Capítulo 8

Irina

Eu não sei o que faço. É muito difícil escolher entre sua dignidade e a pessoa que mais ama, sendo que vou sempre escolher a minha avó.

Boris realmente esperou os dois dias e quando eu estava lavando a louça do jantar chegou perto de mim como quem iria colocar um copo para lavar e sussurrou para mim:

— Irina, se você já tem a resposta para me dar hoje é o dia perfeito para te levar até o lugar para falar com a dona. Estarei aqui na sala te esperando para levá-la lá. Esperarei apenas cinco minutos assim que a nossa avó estiver dormindo. Não se atrase.

Ele sai com a maior tranquilidade, claro que não é ele que terá que se vender como se fosse um objeto. Eu tento ver televisão, mas nada prende a minha atenção, a minha cabeça está dando voltas.

Eu sei que já tomei minha decisão, mas mesmo assim ainda dói o que vou fazer. Vou jogar a minha dignidade na lama, eu não terei mais o brilho de antes, não terei mais o meu orgulho. Serei apenas uma mulher suja que se vendeu.

Eu fico ali tão focada em meus pensamentos que mal percebi que a minha vó já foi para a cama. E subo para confirmar e ver se ela está realmente dormindo e quando eu vejo que ela está decido tomar um banho para acalmar meus nervos. E assim conseguir seguir até o lugar onde meu primo vai me vender como se eu fosse um objeto. Ele me tira dos meus devaneios ao dizer:

— Nossa, você demorou tanto que eu já estava desistindo de te esperar. Deu sorte que fui gentil e compreensivo o suficiente para entender que o que está fazendo é algo muito importante e difícil para você. Agora vamos, já perdi muito tempo aqui.

Eu olho para ele, mas não estou com vontade de responder. Apenas o sigo. Ao sairmos de casa vejo que o amigo dele está em um carro e pela animação dele esse lugar deve ser algo que os homens realmente amam.

Entro no carro e o tal amigo do Boris fala algo para mim, mas Boris diz para ele me deixar em paz. Quase uma hora depois nesse carro idiota com esses dois dizendo coisas horríveis que eles fazem com as mulheres com quem levam para a cama acho que chegamos no tal lugar que fica em uma rua praticamente escondida.

No letreiro está escrito: Flor-da-Noite, isso é um lugar onde mulheres da vida trabalham. Eu não sou uma mulher da vida.

— Boris, eu quero ir embora, não sou uma mulher da vida. — Boris me olha sem paciência e fala:

— Irina, não começa. Você só vai ficar aí tempo suficiente para conseguir o dinheiro para salvar a nossa vó. Não esqueça que é por ela que você está aqui.

Eu sinto gosto de sangue na boca nesse momento e só agora percebi que estou mordendo minha língua. Eu entro no lugar com ele que me leva até o meio do salão, por aqui tem de tudo. Música alta, muitos homens com mulheres seminuas em seus colos, muita bebida e dança.

Até que eu escuto o Boris falar com alguém e quando me viro vejo uma linda mulher alta e morena, com cabelos longos da cor da noite e um sorriso encantador, ela aparenta ter entre quarenta e quarenta e cinco anos. Seus olhos sorriem junto com seus lábios e eu fico apenas olhando para eles até que ela vem até onde estou e Boris nos apresenta:

— Irina, essa é a Rosalinda Sánchez, dona do Flor-da-Noite. Rosalinda, essa é a Irina Dobrow, minha prima. Como eu disse para você, ela é uma beleza rara. Vai lucrar muito com sua virgindade.

Ouvir Boris falar assim de mim me dá nojo de mim e dele... Até que a mulher que se chama Rosalinda fala:

— Irina... Gostei muito de você e do seu nome, vocês parecem feitos um para o outro. Venha comigo, meu anjo. Só as garotas vão conversar agora.

Meu coração gela, meu corpo se arrepia e minha mente me chama de vadia suja.

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