Meu coração apertou e as lágrimas que antes eram tímidas, agora eram constantes e geladas.
— Tudo isso era uma emboscada?— Gabriel perguntou. Matteo concordou com a cabeça. — Eles querem poder e para isso sequestraram minha filha... Estavam pedindo poder em troca dela. Mas, descobri que eu estava com uma Mikazia, essa filha da puta! MENTIU PARA MIM, ISSO TUDO ERA UM JOGO YHELENA?!— Matteo gritou me olhando pelo retrovisor. — Não! No começo sim, mas eu... Eu me apaixonei por você.— disse em prantos. — Se apaixonou?— Matteo riu.— Eu confiei em você Yhelena, eu cheguei a...— as palavras de Matteo sumiram, eu vi a decepção em seu rosto. — Por isso disse que não podíamos ficar juntos... — Porque você estava mentindo pra mim? Fazia tudo parte do plano, Yhelena?— Matteo gritou.— Então tudo era encenação? Você nunca... Sentiu nada por mim. Nunca se importou de verdade? Nunca...— a voz sumiu em sua garganta. — Matteo...— sussurrei. — Eu contei sobre minha ex mulher, eu vi você me salvando... por que me salvou então? Por que não me deixou morrer?— ele perguntou. — Porque eu te amo... — Me ama? Você me ama? Como pode me amar?— ele perguntou. — Quer realmente discutir isso? Você disse que aquilo foi um erro! — Porque eu achei que não me queria, pois depois daquela noite, você disse que não podia ter se entregado a mim. Não queria te forçar a nada, e além do mais, eu havia te sequestrado, era a única pista da minha filha, mas deixei isso de lado... eu me entreguei a você. Eu te amei.— Matteo sussurrou.— Confiei em você! COMO EU FUI BURRO EM CONFIAR EM VOCÊ! O olhei pelo retrovisor, seus olhos estavam cheios de lágrimas. Era estranho ver Matteo daquele jeito... Venerável. Nunca tinha visto ele perder o controle de uma situação, por mais que sua filha estivesse desaparecida, ele nunca demonstrou estar perdido, mas naquele momento, eu via em seus olhos, através do espelho, sua decepção e vulnerabilidade. — Por favor Matteo, me deixa explicar. — Se explicar? Explicar o que Yhelena? Você poderia ter me contado... — Não... Não podia, você teria me matado.— disse em prantos. — Yhelena... Você é filha de Marco Mikazia?— ele perguntou. Balancei a cabeça que sim, e Matteo socou o volante novamente. O restante da viagem foi em total silêncio, e eu só sabia encarar Matteo pelo retrovisor, que chorava silenciosamente. Voltamos para casa de Henrico, e ao chegar lá, logo Matteo me pegou pelo braço e apontando sua arma para mim, me fez entrar na casa. — O que está havendo?— Henrico perguntou, olhando a situação. — Traga uma corda, AGORA!— ele gritou me empurrando no pequeno sofá da sala. A mulher de Henrico logo foi buscar e trouxe a grande corda. Matteo pediu para Gabriel apontar para Yhelena, que obedeceu imediatamente, enquanto ele me amarrava com força. Ele nem me olhava nos olhos, era como se me desconhecesse, como se eu fosse uma estranha. Quando terminou de me amarrar, me pegou pelo braço e me conduziu para meu antigo quarto. Ele me jogou na cama e se sentou em uma poltrona distante. Ele colocou a arma sobre a mesinha e me encarou de longe. — Pode dormir, amanhã você irá voltar para a sua casa.— Matteo disse seriamente. Me concertei na cama e encarei Matteo. — Me escuta Matteo...— implorei. Matteo me olhou nos olhos. — Eu só não te mato, porque seu pai está com a minha filha.— Matteo sussurrou. Senti meus olhos se enchendo de lágrimas, o que eu mais temia, havia de tornado um fato, Matteo me odiava. Não disse nada a Matteo, nada do que eu dissesse iria importar. Ele estava tão decepcionado, que era impossível dizer que a alguns dias ele parecia estar perdidamente apaixonado por mim. Me acomodei na cama, e senti as lágrimas geladas escorrerem pelo meu rosto pálido. Não notei exatamente o momento em que eu adormeci, mas pareciam longas horas. No dia seguinte acordei com Matteo me puxando pelo braço para que eu me levantasse da cama. Acordei um pouco atordoada, mas Matteo não se importava, só queria me tirar dali o mais rápido possível. — Levanta, porra!— Matteo esbravejou. Me levantei e olhei em volta com a visão ainda turva, logo Matteo me conduziu até o andar de baixo, onde Gabriel já esperava. Matteo olhou para Gabriel e ele confirmou com a cabeça, não sabia exatamente do que eles estavam falando, mas sabia que Gabriel provavelmente havia cuidado de tudo. Foi quando me sobreveio o acordo de papai com Gabriel, iriam matar Matteo... Olhei para Gabriel, e depois para Matteo, que me conduzia para fora da casa. Se eu contasse para Matteo ele não iria acreditar em mim, poderia até me matar por estar acusando o próprio irmão. Matteo me empurrou no banco do carro e se sentou ao meu lado com sua arma apontada para mim, Gabriel entrou no carro, e em alguns segundos ligou o carro. Encarei Gabriel pelo retrovisor, meu coração estava acelerado, Matteo iria morrer, o amor da minha vida iria morrer. Gabriel sorriu pelo retrovisor, provavelmente sabia no que eu estava pensando. Olhei para Matteo e ele me olhou de volta. Seus olhos esverdeados estavam pouco vermelhos, provavelmente bebeu muito na noite anterior, assim que eu adormeci. Seu semblante misturava ódio com tristeza, e impressionantemente, seus cabelos não estavam perfeitamente arrumados como de costume. Ele estava com os cabelos bagunçados, a roupa estava amassada, e a mão com que segurava a arma tremia ao apontar para mim. De repente o carro parou, estávamos em um tipo de campo. Não haviam casas perto, somente árvores e uma enorme área verde. Ao lado havia algumas construções destruídas, estávamos perto da cidade, mas não perto suficiente para que pudessem nos ver. Olhei pela janela, tinham três carros pretos. Papai estava de pé, e cinco atiradores estavam ao seu lado. O restante do grupo estava dentro dos carros. Matteo saiu do carro e deu alguns passos a frente. — Vejo que trouxe seus amigos...— Matteo disse seriamente. Marco sorriu, com um charuto entre os dedos. — Me admira, você, inteligente como é, achar que eu viria sozinho. Matteo olhou para os carros e depois voltou a olhar Marco. — Cadê, Milena?— Matteo perguntou. Marco sorriu e levantou uma das mãos, o que fez seus capangas abrirem a porta do carro. Milena saiu de lá com um homem que a apontava uma arma. A garota chorava, parecia apavorada. Ao ver a cena, Matteo deu um passo adiante, mas os homens de meu pai o apontaram a arma e ele recuou. — Cadê, Yhelena?— papai perguntou. Gabriel então saiu do banco do motorista e abriu a porta de trás me puxando pelo braço. Saí do carro e encarei papai. Gabriel me levou até Matteo e ele me segurou pelo braço. — Aqui está ela...— Matteo disse alto. Marco sorriu e pediu para que trouxessem Milena até ele, e assim seus homens obedeceram. — Traga ela até aqui Matteo... Devagar.— Marco disse com um sorriso. Gabriel se afastou, e Matteo começou a andar lentamente me segurando pelo braço. — Sabe de uma coisa Matteo, acho lindo o que fez por Milena, tem meu respeito, uma pena que não seja o suficiente para viver. Não é pessoas Matteo, são só... Negócios.— Papai sussurrou enquanto Matteo caminhava. De repente um dos homens de papai sacou a arma e em um impulso eu abracei Matteo. Logo ouviu-se um estrondo, e senti uma dor aguda. Matteo me olhou confuso, e em uma fração de segundos senti minhas pernas falharem, mas antes que eu pudesse cair, Matteo me segurou. — Yhelena?— ele me chamou. Sua voz foi ficando distante. Olhei para o meu ombro, o meu vestido estava sujo de sangue. — YHELENA!— ouvi papai gritar, mas meus olhos estavam fixos nos de Matteo. — Não...— ele sussurrou pressionando o machucado em meu ombro. Olhei para Matteo mais uma vez, minha visão estava turva, ele me apoiou no chão e senti uma forte dor, diria que era quase que insuportável. — Eu amo você, Matteo...Matteo não sabia o que dizer, me olhava com tristeza, mas eu o havia salvado. Vi papai se aproximando, mas Matteo sacou a arma e apontou para ele. — Se afaste dela! — Matteo gritou. Matteo me olhou novamente. — Sinto muito por não ter te falado sobre isso, eu não me importava com nada além da minha... — parei para tentar respirar, tudo estava parecendo um sonho distante, mas tentei continuar. — família. Eu sinto muito, Matteo. Sinto muito por acobertar... Seu irmão. — sussurrei. Matteo olhou para mim confuso. Gabriel então se aproximou e apontou a arma para mim. Logo, papai, em um movimento rápido, sacou a arma e apontou para Gabriel. — Não se atreva! — Papai esbravejou com a arma apontada para Gabriel. Matteo olhou para os dois, mas logo sua atenção voltou para mim. — Gabriel planejou tudo isso... Ele sabia de tudo. — sussurrei. — Ele queria que você morresse, para que assim ele fosse o chefe da família. Ele planejou tudo isso. Matteo então olhou para Gabriel, que o es
Acordei com a visão turva, olhando ao redor, tentando entender o que havia acontecido e por que minha cabeça doía tanto. Tudo naquele lugar era em tons pastéis, calmos e quase mortos. Ouvi um som constante e, ao olhar para o lado, percebi que era o batimento do meu coração sendo monitorado na máquina ao lado da cama. Tentei me levantar, mas uma dor intensa me fez permanecer deitada. As cortinas azuis e o vidro que mostrava o lado de fora me diziam que estava em um hospital, mas por que eu estaria ali?Algumas lembranças começaram a ressurgir na minha mente, e os tiros assombraram minha memória, trazendo de volta a imagem do meu pai baleado, fazendo meu peito apertar. Meus olhos começaram a lacrimejar ao reviver aquele momento, mas um alívio misturado com dor me invadiu ao lembrar de Matteo e Milena saindo do tiroteio, eles estavam a salvo.— Você finalmente acordou... — uma voz comentou, quebrando meu devaneio.Olhei para cima e vi uma enfermeira.
Eu encarava Ângelo pelo retrovisor do carro, mas ele estava focado demais na estrada. Notei que ele suava, e seus dedos tremiam enquanto conduzia o volante.— Ângelo? — o chamei.Ele parecia não me ouvir, perdido demais em seus pensamentos.— Ângelo?Seus olhos se voltaram para mim pelo retrovisor, e eu esbocei um sorriso fraco, sentindo a dor no ombro irradiar por todo o meu corpo.— Está tudo bem? — perguntei.— Está... só que eles vão nos matar — respondeu, voltando a atenção para a estrada.Meu coração disparou com a resposta. Não queria, mas o medo me dominava. Ele estava arriscando tudo por mim.— Por que veio me buscar? Você está colocando sua vida em risco — murmurei, a dor no ombro latejando.— Não podia te deixar morrer, Yhelena — disse ele, firme.— E eu não posso deixar você pagar por algo que eu fiz. Seu pai é o chefe agora, Ângelo... e, para manter a imagem, ele vai fazer o que fo
Acordei em um quarto desconhecido. Ao meu lado, vi Ângelo sentado em uma cadeira, com a cabeça apoiada nas mãos.— Ângelo? — o chamei.Ele levantou a cabeça rapidamente e veio em minha direção.— Como você está? — perguntou, a preocupação estampada em seu rosto.Sentei-me na cama, ainda confusa, e olhei ao redor.— Meio tonta... O que aconteceu? — perguntei, tentando compreender a situação.— Você desmaiou. Estou receoso de que ainda esteja debilitada... Não sei o que posso fazer — Ângelo disse, mantendo uma distância cautelosa.As lembranças começaram a voltar e olhei ao redor, inquieta.— E o Matteo? Onde está o Matteo?— Assim que você desmaiou, ele mandou que eu fosse embora. Então te trouxe para este hotel... — Ângelo sussurrou, a tristeza em sua voz.Senti um nó se formando na garganta. Matteo realmente não se importava comigo.— Descanse. Amanhã pensamos no que vamos fazer — Âng
Chegamos à casa de Matteo, e os seguranças liberaram o portão de entrada. Os carros adentraram a enorme mansão e estacionaram em frente à casa. Matteo saiu do carro com Milena, e Ângelo fez o mesmo, me pegando no banco de trás e seguindo o anfitrião.Entramos na mansão, e Matteo chamou alguns empregados, que logo nos conduziram ao quarto onde eu ficaria. Ângelo entrou comigo no quarto e me colocou na cama com cuidado.— Acho melhor você ir, Ângelo... — sussurrei, minha voz saindo fraca.Ângelo me olhou confuso, como se não entendesse o que eu estava tentando dizer.— Ângelo, se você não aparecer, vão começar a desconfiar. Você precisa voltar para casa — continuei, agora mais firme.Ele suspirou profundamente e se sentou aos pés da cama, seus olhos ainda fixos em mim.— E você? Vai ficar aqui com ele? Sozinha? — perguntou, visivelmente apreensivo.— Já lidei com Matteo uma vez, posso lidar outra. Ele não vai me fazer mal.
NARRADO POR CRISTALAdentrei a enorme mansão; ainda era cedo, cerca de sete horas da manhã. Matteo, como de costume, provavelmente estaria sentado à mesa do café da manhã com Milena. Caminhei pelo corredor, o som dos meus saltos ecoando no porcelanato enquanto seguia calmamente em direção à sala de jantar. Ao entrar, vi Milena na mesa. Ela tomava Sucrilhos com leite e me encarou com um semblante nada agradável. Não era segredo para ninguém que a pirralha não gostava de mim, e era mútuo.— Cadê seu pai? — perguntei.— No quarto... — a garota sussurrou.— Ainda?Milena me olhou nos olhos e, sem responder, voltou a comer.Subi para o segundo andar à procura de Matteo; tinha assuntos importantes para resolver com ele sobre alguns produtos. Caminhei pelo corredor até passar por um quarto que sempre ficava com a porta fechada. Dessa vez, estava aberta, e parecia que alguém dormia ali. Adentrei o quarto e vi Matteo deitado ao lado de Yh
NARRADO POR YHELENAAcordei um pouco atordoada. Olhei para a janela, cujas cortinas abertas deixavam o Sol entrar e me dar bom dia.Olhei para o lado e vi Matteo; ele ainda dormia. O Sol iluminava seu rosto bronzeado e seu cabelo bagunçado. Ele estava sereno. Em segundos, como se pudesse sentir que eu o observava, ele despertou. Confuso, olhou para o teto, como se não soubesse onde estava, até olhar para o lado e me ver.— Yhelena?! — ele exclamou, me olhando nos olhos.— Sim...Matteo se sentou na cama e apoiou a cabeça nas mãos. Eu me sentei na cama e fiquei em silêncio, sem saber o que dizer depois da noite passada.— Transamos? — ele perguntou.O olhei, incrédula. Ele não se lembrava de nada da noite passada?— Não.Ouvi um suspiro. Ele realmente não queria se envolver comigo ao ponto de ficar aliviado por não ter passado a noite comigo?— Acho melhor eu ir. — ele disse, quase em um sussurr
No dia seguinte, Matteo e Milena saíram cedo, e eu fiquei sozinha na enorme mansão, protegida pelos funcionários e capangas de Matteo. Admito que foi essencial para minha recuperação, embora eu tenha tido crises de pânico quase todas as vezes que me lembrei de papai.Dias se passaram desde que eles viajaram. Ângelo tinha me visitado algumas vezes, apenas o necessário para garantir que eu estava bem. Eu sabia que ele queria ficar comigo, mas estava tentando descobrir mais sobre as investigações do meu paradeiro. Para não levantar suspeitas, ele vinha poucas vezes. Matteo havia mandado um recado, dizendo que as coisas em Paris haviam se complicado e que ele precisaria ficar lá por mais tempo. Isso já fazia três semanas. Em geral, eu estava bem, apenas estranhamente enjoada e com dores de cabeça. O médico disse que era por causa do tiro que levei. Enquanto isso, eu esperava ansiosamente pela volta de Matteo.Caminhei pelo quarto e me sentei na cama. De repente, a port