Nicole, com a sua aura de rebeldia, havia deixado a sua marca indelével. A tensão crescia enquanto eu tentava processar a transformação da minha tranquila morada. Lurdes, com um olhar temeroso, não era estranha à minha impaciência com relação a Nicole.
— Onde ela está, onde está aquela endiabrada? — gritei, expressando a frustração que consumia o meu ser.
— Senhor, agora cedo cheguei e estava assim, não tinha ninguém na casa. — Lurdes tentou explicar, visivelmente desconfortável com a situação.
— Não é possível! Cadê ela? Deixe tudo como está, porque, dessa vez, se ela não arrumar tudo, eu cumpro a minha promessa! — A determinação em minhas palavras ecoava, indicando que as consequências seriam inescapáveis desta vez.
— Senhor, não faça isso; a jovem já é rebelde, sem família, sem ninguém. — Lurdes implorou, sendo talvez a única pessoa que mantém a fé no milagre de Nicole se tornar uma jovem responsável. Uma pobre mulher, iludida pela esperança!
— Então, por isso, ela pode ser irresponsável o quanto quiser? Não, comigo, debaixo do meu teto não é assim, e eu deixei isso claro para ela.
Sai em busca da pequena diaba que está transformando a minha vida em um verdadeiro inferno. Nicole pode ter os seus 20 anos, mas parece não possuir juízo algum. O pensamento de suportá-la até os 24 anos se torna uma cruz pesada para carregar, uma perspectiva desafiadora que paira sobre mim.
Me chamo Lucas Foster, tenho 35 anos e sou CEO na indústria farmacêutica. Há 2 meses, assumi também o papel de tutor de Nicole Bastos, uma jovem criada por sua avó, Dona Carmem, que infelizmente faleceu. O inusitado veio no testamento dela: a solicitação de que eu, um homem que sempre se refugiou em seu próprio mundo, cuidasse de Nicole até que ela atingisse os 24 anos. Este é um compromisso que, sinceramente, me deixa inquieto.
Como conheço a família de Nicole? Sua avó é uma conhecida dos meus pais há muitos anos, e, por consequência, desenvolvemos um vínculo. Mesmo que eu desejasse manter distância, me vi frequentemente acompanhando a minha mãe em visitas à sua avó. No entanto, nunca fui próximo da garota, principalmente porque não compartilhávamos nada em comum. Afinal, o que um homem de 30 anos poderia ter em comum com uma jovem de 15? As nossas vidas pareciam pertencer a diferentes universos, separadas por uma distância não apenas de idade, mas de experiências e perspectivas. Este fosse o divisor que, de certa forma, justificava a minha decisão de manter uma distância prudencial na tentativa de preservar a normalidade.
Desde cedo, ela mostrou-se rebelde e travessa. Porém, a minha distância aumentou quando ela tinha 15 anos e, como toda jovem apaixonada e ingênua, se declarou para mim. Esse episódio foi um alerta para manter uma distância ainda maior.
Hoje, acredito que a minha decisão foi acertada. Não há vestígios daquele sentimento que ela alegava ter, mas percebo que existe um ressentimento da parte dela. Parece impossível que ela seja tão avessa a todos; talvez seja uma antipatia direcionada especialmente a mim.
O tempo seguiu o seu curso, e aparentemente, ela deixou para trás aquela loucura juvenil. Agradeci por passar anos sem vê-la, mas minha surpresa foi imensa ao deparar-me com o testamento de sua avó. Perguntas surgiram em minha mente: por que eu? Por que aquela senhora optou por confiar a guarda da garota a mim? Consciente de que os meus pais são idosos e não dariam conta da situação, e considerando o meu irmão mais velho, cuja irresponsabilidade se iguala à dela, a escolha recaiu sobre mim. A incerteza e a complexidade dessa nova responsabilidade pairavam como questionamentos inquietantes, desafiando-me a assumir um papel que jamais imaginei desempenhar.
Agora, ela está a residir em minha casa, que, infelizmente, se tornou um cenário de destruição devido às artimanhas daquela desafiadora que constantemente tenta desafiar-me. Ela se recusa a acatar as minhas ordens, encontrando prazer em fazer exatamente o oposto para testar a minha paciência. Contudo, a partir de hoje, isso chegará ao fim; ela não transformará mais a minha vida em um inferno.
Decidi chamar Lara para vir à minha casa. Lara é uma amiga de longa data, e atualmente, mantemos um relacionamento fictício para afastar a imprensa. Muitas vezes, o foco na minha vida pessoal obscureceu a imagem da minha empresa. Aos olhos do público, Lara e eu somos namorados, embora a minha abordagem com as mulheres seja fundamentada em amizade ou envolvimento sexual. Não sou o tipo de homem que mantém amizades após relacionamentos.
Meu namoro de fachada é uma mera camuflagem, pois não permito que ninguém comande a minha vida. Sou solteiro por natureza e pretendo morrer desfrutando da minha liberdade, sem permitir que qualquer mulher me domine.
Ao retornar, perdido e sem saber onde procurar a rebelde, percorri o caos que ainda se instalara em minha casa. Dirigi-me ao meu quarto, o único refúgio onde tenho a certeza de encontrar paz, já que ninguém ousa entrar. Sentando-me exausto na cama, fiz um pedido a Lara: encontrar um internato para Nicole. Contudo, meu receio era que Nicole pudesse influenciar negativamente outras alunas, adicionando uma camada de preocupação ao meu pedido.
Lara chegou rapidamente, entrando em meu quarto enquanto eu estava me trocando. Convivemos tanto que ver um ao outro se trocar tornou-se algo comum em nossa rotina.
— Meu Deus, não sabia que havia passado um furacão em sua casa! — ela exclamou, observando a bagunça ao redor.
— Isso é o que acontece. Não posso ficar dois dias fora que minha casa vira um verdadeiro caos. Mas acabou. Preciso que encontre um internato para Nicole. Ela voltará aos estudos, e se for um lugar bem rígido, muito melhor. Quem sabe as freiras consigam influenciar positivamente essa rebelde.
— Lucas, não está sendo muito rígido? Sabe que isso só a afastará e aumentará a raiva dela por você.
— Estou pouco me importando para isso. Olha só o que ela fez com a minha casa. Qualquer pessoa que ousa perturbar a paz em meu lar desperta a minha raiva. Ela faz de tudo para me enlouquecer; não suporto as suas travessuras. Não sou adequado para ser educador, você sabe disso.
— Imagino que não seja, Lucas. A menina te pegou fazendo se'xo com uma qualquer. Olha só a má influência que você traz, Lucas. Deveria ser mais prudente, especialmente agora que tem uma jovem em casa.
— Eu estava no meu escritório; ela entrou sem bater, e eu que devo-me desculpar? — Falei relembrando a cara da rebelde quando viu a cena.
— Bem, faremos assim: ela virá para minha casa por um tempo.
Não teve jeito; soltei uma gargalhada, sabendo que Lara não aguentaria.
— Rss, duvido que conseguirá aguentá-la.
— Também duvido, já que para ela, sou chifruda depois de dizer que sou sua namorada e, dias depois, você aparecer com uma conquista qualquer transando em cima da mesa do escritório. Meu Deus, imagino o que ela pensa de mim, que sou cor'na, chifruda… — Ela começou a falar, mas a interrompi.
— De qualquer forma, a desculpa é que a nossa viagem foi para nos entendermos após uma discussão. Você sabe que preciso que mantenha o nosso acordo, Lara. Não me deixe na mão. — Ela assentiu como uma boa amiga. — Não faço ideia de onde encontrar essa garota; ela deve estar em alguma favela ou na casa de alguma amiguinha. Com certeza, está dormindo tranquilamente após deixar a minha casa nessa situação. Pedirei que os meus seguranças a encontrem imediatamente e a levem direto para sua casa. Não quero nem vê-la até acalmar a minha raiva, mas você sabe que logo passa. Não sou rancoroso.
— Está bem, deixarei ela em minha casa por pelo menos 1 mês.
Nicole— Amiga, por favor, levanta, está apertando a minha bexiga... — Ouvi uma voz distante, até pensei que estava sonhando, mas senti uma mão no meu rosto, dando leves tapas e acordei assustada.— Onde estou... — Levantei, sentei-me e olhei para Cássia. — Caramba! Por que estou no meio das suas pernas? Fecha isso, menina. — Dei um pulo ao perceber que estava com a cabeça no meio das pernas de Cássia, ai caramba, acho que voltamos aos meus dias de recém-nascida, mas sem fraldas, que situação!Acordei deitada sobre a minha amiga. O meu corpo estava em péssimas condições. Se eu não lembrasse da festa da noite que se passou, poderia jurar que fui atropelada. E com certeza acreditaria nisso. A sensação era como se tivesse sido lançada em meio a um caos físico e mental, sem recordar como cheguei lá.Não vou negar, dessa vez a festinha saiu completamente do controle. Foi tão descontrolada que me vi obrigada a buscar refúgio na casa da Cássia, ciente de que o Sr. insuportável Foster chegari
ContinuaçãoCarlos saiu do quarto e eu, que estava com um vestido curtinho, pedi para que Cássia me emprestasse uma roupa para que eu tomasse um banho e voltasse para casa antes que o homem das regras viesse atrás de mim.Tomei um banho e me vesti com roupas dela, sentando-me para me alimentar. Dona Sônia é um amor, fez um café da manhã maravilhoso, já alertada por Carlos de que eu estava aqui.Assim que Dona Sônia me avistou, abriu os braços e me deu um abraço apertado e aconchegante.— Menina, já te falei, venha aqui quando quiser, mas não precisa entrar pela janela. Ouviu, Cássia. — Dona Sônia nos repreendeu e dei um sorriso contido para Cássia.— A senhora iria brigar se nós te acordasse, mãe, te conheço bem. — disse Cássia.— Eu sei, a bronca ia vir com força total, mas vocês se controlem, e Nicole, você é muito nova pra viver assim e beber desenfreada, pode para com isso. Você acha esse homem tão arrogante, porém ele está sabendo te colocar limites. — Fiquei pasma ao ouvir a tia
No carro, segui com os seguranças mal-humorados na frente e o Brian, que sempre tira onda comigo, sentado ao meu lado. Ele desligou a ligação que com certeza era com o Sr. Foster e soltou essa pérola:— Quando vou ver sua amiga novamente? — Brian brincou comigo. Entre os seguranças ele é o mais tranquilo, e em pouco tempo de convívio nos tornamos amigos, acredito que ele tenha compaixão por mim, é claro, é difícil aturar Lucas Foster.— Acredite em breve vocês trocam mais alguns beijos, Brian. Mas você pode procurar por ela já que sabe onde ela mora. — Comentei com ele. Ele e Cássia ficam quando querem, por mais que nenhum dos dois queira levar um romance a sério.— Procurarei ela, sim, principalmente agora que você irá sumir por uns tempos. — Olhei para ele com as sobrancelhas erguidas. — Brincadeira, rsrs, mas e o seu juízo onde enfiou? Está na hora de criar juízo.— Amanhã, depois do furacão que atingirá o Brasil, eu criarei juízo.— Pode ser depois da chuva? É mais provável rsrs.
Passamos por ruas cheias de movimento, pessoas da minha idade se divertindo. Tem horas que me pego pensando como seria a minha vida se algo tivesse mudado, se meu pai ainda estivesse aqui. Será que seria muito diferente? Será que eu seria uma jovem mais ajuizada?Talvez eu tivesse inventado uma desculpa melhor para escapar das situações loucas em que me meto! Como minha avó dizia, tenho o sangue ruim do meu pai, de gostar de ir contra a quem me impõe regras, odeio segui-las.O carro se aproximou da casa que tem sido minha morada, o portão se abriu e avistei o carro da Lara estacionado.— O casal sem sal já deve estar falando de mim, não é à toa que minha orelha está pegando fogo. — comentei com Brian.— Rsrs, saiba que estarei aqui para desabafar quando quiser, está bem. — Brian disse. Assenti e desci do carro antes que ele fosse o cavalheiro de sempre e abrisse a porta para que eu saísse.Ao adentrar na casa, pude ver o olhar da dona Lourdes para mim. Ela tinha os olhos marejados e v
LucasNicole me tira do eixo… Detesto desentendimentos, por isso sempre vivi na minha própria bolha, tendo contato apenas com quem realmente desejo. Não mantenho contato com as minhas tias, primos ou qualquer outra pessoa, exceto o meu primo Humberto, não mantenho pessoas por perto nem mesmo pelo vínculo sanguíneo. Ele não é apenas família, mas também sinônimo de lealdade. Nicole acha que pode fazer o que quiser, mas não é assim, especialmente sob o meu teto e a minha tutela. Não entendo como essa pessoa sem juízo ainda não me enlouqueceu; a sua falta de juízo está afetando a minha sanidade. Ela é a primeira pessoa na minha vida com quem me sinto obrigado a conviver. Poderia, sim, abrir mão de sua tutela e deixá-la a Deus-dará, mas não tenho coragem pra isso. Sabe por que não desisti dela? Porque ela tem uma mãe muito interesseira, que nem mesmo o pai dela a quis presente em sua vida - pelo menos foi o que descobri por meio de uma carta deixada com a minha mãe. A dona Carmem entregou
Cumprimentei o meu primo com um abraço e nos acomodamos, então pude responder à sua provocação.— Não brinque com isso, você sabe que sou um homem livre e não troco a minha liberdade por nada neste mundo. — Tirei o celular do bolso e o coloquei sobre a mesa, bem no centro da sala.— Pensei que a lua de mel teria mudado um pouco os seus conceitos, cara. — Humberto brincou, sorrindo.— Lua de mel? Coitada da Lara, merece um marido que lhe dê uma lua de mel onde o cara não arranje outras escapadas.— Sério que fez isso? Saiu com outras mulheres na sua viagem de reconciliação? — ele fingia estar surpreso. Humberto, melhor que qualquer um, sabe que eu e Lara não temos nada. Eu jamais olharia para ela com malícia ou luxúria, por mais que ela seja uma bela mulher. Eu a admiro, sempre foi uma boa amiga e sei dos sentimentos dele por ela.— Cara, você sabe que foi tudo fachada. Apenas continuei com a nossa rotina, nada mudou, até nessas horas mantive o nosso padrão de sempre.— Mas você e a La
NicoleO caminho para a casa da Lara foi meio entediante, sabe quando a pessoa tenta puxar papo de todas as maneiras, mas você simplesmente não está no clima? Foi exatamente assim. Não tenho nada contra a Lara, aliás, acho que ela não merece um cara que passa o tempo todo conversando com outras mulheres, como seu suposto amado faz. Tive a prova disso através do meu perfil fake e devo dizer, ela é uma das razões pelas quais ainda não coloquei em prática meus planos, já que o namorado dela está super insistente em marcar um encontro comigo.Pena que ele não tem a mínima ideia de que sou eu por trás daquele perfil, e se depender de mim, vai continuar sem saber. Tenho tudo planejado. Que ele pense que dita as regras, como faz com aquelas mulheres que nem sequer leva para o quarto de casa. Quem já ouviu falar de uma mulher se arriscando a transar com um homem no escritório de casa quando há vários quartos disponíveis? Talvez seja algum fetiche estranho, ou ele reserva sua cama exclusivamen
LaraObservei Nicole entrar no quarto e fechar a porta, deixando-me com um peso no peito. Respirei fundo, consciente de que lidar com ela seria crucial para ajudar Lucas. Afastar Nicole dele neste momento se torna uma necessidade premente; do contrário, temo que ele mergulhe em um estado de desequilíbrio emocional. A relação entre os dois é permeada pelo ódio mútuo, e testemunhar Lucas assim, tomado pela raiva e sem paciência, é doloroso. É uma ocorrência rara, mas quando acontece, mal consigo suportar vê-lo tão perturbado. Surpreendentemente, mesmo os problemas prementes na empresa não conseguem provocar nele um estado tão caótico quanto o causado por Nicole. É intrigante como ela é a única pessoa capaz de verdadeiramente tirá-lo de seu estado passivo. É por isso que desejo cultivar uma amizade com ela: para compreender como estabelecer limites e para estar ciente de todas as suas ações contra Lucas. Não permitirei que ela o prejudique de forma alguma. Meu objetivo é garantir que ele