A Resistência
A Resistência
Por: S.M Navarro
Prólogo

Copyright © 2021 by Simone Navarro

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A violação dos direitos autorais é crime estabelecido ne lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código penal.

Capa: E.S Designer

Revisão: Tarciane Franco – O ponto e a Virgula.

Revisão: Paula

Está é uma obra completamente fictícia. Nomes, personagem, lugares e acontecimentos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Prólogo

Cassandra

Os sons da noite insinuam-se dentro da minha cabeça. Os estalar dos galhos se quebrando sob meus passos apressados, as batidas ensurdecedoras do meu coração, que liberam adrenalina para as veias, me impulsionando a correr mais e mais rápido em meio ao lamaçal.

Minha visão é nublada pelas lágrimas que se misturam à água da chuva e fazem meus cabelos se grudarem ao meu rosto, tornando ainda mais difícil enxergar em meio à escuridão. Um relâmpago clareia o céu, transformando as árvores em formas fantasmagóricas, como se estivessem prestes a me envolver em seus galhos e me engolir até ser esquecida na imensidão da floresta. Um grito rasga a noite em meio ao som retumbante do trovão.

Minhas pernas fraquejam e caio de joelhos cobrindo os ouvidos com as mãos, para abafar os gritos, enquanto as gotas de chuva continuam ensopando meu corpo.

— Por que estão fazendo isso? — berro, enquanto impulsiono-me para frente e para trás, desejando que acabe.

Quero acordar desse pesadelo antes que eles cheguem; os homens com a máscara da morte que pegaram o Tyler.

Oh, Deus! Estremeço quando mais um de seus gritos rompem o silêncio da noite.

— Parem, por favor. Parem! — suplico em meio aos soluços que trespassam meu corpo sacudindo-o violentamente. 

Mais um clarão cintila no céu noturno e vejo formas se movendo furtivamente, cercando-me.

— Deixem-nos em paz — lamurio. 

Guincho, quando sou brutalmente erguida pelos cabelos, a dor se alastrando pelo meu couro cabeludo, fazendo mais lágrimas jorrarem dos meus olhos. Sou arrastada de volta à clareira.

— Deixem-na em paz! — ele bradou enfurecido, desferindo um chute no estômago de um dos homens que o golpeia na cabeça com a arma, fazendo-o cair de joelhos.

— Tyler! — grito, procurando desesperadamente me soltar, mas é impossível. 

Estou cativa, meus braços fortemente bloqueados por um dos homens. 

— Por favor, não o machuque! — imploro entre soluços.

Sou empurrada com força para frente, caindo no chão, e suas botas atingem minhas costelas, fazendo-me urrar de dor. Então grunhidos animalescos e raivosos me fazem erguer os olhos para Tyler, que desfere socos e chutes como um animal enfurecido.

A dor se alastra novamente pelo couro cabeludo, quando o homem puxa meus cabelos brutalmente, forçando-me a ficar de joelhos, e pressiona forte o cano do rifle em minha nuca. 

— Pare de lutar, agora! Ou vou atirar na cabeça dela — expôs meu agressor.

Lágrimas vazam pelos meus olhos e medo como nunca senti se espalha pelo meu corpo, fazendo as batidas do meu coração soarem nos ouvidos, e perco completamente o controle da bexiga.

Como se um botão tivesse sido acionado, Tyler para de lutar. 

— Por favor, façam o que quiserem comigo, mas deixem que ela vá. — O desespero em seu rosto e o som lamurioso de sua voz fazem os homens sorrirem em deboche. 

— Preza pela vida dela mais do que pela tua? Trocaria tua vida pela dela, garoto?

A voz é fria e desprovida de emoção. Tyler me fita com seus olhos azuis tempestuosos e é quase como se pudesse me tocar, mesmo a essa distância.

— Sim, eu morreria por ela — diz, me contemplando intensamente, e sei que realmente quer dizer isso.

— Então faça! — O homem oferece uma arma a Tyler. — Mate-se ou meu amigo mata ela — ameaça. 

— Não! — grito, quando seus dedos se fecham ao redor da arma.

— Sinto muito, Cas, mas não posso perder você. — A forma com que seus olhos se detêm nos meus me faz compreender sua intenção e balanço a cabeça em negação.

Não posso permitir.                           

— Por favor, não! — imploro.

— Eu te amo, preciosa. — O estampido do tiro ressoa pela noite, o homem que me prendia caindo com um baque. — Foge! — Tyler grita, o som tormentoso em sua voz me faz levantar e correr tropeçando em meio à densa mata.

Quando fugimos da colônia, fizemos um pacto de que, se algum de nós tivesse chance, fugiria e deixaria o outro. Tenho certeza de que Ty nunca pensou em cumprir sua parte no acordo, mas o fez para garantir que eu cumprisse a minha. Por que precisa ser assim? Por que preciso deixá-lo a mercê desses homens cruéis?

"Vou voltar por você, Tyler”, prometo em pensamento, enquanto me embrenho na floresta. Só me permito parar quando não ouço mais os sons das botas de meus perseguidores. Em meio à escuridão, escalo uma árvore, arranhando minhas mãos e pernas no processo, até chegar ao galho mais alto, na copa do qual me escondo, encolhendo o corpo da melhor maneira que consigo, tiritando de frio, a chuva me molhando sem dar trégua, somada às lágrimas que escorrem pelo meu rosto.

Fecho os olhos e penso nele. Lembro-me do momento exato em que o menino franzino foi trazido pelos guardas para o abrigo em que cresci. Eu tinha apenas dez anos e ele onze. Seus cabelos estavam desgrenhados e sujos, as roupas esfarrapadas e enlameadas, assim como o restante dele. Mal consegui distinguir suas feições, no meio de tanta sujeira. No momento em que ergueu levemente a cabeça e visualizei o azul de seus olhos, lembrei do céu obscurecido pelas nuvens em um dia de tormenta. Não consegui dormir, naquela noite, pensando no menino de olhos tão expressivos, diferentes de tudo que já tinha visto.

Um raio cruza o céu noturno, fazendo-me estremecer e me encolher ainda mais, quando o trovão estrondoso ressoa. Sei que ficar escondida no meio dessa tempestade não é seguro, mas não consigo me obrigar a descer e enfrentar a escuridão da floresta.

Recosto minha cabeça no tronco da árvore, mantenho meus olhos fortemente fechados e lembro de ontem à tarde, antes de sermos encontrados. A recordação tão nítida que quase posso sentir o calor de seu corpo sobre o meu, quando deitou sobre mim à beira do riacho.

Finalmente chegamos ao rio. Minha respiração está ofegante, as pernas doendo e preciso urgentemente de um banho. Tyler, por outro lado, parece muito bem. Pousa nossas coisas no chão com delicadeza, enquanto eu me jogo na grama sem cerimônia, deitando-me na relva levemente úmida pela garoa que caiu há pouco, o que é um alívio para o calor de mais de trinta graus. 

— Você está bem? — indaga, preocupado, se ajoelhando ao meu lado e bloqueando a claridade do sol.

— Isso não é justo! Não está nem suando — reclamo.

Ele sorri atrevido ao se colocar entre minhas pernas e pressionar seu corpo contra o meu.

— Podemos resolver isso! — responde.

Então se aproxima num beijo urgente, a língua invadindo minha boca, que se abre prontamente para recebê-la, e eu o envolvo em um abraço, o atraindo para mim. Com as mãos deslizando por baixo da regata e os dedos roçando levemente a borda do sutiã, toca minha pele já quente, atiçando ainda mais o fogo que a aquece.

Tyler consegue incendiar meu corpo com apenas um toque. Sei que sente, assim como eu, o mesmo desejo crescente, quando nossos lábios se encontram num furacão que nos envolve, e é quase impossível afastar nossos corpos, sem antes apagar essa chama que nos consome.

Ansioso, ele remove a blusa e o sutiã que limitavam seu acesso à minha pele, os descartando com rapidez, e meus seios saltam livres, o que o leva a afastar-se um pouco e me observar com olhos alucinados de desejo.

— Linda! — sussurra.

Sinto seu hálito soprar em meu mamilo, antes de tomá-lo com a boca. Arqueio o quadril em sua direção, fazendo-o gemer e empurrar contra mim.

O desejo se transforma em uma necessidade sombria, que lateja entre minhas pernas com urgência. Movido pela mesma fome, ocupa-se rapidamente de nos livrar das peças de roupas em nosso caminho.

— Deus, Cas... como eu te amo! — sussurrou com a voz rouca, os lábios úmidos e cheios de promessas.

Deslizo os dedos pelos músculos dos braços fortes que me envolvem, explorando a massa robusta de seu corpo e um gemido lhe escapa. Quando sonda minha entrada, cravo as unhas em suas costas.

— Você é minha luz, minha alma, minha outra metade. Você é meu lar, Cassandra. Em qualquer lugar serei feliz, desde que esteja ao meu lado. Eu te amo e não importa aonde tudo isso nos levará ou o que nos espera, daqui para frente. Somos perfeitos juntos e, mesmo fugindo, correndo por nossas vidas, estar aqui com você, agora, faz tudo valer a pena.

Não consigo formular uma única palavra, enquanto o observo encantada.

— Te amo — repete, os olhos azuis brilhando alucinados, tomados de emoção, enquanto ele se empurra deliciosamente para dentro de mim.

Seguro seu rosto, encontrando novamente minha voz.

— Que esse céu da cor de seus olhos e o sol sobre as nossas cabeças sejam testemunhas do que vou dizer agora: ao seu lado é onde sempre vou querer estar.

Ty se movimenta lentamente, no início, mas logo desliza as mãos em concha pelo meu traseiro, ergue meu quadril e toma impulso, aumentando o ritmo... firme... forte... duro.

O suor umedece nossos corpos, os gemidos se misturando a cada estocada, elevando-nos ao limite máximo do prazer. 

Aconchega-se em meus braços, tomando o cuidado de não me esmagar com seu peso, o suor se misturando ao meu e os braços protetores ao redor do meu corpo. Erguendo-se sobre o cotovelo, retira uma mecha de cabelo do meu rosto. Por alguns segundos, ficamos apenas nos olhando e tudo que consigo ouvir é o farfalhar das árvores e a batida do seu coração. 

Com essa lembrança, me sinto revigorada. Desço da árvore e volto para a escuridão da floresta. Prometi fugir, se tivesse a chance, e vou cumprir minha promessa, mesmo com o peito apertado e o coração quebrado. Nunca vou desistir de salvá-lo.

Fecho as mãos em punho, sentindo a raiva queimar dentro de mim.

Vou voltar por ele e, então, destruir a colônia.

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