Passamos por ruas cheias de movimento, pessoas da minha idade se divertindo. Tem horas que me pego pensando como seria a minha vida se algo tivesse mudado, se meu pai ainda estivesse aqui. Será que seria muito diferente? Será que eu seria uma jovem mais ajuizada?
Talvez eu tivesse inventado uma desculpa melhor para escapar das situações loucas em que me meto! Como minha avó dizia, tenho o sangue ruim do meu pai, de gostar de ir contra a quem me impõe regras, odeio segui-las.
O carro se aproximou da casa que tem sido minha morada, o portão se abriu e avistei o carro da Lara estacionado.
— O casal sem sal já deve estar falando de mim, não é à toa que minha orelha está pegando fogo. — comentei com Brian.
— Rsrs, saiba que estarei aqui para desabafar quando quiser, está bem. — Brian disse. Assenti e desci do carro antes que ele fosse o cavalheiro de sempre e abrisse a porta para que eu saísse.
Ao adentrar na casa, pude ver o olhar da dona Lourdes para mim. Ela tinha os olhos marejados e veio até mim, me dando um abraço silencioso, enquanto a casa começava a ganhar traços de normalidade.
Ah, a habilidade do Brian de aliviar a tensão com uma pitada de humor! E dona Lourdes, a especialista em abraços silenciosos, mestre na arte de confortar sem dizer uma palavra, essas pessoas fazem a estadia aqui valer a pena.
— Me desculpe, deixe isso aí, eu vou arrumar. É por minha culpa que está tudo revirado, não queria te dar esse trabalho, eu limpo tudo. — Falei, abraçando dona Lourdes, que se assustou com a voz que soou rude.
— Ainda bem que você sabe, senhorita Nicole. — Ouvi a voz daquele homem que um dia me alegrava só de ouvi-la. Uns tempos atrás, a voz dele se tornava uma melodia aos meus ouvidos, a voz que mais ansiava para ouvir, mas hoje repugno até mesmo seu tom. Ah, como o tempo muda as melodias da vida! A voz que antes era como uma canção romântica agora me parece um samba sem ritmo!
— Eu sei muito bem o que fiz, senhor caótico. Não precisa vir chamar minha atenção, pois sou mais consciente do que você. Arrumarei tudo e o que tiver de comprar novamente pode tirar do meu cartão, tá ok? Agora me deixe em paz. — Falei a ele no mesmo tom em que recebi sua repreensão. O clima tenso pairava no ar, cada palavra carregada de tensão.
— Não fale assim, Nicole. Sabe que fez tudo errado. Amor, tenha paciência. — Disse a melosa da Lara, passando a mão no peito do seu infiel namorado. Hoje vejo que ela faz o papel de trouxa de propósito, parecia bancar a desentendida para garantir seu lugar no topo do pódio.
— Eu pedi uma casa para mim, e tive o meu pedido negado por pura sacanagem, só para mostrar quem é quem dá as ordens por aqui, pois deixo claro as suas regras, eu não sigo… — Antes que eu pudesse tagarelar mais, ele me interrompeu.
— Por que será que eu neguei? Você não sabe de nada da vida, Nicole. Tem que comer muito arroz e feijão para saber o que é a vida. — disse com arrogância.
— Eu descubro sozinha, não preciso de você como guia não, não tenho problema com isso, sempre fiz minhas coisas do meu jeito. — Falei catando algumas almofadas do chão.
— Por isso não tem juízo nenhum, acha que sabe tudo, mas, na verdade, não sabe de nada. É uma menina que, na primeira tribulação que passar, vai chorar no quarto com medo do que virá pela frente. — Ele disse em tom seco enquanto eu me aproximei dele o encarando. Ele que não pense que abaixarei a cabeça para ele.
— VOCÊ NÃO SABE DE NADA. — Falei o encarando.
Os diálogos soavam como um cabo de guerra de palavras afiadas, cada uma carregada com a energia de um conflito iminente.
— Por favor, Nicole, pare com isso. — Lara tentou apaziguar enquanto eu dava as costas para ele, tentando evitar encarar seus olhos. Parece que ainda consigo me lembrar dos encantos que sentia por eles, o que eu sentia era tão intenso que até mesmo evitar encarar seus olhos se tornou uma estratégia para manter a calma diante da situação.
— RSRS EU NÃO SEI DE NADA, E VOCÊ SABE RSRS, ME POUPE NICOLE, CRIA JUÍZO. VOCÊ DESTRUIU A MINHA CASA, FEZ O QUE QUIS, AGORA TERÁ QUE ENFRENTAR AS CONSEQUÊNCIAS. ARRUME SUAS COISAS IMEDIATAMENTE… — Olhei para ele no mesmo instante. As palavras saíam da sua boca como estilhaços, criando um ambiente pesado e carregado de hostilidade.
— Está me mandando embora? Pois eu vou com muito orgulho e não pretendo nunca mais olhar para a sua cara. — Saí em direção da porta, deixando até mesmo minhas coisas para trás, mas tive meu braço puxado bruscamente... Ele segurou fortemente em meus dois braços e falou bem próximo do meu rosto, senti o seu halito em minhas narinas fazendo todo o meu corpo sentir algo completamente estranho.
— Você vai para a casa da Lara, vai arrumar suas coisas. — Ele disse com os olhos vidrados nos meus, franzindo as sobrancelhas. Dei uma gargalhada, e tirei suas mãos bruscamente de mim, mesmo com meu coração palpitando de tensão e revolta, enquanto Lara se colocou entre nós, afastando-o.
— Está achando que é quem para me mandar de um lado para o outro como se eu fosse um objeto?
— Já chega, menina, por favor, não discuta mais, por favor, eu te peço. — Olhei para Lourdes enquanto os olhos do casal sem sal estavam em mim.
Bufei e saí para o meu quarto, mas ainda ouvi Lara.
— Não… não vá atrás dela, ela vem comigo e chega de discussões.
Minha respiração estava ofegante, meu corpo em chamas, meu rosto ardia, e eu jurei a mim mesma que nada mais iria me abalar. Decidi que iria sim para a casa da namorada dele e de lá planejaria minha vingança contra ele.
Arrumei minhas coisas e desci as escadas.
A tensão no ambiente era palpável, deixando-me com um turbilhão de emoções. Decidida a dar o troco, mantive-me firme na decisão de planejar minha vingança enquanto o caos se instaurava ao meu redor, ou sou eu o próprio caos?
Ao descer as escadas notei o casal. Ele e sua namorada estavam em sofás diferentes, mas quando Lara me avistou, se aproximou dele e pegou em sua mão. Parece que o casal só é casal na frente de outras pessoas, ou será que é impressão minha? Talvez eles estejam competindo no campeonato mundial de "distância afetiva" e não querem estragar o recorde! Sinceramente, não vejo química nenhuma entre esses dois. E a prova de que ele é infiel existe e até alertei ela. Sim, eu alertei quando o flagrei com'endo uma mulher no escritório da casa, e ela simplesmente passou pano pra ele. Cada um com a sua consciência, mas a dela deve ser bem pesada, provavelmente acumula mais informação do que um HD!
— Nicole, será só por um tempo, tá bom. — Ela tentou ser gentil, enquanto ele permaneceu de cabeça baixa, provavelmente irritado.
— Não tem problema, vivo até na rua se necessário. — falei passando pelo sofá que ele estava sentado e fui em direção à porta.
— Olhe lá como fala. Eu abri as portas da minha casa a você, e você é uma ingrata, isso sim.
— Sou mesmo. Não quero convívio com você, não quero nem te ver na minha frente, e sou obrigada a isso.
— E acha que eu queria te ter aqui? Acha mesmo? Por mim eu te deixaria na casa da Lara até os seus 24 anos, Nicole. Você está transformando meus dias em caos. Você tem uma resposta afiada pra tudo, nunca está disposta a uma conversa amigável. Por mim, você não volta para minha casa. — Eu olhei para ele com raiva. Por mais que ele seja rude, nunca deixou claro que não me queria aqui. — me aproximei dele enquanto Lara tentou evitar em vão a minha aproximação.
— Você vai engolir cada palavra que disse. — apontei para ele que estava sentado. Mesmo sem intenção, minha voz saiu baixa e trêmula. — Você vai implorar pela minha presença em sua casa. — Falei firme. — Aí, meu bem, eu que decidirei se volto ou não. — Falei bem perto do seu rosto, encarando com raiva os seus olhos. Ele ficou parado, sem reação, enquanto fui empurrada para fora pela Lara.
— Chega, Nicole, vamos. Amor, não precisa me levar até a porta. Vamos, por favor. Pelo amor de Deus, parece que a paz entre esses dois é mais rara que unicórnio em extinção. — Lara disse ao Brian que ficou de longe observando tudo.
Fui até ele e o abracei calorosamente.
— Obrigada por tudo. — Agradeci, sentindo uma mistura de gratidão e tristeza.
— Você vai voltar, não vai? — Brian perguntou, com um olhar esperançoso.
— Não, não sei, mas não tenho intenção. — Respondi a ele, com uma pontada de incerteza.
— Brian! — Lucas o chamou, interrompendo qualquer chance de despedida mais longa. Parecia que ele só queria afastar as pessoas de mim, nem me despedir do Brian posso. Ele assentiu para mim e foi até Lucas. Os dois entraram na casa, e eu fiquei parada olhando para a porta. Antes de fechá-la, Lucas ficou me observando, e eu fechei o semblante, dando-lhe um gesto bem-humorado, uma espécie de despedida irônica lhe mostrando o dedo do meio e entrei no carro.
Cumprirei o que disse: só voltarei para essa casa com as minhas condições, com certeza!
A despedida com o Brian foi interrompida, mas deixei um "até logo" irônico para o Lucas.
LucasNicole me tira do eixo… Detesto desentendimentos, por isso sempre vivi na minha própria bolha, tendo contato apenas com quem realmente desejo. Não mantenho contato com as minhas tias, primos ou qualquer outra pessoa, exceto o meu primo Humberto, não mantenho pessoas por perto nem mesmo pelo vínculo sanguíneo. Ele não é apenas família, mas também sinônimo de lealdade. Nicole acha que pode fazer o que quiser, mas não é assim, especialmente sob o meu teto e a minha tutela. Não entendo como essa pessoa sem juízo ainda não me enlouqueceu; a sua falta de juízo está afetando a minha sanidade. Ela é a primeira pessoa na minha vida com quem me sinto obrigado a conviver. Poderia, sim, abrir mão de sua tutela e deixá-la a Deus-dará, mas não tenho coragem pra isso. Sabe por que não desisti dela? Porque ela tem uma mãe muito interesseira, que nem mesmo o pai dela a quis presente em sua vida - pelo menos foi o que descobri por meio de uma carta deixada com a minha mãe. A dona Carmem entregou
Cumprimentei o meu primo com um abraço e nos acomodamos, então pude responder à sua provocação.— Não brinque com isso, você sabe que sou um homem livre e não troco a minha liberdade por nada neste mundo. — Tirei o celular do bolso e o coloquei sobre a mesa, bem no centro da sala.— Pensei que a lua de mel teria mudado um pouco os seus conceitos, cara. — Humberto brincou, sorrindo.— Lua de mel? Coitada da Lara, merece um marido que lhe dê uma lua de mel onde o cara não arranje outras escapadas.— Sério que fez isso? Saiu com outras mulheres na sua viagem de reconciliação? — ele fingia estar surpreso. Humberto, melhor que qualquer um, sabe que eu e Lara não temos nada. Eu jamais olharia para ela com malícia ou luxúria, por mais que ela seja uma bela mulher. Eu a admiro, sempre foi uma boa amiga e sei dos sentimentos dele por ela.— Cara, você sabe que foi tudo fachada. Apenas continuei com a nossa rotina, nada mudou, até nessas horas mantive o nosso padrão de sempre.— Mas você e a La
NicoleO caminho para a casa da Lara foi meio entediante, sabe quando a pessoa tenta puxar papo de todas as maneiras, mas você simplesmente não está no clima? Foi exatamente assim. Não tenho nada contra a Lara, aliás, acho que ela não merece um cara que passa o tempo todo conversando com outras mulheres, como seu suposto amado faz. Tive a prova disso através do meu perfil fake e devo dizer, ela é uma das razões pelas quais ainda não coloquei em prática meus planos, já que o namorado dela está super insistente em marcar um encontro comigo.Pena que ele não tem a mínima ideia de que sou eu por trás daquele perfil, e se depender de mim, vai continuar sem saber. Tenho tudo planejado. Que ele pense que dita as regras, como faz com aquelas mulheres que nem sequer leva para o quarto de casa. Quem já ouviu falar de uma mulher se arriscando a transar com um homem no escritório de casa quando há vários quartos disponíveis? Talvez seja algum fetiche estranho, ou ele reserva sua cama exclusivamen
LaraObservei Nicole entrar no quarto e fechar a porta, deixando-me com um peso no peito. Respirei fundo, consciente de que lidar com ela seria crucial para ajudar Lucas. Afastar Nicole dele neste momento se torna uma necessidade premente; do contrário, temo que ele mergulhe em um estado de desequilíbrio emocional. A relação entre os dois é permeada pelo ódio mútuo, e testemunhar Lucas assim, tomado pela raiva e sem paciência, é doloroso. É uma ocorrência rara, mas quando acontece, mal consigo suportar vê-lo tão perturbado. Surpreendentemente, mesmo os problemas prementes na empresa não conseguem provocar nele um estado tão caótico quanto o causado por Nicole. É intrigante como ela é a única pessoa capaz de verdadeiramente tirá-lo de seu estado passivo. É por isso que desejo cultivar uma amizade com ela: para compreender como estabelecer limites e para estar ciente de todas as suas ações contra Lucas. Não permitirei que ela o prejudique de forma alguma. Meu objetivo é garantir que ele
No dia seguinteNicole— Ai, que preguiça, bora acordar, Nick... o sol já nasceu.Acordei cedo com a intenção de ir até a faculdade. Tranquei os meus estudos após a doença da minha avó, e sinto a necessidade de retomar a minha rotina. Não posso passar o dia todo em casa. Estou planejando iniciar um estágio para colocar em prática os meus estudos. O meu sonho sempre foi cursar veterinária, embora a minha avó tenha me incentivado bastante a seguir odontologia ou pediatria, ela tinha o sonho de me ver cuidando de pessoas. No entanto, acabei optando por gestão de empresas para compreender melhor como administrar a herança do meu pai. Até então, ela era gerida por uma empresa particular que sempre cuidou disso para a minha avó, que não sabia de nada sobre o assunto. No entanto, não desejo dedicar o meu tempo somente aos negócios do meu pai; também quero direcionar a minha energia para os animais, minha grande paixão. Quando tiver a minha própria casa, pretendo ter os meus próprios animais d
Na volta para casa, passei na residência da Cássia e compartilhei com ela as últimas novidades. Ela é a única pessoa que realmente me ouve quando desabafo e também é a única que está ciente dos meus planos. Sentamos juntas na calçada de sua casa e mostrei a ela a última mensagem que recebi no perfil fake. Cássia ficou surpresa, já que o Lucas nunca havia iniciado uma conversa comigo. Geralmente era eu quem o procurava e iniciava qualquer diálogo.— Ele parece estar bem interessado, não acha? — ela comentou, e eu concordei, surpresa com a situação e incomodada por estar tão próxima de Lara.— Acho que sim, mas estou me sentindo culpada pela namorada dele.— É por estar na casa dela, não é?— Acredito que sim. Estou considerando desistir disso tudo. Não parece que vai me levar a lugar algum. — Dei de ombros, percebendo que o melhor que posso fazer é permanecer na casa de Lara sem causar problemas e, quando completar meus 24 anos, seguir meu próprio caminho.— Não era você que dizia que
LucasO dia estava repleto de compromissos, e eu tinha um encontro marcado com mais uma conquista, gosto de estar com mulheres desconhecidas para não me envolver amorosamente, já basta o meu primo Humberto sofrer pela Lara, não vou passar por isso NUNCA. No entanto, a permanência de Nicole na casa de Lara estava me deixando mais agitado do que tê-la em minha própria casa. Não sei com o que devo me preocupar mais: com a rebeldia de Nicole causando confusões, com a possibilidade de Lara e ela entrarem em conflito, ou com a liberdade excessiva que Lara está a conceder a Nicole. Tenho certeza de que ela está dando espaço demais à Nicole, e por isso, é urgente providenciar um segurança para estar com ela diariamente. É uma loucura; eu esperava ter paz, mas acabei transformando a minha mente em um caos devido à preocupação. Lara não vai me contar o que realmente acontece no dia a dia entre elas porque não quer me aborrecer, e essa incerteza é o que mais me perturba.Dirigi-me até a empresa
Fui até Brian, que me informou sobre dois candidatos para a segurança de Nicole. Eles eram novos no ramo, mas eu costumo trocar frequentemente os seguranças. Depois de um assalto em casa que ocorreu sob o meu nariz, mantive apenas Brian, ele é o meu segurança de confiança, os outros sempre troco.Lara se aproximou, demonstrando interesse na conversa.— Acha que eles são confiáveis para cuidar da segurança da Nicole? — Perguntei, preocupado com a escolha.— Ouvi bem, quer um segurança para Nicole? — Ela perguntou.— Sim, o Brian está organizando isso para mim.— Não quero ser intrometida, mas sabe que o Léo é capaz de fazer qualquer coisa, não é, Lucas? — Ela mencionou, e eu concordei com ela. — Ele precisa de um emprego aqui na cidade para se manter ou terá que vir morar comigo em minha casa.— Mas a Nicole está na sua casa. — Questionei-a.— Estava pensando nisso. Não sei como você receberia essa informação e nós estamos nos dando tão bem.— Você é a Nicole? — Perguntei perplexo.— S