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Por que sacode essa moça?

Eu girei minha cabeça para ver o dono daquela voz profunda e grave. Vi um homem alto, esbelto, usando uma camisa elegante cinza-chumbo, por baixo do terno preto, de um corte que parecia ter sido feita para ele.

Havia algo extremamente charmoso e sensual nele. Que ia além de sua beleza masculina e morena, com aqueles abundantes cabelos negros bem penteados para trás. Reparei também no queixo quadrado e nos lábios firmes, e lindos olhos negros. Ele aparentava uns trinta anos.

Fadir se afastou. Eu, envergonhada pela minha atitude, coloquei o meu casaco, desviando meus olhos do Sheik.

A cena na sala era: Fadir sem ação, vermelho, eu de olhos baixos, consciente dos olhos do Sheik sobre nós.

— Perdoe-me, vossa majestade. Sei que aqui não é o lugar nem a hora para resolver isso com a minha companheira.

Eu me arrisquei a olhar o homem a minha frente, que se aproximava de nós.

Mansur

Eu fitei a jovem. Ela era linda. Os cabelos longos, negros e brilhantes, caiam graciosamente em suas costas. Ela não carregava na maquiagem como via muitas mulheres fazer. A maquiagem que ela usava era leve e valorizava os olhos grandes da cor do mel.

Nunca tinha visto olhos tão expressivos como aqueles. Quando entrei na sala, tinha reparado em suas belas formas naquele vestido justo e que agora ela o cobrira com um casaco de pele, muito quente para o ambiente. Pelo pouco que vi e ouvi, conclui que eles brigaram por causa do vestido dela.

Eu desviei os olhos da jovem e fitei Fadir, que estava nervoso. Para não expor mais a moça, fiz que esqueci o assunto e os convidei:

— Sentem-se.

Ambos se sentaram. Vi ela baixar os olhos, parecia envergonhada. Fitei Fadir que iniciou a conversa.

— Gostaria de dizer que eu e a senhorita Nazira estamos felizes e honrados em participarmos desse jantar.

Eu assenti sério. Ainda me sentia incomodado com a cena que vi.

Por Allah! O problema era deles!

Pensava nisso, quando meus olhos se encontraram com as da moça, vi nela uma vulnerabilidade que me fez desviar os meus olhos com dificuldade, e com isso percebi que ela me atraía.

Irritado pelo sentimento em mim despertado, fitei Fadir.

—A natureza desse convite é informar-lhe que o Senhor não negociará mais comigo. Saad Amin assumiu as vendas para a Raibow Oil Associates, o senhor tratará diretamente com ele. Ele não se encontra aqui hoje, mas na terça feira, ele o procurará no escritório.

Nádia

Li no rosto de Fadir um grande desapontamento. Ele deveria estar se sentindo importante ao negociar diretamente com o Sheik.

Pensava nisso, quando a porta se abriu, e uma senhora surgiu.

— O jantar está servido.

Eu vi primeiro o Sheik se levantar, seguido por Fadir, e só aí me levantei. Era nítido que Fadir estava com raiva de mim, e com certeza iria desistir do casamento.

Ótimo!

Preferia ser uma solteirona recalcada a me casar sem amor. Seria muito mais feliz!

Segui os homens até uma grande e maravilhosa sala de jantar. Um lustre gigantesco pendia sobre o teto. O pé direito era bem alto.

A mesa, nem preciso dizer que era farta, com grandes variedades de alimentos, como frutas, doces, salgados, saladas, carnes. Parecia que ele recebia umas dez pessoas ao invés de apenas três.

Esperei um pouco para me servir. Por fim coloquei um pouco de cordeiro assado, uma salada de legumes e um pouco de arroz feito com ervas aromáticas.

No jantar não era costume a conversa. E pelo que percebi, o Sheik era um homem, bem frio e distante. Fadir só estava ali, por causa do trâmite dos barris de petróleo, conclui que se não fosse por isso, jamais ele teria pisado no palácio.

Comia pensativa o tempo todo pensativa.  Eu estava preocupada com o que meus pais fariam, quando descobrissem que afundei mais uma possibilidade de casamento.

Quando o jantar terminou, o Sheik nos levou a uma grande sala, onde nos sentamos em sofás de couro. Uma senhora nos serviu um chá de hortelã gelado, na nossa cultura nós tomávamos para melhorar a digestão.

Enquanto bebericava meu chá, fitei o Sheik Al Jain e percebi que seus olhos estavam postos sobre mim, sua expressão era indecifrável. Eu já suava dentro daquele casaco, me sentindo uma figura grotesca, e aqueles olhos negros, me deixavam mais nervosa, fazendo-me transpirar muito mais.

Ele então, me perguntou em árabe:

— Espero que tenha apreciado a comida?

Senti meu coração disparar, mas consegui passar uma imagem serena, e respondi em árabe também, com simplicidade:

— Muito. Estava tudo maravilhoso.

Nessa hora, vi um brilho diferente nos olhos dele que me deixou mais nervosa.

— A senhorita fala bem a minha língua.

Ao meu lado senti Fadir se mexer meio impaciente. 

— Sim. Estudei em uma escola árabe, e meus pais são oriundos dos Emirados Árabes, praticamos muito o árabe em casa.

— Que cidade?

— Abu Dhabi.

Percebi que Fadir se sentiu mal de ser excluído na conversa.

— Sou de Omã, em Mascate. — Fadir tentou manobrar a conversa para ele.

Mansur limitou-se a olhar para ele, e voltou a atenção para mim.

— Você conhece Abu Dhabi?

— Sim, voltei recentemente de lá. Meus pais foram visitar parentes. Vi meus tios e primos.

— Estou precisando de uma secretária, que fale bem o árabe. Você escreve e lê bem minha língua?

Parou tudo! Era impressão, ou era um convite?

Eu fiquei atônita.

Se fosse, era minha libertação ali naquele convite.

—Sim. Domino totalmente a língua.

— Majestade, a senhorita Nazira não fora criada para trabalhar, e sim para casar. Conheço o pai dela. Somos muito amigos. O desejo dele é que ela contraia um matrimônio.

Allah! O comentário dele me irritou. Se eu pudesse agora, voava no pescoço dele!

Vi o Sheik dar um sorriso, e seus olhos fitaram Fadir. Eu também me virei para Fadir o fulminando com o olhar.

— Vocês estão presos a algum compromisso?

Eu me antecipei, ousadamente, antes que Fadir abrisse a boca.

— O senhor Nasser está apenas me conhecendo. Ainda não estamos noivos.

Vi o Sheik sorrir para Fadir.

— Creio então que o senhor Nasser não vai contrariar o meu desejo da senhorita trabalhar comigo, sabendo que verei isso com grande avalia.

Fadir sorriu nervoso para ele.

— Não, claro que não.

Trabalhar? Eu ouvi bem?

Eu, nervosamente, ajeitei uma mecha de meu cabelo que me caía nos olhos, os colocando para trás da orelha.

— Ótimo. Estamos resolvidos. —O Sheik disse olhando para mim.

Eu o fitei séria, pois só eu sabia que não era tão fácil assim. Eu precisava conversar e convencer meus pais.

— Vossa majestade, eu preciso conversar com meus pais primeiro, embora creio que quando eles souberem da natureza do convite, se alegrarão muito.

O Sheik falou bem enfático.

— Faça isso. E avise que a senhorita terá que dormir no emprego e viajar comigo quando se fizer necessário.

Eu fiquei paralisada.

Dormir no emprego? Viajar?

— Senhor Fadir, o senhor está dispensado. —O Sheik me fitou. — Gostaria que ficasse para acertarmos alguns detalhes.

Fadir fez uma reverência para o Sheik e se dirigiu a mim:

— A espero no carro.

O Sheik cortou.

—Não. Eu providenciarei para que a senhorita Nazira chegue sã e salva.

Ele assentiu e o vi sair. Eu suspirei inconscientemente, me sentindo aliviada com sua partida. Passei a mão no rosto, limpando o suor, e não era só minha testa que suava, podia sentir o suor correndo pelo vão de meus seios.

— Agora pode tirar o casaco.

— Como? — Gaguejei, hipnotizada pelos olhos negros dele. E a expressão altiva me deixou de pernas bambas.

— Era esse o motivo da briga, não era? —Percebi que ele exigia de mim sinceridade.

Eu assenti para ele. Fui invadida pela cólera. Sim! Cólera e raiva pela situação que meus pais me colocavam. 

Mas eu não desistiria de banir meus pretendentes! 

— Eu fiz de propósito. Vesti-me assim para que ele desistisse do casamento. — Disse isso, limpando novamente o suor do rosto. — Mas agora, não me sinto bem com minha atitude.

O sheik abriu um sorriso, como quem se diverte, apesar do olhar gélido.

— Está segura comigo, senhorita Nazira. Acho que não entendeu. — Fez uma pausa, o olhar percorrendo meu rosto. — Não foi um pedido, Nádia. Não estou negociando. Tire o casaco!

Por um segundo, eu prendi a respiração. O sorriso que ele me dava demonstrava que ele pretendia vencer. E estava acostumado a vencer. Homens poderosos sempre venciam. Sabia que ele era um dos mais importantes homens do mundo. Seu país produzia mais petróleo do que qualquer outro país ou reino do Oriente Médio. Todos deveriam se digladiarem para acolhê-lo.

Agarrando-se ao meu último resquício de dignidade, assenti ficando em pé, tirei o casaco pesado de meu corpo. O vestido turquesa de cetim revelou minhas formas.

Sentei novamente, e cruzei as pernas que não paravam de tremer.

Ele sorriu para mim friamente.

—Bem melhor, não acha?

Sorri de modo frio.

—Sim. — Disse, mas incomodada com a força que aquele homem à minha frente, ele exalava masculinidade.

Ele sorriu debochado.

—Quer dizer que tem afastado os pretendentes?

O pulso voltou a acelerar.

— Exatamente.

Ele me fitou sério agora.

— Por quê?

— Meus pais não querem que eu me envolva com um ocidental, mas com uma pessoa de meu povo.

Ele me encarou. Suas sobrancelhas se ergueram, os traços semelhantes à de um falcão.

— A senhorita gosta de algum ocidental?

—Não. Mas creio que o casamento precisa ter a química do amor.

Novamente uma sobrancelha negra dele se ergueu.

— Ah, o amor! — Vi ele sorrir com pouco caso.

Eu me irritei com a atitude dele, mas falei escondendo meus sentimentos.

— Parece que o senhor, no fundo, segue o mesmo raciocínio de meus pais.

Mansur

Eu vi ela recostar-se no sofá, tensa. Por um instante, eu imaginei ter visto dor nos olhos dela, mas logo substituída pela dureza neles. 

Fui frio ao dizer:

— Sim. Eu acredito que o parceiro deve ser avaliado friamente. Seus pais querem seu bem. Não veja por mal.

Vi ela suspirar, achei graça, mas me contive, me mantendo sério.

— O senhor se casaria com uma mulher em um casamento arranjado?

Pensei em Raina.

— Sim, tanto que irei me casar. Meu casamento está marcado para daqui há seis meses.

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