Daniel— Não pode dizer que abandonei o meu neto! — Paulo range enfurecido, ficando de pé.— Senhor Matias, o senhor não tem permissão para falar nesse tribunal a não ser que seja solicitado! — O juiz o repreende em alto e bom tom. O seu advogado tenta o acalmá-lo fazendo-o sentar-se não seu lugar. Enfim, não vai ser tão ruim assim enfrentar esse desgraçado diante de um tribunal. Penso irônico. Um sorriso vitorioso e quase imperceptível brinca no canto dos meus lábios e daqui assisto por várias vezes Paulo ficar pianinho e voltar a sentar-se no seu lugar como um garoto birrento indo para o seu castigo.— Continuando, excelência. — Amanda limpa a garganta e com voz calma continua. — Eu tenho aqui alguns documentos que comprovam que o senhor Ávila tem sido sim, um pai presente, amoroso, atencioso e que nada, exatamente nada falta ao seu filho... — Ela fala e fala, e fala. Os documentos apresentados são de compras e passeios que Cris fez pelo mundo na companhia dos meus pais, frequência
Isabelly.Chego ao escritório perto das três da tarde e assim que me aproximo da minha sala, aceno com a cabeça para minha nova secretária, a Joyce que parece meio perdida com alguns papéis sobre a sua mesa. Ah, como eu sinto falta da Laura! faço uma nota mental para saber como anda a sua recuperação e vou direto para o meu escritório. Depois do almoço com a minha mãe e de convencê-la a aceitar o caso de Daniel em conjunto com Amanda fomos para o fórum. Hoje é a primeira audiência de custódia. Ficamos aguardando do lado de fora da sala, em um corredor onde havia poucas pessoas. Foi uma agonia ter que aguardar que tudo terminasse desse lado do cenário, ouvindo os gritos de vozes alteradas lá dentro. Eu só conseguia pensar em como Daniel estava. Fiquei mais tranquila ao vê-lo sair da sala na companhia da minha prima e melhor amiga. O seu rosto transparecia que ele estava bem e isso era tudo o que me importava nesse momento. Dani parecia mais descontraído, confiante e seguro. Minutos dep
IsabellyApós um breve desabafo com Michelle, resolvo sair da empresa e dirijo até a praia. Fico ali sentada em um banco de concreto do calçadão apenas observando o mar tranquilo e o vai, e vem das ondas. Recebo o frescor da brisa no meu rosto e os pensamentos se perdem nas palavras duras e desprovidas de emoção que aquela mulher me jogou na cara. Eu sempre soube que não era desejada. Uma garota jovem demais, engravida de um garoto qualquer em uma festa qualquer. Eu entendo que ela perdeu todas as oportunidades que tinha. Uma gravidez indesejada é o sinônimo de uma vida infeliz, de fracassos e de desilusões. Mas no fundo eu pensei que haveria um resquício de arrependimento e que ela quisesse ao menos me conhecer e quem sabe me pedir desculpas por não poder ficar comigo. Mas a realidade é que ela nunca me quis realmente. O que antes para mim eram apenas suposições de uma menina que não se sentia amada pela própria mãe, hoje se tornou real e isso dói, dói muito.— Vá visitá-la.— Ela é
Isabelly.Alguns dias depois...Em algumas vezes na vida é preciso tomarmos decisões difíceis como escolher uma boa faculdade, dizer sim ao primeiro crush, a primeira transa, e doar órgão para uma irmã que você mal conhece, sequer a viu algum dia. Você simplesmente não sabe nada, exatamente nada sobre a garota. Aí você mergulha em um dilema fila da puta. Doar ou não doar? Depois daquela visita maluca no hospital, eu não consegui mais dormir direito. Cheguei a sonhar com a garota morrendo e com seu olhar desfocado e sem brilho que me dizia o tempo todo que eu era a culpada. Conversei com Daniel sobre a visita de Sandra no meu escritório e sobre a minha visita sem sentido ao hospital também. Há, e sobre os malditos pesadelos. Contei-lhe sobre como me senti ao vê-la naquela cama de hospital, lendo um livro de romance adolescente que por incrível que pareça foi o primeiro livro que li quando eu tinha a sua idade. É, parece que temos algo em comum. Coincidência ou astúcia do destino? Eu nã
Isabelly— Você está grávida? — Sorrio da sua empolgação.— Sim.— Já sabe se é menino ou menina? — Meneio a cabeça em concordância.— É uma menina.— Aaaaah, que fofo! — A garota geme manhosa igual uma gatinha e eu a acho fofa. Emily é a pessoa mais linda que eu já conheci e isso me faz sentir uma merda. Como eu pude odiá-la? Ela não tem culpa de nada do que aquela mulher fez.— Às vezes eu sonho que vou ficar boa logo, sabe? Sonho que vou ter a minha vida de volta, em poder comandar tudo como antes, que vou para a faculdade algum dia e me formar em neurologia.— Uau!— E não é só isso. — Suspira. — Penso que vou fazer tudo isso com o Richard do meu lado, que vamos nos casar um dia e que vamos ter filhos. Dois... eu acho. — Então os seus olhos ficam tristes. Sim, ela é muito transparente quanto aos seus sentimentos. Demostra tudo o que sente sem receio e sem barreiras, e isso é tão bom quanto é ruim para ela.— São muitos... sonhos. Diria que bons planos para o futuro — digo.— Não s
Isabelly — Antes de dizer qualquer coisa, quero que você saiba que a decisão tomada é algo bem corriqueiro, é normal...— Mônica, me desculpa, eu não quero ser mal-educado com você, mas a minha paciência está no limite. Então que tal ser direta comigo? — Engulo em seco olhando de um para o outro na mesa. Minha mãe assente e fala com Daniel no seu melhor modo profissional.— Tudo bem, você está certo.— O juiz ouviu atentamente os avós, Daniel. — Amanda começa. — E...— Paulo conseguiu o direito de passar os finais de semana com o neto.— O QUÊ?! — Daniel ruge, fechando as mãos em punho. A voz rouca e baixa traz um tom ameaçador e irritado, e eu penso que ele não vai permitir que isso aconteça. — Como vocês deixar isso acontecer?— Como eu disse, isso é normal.__ Uma porra que é normal! — Ele brada. — Paulo não conhece o menino, não gosta dele e não sei por que está fazendo isso, mas eu sei que no fundo o que aquele desgraçado quer é me atingir!— Calma, Daniel! — Amanda tenta acalmá
Isabelly— O que foi? — pergunto como quem não quer nada.— O que está fazendo? — Dou de ombros e mordo a fruta, mastigando bem devagar encarando os seus olhos claros.— Uma macarronada. — Finalmente digo lhe dando as costas e vou para o fogão mexer o molho. Logo sinto suas mãos envolver a minha cintura e o toque quente, e possessivo me faz prender a respiração. — Huum! — Solto um gemido de apreciação quando a sua boca encosta na minha nuca.— Isso está cheirando bem — sibila e morde o lóbulo da minha orelha, e o ato em si me causa arrepios em todo o corpo. — É excitantemente te ver na cozinha fazendo a minha comida — sussurra mais abaixo da orelha.— Bom saber! — digo quase com um miando pra ele. — Vou cozinhar mais pra você. — Ele sorri contra a minha pele. O seu hálito quente a queima e faz um estrago dentro de mim. — O molho vai queimar — aviso sentindo a minha voz se arrastar pela minha garganta.— Que se dane o molho, eu quero você! — rosna, erguendo o meu corpo junto ao seu e m
Daniel.— Ela não é a mãe dele!— Se você não a deixar, eu tomo o menino de você!Há dias essas palavras martelam na minha cabeça e desde então não como e nem durmo direito.— O juiz determinou que o Cris passasse o final de semana com os avós.Porra, estou encurralado! Como eu faço para me livrar disso agora? Não posso deixá-la ir para ter o meu filho e não posso perdê-lo por conta dela. Minha cabeça parece que vai explodir. Olho através da janela do meu escritório o meu filho entrar no carro de Paulo. Meu Deus, ele parece assustado! Sei que está com medo e eu não posso fazer nada quanto a isso. Estou de mãos atadas e ainda tem essa maldita viagem que Isa inventou de última hora. Não quero sair daqui sair de casa e fingir que nada está acontecendo, porque eu sei que está e não vou conseguir pensar em outra coisa que não seja essa maldita situação que o meu ex-sogro me impôs. As batidas leves na porta me sobressaltam, mas não tiro os olhos da janela e assisto o carro sair da proprieda