CAPÍTULO QUATRO
Anna estava escrevendo quando foi anunciada uma visita. Ela ficou apreensiva – O que mais poderia ser?
— Joaquim? — Perguntou.
— Não, senhora. Trata-se de Henri, o conselheiro de Cristal.
— Deixe-o entrar.
Henri entrou no salão, admirando o ambiente, mas se perdeu nos pensamentos ao ver Anna.
A elegante rainha caminhou em sua direção.
— Seja breve. — Ela pediu.
— Minha rainha, gostaria de pedir para fazer parte de sua guarda.
— Pensei que fosse questionar o motivo de não ser mais o conselheiro de Cristal.
— Não entendo por que me tirou do cargo de confiança, mas não era algo que eu realmente queria fazer.
— Você é jovem demais, não tem experiência de vida para ser conselheiro. Porém, reconheço que atuou bem.
Henri se irritou, mas tentou se controlar.
— A majestade irá me aceitar em sua guarda?
— Soube de sua coragem, não vejo razão para negar, mas não sou eu quem escolhe quem deve estar no exército ou na guarda do castelo.
Anna olhou para a jovem parada ao lado.
— Safira.
A jovem se aproximou. Henri, em outra situação, poderia achá-la bonita, mas manteve-se sério. Ela tinha cabelos negros que chegavam até as costas e olhos igualmente negros; devia ter a mesma idade de Henri.
— Faça os testes e, se não passar, devolva-a a Joaquim. Seja gentil, pois ele é muito jovem para suportar um treino muito intenso.
— Desculpe-me, mas vejo que ela tem minha idade e é mulher. Não acredito que seja mais forte que eu.
Anna olhou para Safira com um leve sorriso.
— Não se engane com minha aparência, Henri, pois sou muito mais velha que Anna.
Os olhos de Safira brilharam de forma misteriosa, semelhantes aos do dragão que havia prendido Henri. Ele deu um passo atrás, surpreso e cauteloso.
Ele olhou para as duas enquanto se aproximava, franziu a sobrancelha e perguntou: — Tive a impressão de que usou magia. Nunca ouvimos falar de algo assim. O que foi aquilo?
Anna, então, sorriu.
Henri disse à família que seria treinado no castelo.
— Meu filho, tem certeza de que é isso que você quer?
— Mãe, é minha chance.
Joaquim abanou a cabeça.
— Sou eu quem deveria morar no castelo.
— Você já teve sua chance, Henri falou agressivamente com o tio.
Emma percebeu a frieza no filho ao falar com Joaquim.
— Sim, mas terei a terceira, afinal, poderei visitar meu sobrinho querido e aproveitar para paquerar a Anna.
Henri cruzou os braços e o encarou com um olhar agressivo.
Minha mãe tem razão, Anna merece um homem que a deseje e queira tê-la em seus braços. Joaquim o olhou confuso.
— Por que mudou de ideia?
Henri ficou sério.
— Porque você não a vê com os mesmos olhos de um homem que a deseja. Virou-se e saiu. Emma estranhou o comportamento do filho, enquanto Joaquim coçava a cabeça.
Os homens da guarda aceitaram Henri e começaram a ensiná-lo. No entanto, a maior dificuldade era passar nos treinos com Safira, que era excessivamente rigorosa com ele. Os outros observavam seu treino com admiração, pois o jovem exibia a postura de um rei.
Havia boatos de que Joaquim havia oferecido Henri como herdeiro para Anna, o que gerava especulações entre o povo. Eles desejavam um herdeiro, temendo que, no futuro, o reino fosse dividido entre outros domínios.
Henri agora se vestia como os homens da guarda, com a diferença de ser um aprendiz. Porém, o que realmente desejava era estar dentro do castelo, perto de Anna. Ele só a via brevemente, passando com Safira e os guardas quando saía do castelo.
Com o tempo, Henri foi ganhando habilidade, chamando a atenção de todos no castelo. Nos treinos, muitos iam vê-lo lutar. Anna, certa vez, curiosa, o observou da janela. Os servos e guardas pareciam ver seu rei treinando, lembrando-a dos treinos de seu irmão.
Safira olhou para a janela e Henri a viu. Seu coração se encheu de paixão.
Safira, resolvendo testar seus limites, contrariando Anna, chamou o chefe do exército e mandou que lutasse com Henri. O povo torcia por Henri, o que irritava o chefe do exército.
A luta terminou empatada, quando Anna os mandou parar, percebendo que dali em diante seria uma questão de vida ou morte. Ela parabenizou os dois e olhou para Safira.
— Vejo que está tentando substituir Eduardo?
— Ele não está se recuperando, devido à sua idade avançada. Rainha, precisamos de um líder para nossa guarda.
Os homens da guarda sorriram, e o chefe do exército cumprimentou Henri com um gesto breve.
Henri não conseguia desviar os olhos de Anna. Ela o olhou desconfiada e seguiu para o castelo.
Henri estava no alojamento, sentado na cama, com pensamentos confusos. Não sabia o que fazer para se aproximar de Anna. Decidiu dar uma volta e saiu do castelo. De onde parou, olhou para a montanha distante e sentiu uma pontada de esperança.
— Um dia, Anna, você será minha. — disse, olhando para uma luz que surgia no cume da montanha.
Ele voltou para o castelo e seguiu até o alojamento. Deitou-se na cama, com os braços atrás da cabeça, e adormeceu.
Era madrugada quando os homens começaram a gritar, ordenando que se levantassem e se preparassem.
— Rápido! Protejam a nossa rainha. Sejam rápidos!
Henri pulou da cama, se vestiu rapidamente, pegou a espada e correu para fora. Homens estavam lutando contra uma espécie de urso. Ele correu, golpeando um deles. No pátio, olhou para o castelo e seguiu em direção a ele, desviando dos ursos. Nos corredores, havia servos e guardas caídos. Henri chegou ao salão e viu uma mulher ruiva falando com Anna e Safira. A rainha e sua serva ameaçavam a mulher.
— Anna, desista!
— Desista você, pois não vai conseguir! — avisou Safira.
— Dessa vez tenho algo preparado para ti. Naveguei por terras distantes até encontrar... — a mulher mostrou uma bola azul.
Safira correu em direção a ela, mas foi lançada para longe pela luz que saiu da bola.
— Safira! — gritou Anna.
A rainha tentou se defender da luz, protegendo-se com a espada, mas a energia parecia estar se esgotando. Aos poucos, a luz a atingiu, e ela gritou antes de cair.
Henri viu Anna começar a congelar. Ele correu em direção à bruxa, que teve que parar de atacá-la para se defender do golpe de sua espada. Henri girou a arma e começou a atacar. A bruxa não entendeu por que estava com tanta dificuldade. A fúria do rapaz parecia ser mais forte que ela.
Safira tentou se levantar.
— Henri, cuidado!
Henri confrontava a bruxa, que começou a recuar. Com um golpe certeiro, Henri cortou a cabeça da bruxa. O corpo dela virou pó.
Safira, com lágrimas nos olhos, gritou:
— Não!
Anna despencou no chão quando tentou se levantar, e Henri correu até ela. Anna estava gelada, com os lábios roxos. Henri a pegou no colo, e um homem esquelético apareceu, pedindo para acompanhá-lo. Estavam levando a rainha para o quarto.
Henri colocou Anna sobre a cama, e o homem jogava vários cobertores sobre ela, tentando esquentá-la. Henri tirou a roupa e ficou apenas de calção, entrou debaixo do cobertor e puxou Anna para si, esfregando seu corpo com as mãos.
— O que está fazendo? — perguntou o homem.
— Ouvi dizer que o contato com o corpo ajuda. Fique quieto.
Anna abriu os olhos e murmurou algo que Henri não entendeu. Eles se olharam por um tempo. O homem ao lado sentiu-se constrangido com o olhar deles.
Anna desmaiou. Henri a abraçou e encostou o rosto nela.
Safira entrou no quarto, em prantos. Olhou para Henri e Anna e, em seguida, pediu para o homem chamar o médico.
Henri beijou a cabeça de Anna e sentiu o perfume do cabelo dela, fechando os olhos.
O médico chegou e ficou sem jeito de acordar Anna e Henri, que dormiam.
— Doutor.
— Deixe-a dormir. Amanhã pela manhã, irei examiná-la. Vejo que ela está bem.
— Bom, vou pedir que o jovem vá.
Ele segurou o pulso de Safira.
— Ele salvou a vida dela, está funcionando. Deixe-os.
Safira ouviu o médico e se retirou.
CAPÍTULO CINCOAnna abriu os olhos e viu o tórax forte e os braços definidos que a envolviam. Ergueu a cabeça e viu o rosto jovem de Henri. Ela corou e começou a se afastar dele. Henri acordou com um belo sorriso.— Anna! Você está bem?A rainha sentou-se às pressas, evitando olhar para o peito nu de Henri.— Estou. Obrigada por ter cuidado de mim.Henri ficou a observando, e Anna evitou olhar para ele.— Já pode ir. Vá. — ordenou.Ele sorriu.— Anna, eu...Mas o que ele pretendia dizer foi interrompido pela porta que se abriu.Safira entrou com o médico.— Anna, que felicidade em vê-la melhor. Agora, você pode ir, Henri.Henri, mesmo com desagrado, levantou-se e começou a se vestir. Anna olhou para o jovem e sentiu a bochecha queimar. Ela nunca havia estado na cama com um homem, muito menos com um jovem que tinha idade para ser seu filho.— Posso examiná-la, rainha? — perguntou o médico.Henri saiu às pressas.À tarde, Safira gritava com Henri. Ela não dizia o porquê, apenas o repreen
CAPÍTULO SEISHenri, a cada dia, se aproximava mais da rainha Anna. Todos sabiam da intenção dela de torná-lo seu futuro herdeiro. Ela admirava nele algo inexplicável, uma qualidade incomparável. Anna estava estudando os decretos de Tabata sobre herdeiros. Ele passou a ter professores para ensiná-lo a ser um rei.Henri pensava em como resolver a situação em que vivia, quando a serva entrou.— Safira.— Sim, Leona. — Disse Safira.— Seu banho está pronto.— Tenham uma boa noite. — Falou Safira para Henri e Anna.Anna caminhou até a varanda e ficou olhando as estrelas.Ele a seguiu, parando atrás dela.— Há muitos anos não via o céu de Tabata tão lindo.Ela se arrepiou com o vento gelado. Ele tirou a capa e a cobriu.— Henri, você está se tornando um filho que nunca tive. Enche-me de orgulho.Henri olhou para o salão vazio. Não havia mais nada entre eles, aquele era o momento.— Anna. — Ele a abraçou por trás.— Henri…— Por favor, não posso aceitar isso. — Sussurrou ele no ouvido dela.
CAPÍTULO SETEEra tarde da noite, e Anna ainda procurava algo para ocupar sua mente. Havia cartas a serem escritas, que seriam enviadas para as vilas e aldeias do seu reino.Ela estava distraída e se assustou quando ouviu a voz do jovem.— Meu amor.Anna ficou surpresa, pois ninguém havia avisado sobre a presença dele no castelo.— Henri, como está seu tio?— Não vim aqui falar do meu tio, por mais egoísta que possa parecer.Anna levantou-se.— Eu não posso ficar com você. Você é jovem demais para mim, além de ser um plebeu.— Meu tio também é plebeu.— Há um decreto de meu irmão sobre seu tio. Na época, eu não seria rainha.— Você é rainha agora, então faça um decreto, se necessário, para permitir nossa união.Anna ficou olhando-o, constrangida. Como ela poderia se casar com um jovem da idade dele?— Pare, Henri. Seu tio está doente. Algo entre nós seria um desrespeito.Henri tocou o rosto de Anna e começou a cantar. O mundo vai ver O quanto eu amo você Não me importo com o que v
CAPÍTULO OITO— Anna.Henri a chamou quando ela passou por ele distraída. Apesar do vestido negro de luto, ele só via a beleza de sua rainha.— Eu a quero hoje. Já lhe dei tempo para o luto de meu tio. — Henri, ele era seu tio, faz só uma semana que ele se foi. — A morte dele não muda o fato de que a fiz minha mulher, então não vou dormir no outro quarto.Henri seguiu para sua aula de história. Anna colou a mão no rosto, sentindo-se frustrada por não conseguir controlar os impulsos de Henri. A cada dia que passava, o rapaz se tornava mais teimoso.Anna recebeu uma carta sobre a comemoração do conselho de Gronk.Ela não gostava de comemorações. Era cansativo, e toda vez ela precisava dançar para Antunes.Safira entrou com olhar distante. — Safira, mostre-me o futuro. — Sabe que não é correto ver, só em casos de vida ou morte. — Faça. Quero ver.A imagem foi se formando dentro da fumaça. Anna seguia pelo corredor, e ouvia o choro de uma criança. Ela abriu a porta e deu um belo
CAPÍTULO NOVEAnna seguiu até onde estava o conselho. Antunes estava diante do conselho e se virou para ela com olhar de desprezo. — Rainha Anna, está sendo acusada de traição a honra deste conselho. Falou o mestre. Os reis e rainhas dos sete reinos estavam ali a confrontando.— Não entendo a acusação.— Ter um amante Anna. É normal entre nós, mas quando já se consumiu o ato do casamento. Tua reputação sempre foi à melhor de todos. Mas nos enganou ardilosamente alegando adotar um herdeiro quando na verdade é teu amante. Falou o mestre.Anna manteve a posição de rainha. — Eu a vi nos braços de Henri, entregando-se a um jovem que poderia ser seu filho. Falou Antunes.— Minha a vida só pertence a mim e não tenho marido para ter que dar satisfação.— Saiba que jamais vamos aceitá-lo como rei, pois é jovem demais e todos nós somos velhos para aturar uma criança entre nós.— Ele será rei e por aclamação já é. O povo o reconheceu como. — Ele é rei porque a tomou como sua mulher, mas o re
CAPÍTULO DEZHenri partiu pela manhã e pretendia voltar no final da tarde do dia seguinte, como prometera a Anna. O problema é que seria exatamente no dia do casamento. Ele precisava tentar algo, e qualquer coisa era melhor do que não fazer nada. No percurso, um guarda informou que estavam sendo seguidos, e, à frente, 30 homens surgiram. Henri foi obrigado a fugir após a luta, e os guardas feridos o mandaram partir.Henri estava exausto e já era noite quando os homens, que pareciam ser de Antunes, ainda o seguiam. O jovem escalou a montanha e continuou correndo. Sabia que estava apenas a poucas horas de distância daqueles homens. Durante a manhã, acabou tombando de cansaço. Estava no topo da montanha. Olhou para a cratera e lá estava um dragão enorme. Henri começou a descer, pendurou-se em trepadeiras e se jogou em cima do dragão. Havia uma espada cravada em seu ventre.Ele tocou na espada.— Draco, sou amigo de Safira. Ela disse que é o único que pode me ajudar. O amor da minha vida
CAPÍTULO ONZE— Majestade. A voz de Drago ressoou suave, mas cheia de determinação. Henri olhou para ele, ainda tentando assimilar as palavras que acabara de ouvir. — Drago, tem certeza de que querem voltar para a montanha? Não seria mais seguro permanecer aqui? — perguntou Henri, com um tom de preocupação. Drago, com seus olhos de um azul profundo e um semblante sereno, assentiu com a cabeça. — Sim, lá é melhor para nós. Somos os únicos que habitam aquele lugar, mas sempre que precisar, basta que me chame, e viremos. Henri suspirou, sabendo que essa era a melhor decisão para Drago e seu povo. — Obrigado, meu amigo. Eu farei isso, caso precise de ajuda. Drago olhou para ele com uma expressão quase paternal. — Henri, tome.Henri se virou e viu Drago estender algo em suas mãos. Um cordão, com uma joia de brilho suave, que parecia capturar a luz da lua e refletir um tom azul misterioso. — Uma joia especial do seu reino? — perguntou Henri, intrigado. Drago balançou a cabeça com u
CAPÍTULO 1O sol reluzia seu brilho em um céu sem nuvens. O dia estava perfeito. A alegria no castelo irradiava por todo o reino. De longe, viam-se os reis e as rainhas de outros reinos chegando para o casamento, acompanhados de seus servos e fiéis. O povo de Tabata se misturava aos visitantes, mas, apesar do vasto terreno do castelo, não havia espaço para todos. Por isso, a festa do casamento e a cerimônia seriam realizadas no campo ao lado.Em volta do baluarte, os fiéis cantavam uma canção que envolvia os visitantes.Que belo dia de solNossa bela princesa irá se casarOh! Oh! Lindo amorOh! Oh! Lindo amorNosso Joaquim! Jovem plebeuNossa Anna! Jovem princesaLindos herdeiros virão. Que belo dia de solNossa bela princesa irá se casarOh! Oh! Lindo amorOh! Oh! Lindo amorA janela do quarto real foi aberta pela serva. A jovem princesa olhou para fora e sorriu ao ouvir a música. Atrás dela, a serva, que a criara com tanto amor, observava os belos cabelos castanhos claros da princes