Acordei com a visão turva, olhando ao redor, tentando entender o que havia acontecido e por que minha cabeça doía tanto. Tudo naquele lugar era em tons pastéis, calmos e quase mortos. Ouvi um som constante e, ao olhar para o lado, percebi que era o batimento do meu coração sendo monitorado na máquina ao lado da cama. Tentei me levantar, mas uma dor intensa me fez permanecer deitada. As cortinas azuis e o vidro que mostrava o lado de fora me diziam que estava em um hospital, mas por que eu estaria ali?
Algumas lembranças começaram a ressurgir na minha mente, e os tiros assombraram minha memória, trazendo de volta a imagem do meu pai baleado, fazendo meu peito apertar. Meus olhos começaram a lacrimejar ao reviver aquele momento, mas um alívio misturado com dor me invadiu ao lembrar de Matteo e Milena saindo do tiroteio, eles estavam a salvo.— Você finalmente acordou... — uma voz comentou, quebrando meu devaneio.Olhei para cima e vi uma enfermeira.Eu encarava Ângelo pelo retrovisor do carro, mas ele estava focado demais na estrada. Notei que ele suava, e seus dedos tremiam enquanto conduzia o volante.— Ângelo? — o chamei.Ele parecia não me ouvir, perdido demais em seus pensamentos.— Ângelo?Seus olhos se voltaram para mim pelo retrovisor, e eu esbocei um sorriso fraco, sentindo a dor no ombro irradiar por todo o meu corpo.— Está tudo bem? — perguntei.— Está... só que eles vão nos matar — respondeu, voltando a atenção para a estrada.Meu coração disparou com a resposta. Não queria, mas o medo me dominava. Ele estava arriscando tudo por mim.— Por que veio me buscar? Você está colocando sua vida em risco — murmurei, a dor no ombro latejando.— Não podia te deixar morrer, Yhelena — disse ele, firme.— E eu não posso deixar você pagar por algo que eu fiz. Seu pai é o chefe agora, Ângelo... e, para manter a imagem, ele vai fazer o que fo
Acordei em um quarto desconhecido. Ao meu lado, vi Ângelo sentado em uma cadeira, com a cabeça apoiada nas mãos.— Ângelo? — o chamei.Ele levantou a cabeça rapidamente e veio em minha direção.— Como você está? — perguntou, a preocupação estampada em seu rosto.Sentei-me na cama, ainda confusa, e olhei ao redor.— Meio tonta... O que aconteceu? — perguntei, tentando compreender a situação.— Você desmaiou. Estou receoso de que ainda esteja debilitada... Não sei o que posso fazer — Ângelo disse, mantendo uma distância cautelosa.As lembranças começaram a voltar e olhei ao redor, inquieta.— E o Matteo? Onde está o Matteo?— Assim que você desmaiou, ele mandou que eu fosse embora. Então te trouxe para este hotel... — Ângelo sussurrou, a tristeza em sua voz.Senti um nó se formando na garganta. Matteo realmente não se importava comigo.— Descanse. Amanhã pensamos no que vamos fazer — Âng
Chegamos à casa de Matteo, e os seguranças liberaram o portão de entrada. Os carros adentraram a enorme mansão e estacionaram em frente à casa. Matteo saiu do carro com Milena, e Ângelo fez o mesmo, me pegando no banco de trás e seguindo o anfitrião.Entramos na mansão, e Matteo chamou alguns empregados, que logo nos conduziram ao quarto onde eu ficaria. Ângelo entrou comigo no quarto e me colocou na cama com cuidado.— Acho melhor você ir, Ângelo... — sussurrei, minha voz saindo fraca.Ângelo me olhou confuso, como se não entendesse o que eu estava tentando dizer.— Ângelo, se você não aparecer, vão começar a desconfiar. Você precisa voltar para casa — continuei, agora mais firme.Ele suspirou profundamente e se sentou aos pés da cama, seus olhos ainda fixos em mim.— E você? Vai ficar aqui com ele? Sozinha? — perguntou, visivelmente apreensivo.— Já lidei com Matteo uma vez, posso lidar outra. Ele não vai me fazer mal.
NARRADO POR CRISTALAdentrei a enorme mansão; ainda era cedo, cerca de sete horas da manhã. Matteo, como de costume, provavelmente estaria sentado à mesa do café da manhã com Milena. Caminhei pelo corredor, o som dos meus saltos ecoando no porcelanato enquanto seguia calmamente em direção à sala de jantar. Ao entrar, vi Milena na mesa. Ela tomava Sucrilhos com leite e me encarou com um semblante nada agradável. Não era segredo para ninguém que a pirralha não gostava de mim, e era mútuo.— Cadê seu pai? — perguntei.— No quarto... — a garota sussurrou.— Ainda?Milena me olhou nos olhos e, sem responder, voltou a comer.Subi para o segundo andar à procura de Matteo; tinha assuntos importantes para resolver com ele sobre alguns produtos. Caminhei pelo corredor até passar por um quarto que sempre ficava com a porta fechada. Dessa vez, estava aberta, e parecia que alguém dormia ali. Adentrei o quarto e vi Matteo deitado ao lado de Yh
NARRADO POR YHELENAAcordei um pouco atordoada. Olhei para a janela, cujas cortinas abertas deixavam o Sol entrar e me dar bom dia.Olhei para o lado e vi Matteo; ele ainda dormia. O Sol iluminava seu rosto bronzeado e seu cabelo bagunçado. Ele estava sereno. Em segundos, como se pudesse sentir que eu o observava, ele despertou. Confuso, olhou para o teto, como se não soubesse onde estava, até olhar para o lado e me ver.— Yhelena?! — ele exclamou, me olhando nos olhos.— Sim...Matteo se sentou na cama e apoiou a cabeça nas mãos. Eu me sentei na cama e fiquei em silêncio, sem saber o que dizer depois da noite passada.— Transamos? — ele perguntou.O olhei, incrédula. Ele não se lembrava de nada da noite passada?— Não.Ouvi um suspiro. Ele realmente não queria se envolver comigo ao ponto de ficar aliviado por não ter passado a noite comigo?— Acho melhor eu ir. — ele disse, quase em um sussurr
No dia seguinte, Matteo e Milena saíram cedo, e eu fiquei sozinha na enorme mansão, protegida pelos funcionários e capangas de Matteo. Admito que foi essencial para minha recuperação, embora eu tenha tido crises de pânico quase todas as vezes que me lembrei de papai.Dias se passaram desde que eles viajaram. Ângelo tinha me visitado algumas vezes, apenas o necessário para garantir que eu estava bem. Eu sabia que ele queria ficar comigo, mas estava tentando descobrir mais sobre as investigações do meu paradeiro. Para não levantar suspeitas, ele vinha poucas vezes. Matteo havia mandado um recado, dizendo que as coisas em Paris haviam se complicado e que ele precisaria ficar lá por mais tempo. Isso já fazia três semanas. Em geral, eu estava bem, apenas estranhamente enjoada e com dores de cabeça. O médico disse que era por causa do tiro que levei. Enquanto isso, eu esperava ansiosamente pela volta de Matteo.Caminhei pelo quarto e me sentei na cama. De repente, a port
— Eu não acredito que você pôde viajar e deixar ela sozinha aqui, mesmo sabendo de tudo o que estava acontecendo com a nossa família! — Uma voz irrompeu, cortando o silêncio. — Eu não a deixei sozinha, ela estava cercada pelos meus homens — uma outra voz, mais intensa, ressoou no ar, fazendo meu corpo estremecer. — Então você precisa treinar mais os seus homens, porque eles estão se espelhando no homem covarde que é o chefe deles. Acordei de um pesadelo, olhando em volta. Matteo e Ângelo se encaravam, o olhar de Matteo carregado de sombras, enquanto Ângelo mantinha os punhos cerrados, como se estivesse prestes a explodir. O impulso de me levantar e ficar sentada na cama me dominou. Ao me ver, Ângelo correu até mim, seguido por Matteo, que soltou um suspiro aliviado. — Como você está, Yhelena? — Ângelo perguntou, a preocupação evidente em seu tom. Foi então que percebi o colar de
Dias se passaram, e o médico me visitava todos os dias. Após a primeira semana, ele retirou a contenção do meu pescoço. Meu corpo ainda doía, e o ferimento da bala estava quase cicatrizado. Ângelo não apareceu desde o incidente com nossa família, o que me deixava preocupada. Matteo, no entanto, vinha ao meu quarto uma vez por dia. Ele parava na porta e me observava em silêncio, como se nossas almas conversassem sem precisar de palavras.— Yhelena? — alguém chamou.Olhei para frente e vi o meu médico.— Sim?— Você está pálida. Faz dias que não sai do quarto... — ele disse enquanto media minha pressão. — Precisa de sol.Olhei para as janelas que deixavam os raios da manhã entrarem no quarto.— Eu levo ela.Virei-me e vi Matteo na porta, de mãos dadas com Milena. Ela sorriu docemente e correu até mim.— Professora! — ela exclamou, me abraçando.Olhei para Matteo e retribuí o abraço da garotinha.