Nicole
— Amiga, por favor, levanta, está apertando a minha bexiga... — Ouvi uma voz distante, até pensei que estava sonhando, mas senti uma mão no meu rosto, dando leves t***s e acordei assustada.
— Onde estou... — Levantei, sentei-me e olhei para Cássia. — Caramba! Por que estou no meio das suas pernas? Fecha isso, menina. — Dei um pulo ao perceber que estava com a cabeça no meio das pernas de Cássia, ai caramba, acho que voltamos aos meus dias de recém-nascida, mas sem fraldas, que situação!
Acordei deitada sobre a minha amiga. O meu corpo estava em péssimas condições. Se eu não lembrasse da festa da noite que se passou, poderia jurar que fui atropelada. E com certeza acreditaria nisso. A sensação era como se tivesse sido lançada em meio a um caos físico e mental, sem recordar como cheguei lá.
Não vou negar, dessa vez a festinha saiu completamente do controle. Foi tão descontrolada que me vi obrigada a buscar refúgio na casa da Cássia, ciente de que o Sr. insuportável Foster chegaria hoje de manhã. Mesmo bêbada, mantinha alguma consciência, o suficiente para querer sair daquela casa antes da chegada do Senhor "caótico".
Parece que para ele, o mundo é feito de regras, mais regras e, olha só, mesmo que ele não as siga direitinho, eu é que tenho que ser a guardiã da perfeição? Que chatice! Eu já estou pensando em lançar o meu próprio manual: "Como seguir regras sem parecer um pinguim em um desfile de moda!"
Me chamo Nicole Meireles. Perdi a minha avó recentemente, e ela era a única família que eu realmente queria por perto. A chocadeira da minha mãe decidiu seguir a sua vida ao lado de outro homem, deixando-me com apenas alguns meses de vida. Eu até tinha meu pai, porém ele faleceu, deixando-me eu e a minha avó sozinhas neste mundo. Não fui a típica menina obediente, tampouco a mais decente. A rebeldia sempre correu em minhas veias, desafiando as convenções e expectativas impostas sobre mim.
Entretanto, minha vida sempre foi tranquila. Eu cuidava das minhas coisas e tinha a minha avó como uma âncora, meu porto seguro, adorava passar a tarde conversando com ela enquanto fazíamos bolos, eu era uma mestre em causar pequenas confusões só para ver o seu sorriso, e a sua voz me chamando de "menina arteira" era música para os meus ouvidos, mesmo quando deixava a cozinha parecendo um campo de batalha de farinha! Perder ela foi uma tristeza imensa, a dor parecia ocupar todos os espaços dos meus dias, até o momento em que descobri o conteúdo do seu testamento, aí entrou a rebeldia, pois a minha avó sabia o quanto eu detestava aquele homem e até hoje não sei qual foi a sua intenção. No entanto, sou grata a Deus por ter a oportunidade de estar ao seu lado, me despedindo e guardando as memórias preciosas que compartilhamos. A sua partida mudou drasticamente a minha vida. Mesmo sendo maior de idade, fui forçada a morar na casa de um cara que, anos atrás, ganhou o meu repúdio. Ele era a última pessoa que eu imaginava como o meu tutor, mas de alguma maneira, a minha avó decidiu que Lucas Foster seria meu tutor por meio do seu testamento. Isso deu a esse arrogante direitos sobre todos os meus bens, aqueles deixados pelo meu pai e pela minha avó, enquanto eu, que deveria ter direitos, fiquei apenas com um cartão de crédito com um limite determinado por ele. É completamente desnecessário. Nem a minha avó colocava limites no meu cartão, e agora ele tenta ser o tiozão regrado para me controlar, ele nem mesmo controla a casa dele.
Minha avó sabia que sou responsável com os meus gastos. Não pense que sou tola ao gastar dinheiro sem sentido, mas de vez em quando, quando o estresse b**e, faço algumas extravagâncias. De vez em quando, também mereço ser feliz, não é mesmo?
A porta do quarto se abriu e eu vi o meu anjo da guarda entrar por ela, Carlos.
— Oi, gatinha! — Ele me cumprimentou. — Finalmente resolveram acordar? — O irmão da Cássia adentrou o quarto e depositou um beijo carinhoso em minha testa.
Ele abriu a janela mostrando-nos que o sol brilhava forte lá fora, essa janela que também dava acesso à rua foi por ela que entramos para a mãe da Cássia não nos flagrar. Eles residem em um local menos privilegiado.
— Que lindo em, com esses olhos vermelhos e os cabelos bagunçados. Bebeu demais não é… já falei que vou bater na sua bunda sempre que beber demais.
Sorrio, mas engoli o meu sorriso quando vi Carlos se aproximando. Ele me pegou como se eu fosse um saco de batatas e, como se estivesse a jogar tênis, deu três t***s na minha traseira.
— Ei, solta, deixa as suas maluquices… não se aproveite. — sorri ao levantar-me e dei um beijo no seu rosto. Eles são minha segunda família, gosto muito deles. Com o Carlos, digamos que tínhamos uma amizade colorida, mas agora ele está todo enrolado com uma menina que mora no bairro dele (com uma semana juntos, ela já me odeia). Mas nem ligo, para mim, ela não cheira nem fede, é como se fosse um personagem de fundo em um filme sobre as nossas vidas. Ele sempre me tratou assim, como amiga, sempre foi carinhoso, e a Cássia sempre quis que ficássemos juntos, mas nunca levamos nada a sério. Ele é um amigo de verdade, daqueles que, se precisar, te deixa de mal dele, mas te puxa as orelhas e fala a verdade.
Como os conheço? Sempre frequentei escolas públicas, algo que a minha avó sempre apoiou. Foi por meio dessa educação que conheci a Cássia e o seu irmão. As nossas histórias se cruzaram nos corredores e nas salas de aula dessas instituições, forjando uma amizade que ultrapassou os limites do ambiente escolar. Antes, eu morava mais distante deles, em outro lugar. No entanto, após o falecimento da minha avó, acabei indo morar com o tal senhor arrogante que se acha a última bolacha do pacote no bairro do Morumbi, em São Paulo, enquanto eles permanecem na comunidade de Paraisópolis. As nossas realidades são bem distintas, mas a amizade que compartilhamos supera as diferenças de cenários e condições.
ContinuaçãoCarlos saiu do quarto e eu, que estava com um vestido curtinho, pedi para que Cássia me emprestasse uma roupa para que eu tomasse um banho e voltasse para casa antes que o homem das regras viesse atrás de mim.Tomei um banho e me vesti com roupas dela, sentando-me para me alimentar. Dona Sônia é um amor, fez um café da manhã maravilhoso, já alertada por Carlos de que eu estava aqui.Assim que Dona Sônia me avistou, abriu os braços e me deu um abraço apertado e aconchegante.— Menina, já te falei, venha aqui quando quiser, mas não precisa entrar pela janela. Ouviu, Cássia. — Dona Sônia nos repreendeu e dei um sorriso contido para Cássia.— A senhora iria brigar se nós te acordasse, mãe, te conheço bem. — disse Cássia.— Eu sei, a bronca ia vir com força total, mas vocês se controlem, e Nicole, você é muito nova pra viver assim e beber desenfreada, pode para com isso. Você acha esse homem tão arrogante, porém ele está sabendo te colocar limites. — Fiquei pasma ao ouvir a tia
No carro, segui com os seguranças mal-humorados na frente e o Brian, que sempre tira onda comigo, sentado ao meu lado. Ele desligou a ligação que com certeza era com o Sr. Foster e soltou essa pérola:— Quando vou ver sua amiga novamente? — Brian brincou comigo. Entre os seguranças ele é o mais tranquilo, e em pouco tempo de convívio nos tornamos amigos, acredito que ele tenha compaixão por mim, é claro, é difícil aturar Lucas Foster.— Acredite em breve vocês trocam mais alguns beijos, Brian. Mas você pode procurar por ela já que sabe onde ela mora. — Comentei com ele. Ele e Cássia ficam quando querem, por mais que nenhum dos dois queira levar um romance a sério.— Procurarei ela, sim, principalmente agora que você irá sumir por uns tempos. — Olhei para ele com as sobrancelhas erguidas. — Brincadeira, rsrs, mas e o seu juízo onde enfiou? Está na hora de criar juízo.— Amanhã, depois do furacão que atingirá o Brasil, eu criarei juízo.— Pode ser depois da chuva? É mais provável rsrs.
Passamos por ruas cheias de movimento, pessoas da minha idade se divertindo. Tem horas que me pego pensando como seria a minha vida se algo tivesse mudado, se meu pai ainda estivesse aqui. Será que seria muito diferente? Será que eu seria uma jovem mais ajuizada?Talvez eu tivesse inventado uma desculpa melhor para escapar das situações loucas em que me meto! Como minha avó dizia, tenho o sangue ruim do meu pai, de gostar de ir contra a quem me impõe regras, odeio segui-las.O carro se aproximou da casa que tem sido minha morada, o portão se abriu e avistei o carro da Lara estacionado.— O casal sem sal já deve estar falando de mim, não é à toa que minha orelha está pegando fogo. — comentei com Brian.— Rsrs, saiba que estarei aqui para desabafar quando quiser, está bem. — Brian disse. Assenti e desci do carro antes que ele fosse o cavalheiro de sempre e abrisse a porta para que eu saísse.Ao adentrar na casa, pude ver o olhar da dona Lourdes para mim. Ela tinha os olhos marejados e v
LucasNicole me tira do eixo… Detesto desentendimentos, por isso sempre vivi na minha própria bolha, tendo contato apenas com quem realmente desejo. Não mantenho contato com as minhas tias, primos ou qualquer outra pessoa, exceto o meu primo Humberto, não mantenho pessoas por perto nem mesmo pelo vínculo sanguíneo. Ele não é apenas família, mas também sinônimo de lealdade. Nicole acha que pode fazer o que quiser, mas não é assim, especialmente sob o meu teto e a minha tutela. Não entendo como essa pessoa sem juízo ainda não me enlouqueceu; a sua falta de juízo está afetando a minha sanidade. Ela é a primeira pessoa na minha vida com quem me sinto obrigado a conviver. Poderia, sim, abrir mão de sua tutela e deixá-la a Deus-dará, mas não tenho coragem pra isso. Sabe por que não desisti dela? Porque ela tem uma mãe muito interesseira, que nem mesmo o pai dela a quis presente em sua vida - pelo menos foi o que descobri por meio de uma carta deixada com a minha mãe. A dona Carmem entregou
Cumprimentei o meu primo com um abraço e nos acomodamos, então pude responder à sua provocação.— Não brinque com isso, você sabe que sou um homem livre e não troco a minha liberdade por nada neste mundo. — Tirei o celular do bolso e o coloquei sobre a mesa, bem no centro da sala.— Pensei que a lua de mel teria mudado um pouco os seus conceitos, cara. — Humberto brincou, sorrindo.— Lua de mel? Coitada da Lara, merece um marido que lhe dê uma lua de mel onde o cara não arranje outras escapadas.— Sério que fez isso? Saiu com outras mulheres na sua viagem de reconciliação? — ele fingia estar surpreso. Humberto, melhor que qualquer um, sabe que eu e Lara não temos nada. Eu jamais olharia para ela com malícia ou luxúria, por mais que ela seja uma bela mulher. Eu a admiro, sempre foi uma boa amiga e sei dos sentimentos dele por ela.— Cara, você sabe que foi tudo fachada. Apenas continuei com a nossa rotina, nada mudou, até nessas horas mantive o nosso padrão de sempre.— Mas você e a La
NicoleO caminho para a casa da Lara foi meio entediante, sabe quando a pessoa tenta puxar papo de todas as maneiras, mas você simplesmente não está no clima? Foi exatamente assim. Não tenho nada contra a Lara, aliás, acho que ela não merece um cara que passa o tempo todo conversando com outras mulheres, como seu suposto amado faz. Tive a prova disso através do meu perfil fake e devo dizer, ela é uma das razões pelas quais ainda não coloquei em prática meus planos, já que o namorado dela está super insistente em marcar um encontro comigo.Pena que ele não tem a mínima ideia de que sou eu por trás daquele perfil, e se depender de mim, vai continuar sem saber. Tenho tudo planejado. Que ele pense que dita as regras, como faz com aquelas mulheres que nem sequer leva para o quarto de casa. Quem já ouviu falar de uma mulher se arriscando a transar com um homem no escritório de casa quando há vários quartos disponíveis? Talvez seja algum fetiche estranho, ou ele reserva sua cama exclusivamen
LaraObservei Nicole entrar no quarto e fechar a porta, deixando-me com um peso no peito. Respirei fundo, consciente de que lidar com ela seria crucial para ajudar Lucas. Afastar Nicole dele neste momento se torna uma necessidade premente; do contrário, temo que ele mergulhe em um estado de desequilíbrio emocional. A relação entre os dois é permeada pelo ódio mútuo, e testemunhar Lucas assim, tomado pela raiva e sem paciência, é doloroso. É uma ocorrência rara, mas quando acontece, mal consigo suportar vê-lo tão perturbado. Surpreendentemente, mesmo os problemas prementes na empresa não conseguem provocar nele um estado tão caótico quanto o causado por Nicole. É intrigante como ela é a única pessoa capaz de verdadeiramente tirá-lo de seu estado passivo. É por isso que desejo cultivar uma amizade com ela: para compreender como estabelecer limites e para estar ciente de todas as suas ações contra Lucas. Não permitirei que ela o prejudique de forma alguma. Meu objetivo é garantir que ele
No dia seguinteNicole— Ai, que preguiça, bora acordar, Nick... o sol já nasceu.Acordei cedo com a intenção de ir até a faculdade. Tranquei os meus estudos após a doença da minha avó, e sinto a necessidade de retomar a minha rotina. Não posso passar o dia todo em casa. Estou planejando iniciar um estágio para colocar em prática os meus estudos. O meu sonho sempre foi cursar veterinária, embora a minha avó tenha me incentivado bastante a seguir odontologia ou pediatria, ela tinha o sonho de me ver cuidando de pessoas. No entanto, acabei optando por gestão de empresas para compreender melhor como administrar a herança do meu pai. Até então, ela era gerida por uma empresa particular que sempre cuidou disso para a minha avó, que não sabia de nada sobre o assunto. No entanto, não desejo dedicar o meu tempo somente aos negócios do meu pai; também quero direcionar a minha energia para os animais, minha grande paixão. Quando tiver a minha própria casa, pretendo ter os meus próprios animais d