04. Capitulo

No carro, segui com os seguranças mal-humorados na frente e o Brian, que sempre tira onda comigo, sentado ao meu lado. Ele desligou a ligação que com certeza era com o Sr. Foster e soltou essa pérola:

— Quando vou ver sua amiga novamente? — Brian brincou comigo. Entre os seguranças ele é o mais tranquilo, e em pouco tempo de convívio nos tornamos amigos, acredito que ele tenha compaixão por mim, é claro, é difícil aturar Lucas Foster.

— Acredite em breve vocês trocam mais alguns beijos, Brian. Mas você pode procurar por ela já que sabe onde ela mora. — Comentei com ele. Ele e Cássia ficam quando querem, por mais que nenhum dos dois queira levar um romance a sério.

— Procurarei ela, sim, principalmente agora que você irá sumir por uns tempos. — Olhei para ele com as sobrancelhas erguidas. — Brincadeira, rsrs, mas e o seu juízo onde enfiou? Está na hora de criar juízo.

— Amanhã, depois do furacão que atingirá o Brasil, eu criarei juízo.

— Pode ser depois da chuva? É mais provável rsrs. Mas agora falando sério, ontem você saiu completamente dos trilhos, o senhor Foster está super nervoso com você, e acredito que agora você vire freira de vez. — Ele disse, me fazendo lembrar das ameaças do Senhor regrado, como se alguém que faz sexo no escritório de casa quisesse me colocar regras? Ha, ha, Hilário!

Como se ele fosse o CEO das regras absurdas, né? Querendo impor ordem quando nem o cacto no escritório dele segue as instruções direito!

— Ele que ouse me enviar a um internato, ai eu viro o cão de vez. — bufei e abaixei a cabeça no vidro, olhando a paisagem lá fora, por instantes me lembrei de quando aquele homem acelerava o meu coração.

Relembrando…

Eu era adolescente quando conheci Lucas Foster. Após minha avó e eu chegarmos a São Paulo, ela reatou uma antiga amizade com uma senhora que já não via há algum tempo. Elas mantinham contato apenas por telefone. Em meio à adaptação à nova cidade, um dia, ao retornar da escola, deparei-me com aquele homem belo sentado no sofá de casa assim que atravessei a porta. Nunca havia visto alguém tão charmoso e elegante. Eu já havia tido experiências com garotos da minha idade que não foram nada empolgantes, bem pelo contrário, mas ali o meu coração disparou por aquele homem ali presente. Porém, é claro, contive minha empolgação, embora fosse comum para mim agir com ousadia.

— Hum ai minha nossa… O presente que eu pedi para minha avó chegou. — ele me olhou confuso, estendi minha mão a ele. — Olá, sou a Nicole. — disse eu, lançando uma brincadeira enquanto ele me olhava sem entender, não percebendo que eu falava sobre ele, ou talvez realmente não tenha captado a piada.

— Olá, jovem. — a voz dele soou como melodia aos meus ouvidos. — Deve ser a neta da senhora Carmen. Sou o Lucas Foster. — respondeu ele.

— Ah, e o que faz por aqui? — Perguntei, tentando ser charmosa. Ele era bonito e galanteador, e tenho certeza de que me olhou com interesse, pelo menos era o que eu achava, tola eu fui.

— Minha mãe é amiga de longa data da sua avó. Vim acompanhá-la. — explicou, enquanto a minha avó e a mãe dele apareceram na porta.

— Pelo visto, já conheceu a minha neta, Nicole. — disse a minha avó, interrompendo o momento.

— Sim, senhora, uma jovem encantadora, não acha, mãe? — Quando ouvi aquelas palavras, senti-me como se fosse a dona do pedaço. No entanto, eles partiram, deixando-me ansiosa pela próxima visita.

Dia após dia, perguntava à minha avó quando a sua amiga voltaria a nos visitar tendo a certeza que o meu galã viria junto, digamos que eu era muito carente, e já acreditava que era o centro do universo na vida dele, como ele se tornou do meu, eu contava os segundos para vê-lo. Porém, sempre que eles apareciam, eu percebia que não era bem assim, mesmo assim eu tentava chamar a atenção do homem. Mesmo sem obter respostas interessantes da parte dele - na verdade, mal me olhava -, eu fazia de tudo para ser notada. Certa vez, cheguei a beijar um amigo na frente dele, só para ver se ele ao menos desviava o olhar para mim.

Decidi tomar coragem e expressar os meus sentimentos por ele, apesar de notar que ele havia parado de entrar em nossa casa. Acredito que tenha percebido a minha investida e preferido esperar a mãe no carro. Se ele não vinha até nós, eu ia até ele.

Me aproximei da porta do carro e bati na janela. Ele abaixou prontamente o vidro.

"Meu Deus, como eu era tola".

— Aconteceu algo com a minha mãe? — ele perguntou prontamente.

— Não, ela está bem. Posso falar com você? — perguntei.

— Claro, fale. — respondeu por educação, saindo do carro e apoiando-se nele.

Oh meu Deus, que deus grego.

— Então, é que eu queria saber se a gente tem alguma chance. Você é muito atraente, sabe, bem gato e sei lá, acho que poderíamos nos conhecer melhor. — desabafei certeira e sim, eu sempre fui muito rápida no gatilho. Ele me olhou horrorizado. Era óbvio que não esperava que eu fosse tão direta assim. Posso dizer que o assustei.

— Do que você está falando, Nicole? Está com febre ou bebeu algo estranho? — ele questionou com um riso contido.

— Claro que não! Temos química, isso é inegável! — insisti, tentando convencê-lo.

— Desculpa, Nicole, isso não existe. Pare com isso, você é uma criança. — ele tentou dissuadir, mas suas palavras me atingiram.

— Criança? — ouvi isso com revolta. — Eu não sou nenhuma criança. Eu... sou apaixonada por você, e acredito que podemos nos conhecer melhor.

— Rsrs. Você é uma criança, deve se divertir com jovens da sua idade. — ele respondeu, mantendo uma postura descontraída.

— Sou criança e devo me divertir com jovens? Não entendo. Você está confuso. E se não tivesse interesse em mim, não estaria tão nervoso. — avancei em direção a ele, que arregalou os olhos surpreso com minha aproximação.

— Pare com isso, Nicole. Já chega! Eu não quero nada com você. Sabe qual é a minha idade e a sua? Exijo que não fale mais sobre isso. É o cúmulo do absurdo. — Ele foi firme em sua negativa.

— Me prove que não quer um beijo? — falei, tentando ser sedutora e olhei bem em seus olhos e avistei a sua reação, porém a mãe dele saiu pelo portão naquele momento e ele se desvencilhou facilmente. Minha avó olhou para mim, negando com o olhar. Ela já conhecia meus sentimentos, já que eu sempre compartilhava tudo com ela.

Ele partiu com sua mãe e nunca mais voltou com ela. Depois disso, um vazio se instalou em mim pela ausência dele, e meus sentimentos foram destroçados. Não apenas pela rejeição, mas também pelo fato de ele nunca ter sequer ligado ou tentado conversar para evitar que eu ficasse tão triste quanto fiquei. Sentia-me péssima após sua rejeição. Minha avó chegou ao ponto de falar com a sua mãe que tentou fazê-lo ir a nossa casa, mas nem mesmo isso ele quis.

Após isso minha avó me aconselhou a esquecê-lo, e foi o que fiz. Transformei o amor que sentia por ele em raiva. Contudo, minha avó também insistia para que eu namorasse ou me relacionasse com rapazes da minha idade, mas nunca tive interesse neles. Sempre me senti atraída por homens mais velhos.

Não consigo compreender o que passava pela cabeça da minha avó ao escolher justamente ele para ser meu tutor. Provavelmente, jamais encontrarei a resposta para essa questão.

Após tudo o que passei, jurei a mim mesma que me vingaria de Lucas. Um dia, ele olharia para mim, me desejaria com toda a sua força, e eu o rejeitaria. É uma promessa que fiz a mim mesma.

Mesmo nutrindo raiva dele, desejo ser dele uma única vez. Ele foi meu primeiro amor, aquele com quem imaginei perder minha virgindade. Essa decisão surgiu depois de vê-lo com aquela mulher e como ele a dominava. Meus planos já estão a todo vapor, não é por acaso que mantenho contato com ele por meio de um perfil falso nas redes sociais.

Vou fazer isso acontecer, acredite...

 

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