— Certeza que pode me acompanhar? Eu não estou atrapalhando nada? — Ethan me pergunta, virando o rosto para mim. O encaro sorrindo, seus olhos brilham em minha direção, naquele tom alaranjado fascinante. Nossos olhares ficam presos e confirmo que podemos ir com gesto de cabeça. Ele olha para os meus lábios. Me ajeito no banco, tirando o cabelo da frente do rosto e o colocando detrás da orelha. Nervosa. Céus!— Eu sou estudante de química. Não sei se você sabe. — Conto. Ele dá partida no carro e saímos. Ele aciona o ar-condicionado.— Eu sei. Analisei seu currículo. Gosto de saber um pouco mais sobre as pessoas que trabalham comigo. — Me diz. Olho para ele, que me olha em retorno. Sorrimos.— Quero estagiar lá na fábrica. Já me inscrevi para as vagas. — Ele ergue a sobrancelha.— Vai me abandonar? — Pergunta e faz um olhar de tristeza, em brincadeira.— Não! — Respondo, aos risos. — Será apenas à tarde e parte da noite. Gosto muito da área da cosmetologia, tenho muito a ganhar caso con
— Eu conversei com você em nosso primeiro dia sobre estabelecermos uma relação semelhante à de nossos pais. Confiança, parceria, amizade. Lembra? — Confirmei, ao passo em que ele prosseguiu. — Por algum motivo que desconheço, não percebi isso hoje, vindo de você. Pedi a sua ajuda, não só porque teve a brilhante ideia, mas porque confio em você. Nos entendemos, temos intimidade para conversarmos abertamente sobre qualquer assunto. Pelo menos foi o que pensei. Isso mudou? — Seu olhar era como uma lâmina afiada sobre mim.— Não. Entenda, eu não quero me envolver em algo que não domino. — Justifico, sem jeito.— Alice, não questionei o seu domínio. Eu quero a sua opinião, não sua decisão. Quero ouvir você, gosto da maneira como lida com as coisas. Eu tive minhas observações e queria compará-las com a de alguém que confio e que não faz parte da equipe. Isso se chama lisura. — Ele argumenta. Suas mãos seguravam o tampo de vidro da sua mesa.Respiro fundo, resignada. — Okay. Não gostei da pr
— Dany? O que foi? — Perguntei. Ela nunca havia conversado comigo dentro daquele lugar.— O seu cliente e Pfeiffer estão no gabinete. O que nosso chefe queria com você? — Ela perguntou. Parecia um pouco insegura.— Saber quando irei aceitar sexo. — Ela abaixou a cabeça. Continuei. — Porém, contei que estava decidida quanto ao Mark e que não iria abrir negociações. — Ela pareceu até respirar melhor após saber. — O que me intrigou foi o recado que me deu. Relembrando sobre a regra de confidencialidade total.— Ah, ele sempre nos lembra sobre isso. Já houve casos de clientes que quebraram o protocolo. Não imagina a dor de cabeça que rolou. A propósito, vai ter que tomar anticoncepcionais. Já está fazendo uso? — Confirmo que sim. — Annie, não esqueça do preservativo. Isso é muito importante. Não ceda a nenhuma investida sem preservativo. — Alertou.— Fique tranquila. Sou virgem, não tola. — Assegurei. Ela aquiesceu e saiu para buscar seus clientes.Permaneci dançando por meia hora, até qu
Toda essa conversa me fez esquecer um pouco dos meus problemas, mas não os evitou. Segunda-feira bem cedinho, o Brenner estava em minha porta. Seus homens, vestidos em macacões tipo de mecânicos, ficaram atrás dele.— Bom dia, Alice! — O homem sinistro de meia-idade saudou.— Bom dia! — Respondi, com seriedade. — Aqui está o cheque deste mês, mais o aluguel. — Estendi a mão com o papel contendo o valor a ser pago. Ele tocou e analisou-o.— Ótimo! Não vai me convidar para beber um café? — Perguntou. Eu o mantinha do lado de fora da casa.— Não. Estamos pagando aluguel, não tem direito a entrar na casa sem meu consentimento. Está no contrato. — Eu disse. Odeio a forma como esse homem me olha. Irônico. Ele sorri mostrando um dente prateado.— Como está conseguindo todo esse dinheiro? Uma simples estudante levantar 25 mil por mês... — Ergue a sobrancelha em desafio.— Isto é problema meu. — Respondo-o.— Tudo bem, Alice. Até mês que vem. — Ele avisou-me. Colocou o cheque em seu bolso do p
— Como assim vocês ficaram a sós e não deram uns amassos? — Amanda zombou. Estávamos na cafeteria. Eu contava para ela sobre o quase beijo de ontem, no Ethan.— O telefone dele tocou. Céus! O que eu estava fazendo, Amanda? Devo estar louca. Quem sabe não foram os hormônios? — Me culpo.— Não, Alice. Pare de coisinhas. Você e o Ethan só estão aumentando a tensão entre os dois. É lógico que esse beijo vai sair. Parem de pensar tanto. — Ela embroma.Reviro os olhos e pago meu café expresso, saindo de lá com o copo na mão. Na minha sala, faço meu rito de todos os dias e aproveito para soltar os cabelos que estavam presos. Meu batom é um rosa clarinho, suave, que combinava com a blusinha rosa que eu usava por baixo do terninho.Já estava de frente para o computador, digitando minhas pendências, quando ele chegou. Meu chefe, lindo, terno preto de corte moderno e camisa azul escura. Ele parecia muito forte usando esse traje. Seu porte físico era semelhante ao Mark em muitos aspectos. Seu per
A sexta-feira sempre me causava uma ansiedade, afinal, era dia de eu me vestir de Annie e encarar um papel do qual eu não tinha nenhum domínio. Estava me sentindo exausta, e o dia mal havia começado. Saí do metrô e encontrei Amanda logo no estacionamento da frente do enorme prédio onde está a sede do grupo J’Passión. Nós não havíamos nos falado ontem, conforme prometi, pois as aulas realmente me tomaram todo o tempo.Amanda descia da motocicleta do Richard.— Bom dia! — Cumprimentei aos dois.— Alice, bom dia! — O namorado da minha amiga respondeu. Amanda fez o mesmo logo em seguida. — Bom trabalho para vocês. Tchau, querida! — A beijou rapidamente, pegando o capacete dela e guardando no compartimento da moto. Nos afastamos dele após acenarmos um tchau.— O que aconteceu ontem para você sair daquela sala toda vermelha e suada? — Perguntou, curiosa.Sorri e tratei de contar tudo, incluindo sobre o olhar para meus lábios que fez meu coração sambar no peito.— Ah, amiga. Eu já disse, ess
Eu estava uma pilha de nervos. Só para começar a contar como eu ficava quando batia a ansiedade: Bati o dedinho do pé na quina da cama logo após acordar. Quando fui limpar a casa derrubei o balde, espalhando toda a água pelo chão e molhando a vassoura de pelo. Deixei queimar o arroz, e a tampa do vaso sanitário com a chapinha quente. Diana já estava assustada, com medo de que eu provavelmente explodisse a casa. — Calma, Alice! É só um passeio para espairecer. Uma saída informal em um dia de domingo. — Ela disse, tentando me acalmar. Ethan havia mandado uma mensagem avisando que me buscaria às 15h. Eu sinceramente não sabia o que fazer. A vontade de desmarcar era forte. Tanto que escrevi e apaguei a mensagem cancelando tudo, diversas vezes, porém acabei deixando somente um ok. — Tem razão. É só que, após o que ocorreu ontem e anteontem com o Mark, sair com o Ethan parece tão errado, Nana. — Revelo. — Alice, esse Mark é um cliente. Ele está te pagando para ter uma relação com você. N
Amanheci como se houvesse pássaros me acordando, ao invés do trim-trim insistente do meu despertador. Fiz todas as coisas necessárias pela manhã e saí em direção ao metrô, carregando minha bolsa que a cada dia rasgava em mais um lugar. O metrô estava lotado, o barulho de vozes era insuportável. Pus os fones de ouvido e fui escutando minhas áudio-aulas, já me preparando para a apresentação que eu teria que fazer mais tarde, na faculdade. Entretanto, um riso sempre me escapava, quando minha mente me traía e me levava ao dia de ontem. Não entendo como apenas um passeio tenha me levado a esquecer os momentos quentes que vivi na minha “outra vida”.Além de ontem, eu estava feliz porque também iniciaria meu estágio na fábrica da J’Passión. Aquela era a minha etapa final do curso e, também, uma parte crucial para minha aprovação e formatura. Eu tinha um projeto e, se ele desse certo, formar-me-ia com as honras da turma.Amanda já estava na porta, no entanto, estava numa discussão visível com