assustada? Eu confesso que eu também fiquei assustado quando descobri que havia me apaixonado pela minha secretária e melhor amiga. — Continuou. — Mas eu sabia que isso poderia ocorrer desde que nos conhecemos.— Ethan... — Comecei. Mas me faltaram palavras, eu estava ofegante, como se estivesse correndo milhas. — Me beija! — Pedi. Ele soltou um daqueles sorrisos que decalcam sua covinha e sem mais delongas, colou seus lábios nos meus.E não foi como aquele beijo esfomeado de outras vezes, foi um beijo sereno e que me causava um misto de excitação e acolhimento. Era como encontrar seu
Acordei ao som do meu despertador. E, puxa vida, não dormi quase nada. Eram mais de 3h da manhã quando aquietamos os ânimos.Ethan é um furacão na cama. Atencioso como Mark, mas muito mais carinhoso no pós sexo. Eu me senti poderosa com ele, com a autoestima renovada. Nós temos muita química e não parecia que nunca havíamos nos amado antes. Eu conhecia, de alguma forma, o corpo dele e ele ao meu.Era lindo dormindo, tão ou mais do que acordado. Alisei o seu rosto para que tirasse suas pernas pesadas de cima de mim. Ele se remexeu, provocou um pouco, até abrir os olhos. Esfregou-os, antes de verdadeiramente me encarar. Ele sorriu de forma manhosa.— Bom dia, minha linda! — Saudou.— Bom dia, dorminhoco. — Respondi, brincando. Ele riu mais. — Precisamos nos levantar ou chegaremos atrasados.— Bem, você está com seu chefe, não fique preocupada. — Brincou, alisando meu rosto.— Não é muita coincidência que o chefe e a secretária cheguem atrasados no mesmo dia? Detalhe, nunca atrasamos. —
Alice Me olho no espelho. A minha boca está pintada de um batom vermelho que nunca ousei usar. Meus seios estão presos por um sutiã de aros tão pequenos, que me deixa constrangida. Eu uso uma calcinha fio-dental cheia de micro pedras de brilho. Meus pés estão envoltos em saltos agulha. O rosto? Enfiado debaixo de um capuz parecido com aqueles que os bandidos usam nos assaltos a banco. Mesma coisa. Meu Deus, uma puta! Eu não consigo entender o porquê a minha vida chegou a esse ponto em que me encontro agora. Tudo caminhava tão bem. O início da minha faculdade... O trabalho que meu pai me conseguiu na J’Passión... Meu pai havia se casado com Diana... Estávamos morando no Bronx, NY. Até que veio o acidente! O Sr. Augusto Vilas, meu amado pai, trabalhava há 20 anos como motorista do Hernandez Johnson, meu chefe. Eles eram muito amigos, havia um forte elo de confiança entre os dois. Sr. Johnson era um homem simples e, para mim, não existia patrão melhor no mundo. Havia pagado a minha f
Tudo que eu tinha que fazer ao passar por esta porta, era dançar. Mais nada. Caso alguém quisesse alguma coisa a mais — como me tocar, por exemplo — deveria negociar com o dono. A decisão era sempre minha, e os valores eram altos. Como Pfeiffer (o dono) disse, eu era valiosa!Aqui eu sou a Annie. Há em mim uma placa dizendo isso. Usei esse nome, porque é uma abreviação de Annésio, sobrenome de meu pai.— Olá, Annie! — Alguém disse para mim enquanto eu seguia para a pista de dança próxima do bar. Não olhei para a pessoa. Entrei no meu círculo (Um espaço circular mais elevado, reservado para as ‘funcionárias’ da boate, marcados com uma numeração.) Comecei a dançar.Homens e mulheres se aglomeravam ao redor. Uma espécie de letreiro ficava bem abaixo do elevado onde eu pisava e marcava alguns valores de gorjeta dados pelos clientes, só pela minha performance. Eles tinham um aparelho nas mãos por onde faziam seus pedidos, propostas e pagamentos. Estavam gostando da dança que eu permanecia
é— Bom dia! — Proferi para Amanda assim que passei pela porta giratória na entrada do prédio. Ela me aguardava ali. Minha amiga era pau para toda obra, a gente era cúmplice dentro daquela empresa. Ela estava a par do meu segredo e por isso grudou em meu braço, louca para ouvir sacanagens.— Bom dia! Estou ansiando para saber todos os detalhes do seu submundo. — Me disse entre risos.— Só no horário de almoço. — Avisei-a. — Hoje é a estreia do chefinho novo e quero estar concentrada em meus afazeres. Preciso ganhar a amizade dele. Não aguento mais o Mário. — Virei os olhos ao citar o nome daquele infeliz. Estávamos diante dos elevadores. Amanda e eu trabalhamos no mesmo andar, mas em setores diferentes.— Certo. Aguardarei. Até porque também espero não ter que olhar mais para aquele homem pavoroso. — Revelou. — Por mim ele volta para o financeiro, de onde ele saiu, e permanece lá por todo o sempre. — Ela ergue as mãos aos céus, pedindo clemência.Amanda trabalha no setor de marketing