Matteo não sabia o que dizer, me olhava com tristeza, mas eu o havia salvado. Vi papai se aproximando, mas Matteo sacou a arma e apontou para ele.
— Se afaste dela! — Matteo gritou. Matteo me olhou novamente. — Sinto muito por não ter te falado sobre isso, eu não me importava com nada além da minha... — parei para tentar respirar, tudo estava parecendo um sonho distante, mas tentei continuar. — família. Eu sinto muito, Matteo. Sinto muito por acobertar... Seu irmão. — sussurrei. Matteo olhou para mim confuso. Gabriel então se aproximou e apontou a arma para mim. Logo, papai, em um movimento rápido, sacou a arma e apontou para Gabriel. — Não se atreva! — Papai esbravejou com a arma apontada para Gabriel. Matteo olhou para os dois, mas logo sua atenção voltou para mim. — Gabriel planejou tudo isso... Ele sabia de tudo. — sussurrei. — Ele queria que você morresse, para que assim ele fosse o chefe da família. Ele planejou tudo isso. Matteo então olhou para Gabriel, que o estava encarando seriamente. Matteo me deitou no chão e se levantou para encarar Gabriel. Papai correu até mim e gritou para seus homens por um médico, mas como não havia nenhum, papai pressionou o machucado com força, enquanto um de seus homens saía com o carro para buscar um. Era óbvio que não iriam me levar de carro; se me movessem, poderiam piorar minha situação, então era mais fácil trazerem um médico até mim. — Não me diga que tudo o que ela me disse é verdade, irmão... — Matteo sussurrou. Gabriel sorriu. — Irmão? — Gabriel perguntou. — Matteo... Eu nunca entendi muito bem o porquê de você ter sido escolhido “chefe” da família. Papai morreu, e eu sou o mais velho, não acha que é injusto? Matteo encarou o irmão, como se não acreditasse no que ele havia falado. — Eu não escolhi isso, Gabriel, você sabe que depois que meu pai morreu, a família tinha que escolher um de nós dois. Não tenho culpa de ter sido escolhido. — Matteo disse firmemente. — Era para ser eu... Era eu que tinha que ser o chefe. Eu trabalhei junto com o nosso pai desde a infância. Matei pessoas, cobri mentiras... tudo para o crescimento da nossa família. Sem mim, você não seria nada, Matteo. Eu trabalhei para chegar onde estou, eu estudei cada rota, cada negócio, cada produto, para que hoje fôssemos quem somos. Mas tinha que me contentar em ser sua sombra... Não, Matteo, não era o suficiente, nunca foi o suficiente. — Gabriel disse encarando Matteo. — Você ajudou a sequestrar sua sobrinha, você traiu esta família, não é digno de ser chamado de Adsa. Não é digno de ter esse sobrenome! — Matteo esbravejou. — Eu não sou digno? Por favor, Matteo... E você acha que é? Matteo não respondeu, e Gabriel continuou. — Aquela bala era para ter atingido você, esse era o plano, mas a Yhelena se apaixonou... — Gabriel riu, enquanto passava seus olhos por mim. — Tudo foi planejado para que você não desconfiasse que era um plano. Tudo para te matar... Tinha que haver uma boa desculpa para a família, se não fosse assim, já teria o deixado morrer na noite da boate. Mas não podia, pois teria que recuperar sua filha sozinho, e como eu explicaria para a família onde Milena estava? Tive que inventar o problema da rota dos Mikazia e combinar tudo com Marco, para que, quando ele te encontrasse, dissesse que sequestrou minha querida sobrinha por causa de poder. Mas não... tudo isso foi para que eu assumisse a família, e assim os Mikazia seriam beneficiados com dinheiro e produtos. Prático, não?! — Gabriel disse suavemente, enquanto olhava nos olhos do irmão. — Na noite da boate, Yhelena ainda estava comigo. Não podia simplesmente te deixar morrer, sem ao menos fingir que tinha tentado te salvar, pois a família iria investigar... Então, eu tive que seguir com o plano, pois só assim poderia dizer que você e Milena morreram enquanto tentava resgatá-la... E eu teria escapado por pouco. Matteo balançou a cabeça, como se não acreditasse no que tinha escutado. — Não me leve a mal, irmão, é tudo por um bem maior. Você iria morrer, e eu iria ajudar os Mikazia com as rotas... Todos sairiam ganhando. — Gabriel disse com a arma apontada para Matteo, que parecia não acreditar no que ouvia. — Fui eu que entreguei as pistas para Theobaldo... Não era para ele ter morrido, somente para ter entregue a garota que você matou. Foi uma ocasião do destino... O restante foi planejado, cada passo, para que chegasse até Milena, para que assim você fosse morto com ela. A questão é que descobriu sobre Yhelena, mas mesmo assim, nessa entrega, já estava combinado que atirariam em você antes da entrega de Milena, mas olhe só, sua amada Yhelena entrou no meio para te salvar... — Gabriel disse suavemente, enquanto me olhava no chão. — Filho da puta! — Matteo gritou. De repente, ouvimos sirenes, e em alguns segundos dois carros de policiais chegaram. Eles saíram do carro, mas antes que pudessem dizer alguma coisa, os homens de papai começaram a disparar, e um tiroteio intenso começou. Em alguns instantes, Matteo empurrou Gabriel, que caiu e deixou a arma escapar de sua mão. Matteo começou a deferir socos constantes em Gabriel, que rapidamente reagiu, pegando uma pedra ao seu lado e batendo na cabeça de Matteo, que caiu desnorteado. Gabriel se levantou jogando o irmão no chão, mas, em uma fração de segundos, Matteo se levantou um pouco atordoado e encarou o irmão. — Eu vou te matar, e quero que o último rosto que se lembre seja o meu... — Matteo sussurrou. Gabriel sorriu, e Matteo avançou para cima de Gabriel com um soco, que fez seu nariz sangrar. Gabriel agarrou o irmão pela cintura e o jogou no chão, desferindo um soco em seu rosto. Mas Matteo se recompôs rapidamente, e, vasculhando um escombro ao seu lado, pegou uma barra de ferro e colocou em volta do pescoço do seu irmão, que havia caído no chão. Ele apertava a barra de ferro contra a garganta de Gabriel, que se contorcia e batia nos braços de Matteo para que o soltasse, mas Matteo apertou mais forte, e, em alguns segundos, Gabriel parou de se debater. Ele estava morto. Matteo largou o irmão e o olhou uma última vez. Matteo parecia desconsolado. Olhando para o lado, viu Milena ao longe. Milena estava abaixada no chão, enquanto tampava os ouvidos por causa do tiroteio. Matteo foi rodeando os carros até chegar na garotinha, que ao ver o pai o abraçou fortemente. — Yhelena... Eu vou ter que te tirar daqui. Vou contar até três e vou te levantar, preciso que precione o machucado.— papai disse suavemente. O olhei, e ele passou seus braços por baixo do meu pescoço, mas antes que pudesse começar a contar, ele foi atingido por um tiro na testa, e caiu em segundos ao meu lado. — PAI!— gritei. Não conseguia me mover, apenas o olhei caído ao meu lado todo ensanguentado. — Não!— meus olhos lacrimejaram. Comecei a sentir minhas forças indo embora, minha visão estava escurecendo. Olhei para o lado e vi Matteo entrando com Milena no carro, em alguns minutos ele deu partida, Matteo estava salvo... Virei para o lado, e senti a luz abandonando minhas pupilas, vi papai... Seus olhos verdes estavam abertos e ele estava caído ao meu lado. Em segundos, tudo escureceu.Acordei com a visão turva, olhando ao redor, tentando entender o que havia acontecido e por que minha cabeça doía tanto. Tudo naquele lugar era em tons pastéis, calmos e quase mortos. Ouvi um som constante e, ao olhar para o lado, percebi que era o batimento do meu coração sendo monitorado na máquina ao lado da cama. Tentei me levantar, mas uma dor intensa me fez permanecer deitada. As cortinas azuis e o vidro que mostrava o lado de fora me diziam que estava em um hospital, mas por que eu estaria ali?Algumas lembranças começaram a ressurgir na minha mente, e os tiros assombraram minha memória, trazendo de volta a imagem do meu pai baleado, fazendo meu peito apertar. Meus olhos começaram a lacrimejar ao reviver aquele momento, mas um alívio misturado com dor me invadiu ao lembrar de Matteo e Milena saindo do tiroteio, eles estavam a salvo.— Você finalmente acordou... — uma voz comentou, quebrando meu devaneio.Olhei para cima e vi uma enfermeira.
Eu encarava Ângelo pelo retrovisor do carro, mas ele estava focado demais na estrada. Notei que ele suava, e seus dedos tremiam enquanto conduzia o volante.— Ângelo? — o chamei.Ele parecia não me ouvir, perdido demais em seus pensamentos.— Ângelo?Seus olhos se voltaram para mim pelo retrovisor, e eu esbocei um sorriso fraco, sentindo a dor no ombro irradiar por todo o meu corpo.— Está tudo bem? — perguntei.— Está... só que eles vão nos matar — respondeu, voltando a atenção para a estrada.Meu coração disparou com a resposta. Não queria, mas o medo me dominava. Ele estava arriscando tudo por mim.— Por que veio me buscar? Você está colocando sua vida em risco — murmurei, a dor no ombro latejando.— Não podia te deixar morrer, Yhelena — disse ele, firme.— E eu não posso deixar você pagar por algo que eu fiz. Seu pai é o chefe agora, Ângelo... e, para manter a imagem, ele vai fazer o que fo
Acordei em um quarto desconhecido. Ao meu lado, vi Ângelo sentado em uma cadeira, com a cabeça apoiada nas mãos.— Ângelo? — o chamei.Ele levantou a cabeça rapidamente e veio em minha direção.— Como você está? — perguntou, a preocupação estampada em seu rosto.Sentei-me na cama, ainda confusa, e olhei ao redor.— Meio tonta... O que aconteceu? — perguntei, tentando compreender a situação.— Você desmaiou. Estou receoso de que ainda esteja debilitada... Não sei o que posso fazer — Ângelo disse, mantendo uma distância cautelosa.As lembranças começaram a voltar e olhei ao redor, inquieta.— E o Matteo? Onde está o Matteo?— Assim que você desmaiou, ele mandou que eu fosse embora. Então te trouxe para este hotel... — Ângelo sussurrou, a tristeza em sua voz.Senti um nó se formando na garganta. Matteo realmente não se importava comigo.— Descanse. Amanhã pensamos no que vamos fazer — Âng
Chegamos à casa de Matteo, e os seguranças liberaram o portão de entrada. Os carros adentraram a enorme mansão e estacionaram em frente à casa. Matteo saiu do carro com Milena, e Ângelo fez o mesmo, me pegando no banco de trás e seguindo o anfitrião.Entramos na mansão, e Matteo chamou alguns empregados, que logo nos conduziram ao quarto onde eu ficaria. Ângelo entrou comigo no quarto e me colocou na cama com cuidado.— Acho melhor você ir, Ângelo... — sussurrei, minha voz saindo fraca.Ângelo me olhou confuso, como se não entendesse o que eu estava tentando dizer.— Ângelo, se você não aparecer, vão começar a desconfiar. Você precisa voltar para casa — continuei, agora mais firme.Ele suspirou profundamente e se sentou aos pés da cama, seus olhos ainda fixos em mim.— E você? Vai ficar aqui com ele? Sozinha? — perguntou, visivelmente apreensivo.— Já lidei com Matteo uma vez, posso lidar outra. Ele não vai me fazer mal.
NARRADO POR CRISTALAdentrei a enorme mansão; ainda era cedo, cerca de sete horas da manhã. Matteo, como de costume, provavelmente estaria sentado à mesa do café da manhã com Milena. Caminhei pelo corredor, o som dos meus saltos ecoando no porcelanato enquanto seguia calmamente em direção à sala de jantar. Ao entrar, vi Milena na mesa. Ela tomava Sucrilhos com leite e me encarou com um semblante nada agradável. Não era segredo para ninguém que a pirralha não gostava de mim, e era mútuo.— Cadê seu pai? — perguntei.— No quarto... — a garota sussurrou.— Ainda?Milena me olhou nos olhos e, sem responder, voltou a comer.Subi para o segundo andar à procura de Matteo; tinha assuntos importantes para resolver com ele sobre alguns produtos. Caminhei pelo corredor até passar por um quarto que sempre ficava com a porta fechada. Dessa vez, estava aberta, e parecia que alguém dormia ali. Adentrei o quarto e vi Matteo deitado ao lado de Yh
NARRADO POR YHELENAAcordei um pouco atordoada. Olhei para a janela, cujas cortinas abertas deixavam o Sol entrar e me dar bom dia.Olhei para o lado e vi Matteo; ele ainda dormia. O Sol iluminava seu rosto bronzeado e seu cabelo bagunçado. Ele estava sereno. Em segundos, como se pudesse sentir que eu o observava, ele despertou. Confuso, olhou para o teto, como se não soubesse onde estava, até olhar para o lado e me ver.— Yhelena?! — ele exclamou, me olhando nos olhos.— Sim...Matteo se sentou na cama e apoiou a cabeça nas mãos. Eu me sentei na cama e fiquei em silêncio, sem saber o que dizer depois da noite passada.— Transamos? — ele perguntou.O olhei, incrédula. Ele não se lembrava de nada da noite passada?— Não.Ouvi um suspiro. Ele realmente não queria se envolver comigo ao ponto de ficar aliviado por não ter passado a noite comigo?— Acho melhor eu ir. — ele disse, quase em um sussurr
No dia seguinte, Matteo e Milena saíram cedo, e eu fiquei sozinha na enorme mansão, protegida pelos funcionários e capangas de Matteo. Admito que foi essencial para minha recuperação, embora eu tenha tido crises de pânico quase todas as vezes que me lembrei de papai.Dias se passaram desde que eles viajaram. Ângelo tinha me visitado algumas vezes, apenas o necessário para garantir que eu estava bem. Eu sabia que ele queria ficar comigo, mas estava tentando descobrir mais sobre as investigações do meu paradeiro. Para não levantar suspeitas, ele vinha poucas vezes. Matteo havia mandado um recado, dizendo que as coisas em Paris haviam se complicado e que ele precisaria ficar lá por mais tempo. Isso já fazia três semanas. Em geral, eu estava bem, apenas estranhamente enjoada e com dores de cabeça. O médico disse que era por causa do tiro que levei. Enquanto isso, eu esperava ansiosamente pela volta de Matteo.Caminhei pelo quarto e me sentei na cama. De repente, a port
— Eu não acredito que você pôde viajar e deixar ela sozinha aqui, mesmo sabendo de tudo o que estava acontecendo com a nossa família! — Uma voz irrompeu, cortando o silêncio. — Eu não a deixei sozinha, ela estava cercada pelos meus homens — uma outra voz, mais intensa, ressoou no ar, fazendo meu corpo estremecer. — Então você precisa treinar mais os seus homens, porque eles estão se espelhando no homem covarde que é o chefe deles. Acordei de um pesadelo, olhando em volta. Matteo e Ângelo se encaravam, o olhar de Matteo carregado de sombras, enquanto Ângelo mantinha os punhos cerrados, como se estivesse prestes a explodir. O impulso de me levantar e ficar sentada na cama me dominou. Ao me ver, Ângelo correu até mim, seguido por Matteo, que soltou um suspiro aliviado. — Como você está, Yhelena? — Ângelo perguntou, a preocupação evidente em seu tom. Foi então que percebi o colar de