Assim que Matteo saiu, olhei para o quarto, ele estava tão quieto, a não ser pelos meus pensamentos ecoando pela dimensão das paredes. Me levantei ainda em prantos, eu não acreditava no que Matteo havia acabado de falar. Me troquei rapidamente e Gabriel bateu na porta novamente. Limpei as lágrimas e tentei disfarçar o máximo que pude.
— Entre.— disse quase que em um sussurro. — Só informando que o vestido que irá usar no baile já está pronto, comprei nos tons da sua família, para nos misturarmos. Seu pai colocou nosso nome na lista e está tudo conforme o plano. Ele queria que soubesse.— Gabriel disse seriamente. Olhei para Gabriel e assenti com a cabeça. — Obrigada, você... — Não Yhelena, não disse nada sobre Matteo.— Gabriel disse firmemente. Em seguida Gabriel se retirou rapidamente e eu voltei a deitar na cama, perdida nos meus pensamentos, enquanto minhas lágrimas molhavam o travesseiro. ... Dias já haviam se passado e hoje era finalmente o dia do baile, tudo provavelmente iria acabar hoje, Matteo iria descobrir o paradeiro de Milena e seria morto por papai, para que Gabriel assumisse a máfia Adsa. Tudo conforme o plano. A cabelereira puxou meus cabelos e eu me despertei dos meus pensamentos. Me olhei no espelho, ela estava elaborando um coque baixo mais para o lado. Ele tinha algumas mechas sobre meu rosto, mas estava belíssimo. Olhei meu reflexo, minha maquiagem já estava pronta, era em tons quentes e com um esfumado marrom, tudo combinando perfeitamente com as cores da minha família. As cores da minha família são um vermelho puxado para o marsala e azul, ambos significavam força e seriedade. As festas normalmente usavam essas cores e hoje especificamente, seria um baile de máscaras, planejado especialmente para Matteo, mas papai provavelmente fecharia vários acordos. Poderia apostar que somente algumas pessoas sabiam desse acordo com Gabriel e que o restante da família nem desconfiava. Mas de certa forma, se aliar com os Adsa era um bom negócio, eles tinham rotas melhores e fornecedores que valiam a pena. Tomavam conta quase da Itália inteira, tinham gente infiltrada em todos os lugares, política, polícia, imprensa... Eles estavam em toda parte. Por isso era fácil transportar a mercadoria e receber também. Os negócios da família Adsa são grandes, eles tem empresas, boates e restaurantes, tudo para encobrir as drogas e a corrupção. Meu pai não perderia a oportunidade de fazer parte disso, de ajudar a família Mikazia crescer. De ter mais rotas e aliados. Assim que a cabelereira terminou, ela se retirou e fui me trocar. Gabriel havia trago o vestido de manhã, ele era marsala, longo e tinha o estilo sereia. Suas costas eram nuas e tinha um fenda em sua lateral que vinha até minha coxa. Ele era trabalhado em pequenas pedrarias e rendas, tudo o deixava precisamente perfeito. Coloquei o vestido e me olhei no espelho, eu estava linda, nem acreditava o quanto aquela cor destacava meus cabelos ruivos e ornavam perfeitamente com minha pele. Coloquei a máscara que combinava com o vestido, ela tinha diversos detalhes e pedrarias, provavelmente haviam sido confeccionados para essa ocasião. Saí do quarto e desci para a sala. Eu havia chegado primeiro, lá estava o doutor me olhando escorado na porta. — Você está linda...— ele sussurrou. Eu sorri. Logo fomos interrompidos por uma outra figura imponente descendo as escadas, era Matteo. Ele estava com um terno preto, assim como sua máscara, que destacam seus olhos verdes. Ele desceu as escadas seriamente, me encarando a cada passo seu. Eu não havia falado com Matteo, desde a noite em que eu me entreguei para ele e era melhor assim. Matteo terminou de descer as escadas, mas seus olhos continuavam nos meus e eu não conseguia tirar os meus olhos dos dele. Ele estava tão lindo, senti meu coração apertar, como eu poderia estar participando disso? Estar armando algo para matar... o homem que eu amo?! Desviei o olhar e logo olhei para as escadas, lá estava Gabriel, descendo com seu terno azul marinho, perfeitamente alinhado. Gabriel nos olhou, provavelmente notou o clima que estava entre eu e Matteo e não evitou em dar um leve sorrisinho. — Vamos?— ele perguntou. Matteo assentiu com a cabeça e nos despedimos do doutor, saindo da casa e entrando no carro. Matteo ligou o carro e logo partiu rumo a minha casa.Era inevitável sentir arrepios ao ver que eu estava chegando perto da minha casa, comecei a suar frio e a tremer. Meu peito doía de angústia, mas ao mesmo tempo de alívio, ao lembrar que isso tudo iria terminar. Terminar... — Não nos chamaremos pelos nomes essa noite, você será Lorenzo.— Gabriel disse firmemente.Olhei para Gabriel, deixando meus pensamentos de lado.Matteo olhou Gabriel, mas logo voltou a atenção para a estrada apenas assentindo com a cabeça.— Você é um vendedor de drogas, então se alguém quiser fechar um acordo, desvia o assunto.— Gabriel continuou seriamente.Olhei para Gabriel pelo retrovisor e ele colocou a sua máscara azul escura.— Se quiserem se comunicar comigo, me chamem de Tomaso. Eles acham que eu sou seu ajudante nos negócios Matteo, então provavelmente irão falar comigo primeiro.— E eu?— perguntei.Matteo me encarou pelo retrovisor, senti meu corpo arrepiar.— Gabrielle.— Gabriel afirmou.— Tu é esposa de
— E o que você vai fazer?— perguntei.Matteo me pegou pelo pulso e andou entre a multidão disfarçadamente, até encontrar um longo corredor que dava para uma segunda sala. Aquele era o caminho mais longo para o segundo andar, contando que o caminho mais rápido, estava impedido por causa do palco. Andamos pelo longo corredor, onde dava para a minha sala de estar e lá estava a escada. Não havia ninguém vigiando e tudo na medida do possível, estava em silêncio, apenas uns ruídos ao fundo vindos do hall, onde estava acontecendo a festa.— Não tem ninguém... Todos estão na festa agora, para quê colocar um vigia, se estão entre família?! Esse é o erro de Marco.— Matteo sussurrou, como se estivesse conversando com ele mesmo.Subimos as escadas rapidamente e andamos pelo corredor, abrindo porta por porta atrás de Milena. Quando chegamos no último corredor, vimos um guarda na porta e rapidamente Matteo me fez escorar na parede para o guarda não nos ver. O guarda olhou em
Meu coração apertou e as lágrimas que antes eram tímidas, agora eram constantes e geladas.— Tudo isso era uma emboscada?— Gabriel perguntou.Matteo concordou com a cabeça.— Eles querem poder e para isso sequestraram minha filha... Estavam pedindo poder em troca dela. Mas, descobri que eu estava com uma Mikazia, essa filha da puta! MENTIU PARA MIM, ISSO TUDO ERA UM JOGO YHELENA?!— Matteo gritou me olhando pelo retrovisor.— Não! No começo sim, mas eu... Eu me apaixonei por você.— disse em prantos.— Se apaixonou?— Matteo riu.— Eu confiei em você Yhelena, eu cheguei a...— as palavras de Matteo sumiram, eu vi a decepção em seu rosto.— Por isso disse que não podíamos ficar juntos...— Porque você estava mentindo pra mim? Fazia tudo parte do plano, Yhelena?— Matteo gritou.— Então tudo era encenação? Você nunca... Sentiu nada por mim. Nunca se importou de verdade? Nunca...— a voz sumiu em sua garganta.— Matteo...
Matteo não sabia o que dizer, me olhava com tristeza, mas eu o havia salvado. Vi papai se aproximando, mas Matteo sacou a arma e apontou para ele. — Se afaste dela! — Matteo gritou. Matteo me olhou novamente. — Sinto muito por não ter te falado sobre isso, eu não me importava com nada além da minha... — parei para tentar respirar, tudo estava parecendo um sonho distante, mas tentei continuar. — família. Eu sinto muito, Matteo. Sinto muito por acobertar... Seu irmão. — sussurrei. Matteo olhou para mim confuso. Gabriel então se aproximou e apontou a arma para mim. Logo, papai, em um movimento rápido, sacou a arma e apontou para Gabriel. — Não se atreva! — Papai esbravejou com a arma apontada para Gabriel. Matteo olhou para os dois, mas logo sua atenção voltou para mim. — Gabriel planejou tudo isso... Ele sabia de tudo. — sussurrei. — Ele queria que você morresse, para que assim ele fosse o chefe da família. Ele planejou tudo isso. Matteo então olhou para Gabriel, que o es
Acordei com a visão turva, olhando ao redor, tentando entender o que havia acontecido e por que minha cabeça doía tanto. Tudo naquele lugar era em tons pastéis, calmos e quase mortos. Ouvi um som constante e, ao olhar para o lado, percebi que era o batimento do meu coração sendo monitorado na máquina ao lado da cama. Tentei me levantar, mas uma dor intensa me fez permanecer deitada. As cortinas azuis e o vidro que mostrava o lado de fora me diziam que estava em um hospital, mas por que eu estaria ali?Algumas lembranças começaram a ressurgir na minha mente, e os tiros assombraram minha memória, trazendo de volta a imagem do meu pai baleado, fazendo meu peito apertar. Meus olhos começaram a lacrimejar ao reviver aquele momento, mas um alívio misturado com dor me invadiu ao lembrar de Matteo e Milena saindo do tiroteio, eles estavam a salvo.— Você finalmente acordou... — uma voz comentou, quebrando meu devaneio.Olhei para cima e vi uma enfermeira.
Eu encarava Ângelo pelo retrovisor do carro, mas ele estava focado demais na estrada. Notei que ele suava, e seus dedos tremiam enquanto conduzia o volante.— Ângelo? — o chamei.Ele parecia não me ouvir, perdido demais em seus pensamentos.— Ângelo?Seus olhos se voltaram para mim pelo retrovisor, e eu esbocei um sorriso fraco, sentindo a dor no ombro irradiar por todo o meu corpo.— Está tudo bem? — perguntei.— Está... só que eles vão nos matar — respondeu, voltando a atenção para a estrada.Meu coração disparou com a resposta. Não queria, mas o medo me dominava. Ele estava arriscando tudo por mim.— Por que veio me buscar? Você está colocando sua vida em risco — murmurei, a dor no ombro latejando.— Não podia te deixar morrer, Yhelena — disse ele, firme.— E eu não posso deixar você pagar por algo que eu fiz. Seu pai é o chefe agora, Ângelo... e, para manter a imagem, ele vai fazer o que fo
Acordei em um quarto desconhecido. Ao meu lado, vi Ângelo sentado em uma cadeira, com a cabeça apoiada nas mãos.— Ângelo? — o chamei.Ele levantou a cabeça rapidamente e veio em minha direção.— Como você está? — perguntou, a preocupação estampada em seu rosto.Sentei-me na cama, ainda confusa, e olhei ao redor.— Meio tonta... O que aconteceu? — perguntei, tentando compreender a situação.— Você desmaiou. Estou receoso de que ainda esteja debilitada... Não sei o que posso fazer — Ângelo disse, mantendo uma distância cautelosa.As lembranças começaram a voltar e olhei ao redor, inquieta.— E o Matteo? Onde está o Matteo?— Assim que você desmaiou, ele mandou que eu fosse embora. Então te trouxe para este hotel... — Ângelo sussurrou, a tristeza em sua voz.Senti um nó se formando na garganta. Matteo realmente não se importava comigo.— Descanse. Amanhã pensamos no que vamos fazer — Âng
Chegamos à casa de Matteo, e os seguranças liberaram o portão de entrada. Os carros adentraram a enorme mansão e estacionaram em frente à casa. Matteo saiu do carro com Milena, e Ângelo fez o mesmo, me pegando no banco de trás e seguindo o anfitrião.Entramos na mansão, e Matteo chamou alguns empregados, que logo nos conduziram ao quarto onde eu ficaria. Ângelo entrou comigo no quarto e me colocou na cama com cuidado.— Acho melhor você ir, Ângelo... — sussurrei, minha voz saindo fraca.Ângelo me olhou confuso, como se não entendesse o que eu estava tentando dizer.— Ângelo, se você não aparecer, vão começar a desconfiar. Você precisa voltar para casa — continuei, agora mais firme.Ele suspirou profundamente e se sentou aos pés da cama, seus olhos ainda fixos em mim.— E você? Vai ficar aqui com ele? Sozinha? — perguntou, visivelmente apreensivo.— Já lidei com Matteo uma vez, posso lidar outra. Ele não vai me fazer mal.