No carro, segui com os seguranças mal-humorados na frente e o Brian, que sempre tira onda comigo, sentado ao meu lado. Ele desligou a ligação que com certeza era com o Sr. Foster e soltou essa pérola:
— Quando vou ver sua amiga novamente? — Brian brincou comigo. Entre os seguranças ele é o mais tranquilo, e em pouco tempo de convívio nos tornamos amigos, acredito que ele tenha compaixão por mim, é claro, é difícil aturar Lucas Foster.
— Acredite em breve vocês trocam mais alguns beijos, Brian. Mas você pode procurar por ela já que sabe onde ela mora. — Comentei com ele. Ele e Cássia ficam quando querem, por mais que nenhum dos dois queira levar um romance a sério.
— Procurarei ela, sim, principalmente agora que você irá sumir por uns tempos. — Olhei para ele com as sobrancelhas erguidas. — Brincadeira, rsrs, mas e o seu juízo onde enfiou? Está na hora de criar juízo.
— Amanhã, depois do furacão que atingirá o Brasil, eu criarei juízo.
— Pode ser depois da chuva? É mais provável rsrs. Mas agora falando sério, ontem você saiu completamente dos trilhos, o senhor Foster está super nervoso com você, e acredito que agora você vire freira de vez. — Ele disse, me fazendo lembrar das ameaças do Senhor regrado, como se alguém que faz sexo no escritório de casa quisesse me colocar regras? Ha, ha, Hilário!
Como se ele fosse o CEO das regras absurdas, né? Querendo impor ordem quando nem o cacto no escritório dele segue as instruções direito!
— Ele que ouse me enviar a um internato, ai eu viro o cão de vez. — bufei e abaixei a cabeça no vidro, olhando a paisagem lá fora, por instantes me lembrei de quando aquele homem acelerava o meu coração.
Relembrando…
Eu era adolescente quando conheci Lucas Foster. Após minha avó e eu chegarmos a São Paulo, ela reatou uma antiga amizade com uma senhora que já não via há algum tempo. Elas mantinham contato apenas por telefone. Em meio à adaptação à nova cidade, um dia, ao retornar da escola, deparei-me com aquele homem belo sentado no sofá de casa assim que atravessei a porta. Nunca havia visto alguém tão charmoso e elegante. Eu já havia tido experiências com garotos da minha idade que não foram nada empolgantes, bem pelo contrário, mas ali o meu coração disparou por aquele homem ali presente. Porém, é claro, contive minha empolgação, embora fosse comum para mim agir com ousadia.
— Hum ai minha nossa… O presente que eu pedi para minha avó chegou. — ele me olhou confuso, estendi minha mão a ele. — Olá, sou a Nicole. — disse eu, lançando uma brincadeira enquanto ele me olhava sem entender, não percebendo que eu falava sobre ele, ou talvez realmente não tenha captado a piada.
— Olá, jovem. — a voz dele soou como melodia aos meus ouvidos. — Deve ser a neta da senhora Carmen. Sou o Lucas Foster. — respondeu ele.
— Ah, e o que faz por aqui? — Perguntei, tentando ser charmosa. Ele era bonito e galanteador, e tenho certeza de que me olhou com interesse, pelo menos era o que eu achava, tola eu fui.
— Minha mãe é amiga de longa data da sua avó. Vim acompanhá-la. — explicou, enquanto a minha avó e a mãe dele apareceram na porta.
— Pelo visto, já conheceu a minha neta, Nicole. — disse a minha avó, interrompendo o momento.
— Sim, senhora, uma jovem encantadora, não acha, mãe? — Quando ouvi aquelas palavras, senti-me como se fosse a dona do pedaço. No entanto, eles partiram, deixando-me ansiosa pela próxima visita.
Dia após dia, perguntava à minha avó quando a sua amiga voltaria a nos visitar tendo a certeza que o meu galã viria junto, digamos que eu era muito carente, e já acreditava que era o centro do universo na vida dele, como ele se tornou do meu, eu contava os segundos para vê-lo. Porém, sempre que eles apareciam, eu percebia que não era bem assim, mesmo assim eu tentava chamar a atenção do homem. Mesmo sem obter respostas interessantes da parte dele - na verdade, mal me olhava -, eu fazia de tudo para ser notada. Certa vez, cheguei a beijar um amigo na frente dele, só para ver se ele ao menos desviava o olhar para mim.
Decidi tomar coragem e expressar os meus sentimentos por ele, apesar de notar que ele havia parado de entrar em nossa casa. Acredito que tenha percebido a minha investida e preferido esperar a mãe no carro. Se ele não vinha até nós, eu ia até ele.
Me aproximei da porta do carro e bati na janela. Ele abaixou prontamente o vidro.
"Meu Deus, como eu era tola".
— Aconteceu algo com a minha mãe? — ele perguntou prontamente.
— Não, ela está bem. Posso falar com você? — perguntei.
— Claro, fale. — respondeu por educação, saindo do carro e apoiando-se nele.
Oh meu Deus, que deus grego.
— Então, é que eu queria saber se a gente tem alguma chance. Você é muito atraente, sabe, bem gato e sei lá, acho que poderíamos nos conhecer melhor. — desabafei certeira e sim, eu sempre fui muito rápida no gatilho. Ele me olhou horrorizado. Era óbvio que não esperava que eu fosse tão direta assim. Posso dizer que o assustei.
— Do que você está falando, Nicole? Está com febre ou bebeu algo estranho? — ele questionou com um riso contido.
— Claro que não! Temos química, isso é inegável! — insisti, tentando convencê-lo.
— Desculpa, Nicole, isso não existe. Pare com isso, você é uma criança. — ele tentou dissuadir, mas suas palavras me atingiram.
— Criança? — ouvi isso com revolta. — Eu não sou nenhuma criança. Eu... sou apaixonada por você, e acredito que podemos nos conhecer melhor.
— Rsrs. Você é uma criança, deve se divertir com jovens da sua idade. — ele respondeu, mantendo uma postura descontraída.
— Sou criança e devo me divertir com jovens? Não entendo. Você está confuso. E se não tivesse interesse em mim, não estaria tão nervoso. — avancei em direção a ele, que arregalou os olhos surpreso com minha aproximação.
— Pare com isso, Nicole. Já chega! Eu não quero nada com você. Sabe qual é a minha idade e a sua? Exijo que não fale mais sobre isso. É o cúmulo do absurdo. — Ele foi firme em sua negativa.
— Me prove que não quer um beijo? — falei, tentando ser sedutora e olhei bem em seus olhos e avistei a sua reação, porém a mãe dele saiu pelo portão naquele momento e ele se desvencilhou facilmente. Minha avó olhou para mim, negando com o olhar. Ela já conhecia meus sentimentos, já que eu sempre compartilhava tudo com ela.
Ele partiu com sua mãe e nunca mais voltou com ela. Depois disso, um vazio se instalou em mim pela ausência dele, e meus sentimentos foram destroçados. Não apenas pela rejeição, mas também pelo fato de ele nunca ter sequer ligado ou tentado conversar para evitar que eu ficasse tão triste quanto fiquei. Sentia-me péssima após sua rejeição. Minha avó chegou ao ponto de falar com a sua mãe que tentou fazê-lo ir a nossa casa, mas nem mesmo isso ele quis.
Após isso minha avó me aconselhou a esquecê-lo, e foi o que fiz. Transformei o amor que sentia por ele em raiva. Contudo, minha avó também insistia para que eu namorasse ou me relacionasse com rapazes da minha idade, mas nunca tive interesse neles. Sempre me senti atraída por homens mais velhos.
Não consigo compreender o que passava pela cabeça da minha avó ao escolher justamente ele para ser meu tutor. Provavelmente, jamais encontrarei a resposta para essa questão.
Após tudo o que passei, jurei a mim mesma que me vingaria de Lucas. Um dia, ele olharia para mim, me desejaria com toda a sua força, e eu o rejeitaria. É uma promessa que fiz a mim mesma.
Mesmo nutrindo raiva dele, desejo ser dele uma única vez. Ele foi meu primeiro amor, aquele com quem imaginei perder minha virgindade. Essa decisão surgiu depois de vê-lo com aquela mulher e como ele a dominava. Meus planos já estão a todo vapor, não é por acaso que mantenho contato com ele por meio de um perfil falso nas redes sociais.
Vou fazer isso acontecer, acredite...
Passamos por ruas cheias de movimento, pessoas da minha idade se divertindo. Tem horas que me pego pensando como seria a minha vida se algo tivesse mudado, se meu pai ainda estivesse aqui. Será que seria muito diferente? Será que eu seria uma jovem mais ajuizada?Talvez eu tivesse inventado uma desculpa melhor para escapar das situações loucas em que me meto! Como minha avó dizia, tenho o sangue ruim do meu pai, de gostar de ir contra a quem me impõe regras, odeio segui-las.O carro se aproximou da casa que tem sido minha morada, o portão se abriu e avistei o carro da Lara estacionado.— O casal sem sal já deve estar falando de mim, não é à toa que minha orelha está pegando fogo. — comentei com Brian.— Rsrs, saiba que estarei aqui para desabafar quando quiser, está bem. — Brian disse. Assenti e desci do carro antes que ele fosse o cavalheiro de sempre e abrisse a porta para que eu saísse.Ao adentrar na casa, pude ver o olhar da dona Lourdes para mim. Ela tinha os olhos marejados e v
LucasNicole me tira do eixo… Detesto desentendimentos, por isso sempre vivi na minha própria bolha, tendo contato apenas com quem realmente desejo. Não mantenho contato com as minhas tias, primos ou qualquer outra pessoa, exceto o meu primo Humberto, não mantenho pessoas por perto nem mesmo pelo vínculo sanguíneo. Ele não é apenas família, mas também sinônimo de lealdade. Nicole acha que pode fazer o que quiser, mas não é assim, especialmente sob o meu teto e a minha tutela. Não entendo como essa pessoa sem juízo ainda não me enlouqueceu; a sua falta de juízo está afetando a minha sanidade. Ela é a primeira pessoa na minha vida com quem me sinto obrigado a conviver. Poderia, sim, abrir mão de sua tutela e deixá-la a Deus-dará, mas não tenho coragem pra isso. Sabe por que não desisti dela? Porque ela tem uma mãe muito interesseira, que nem mesmo o pai dela a quis presente em sua vida - pelo menos foi o que descobri por meio de uma carta deixada com a minha mãe. A dona Carmem entregou
Cumprimentei o meu primo com um abraço e nos acomodamos, então pude responder à sua provocação.— Não brinque com isso, você sabe que sou um homem livre e não troco a minha liberdade por nada neste mundo. — Tirei o celular do bolso e o coloquei sobre a mesa, bem no centro da sala.— Pensei que a lua de mel teria mudado um pouco os seus conceitos, cara. — Humberto brincou, sorrindo.— Lua de mel? Coitada da Lara, merece um marido que lhe dê uma lua de mel onde o cara não arranje outras escapadas.— Sério que fez isso? Saiu com outras mulheres na sua viagem de reconciliação? — ele fingia estar surpreso. Humberto, melhor que qualquer um, sabe que eu e Lara não temos nada. Eu jamais olharia para ela com malícia ou luxúria, por mais que ela seja uma bela mulher. Eu a admiro, sempre foi uma boa amiga e sei dos sentimentos dele por ela.— Cara, você sabe que foi tudo fachada. Apenas continuei com a nossa rotina, nada mudou, até nessas horas mantive o nosso padrão de sempre.— Mas você e a La
NicoleO caminho para a casa da Lara foi meio entediante, sabe quando a pessoa tenta puxar papo de todas as maneiras, mas você simplesmente não está no clima? Foi exatamente assim. Não tenho nada contra a Lara, aliás, acho que ela não merece um cara que passa o tempo todo conversando com outras mulheres, como seu suposto amado faz. Tive a prova disso através do meu perfil fake e devo dizer, ela é uma das razões pelas quais ainda não coloquei em prática meus planos, já que o namorado dela está super insistente em marcar um encontro comigo.Pena que ele não tem a mínima ideia de que sou eu por trás daquele perfil, e se depender de mim, vai continuar sem saber. Tenho tudo planejado. Que ele pense que dita as regras, como faz com aquelas mulheres que nem sequer leva para o quarto de casa. Quem já ouviu falar de uma mulher se arriscando a transar com um homem no escritório de casa quando há vários quartos disponíveis? Talvez seja algum fetiche estranho, ou ele reserva sua cama exclusivamen
LaraObservei Nicole entrar no quarto e fechar a porta, deixando-me com um peso no peito. Respirei fundo, consciente de que lidar com ela seria crucial para ajudar Lucas. Afastar Nicole dele neste momento se torna uma necessidade premente; do contrário, temo que ele mergulhe em um estado de desequilíbrio emocional. A relação entre os dois é permeada pelo ódio mútuo, e testemunhar Lucas assim, tomado pela raiva e sem paciência, é doloroso. É uma ocorrência rara, mas quando acontece, mal consigo suportar vê-lo tão perturbado. Surpreendentemente, mesmo os problemas prementes na empresa não conseguem provocar nele um estado tão caótico quanto o causado por Nicole. É intrigante como ela é a única pessoa capaz de verdadeiramente tirá-lo de seu estado passivo. É por isso que desejo cultivar uma amizade com ela: para compreender como estabelecer limites e para estar ciente de todas as suas ações contra Lucas. Não permitirei que ela o prejudique de forma alguma. Meu objetivo é garantir que ele
No dia seguinteNicole— Ai, que preguiça, bora acordar, Nick... o sol já nasceu.Acordei cedo com a intenção de ir até a faculdade. Tranquei os meus estudos após a doença da minha avó, e sinto a necessidade de retomar a minha rotina. Não posso passar o dia todo em casa. Estou planejando iniciar um estágio para colocar em prática os meus estudos. O meu sonho sempre foi cursar veterinária, embora a minha avó tenha me incentivado bastante a seguir odontologia ou pediatria, ela tinha o sonho de me ver cuidando de pessoas. No entanto, acabei optando por gestão de empresas para compreender melhor como administrar a herança do meu pai. Até então, ela era gerida por uma empresa particular que sempre cuidou disso para a minha avó, que não sabia de nada sobre o assunto. No entanto, não desejo dedicar o meu tempo somente aos negócios do meu pai; também quero direcionar a minha energia para os animais, minha grande paixão. Quando tiver a minha própria casa, pretendo ter os meus próprios animais d
Na volta para casa, passei na residência da Cássia e compartilhei com ela as últimas novidades. Ela é a única pessoa que realmente me ouve quando desabafo e também é a única que está ciente dos meus planos. Sentamos juntas na calçada de sua casa e mostrei a ela a última mensagem que recebi no perfil fake. Cássia ficou surpresa, já que o Lucas nunca havia iniciado uma conversa comigo. Geralmente era eu quem o procurava e iniciava qualquer diálogo.— Ele parece estar bem interessado, não acha? — ela comentou, e eu concordei, surpresa com a situação e incomodada por estar tão próxima de Lara.— Acho que sim, mas estou me sentindo culpada pela namorada dele.— É por estar na casa dela, não é?— Acredito que sim. Estou considerando desistir disso tudo. Não parece que vai me levar a lugar algum. — Dei de ombros, percebendo que o melhor que posso fazer é permanecer na casa de Lara sem causar problemas e, quando completar meus 24 anos, seguir meu próprio caminho.— Não era você que dizia que
LucasO dia estava repleto de compromissos, e eu tinha um encontro marcado com mais uma conquista, gosto de estar com mulheres desconhecidas para não me envolver amorosamente, já basta o meu primo Humberto sofrer pela Lara, não vou passar por isso NUNCA. No entanto, a permanência de Nicole na casa de Lara estava me deixando mais agitado do que tê-la em minha própria casa. Não sei com o que devo me preocupar mais: com a rebeldia de Nicole causando confusões, com a possibilidade de Lara e ela entrarem em conflito, ou com a liberdade excessiva que Lara está a conceder a Nicole. Tenho certeza de que ela está dando espaço demais à Nicole, e por isso, é urgente providenciar um segurança para estar com ela diariamente. É uma loucura; eu esperava ter paz, mas acabei transformando a minha mente em um caos devido à preocupação. Lara não vai me contar o que realmente acontece no dia a dia entre elas porque não quer me aborrecer, e essa incerteza é o que mais me perturba.Dirigi-me até a empresa