Meses antesRainha Rita Habel— Majestade, precisa se alimentar.Todo ano perto do aniversário dela é assim, fico doente. A saudade do bebê que gerei e a morte levou antes que pudesse gerar pesa demais.Dessa vez é pior, passou o que seria seu aniversário de dezoito anos e ainda não me recuperei do impacto desse dia.— Não consigo. Eu sinto que vou enlouquecer. Meu coração nunca aceitou a morte do meu bebê. E agora começo a ouvir o nome dela pelo castelo. O que será de mim? Estou mesmo perdendo a sanidade?— Majestade...— Pode levar, Livi. É melhor um rei viúvo que um rei casado com uma louca.— Majestade, eu...— Me deixe. Quero dormir e nunca mais acordar. Empurro a mesinha com a comida. Livi esteve ao meu lado a vida toda, é mais que uma criada, é minha amiga. Tanto que já ofereci a ela que se aposente, mas ela preferiu continuar ao meu lado.— A sua filha está viva. — Ela solta de uma vez e cobre o rosto com as mãos.— O que disse? — meu corpo entra em alerta.— Era uma menina. O
SaymonEstou no quarto do meu filho, babando nele dormindo, quando sinto...Alguém está aqui.Rimena.Disparo em direção a porta.A minha morena continua lendo. Não notou a minha presença, menos ainda da mulher que vem em nossa direção como se o feitiço que tanto tive trabalho para fazer não valesse nada.Sei bem de quem se trata.Maldito poder do sangue materno.Sinto Rimena segurar minha mão. Finalmente notou a intrusa.— Saymon? — se levanta e se coloca atrás de mim, sem soltar minha mão. Está com medo.Odeio pensar que ela sequer se imagina revivendo o pesadelo que Diana causou. Eu tenho pesadelos toda noite com aquele maldito episódio.Agora estou aqui, não vou deixar ninguém machucá-la. Aperto sua mão para deixar isso claro.— O que faz aqui? — questiono a intrusa, que aponta para Rimena.— Estou procurando a minha filha.— Ela é minha mãe? — sussurra nas minhas costas.— Você saiu do ventre dela, o que não significa que seja sua mãe.Há lágrimas descendo pelos olhos da feiticei
RimenaNão suporto mais ficar nesse lugar à espera de alguém vir tentar nos matar.Sim, eu estou com o homem que amo, que agora tenho certeza que sente algo por mim, estou com meu filho e com a mãe que nunca esperei encontrar... Mas sinto que vou fazer meu filho crescer como eu, longe de pessoas, de descobertas. Eu quero vê-lo correndo com amigos, frequentando uma escola, quero que seja a criança que nunca fui, quero que tenha escolhas.— Não sou cozinheira, mas acho ovos negros uma especialidade muito rara. — É a voz da minha mãe.— Droga! — Olho para a panela e vejo a fumaça saindo dos ovos queimados.— Nem para isso eu presto.Nem sei porque tento, sou uma péssima cozinheira, Saymon que cuida da nossa alimentação.— Ainda dá tempo de sua mãe te ensinar a cozinhar. Eu sei algumas coisas.Coitada. Saymon tentou e o resultado foi desastroso todas as vezes. Pelo menos rendia muitas risadas, mãos bobas e beijos gostosos com vários sabores.— Estou me sentindo sufocada — confesso. — Esto
Havia uma profecia com uma princesa e um homem que se transforma em lobo. Assim o mundo que ruiu foi reconstruído.A profecia data do início de Estrela, que surgiu há milhares de anos de uma separação dos seres místicos dos humanos.Por inveja, os humanos se aproximavam cada vez mais da perfeição no que se referia a armas para destruí-los. A última invenção pretendia retirar de forma cirúrgica os poderes de qualquer ser e usar em humanos geneticamente criados. O que mais agravava a situação era que havia uma raça traidora entre os seres mágicos, essa raça eram os lobos, cujo único poder vinha de se transformar em um animal feroz e poder se comunicar com qualquer outro como ele através da mente. Eles também invejavam seus “iguais” por muitos terem maior poder. Por isso, se uniram aos humanos para roubar poder dos outros seres.Foi uma feiticeira que uniu os líderes dos seres sobrenaturais e cedeu sua vida para a criação desse mundo mágico chamado Estrela, para afastar todos do mal caus
— Nasceu, majestade. É uma menina.O rei fecha os olhos com força ao ouvir o anuncio da serva. Esperava que viesse um menino. Tudo estava seguindo conforme a profecia.“Não posso aceitar que essa piralha tire o meu trono. Muito menos que se una a escória do nosso mundo.”A serva lhe estende o pacote onde a bebê suja descansa em um tecido destinado apenas a realeza.— Ela não chorou? — pergunta ao ver a menina quieta. — Não escutei outro barulho além dos esforços da rainha.— Não senhor. Nenhum choro.“Isso é bom. É um sinal do destino.” Pensa.Em sua cabeça começa a se formar um plano.— Entendo. Leve-a para a parte mais afastada dos meus domínios. No Oeste, naquela cidade de mulheres sozinhas. Não quero nenhum homem perto dela até que comece suas regras. Quando começar, vou enviar um eunuco para que se passe pelo seu marido. Pagarei para que eles fiquem o mais distante possível de qualquer outra pessoa. Ela tem que morrer virgem. Não deve nem saber o significado da palavra sexo.O re
Dezoito anos depois...RIMENALevanto com a disposição de uma criança em seu aniversário. O que é quase fato, já que é meu aniversário, só não sou mais criança.Hoje é o dia. Ele prometeu me levar dessa vez, justamente por ser meu aniversário de dezoito anos.O sol mal nascia e eu já estava com café pronto para quando meu marido acordasse. Essa era a minha obrigação, cuidar da casa e da nossa alimentação, meu marido cuida para que não nos falte nada, indo até a cidade e comprando tudo que é necessário em casa.— Bom dia! — falo animada quando ele entra na cozinha.Meu marido não tem o melhor dos humores, mas já aprendi a lidar com isso. Eu cresci entre mulheres e elas me ensinaram que os homens são diferentes em vários aspectos. Eles são mais rabugentos, gostam de mandar, são mais fortes fisicamente, entre outras coisas.Só posso confirmar pelo que sei do Nicolai, pois é o único homem que já vi em toda minha vida.Luma, a senhora que me criou, dizia que o rei ordenou que nos casássemo
SAYMONOs lobos não são bem vistos pelas pessoas nesse mundo. São os parias. E eu sou mais que isso. Sou o renegado que sobreviveu quando a feiticeira amada por todos não voltou das chamas.Por isso escolhi algo em que sou bom e me tornei o melhor, alguém indispensável e temido. Não preciso que gostem de mim, basta que temam. A única pessoa que preciso do meu lado é a minha mulher, aquela que me estendeu a mão e me ajudou a ver quem eu era de verdade.— Quantos faltam? — questiono enquanto limpo a lâmina do meu punhal. O vermelho mancha meu lenço branco.— Apenas uma família — ela responde e recebe meu olhar de negação. — Sem crianças. — Trata de deixar claro.— Então vamos acabar com isso. Quero férias. Só nós três. — Guardo o punhal no coturno.— Três? — levanta a sobrancelha.— Você, eu e sua boceta gostosa.Ouço sua gargalhada. Ela sabe que não estou brincando. Transar com essa mulher é surreal. Considero sua boceta a melhor amiga do meu pau, uma melhor amiga bem safada.Dessa vez
RIMENAMeu marido falava muito sério quando disse que a cidade é longe. Mas exagerou para me assustar. Ficamos na carroça por quase um dia — não três —, parando para descansar e comer.Não reclamei em nenhum momento. Ele já não queria me levar. Se eu abrisse a boca era capaz de Nicolai dar meia volta.Sinto falta de um banho. Mesmo estando no inverno me acostumei a ter um banho todos os dias no mesmo horário. Essa é uma vantagem por ter um rio perto da nossa casa.Apesar do desconforto por não conseguir seguir minha rotina, eu me sentia eufórica, queria olhar tudo que via, principalmente porque pelo caminho, vez ou outra, surgia uma casa ou pessoas. Cheguei a ver crianças brincando, um garotinho... vários. Eu nunca tinha visto um garoto. O único homem que conheço é meu marido. Até quis um filho, mas sem a ajuda de Nicolai seria impossível.As mulheres que me criaram diziam que para ter um filho, bastava o casal desejar muito que ele surgia. A magia do nascimento, era assim que chamava