Irina
Eu não acredito que realmente estamos aqui nos Estados Unidos. Ao sair do avião comecei a sentir um pouco de desespero. Quando saímos do aeroporto foi ainda pior, tinha taxistas para todos os lados e alguns deles quase nos arrastaram na direção dos táxis.
Boris achou aquilo um máximo, mas a minha avó e eu não estamos felizes ou confortáveis com isso. Quando finalmente entramos no táxi a minha avó pergunta para Boris:
— E então, meu neto, onde vamos morar? Você disse que seu amigo iria arrumar um lugar para ficarmos. Não quero ficar em um hotel, pessoas promíscuas ficam em hotéis, nós não. — E Boris responde:
— Vovó, nós já estamos indo para nosso novo lar! Meu amigo disse que demos sorte pois a casa ao lado da dele estava para alugar e ele conseguiu segurar para nós. Lá tem apenas dois quartos, mas não vejo problemas já que a Irina pode dormir no mesmo quarto que eu.
— Não!!! — Falo quase engasgando e todos olham para mim, até o taxista. E eu tento fazer uma cara tranquila — Eu prefiro dormir com a nossa avó, ela não está bem e precisa da minha companhia. — Vejo o olhar que Boris lança para mim, mas eu ignoro. — Vó, vamos conseguir bons trabalhos e vamos poder cuidar melhor da senhora, eu prometo.
— Minha neta, não se preocupe tanto comigo. Só quero que vocês tenham a vida que almejam aqui e sejam felizes.
— Vovó, parte do motivo de virmos para esse lugar incrível é te dar uma vida melhor. Assim como também te levar a um bom médico para cuidar da sua saúde e é o que faremos, não é mesmo e Irina? — Ele olha para mim de um jeito que parece ser uma ordem a minha resposta.
— Sim, Boris! Iremos cuidar da nossa vó como ela cuidou de nós.
Ele olha para mim de um jeito que eu não gosto. Boris ultimamente está muito atrevido. Mas não vou permitir que ele abuse de mim como fazia em nosso antigo lar. Vida nova vai vir acompanhada de uma nova Irina Dobrow.
Quando chegamos em um bairro super agitado vejo os olhos de minha vó se encherem de lágrimas, são lágrimas de saudades. Eu também não gostei muito daqui, meu coração dói ao ver minha vó tão saudosa.
Mas Boris olha em volta com um enorme sorriso no rosto como se estivesse em seu lugar preferido. Ele não se importa nem um pouco com o fato de nossa vó estar triste, só se importa com a própria felicidade.
— Olhe... Olhe, vovó, como todos aqui são animados. Nós temos uma boa vizinhança. Estão acenando e sorrindo para nós, diga olá para eles, vovó.
— Deixe-a quieta, Boris. — Ele está tão empolgado que não me ouve e continua acenando para todos que vê pela frente até que o táxi para e eu vejo uma casa não muito grande à minha frente, mas parece confortável.
Saímos todos do táxi e Boris paga o taxista que sai dali muito rápido e eu penso: se aqui é um lugar tão bom assim, por que o taxista saiu daqui cantando pneu? Tenho que parar de pensar em coisas ruins. Só agora estou vendo que o amigo de Boris está aqui e eles estão conversando, escuto o tal amigo dele dizer:
— Boris, seu grande canalha, pensei que nunca viria e estava me enganando. Eu moro aqui ao lado. E a casa de vocês é essa. Como me pediu uma casa com dois quartos, achei essa perfeita.
— Meu neto, você disse para nós que só tinha essa casa com dois quartos. Por que ele está dizendo que você pediu uma casa com dois quartos? — Nossa avó pergunta e eu sei a resposta verdadeira, mas Boris mente.
— Vovó, meu amigo entendeu errado, mas não o julgue. Pelo menos temos uma casa.
— Vovó, não tem problema, eu posso dormir em seu quarto. Se eu não for incomodá-la.
— Minha neta, claro que pode dormir no meu quarto. Gosto de sua companhia. Agora vamos ver como essa casa é por dentro.
Assim que entramos na casa vejo que ela é realmente pequena. A sala é em conceito aberto com a cozinha, aqui em baixo tem apenas a sala, a cozinha e um banheiro pequeno.
No andar de cima dois quartos não muito grandes e um banheiro no corredor. Graças a minha vó ficamos com o quarto que tem a cama de casal, será mais confortável para dormirmos.
Eu vou evitar levantar de madrugada para ir nesse banheiro, ele fica entre os dois quartos. Não quero correr o perigo de encontrar meu primo durante a noite, principalmente quando ele bebe. Já que ele fica bem mais forte e impossível de controlar quando está bêbado, eu não quero trazer esse desgosto para nossa vó.
Quando descemos e vamos para a cozinha a minha vó vê que nos armários falta alimento, então ela olha para o meu primo e ordena:
— Meu neto, precisamos comer. Vá até alguma mercearia e compre o que você sabe que sei cozinhar.
— Vamos, Boris, vou levar você até o lugar onde compro as coisas lá para minha casa, é pertinho daqui andaremos apenas uns sete minutos. — O amigo dele fala.
— Sim... Vamos. Preciso conhecer o nosso novo bairro e você poderá me falar sobre o trabalho. — Boris concorda e puxa o homem na direção da porta.
Eles saem pela porta como se estivéssemos na nossa cidade na Rússia e eu fico aqui com a minha vó arrumando as nossas coisas que trouxemos de nosso antigo lar.
Os dias passam e eu estou correndo atrás de trabalho desde que cheguei aqui. A única coisa que eu consegui foi alguns bicos que não me renderam muito dinheiro e estou ficando cada vez mais preocupada.
Já que percebi que a saúde da minha querida avó piorou um pouco nos últimos dias, eu não sei se isso é devido a ela está sentindo falta de nosso antigo lar ou se é porque a saúde dela realmente debilitou.
Eu tento focar em arrumar um emprego decente, mas em alguns lugares as pessoas não gostaram muito de saber que eu não sou daqui, que sou apenas uma mulher russa. Não sabia que enfrentaria esse tipo de problema aqui.
IrinaPensei que esse lugar recebia pessoas de todos os lugares de braços abertos, mas me enganei. Eu fiz uma amizade no último lugar em que trabalhei, uma senhora muito gentil, ela pegou o número para contato lá de casa e disse que vai me avisar quando aparecer algum trabalho fixo para mim.O Boris está trabalhando com um amigo dele em construções civis. Fiquei impressionada como ele conseguiu um trabalho mais rápido do que eu e não está sofrendo o que estou sofrendo.Hoje vou até uma floricultura onde me disseram que estão precisando de atendente e a pessoa que arrumou para mim foi uma vizinha daqui, ela disse que com a minha beleza vou chamar bastante atenção no balcão.Espero que eles não me contratem apenas pela minha beleza. Eu quero ser tratada pela forma que trabalho e não por ter um rosto bonito. Quero ser valorizada pelo meu trabalho e não pela minha aparência.Finalmente consegui um emprego, não me paga muito bem, mas o suficiente para conseguir levar a minha vó ao hospital
IrinaEstou sofrendo demais com a nova situação que surgiu em minha vida. Descobrir que alguém que eu amo está com uma doença grave, que mesmo sendo maligno, se for tratado consegue prolongar a vida da pessoa que você ama, o que você faria para tentar salvar a vida dessa pessoa?Eu já tentei por quase todo o lugar aqui encontrar um trabalho decente, mas eu já percebi que para ganhar o que preciso para começar o tratamento da minha avó precisaria de pelo menos umas três de mim para conseguirmos juntar todo o dinheiro necessário.O meu primo é tão idiota, não consigo chegar a uma conversa decente com ele. Já que ele disse que não pode me ajudar financeiramente porque está sustentando os três filhos que o mesmo deixou na Rússia. E fora algumas contas da casa que é ele quem paga.Eu não sei o quanto ele ganha nesse novo emprego dele, mas gostaria que ele pudesse pelo menos me ajudar com o tratamento da nossa avó. A doutora me disse que para o início do tratamento eu preciso de pelo menos
IrinaEu não sei o que faço. É muito difícil escolher entre sua dignidade e a pessoa que mais ama, sendo que vou sempre escolher a minha avó.Boris realmente esperou os dois dias e quando eu estava lavando a louça do jantar chegou perto de mim como quem iria colocar um copo para lavar e sussurrou para mim:— Irina, se você já tem a resposta para me dar hoje é o dia perfeito para te levar até o lugar para falar com a dona. Estarei aqui na sala te esperando para levá-la lá. Esperarei apenas cinco minutos assim que a nossa avó estiver dormindo. Não se atrase.Ele sai com a maior tranquilidade, claro que não é ele que terá que se vender como se fosse um objeto. Eu tento ver televisão, mas nada prende a minha atenção, a minha cabeça está dando voltas.Eu sei que já tomei minha decisão, mas mesmo assim ainda dói o que vou fazer. Vou jogar a minha dignidade na lama, eu não terei mais o brilho de antes, não terei mais o meu orgulho. Serei apenas uma mulher suja que se vendeu.Eu fico ali tão
IrinaEla me puxa para um lado do lugar que me deixa curiosa, pois depois que seguimos por um corredor o lugar que parecia uma boate começa a parecer uma casa, depois que passamos por uma sala com alguns sofás entrarmos em um pequeno escritório e eu acabo não resistindo e perguntando a idade da mulher que parece ser jovem e Rosalinda responde:— Meu anjo, não é educado perguntar a idade de uma dama, mas vou dizer pois parece muito curiosa... Tenho cinquenta e seis anos. — Mentira! Eu pensei que tinha quarenta. — Falo ainda em choque ao ver que a mulher é muito linda e jovial. Até que ela começa a me contar um pouco sobre o nome do lugar e sua história:— Sabia que Flor-da-Noite é o apelido de uma flor que floresce somente durante a noite? Apesar de várias espécies receberem o nome de Dama-da-Noite que é seu nome original, algumas como cacto-orquídea recebe o nome científico de Epiphyllum oxypetalum. É uma planta da família dos cactos originária do México que floresce na primavera, qu
IrinaDepois de descobrir que o presente que eu ganhei é nada menos que um diário, eu me sentei na cama e fiquei ali olhando para minha avó que foi a minha confidente a vida inteira.Mas agora tem coisas que infelizmente vou ter que esconder dela e nada melhor que um belo diário para isso e esse que eu ganhei parece um livro grande. A capa tem um veludo vermelho macio lindo, as folhas do diário parecem folhas envelhecidas um pouco amareladas, mas é apenas o charme do diário.Eu coloco o diário embaixo das minhas roupas no armário, depois me deito ao lado da minha amada avó e tento dormir. Acabo dormindo olhando para o rosto dela. Assim que acordo pela manhã vejo que minha avó já se levantou.Eu já falei para ela não se levantar e preparar o café da manhã, já disse que eu mesma posso fazer isso, mas ela é um pouco teimosa. Tomo um banho rápido e troco de roupa, pois ainda tenho que ir para floricultura, mas assim que abro a porta do quarto para descer sou empurrada de volta para o mesm
IrinaEla olha para mim e pergunta quem eu sou e digo que sou apenas uma funcionária da floricultura, e ela não espera que eu pegue pelo menos o avental para cuidar das plantas e diz que eu estou demitida. E eu pergunto para ela:— Onde está a dona Oliver, dona da floricultura? — E ela responde que a pobre senhora está em um caixão sendo levada para sua terra natal para poder ser enterrada lá perto dos seus parentes.Pelo que eu entendi a filha dela que irá vender a floricultura pois também não é daqui. Ela paga apenas meus dias trabalhados e me dispensa.Eu volto para casa com um aperto no peito. O que eu vou dizer para minha avó? Eu vou dizer que hoje é só um dia de folga, amanhã eu saio para procurar trabalho novamente. Eu ainda tenho que esperar uma ligação ou uma mensagem da Rosalinda.Quando chego em casa vejo que minha vó está novamente na vizinha conversando, consigo ouvir sua gargalhada daqui da sala. Amo sua gargalhada alta, ela fez amizade com essa vizinha e essa vizinha a
IrinaAo ler essa mensagem sinto meu coração apertar e doer ao mesmo tempo, sinto um frio percorrer todo o meu corpo e uma vontade de chorar nesse momento me aperta a garganta. E por um segundo se passa em minha mente o desejo de querer partir junto com a minha vó.Só para não ficar nesse mundo sem ela, mas ao mesmo tempo eu quero que ela continue vivendo por pelo menos até os cem, cento e dez anos. Quanto mais ela viver mais feliz ficarei. Eu mando de volta para a Rosalinda em resposta:— "Assim que a minha avó dormir estarei aí." — Eu poderia ir agora, mas não quero que me vejam entrar nesse lugar.Para a minha angústia e desespero a noite cai, para o meu tormento minha avó decide dormir cedo, meia hora depois que ela cai em um sono profundo eu coloquei uma calça jeans preta, um tênis preto e um casaco de capuz também preto. O capuz é tão grande que quase cobre meu rosto todo. E quando eu saio do quarto encontro meu primo que fala:— Sei onde vai e irei com você. Eu consegui um carr
IrinaGostaria muito de entender o que está acontecendo em minha vida, mas no momento a única coisa que eu posso fazer por mim e por quem eu amo é estar aqui em um lugar que eu nunca imaginei pisar. Olho para Rosalinda quando entro e a cumprimento:— Boa noite, Rosalinda.— Boa noite, cariño. Vamos conversar lá dentro?Ela vai para o mesmo lugar onde conversamos a última vez, dessa vez quando passamos pela sala vejo algumas meninas e duas bem animadas já chegam próximas a mim se apresentando e falando algumas coisas elas se chamam Daphne e Sierra. Aparentemente gentis. Daphne é a primeira a se apresentar seguida de Sierra.— Olá, sou Daphne, e soube que você é russa e tem dezoito anos. Você é extremamente linda. Alguém já te disse isso?— Daphne, é claro que ela sabe que é linda! Olhe para ela, parece uma linda boneca russa. Oi, sou Sierra, muito prazer.— Eu fiz dezenove anos a pouco tempo... Não falem assim, não sou tão bonita quanto vocês. — As duas mulheres são lindas também, Daph