Toda essa conversa me fez esquecer um pouco dos meus problemas, mas não os evitou. Segunda-feira bem cedinho, o Brenner estava em minha porta. Seus homens, vestidos em macacões tipo de mecânicos, ficaram atrás dele.— Bom dia, Alice! — O homem sinistro de meia-idade saudou.— Bom dia! — Respondi, com seriedade. — Aqui está o cheque deste mês, mais o aluguel. — Estendi a mão com o papel contendo o valor a ser pago. Ele tocou e analisou-o.— Ótimo! Não vai me convidar para beber um café? — Perguntou. Eu o mantinha do lado de fora da casa.— Não. Estamos pagando aluguel, não tem direito a entrar na casa sem meu consentimento. Está no contrato. — Eu disse. Odeio a forma como esse homem me olha. Irônico. Ele sorri mostrando um dente prateado.— Como está conseguindo todo esse dinheiro? Uma simples estudante levantar 25 mil por mês... — Ergue a sobrancelha em desafio.— Isto é problema meu. — Respondo-o.— Tudo bem, Alice. Até mês que vem. — Ele avisou-me. Colocou o cheque em seu bolso do p
— Como assim vocês ficaram a sós e não deram uns amassos? — Amanda zombou. Estávamos na cafeteria. Eu contava para ela sobre o quase beijo de ontem, no Ethan.— O telefone dele tocou. Céus! O que eu estava fazendo, Amanda? Devo estar louca. Quem sabe não foram os hormônios? — Me culpo.— Não, Alice. Pare de coisinhas. Você e o Ethan só estão aumentando a tensão entre os dois. É lógico que esse beijo vai sair. Parem de pensar tanto. — Ela embroma.Reviro os olhos e pago meu café expresso, saindo de lá com o copo na mão. Na minha sala, faço meu rito de todos os dias e aproveito para soltar os cabelos que estavam presos. Meu batom é um rosa clarinho, suave, que combinava com a blusinha rosa que eu usava por baixo do terninho.Já estava de frente para o computador, digitando minhas pendências, quando ele chegou. Meu chefe, lindo, terno preto de corte moderno e camisa azul escura. Ele parecia muito forte usando esse traje. Seu porte físico era semelhante ao Mark em muitos aspectos. Seu per
A sexta-feira sempre me causava uma ansiedade, afinal, era dia de eu me vestir de Annie e encarar um papel do qual eu não tinha nenhum domínio. Estava me sentindo exausta, e o dia mal havia começado. Saí do metrô e encontrei Amanda logo no estacionamento da frente do enorme prédio onde está a sede do grupo J’Passión. Nós não havíamos nos falado ontem, conforme prometi, pois as aulas realmente me tomaram todo o tempo.Amanda descia da motocicleta do Richard.— Bom dia! — Cumprimentei aos dois.— Alice, bom dia! — O namorado da minha amiga respondeu. Amanda fez o mesmo logo em seguida. — Bom trabalho para vocês. Tchau, querida! — A beijou rapidamente, pegando o capacete dela e guardando no compartimento da moto. Nos afastamos dele após acenarmos um tchau.— O que aconteceu ontem para você sair daquela sala toda vermelha e suada? — Perguntou, curiosa.Sorri e tratei de contar tudo, incluindo sobre o olhar para meus lábios que fez meu coração sambar no peito.— Ah, amiga. Eu já disse, ess
Eu estava uma pilha de nervos. Só para começar a contar como eu ficava quando batia a ansiedade: Bati o dedinho do pé na quina da cama logo após acordar. Quando fui limpar a casa derrubei o balde, espalhando toda a água pelo chão e molhando a vassoura de pelo. Deixei queimar o arroz, e a tampa do vaso sanitário com a chapinha quente. Diana já estava assustada, com medo de que eu provavelmente explodisse a casa. — Calma, Alice! É só um passeio para espairecer. Uma saída informal em um dia de domingo. — Ela disse, tentando me acalmar. Ethan havia mandado uma mensagem avisando que me buscaria às 15h. Eu sinceramente não sabia o que fazer. A vontade de desmarcar era forte. Tanto que escrevi e apaguei a mensagem cancelando tudo, diversas vezes, porém acabei deixando somente um ok. — Tem razão. É só que, após o que ocorreu ontem e anteontem com o Mark, sair com o Ethan parece tão errado, Nana. — Revelo. — Alice, esse Mark é um cliente. Ele está te pagando para ter uma relação com você. N
Amanheci como se houvesse pássaros me acordando, ao invés do trim-trim insistente do meu despertador. Fiz todas as coisas necessárias pela manhã e saí em direção ao metrô, carregando minha bolsa que a cada dia rasgava em mais um lugar. O metrô estava lotado, o barulho de vozes era insuportável. Pus os fones de ouvido e fui escutando minhas áudio-aulas, já me preparando para a apresentação que eu teria que fazer mais tarde, na faculdade. Entretanto, um riso sempre me escapava, quando minha mente me traía e me levava ao dia de ontem. Não entendo como apenas um passeio tenha me levado a esquecer os momentos quentes que vivi na minha “outra vida”.Além de ontem, eu estava feliz porque também iniciaria meu estágio na fábrica da J’Passión. Aquela era a minha etapa final do curso e, também, uma parte crucial para minha aprovação e formatura. Eu tinha um projeto e, se ele desse certo, formar-me-ia com as honras da turma.Amanda já estava na porta, no entanto, estava numa discussão visível com
— Bom dia! — Ethan saúda. Seu tom de voz mais áspero que o de costume liga em todos o sinal de alerta. — Essa reunião de emergência foi solicitada porque a notícia não é nada boa. Tivemos mais um vazamento de dados da nossa campanha do perfume, onde a concorrência recebeu e sequer se deu ao trabalho de mudar alguma coisa. Desde a embalagem, ao nome, são iguais. Claro, não sabemos quanto ao aroma do produto, contudo, as notas que o compõem são exatamente iguais. — Ele discorre, direto, sem rodeios.A sala vira uma zona logo após. Um milhão de perguntas são colocadas ao mesmo tempo, e é quando a senhora Bettany interpõe, colocando ordem.— Senhoras e senhores, silêncio! — Ela pede. — A pergunta principal aqui é: o que vamos fazer? E nós convocamos os senhores para que possam nos ajudar nisso. Nos dar ideias do que podemos fazer para reverter o quadro, uma vez que a data de lançamento já foi divulgada. — A Sra. Johnson complementa.— Uma nova campanha, uma mudança na embalagem? — Felipe
A sensação de ter sido rejeitada não sai da minha garganta e prendo a vontade de chorar. Amanda não estava em sua mesa e dou graças a Deus, ou eu não seguraria as lágrimas. Assim que me sento no assento do metrô, elas explodem dos meus olhos. É claro que eu não deveria me sentir assim, até porque eu não deveria ter deixado esse beijo acontecer e me envolver com o Ethan, não sendo eu uma prostituta aos fins de semana. E não sei se a dor é por me sentir rejeitada ou por saber que ele tem uma pessoa, que definitivamente não sou eu, muito mais digna e merecedora. É como se minhas chances de ser feliz estivessem sendo jogadas fora. Talvez eu tenha traçado um plano para quando eu pagasse o Brenner. Eu sairia da boate e me jogaria sem pudor nos braços do meu chefe. Me entregaria a uma paixão que achei que estava começando entre nós. Quando adentrei em casa, Diana logo notou meu estado, a abracei sem delongas, sentadas no sofá e soltei todo o choro que queria. Assim que me acalmei, contei to
— Como você está? — Amanda perguntou-me assim que nos encontramos na chegada do prédio da J’P. Havia contado para ela por mensagem todo meu dilema com o Ethan. — Bem. Acho que foi melhor assim, saber que ele tem alguém, e ele saber que eu “tenho” também, é a coisa certa. — Respondo, colocando o tenho num gesto de aspas, referindo-me ao Mark, claro. — Pode até ser, amiga. Essa é a resposta que você deve dar a si mesma, não para mim. Como está sendo olhar aquela boca, saber seu gosto e não poder repetir? — Ela pergunta e começo a rir. — Ai, Alice, conta aí. Ele tem pegada? O beijo é tão bom quanto a bunda? Começo a rir alto. Amanda não tem filtro, eu adoro que ela faça o possível para me ver sorrir sempre que me vê triste. — Ah, amiga, eu diria que é a oitava maravilha. Essa é a parte que mais dói, saber que nunca mais eu terei aqueles lábios nos meus. — Digo, ainda sorrindo. — Alice, nunca é uma palavra carregada de reticências. Eu diria que é uma razão variável. Tem nuncas que dur